Miguel.Moreira 26/01/2024
Um manifesto reacionário
As Ideias têm consequências - Richard M. Weaver
Numa tentativa de reparar a dissolução e decadência do Ocidente, Richard Weaver nos propõe algumas mudanças ao decorrer desta obra que, sem dúvidas, é obrigatória para qualquer pessoa que queira entender o mundo moderno, em especial o contexto do pós-guerra, onde as pessoas se tornaram cada vez mais individualistas, não pela guerra, mas por deslizes de ideias que vieram de anos e anos, e o primeiro equívoco de pensamento é o nominalismo, a doutrina que nega os universais e relativiza a verdade; juntamente do abandono da ontologia em favor do pragmatismo (Santo Tomás de Aquino e Guilherme de Ockham).
Weaver defende a hierarquia como uma das principais bases da sociedade, pois com ela se estabelece uma ordem, de forma que cada qual saiba o seu lugar no mundo. O homem moderno abomina quaisquer formas de ordem, e isso se mostrou nocivo, pois num mundo em que todos são iguais não há organização, não há respeito, e há muito egoísmo em torno de si mesmo.
Somos levados pelo autor a refletir sobre diversos assuntos, de forma que compreendemos cada etapa da decadência, desde as primeiras ideias nominalistas até seu reflexo na música, de forma que ao trazer este debate para o Brasil atual, Paulo Freire foi apenas um fantoche dessa decadência ocidental que surge no Renascimento, de forma lenta e gradativa. Além de abordar sobre a abolição dos valores cristãos, o avanço da ciência pelo ego, o consumismo em massa (referido pelo termo ‘’Capitalismo’’), que se mostram consequências do individualismo e culto à imagem do ‘’Homem’’.
Há algumas discordâncias ao se tratar de música, em que Weaver apresenta o Jazz como o marco para a decadência da música, colocando-o como um gênero musical inferior aos outros. Bem, a maioria dos universitários da minha idade ficaria com muita raiva dessas colocações e abandonaria o livro por aí, mas devemos ter maturidade e o mínimo de inteligência para compreender que o ponto não é ‘’Jazz é ruim, Bach é bom’’, mas sim a forma de decadência em que a arte se encontra. Para o autor, Beethoven é um compositor que começou a romper com a verdade e depois dele a decadência era certa. Com maturidade entendemos que ele usa o Jazz como um exemplo de falta de inteligência para se fazer arte, como uma afirmação do jazzista Robert Goffin exemplifica: ‘’o jazz não precisa da inteligência; ele requer apenas sentimento’’. A crítica é à substituição da razão em detrimento do sentimentalismo individualista, e pode parecer simples, mas a decadência da música reflete exatamente a decadência de uma sociedade inteira; me pergunto de Weaver previu o funk carioca ou a música comercial do século XXI, pois se olhamos para o passado, o Jazz é infinitamente superior ao que a música comercial é; mas o Jazz não é como Debussy; Debussy não é como Bach etc. Eu, como músico, compreendo que a arte passa por diferentes estéticas, e uma não é necessariamente melhor que a outra, no sentido sociológico da palavra; mas é inegável que o Belo sempre será Belo, e precisamos de mais inteligência para compreender a música de Bach do que para desvendar uma música de algum rapper norte-americano médio, que fala de drogas, sexualidade e ostentação (exatamente o desejo físico que se sobressai ao intelecto, ao universal, à vida de contemplação do divino).
O ponto é justamente esse, não é simplesmente um velho reaça dizendo que impressionismo é ruim, mas sim explicando todo um contexto, e nos mostrando que sim, a arte moderna está em decadência por conta de ideais mais complexos do que simplesmente um marxismo, que não passa da materialização destes ideais nominalistas.
O último direito metafísico é a propriedade privada, que nos permite governar da forma que bem entendemos, e a prosperidade refletirá uma boa administração do próprio lar (ou empresa), de forma que o homem seja mais responsável e menos infantil. Uma empresa mal gerida chegará, mais cedo ou mais tarde, na falência; o mesmo se aplica para uma propriedade privada. Nosso mundo atual já conseguiu abolir este último direito metafísico, e as pessoas não querem mais ter um vínculo de responsabilidade/propriedade, algo que podemos refletir acerca de diferentes pontos, e pensando no Brasil, um país onde dificilmente alguém consegue prosperar vivendo do salário mínimo, este direito metafísico é quase impossível. Bem, nosso país está dentro do plano nominalista de abolição das virtudes, um país democrático onde ‘’todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros’’, é um exemplo de eficiência das ideias progressistas, de forma que os mais pobres devem depender do Estado, os mais ricos são taxados, e incentivados a fugir do país, e a classe média, que deveria buscar a autonomia, defende seu conforto em favor da democracia igualitária, com um pensamento de ressentimento pelos mais bem-sucedidos. A classe média é a burguesia que financia essas ideias decadentes, como socialismo e comunismo; os liberais não estão isentos de culpa, pois eles implantaram o senso de consumismo elevadíssimo na população, através do capitalismo desenfreado (interpreto como o simples consumismo através de um capitalismo sem nenhuma moral, o termo é complicado de entender, porém em resumo, é uma crítica ao desejo de ter tudo com o pensamento de uma criança mimada).
A proposta para a correção desta decadência moral, intelectual e cultural é simplesmente o estudo. Somos incitados a buscar a boa arte, os bons livros, e a ter o sentimento de Piedade, para com isso atingir a sabedoria da Verdade. Em complemento, no curso Iniciando nos Clássicos de Guilherme Freire, o professor nos leva a pensar que não adianta se meter na política com a vida totalmente desestruturada; primeiro devemos consertar nossa própria vida (nosso próprio eu), depois devemos organizar a nossa família e nossa casa, e por fim, organizar uma empresa; apenas se tivermos essas três etapas de organização é que devemos nos meter no mundo da política, pois o homem moderno, desprovido de qualquer senso de estrutura, é facilmente corruptível dentro de um meio corrupto.