Juliana 28/01/2013Mentecaptos Por Livros | www.mentecaptosporlivros.blogspot.comDepois do trauma colossal que foi Alice in Zombieland, prometi a mim mesma que ficaria longe de re-contos de Alice no País das Maravilhas.
Minha determinação durou até o momento em que bati o olho na capa e na sinopse de Splintered— qual é, "um livro que captura a insanidade grotesca do submundo místico de Lewis Carroll"? Como resistir?
Splintered é a história de Alyssa. Uma descendente de Alice Lindell, a garotinha britânica que inspirou Lewis a escrever Alice no País das Maravilhas.
Problema é, as mulheres da família de Alyssa tendem a desenvolver um distúrbio mental para o lado da esquizofrenia—culpa de uma doença genética que só é piorada com o fato de serem descendentes da Alice e crescerem escutando a história louca de Lewis Carroll. Ou pelo menos isso é o que as pessoas pensam.
Quando Alyssa começa a escutar rosas falando e gafanhotos tagarelando ela teme que finalmente a doença se manifestou. Mas e se, na verdade, sua mãe e todas as outras mulheres não fossem loucas? E se ela, Alyssa, também não estivesse ficando louca? E se fosse... Real? Oh-oh. As coisas começam a parecer bem precárias quando pela primeira vez em muito tempo ela pára de ver sua mãe como a pobrezinha-que-perdeu-a-cabeça-e-agora-está-internada-em-um-hospício e sim como a trágica vítima de uma maldição. Uma maldição que já começou a se instalar em Alyssa.
Bom, só há uma maneira de Alyssa chegar ao fundo da verdade: descendo pela toca do coelho!
Alice no País das Maravilhas é um conto fantástico das aventuras de uma menininha, mas que possui, entretanto, elementos sombrios. A escritora de Splintered não ficou satisfeita em basear seu enredo nessas partes sombrias da história, ela criou uma versão totalmente original e criativa para o que realmente aconteceu com a pequena Alice quando ela caiu na toca do coelho e foi parar no País das Maravilhas.
Fiquei impressionada, de verdade, com a explicação de A. G. Howard para os eventos acontecidos há mais de um século atrás na Inglaterra.
A narração é bacana, e em algumas partes ótima. Vemos o mundo pelos olhos e voz de Alyssa, e a atmosfera insana e atraente do País das Maravilhas chega ao leitor de forma clara. Houve cenas em que realmente parei e pensei "Wow, que coisa louca do cacete é essa?". A escritora soube juntar o mórbido e o macabro com o bonito e atraente. A narração tem um toque sedutor nas partes mais sombrias da história, o que é difícil de se fazer principalmente em um livro YA, mas Howard conseguiu. E com competência.
O enredo é bem aventura, bem "viajado" e houve algumas reviravoltas no final que me pegaram de surpresa— eu e todo mundo por que é impossível prever aquilo— e cada cenário apresentava uma figura do antigo clássico, só que em uma versão muito mais macabra de si mesma. Temos que respeitar a capacidade de Howard em criar um mundo lunático.
Os personagens humanos são todos bem "na média". Alyssa é bem fácil de se gostar, e ela tem uma esquisitice, um elemento peculiar em seu jeito de ser que realmente a faz uma heroína atraente. Uma pena a autora não ter explorado mais esse lado dela! Não vou entrar em detalhes por que COF spoiler COF.
E, como é de praxe, temos os dois garotos lindos e interessantes e blá blá blá que têm o interesse da protagonista, o Jeb e o Morpheus. A única coisa desanimadora em relação aos personagens do livro — o modo como A. G. Howard trouxe de volta figuras como o Chapeleiro Maluco e a Rainha de Copas foi super divertido e criativo!— foi o draminha mimimi adolescente do romance. Sinceramente Jeb, por que você não cala a boca e deixa Alyssa tomar as próprias decisões ao invés de bancar o idiota controlador? Mas fazer o quê. Nada é perfeito. Ignorei o romance por pura força de vontade e me foquei no País das Maravilhas, que é realmente a joia da história.
O final me desanimou um pouquinho, confesso, mas Splintered é uma leitura que vale a pena só pela pura loucura do enredo, da insanidade do personagens fantásticos e dos impulsos irreverentes da protagonista. E porque é um reconto digno, criativo, original e extravagante de Alice no País das Maravilhas.