Vanessa Vieira 25/12/2017
No Coração do Mar - Nathaniel Philbrick
O livro No Coração do Mar, do americano Nathaniel Philbrick, nos relata o naufrágio do baleeiro Essex, ocorrido em 1820 e a luta de seus tripulantes pela sobrevivência. A história serviu de inspiração para que Herman Melville escrevesse uma de suas obras mais aclamadas, Moby Dick e nos relata com minúcia de detalhes a força da natureza e a capacidade de sobrevivência humana.
Tal como ocorrido com o Titanic, considerado pelos seus construtores "como um navio que não poderia ser afundado nem por Deus", nunca se imaginou em toda a história marítima que um navio baleeiro pudesse ser atacado ferozmente por uma baleia. Porém, em 1820, o baleeiro Essex foi colidido brutalmente por um cachalote - uma das maiores espécies de baleias, que pode medir até 15 metros de comprimento - e veio a afundar rapidamente. Os poucos marujos à bordo se dividiram em três botes e passaram três meses sobre o Oceano Pacífico, lutando piamente por suas vidas, enquanto enfrentavam as intempéries da natureza, bem como a fome e a sede abundantes. Tais aflições levaram muitos deles aos extremos da loucura, da morte e, até mesmo, do canibalismo.
O historiador Nathaniel Philbrick reconstitui a história de naufrágio verídica ocorrida no século XIX com uma gama de detalhes e baseada em uma pesquisa minuciosa e fontes inéditas. A tragédia vivida por pessoas reais e que testou os limites da capacidade de sobrevivência humana, serviu de inspiração para que Herman Melville escrevesse Moby Dick e até hoje ressoa como um "aqui se faz, aqui se paga".
No Coração do Mar é um trabalho de ampla pesquisa, que inclui dados detalhados colhidos da cidade de Nantucket, Massachusetts, de onde partiu o Essex e onde também residiam seus tripulantes e conta também com trechos de entrevistas dos familiares das vítimas, que possuem uma conotação bem incisiva e real. Além de ser historiador, Nathaniel Philbrick é também velejador e diretor da Egan Institute of Maritime Studies e pesquisador da Nantucket Historical Association, o que contribuiu e muito na reconstrução dos fatos retratados em seu livro e agregou profundo valor para à obra. Narrado em terceira pessoa de forma ricamente detalhada e com profundas pautas para reflexão, o enredo nos retrata uma das maiores tragédias marítimas dos Estados Unidos com afinco, ressaltando a capacidade de resistência do espírito humano em meio à adversidades consideradas insuperáveis.
Não vou me ater tanto aos personagens da história para que, de certa forma, isso não acabe estragando os seus atrativos, por isso irei falar brandamente de apenas três deles, Owen Chase, George Pollard e Thomas Nickerson. Owen Chase foi o Primeiro Imediato do Essex, ou seja, o responsável por assumir o comando da embarcação em caso de incapacidade, impedimento ou morte do capitão. Ele se mostrou um dos personagens mais guerreiros e valentes do desastre e faleceu aos 71 anos, considerado louco, além de estocar uma quantidade irrefreável de comida no sótão de sua casa. George Pollard era o capitão do navio, considerado por muitos inexperiente e despreparado para assumir o Essex. Mesmo tendo ideias corretas, ele não teve força o suficiente para levá-las adiante, se deixando suprimir facilmente pelos seus imediatos e exerceu a profissão de vigia noturno até o fim de sua vida. Thomas Nickerson era o mais novo à bordo do Essex, com então 14 anos e era sua estreia pelo mar à bordo de um navio baleeiro. Decorrido anos da tragédia, transformou-se em dono de pousada em Nantucket, além de ter sido o responsável por narrar os fatos do naufrágio com precisão para Herman Melville. As cenas aflitivas vivenciadas pelos personagens são devastadoras, principalmente no que concerne ao canibalismo e ao sorteio que acaba elegendo Owen Coffin - primo de George Pollard - para servir de repasto para a tripulação e que atormentou o capitão do Essex até os seus últimos dias na Terra. Outros fatos que concernem à alimentação dos marujos também são bastante exóticos, tais como se alimentar do sangue e da carne de tartarugas e ingerir a própria urina para aplacar a sede.
Resumidamente, No Coração do Mar é um livro que mostra o embate entre a natureza e o homem e todas as suas consequências. A caça às baleias era algo cruel e desenfreado, com o intuito de extrair o óleo e espermacete das mesmas para ser usado na iluminação pública e lubrificação de máquinas industriais sendo que, mal sabiam os homens, o óleo que buscavam estava no "quintal da própria casa" e que não era necessário tanto extermínio em massa e crueldade para obtê-lo. Graças a Deus que o petróleo foi finalmente descoberto, afinal as baleias seriam conhecidas nos tempos atuais como meros "dinossauros" e sua extinção seria mais uma ferida aberta e pungente na história da humanidade. Em 2015 foi feita uma adaptação cinematográfica da obra, dirigida por Ron Howard e que foi bem aclamada pela crítica. O filme conta com os atores Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Ben Whishaw e Tom Holland nos papéis principais e conseguiu transportar para às telas todo o realismo sobre o naufrágio do Essex, retratando a baleia como uma coadjuvante em meio à história de sobrevivência de seus tripulantes. A capa do livro é simples e nos traz a gravura dos marujos acompanhando à bordo de um bote o naufrágio do Essex e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho, revisão de qualidade e ilustrações extremamente interessantes no miolo do livro. Recomendo ☺
site: http://www.newsnessa.com/2017/12/resenha-no-coracao-do-mar-nathaniel.html