Fernanda309 22/07/2020
O que achei de Getúlio 1 (+ quotes)
EDIÇÃO: Foi amor à primeira vista. Meu eu de 15 anos ficou profundamente intrigado com a capa, embora seja só uma foto de Getúlio. Não sei explicar. O material da capa é meio caminho entre brochura e capa dura, com papel de ótima qualidade (há marcas levíssimas de tempo, quase imperceptíveis), diagramação impecável, as imagens de ótima qualidade. Não chega a ser uma edição de luxo, mas certamente está à altura do conteúdo.
ESCRITA: Foi meu primeiro contato com o autor, e com uma biografia. Apoiado numa vasta pesquisa histórica sem precedentes, Lira Neto nos conduz pelos idos da Proclamação da República até o final de 1930 com uma fluidez que não deixa inveja para obras ficcionais. A história de qualquer país é densa, e a de qualquer ser humano, complexa; entrelaçar isso sem perder o ritmo nem negligenciar fatos importantes não é pra qualquer um, e eu nem preciso ler outras biografias pra saber disso. É óbvio que o autor é um admirador de Getúlio, contudo, não consideraria a biografia tendenciosa, disposta a favorecer os pontos altos da trajetória de Vargas ou suas qualidades mais fortes. Aqui e ali, vemos o ponto de vista do próprio Neto, com uma sutileza incrível, o que só dá mais vontade de seguir lendo. A linguagem é rebuscada, o que é totalmente compreensível dado o período que se propõe a retratar. Pode ser um desafio a mais para quem não está habituado - meu vocabulário está longe de ser pequeno e anotei dezenas de palavras que não conhecia.
ENREDO: Fascinante. Sério, não tenho outro adjetivo para dar. Ser uma apaixonada por História do Brasil ajuda, e o narrador faz um trabalho maravilhoso na maneira como nos conta, mas se considerarmos os fatos isolados, ainda assim seriam interessantes. Como não ficar curioso com a jovem República que nascia ali, ainda com indubitáveis características de seu passado imperial? Um desejo de voltar os olhos para o futuro, mas com as pálpebras pesadas do sono do tradicionalismo da sociedade apegada ao passado. Dormitamos várias vezes. Mas acho que foi só na Revolução de 30 que finalmente abrimos de fato os olhos. Toda a efervescência nos levou até lá e as variáveis do que aconteceu, tudo isso é o enredo deste primeiro livro.
PERSONAGENS: É muito peculiar você ler sobre nomes cujo conhecimento normalmente se limita a saber que foi alguém famoso o suficiente para virar nome de rua ou de praça, e dependendo do local, até cidade. Flores da Cunha, Artur Bernardes, Washington Luís: não foram só nomes comuns, foram homens que de fato tiveram papel decisivo na nossa história. Com o próprio Getúlio Vargas também foi assim. Todos sabemos que ele já foi nosso presidente, afinal, muitas das capitais e grandes cidades do Brasil tem uma rua chamada Presidente Vargas. E ele, amigos, é o baixinho mais enigmático de que já ouvi falar. Uma personalidade complexa, muitas vezes ambígua, com habilidades, defeitos, sentimentos, erros e tudo o mais que nos torna humanos. Sou uma fã, disso não há a menor dúvida.
+: Reler pela primeira vez, sete aos após a primeira leitura, foi uma experiência e tanto. Eu era uma pessoa muito diferente na época, com bagagens intelectual e literária muito menores do que tenho hoje, mas acreditem: nem por um segundo eu duvidei de que daria exatamente a mesma nota de anos atrás, minha classificação máxima. Apesar de lembrar de muita coisa - não dá pra alterar fatos históricos -, fui surpreendida pelo fato de ter tido uma leitura tão enriquecedora quanto da primeira vez. Sou tão encantada por essa trilogia que novamente me vieram lágrimas aos olhos quando da primeira anotação de Getúlio no seu diário pessoal, no dia do início da Revolução. A gente aprende, ri e chora, e aprende mais um pouco. Definitivamente, minha trilogia favorita nacional. E esse foi só o primeiro.
"[...] quando a circunstância não se mostrar garantida, o melhor a fazer é esperar, resistir, transformar o tempo em aliado."
"Foi contra essa verdade, que tem dureza de granito, que vejo quebrar-se o castelo dourado das minhas ilusões." - Getúlio Vargas
"Na luta, vencer é adaptar-se, isto é, condicionando-se ao meio, apreender as forças ambientes, para dominá-lo." - Getúlio Vargas
"[...] o rio que ele deveria necessariamente atravessar, numa viagem sem retorno, caso não quisesse ficar preso às conveniências da província e às circunstâncias do passado.
Era preciso, de algum modo, arriscar-se à travessia."
"O senhor tem inimigos?', perguntaria um dia o biógrafo Emil Ludwig a Getúlio.
'Devo ter; mas não tão fortes que não possa torná-los amigos', responderia.
'E amigos?', insistiria Ludwig.
'Claro que os tenho; mas não tão firmes que não venham a se tornar inimigos', replicaria Getúlio."
"As velhas fórmulas já não satisfazem e se vai operando a transformação inevitável." - Getúlio Vargas
"[...] sorrir e calar, na maioria das vezes, era muito mais eficiente do que excitar polêmicas gratuitas."
"Querer a paz com o povo ajoelhado é um crime contra o qual haveremos de nos levantar." - Oswaldo Aranha
"Precisamos fria e serenamente organizar nossas forças com um objetivo certo e determinado." - Luís Carlos Prestes
"A política é assim mesmo; pode ser definida como a arte que une e separa os homens para este ou aquele propósito, às vezes feliz, outras vezes de pouca sorte." - Artur Bernardes
"Há muito que minha consciência de brasileiro já se havia formado a convicção de que a salvação não está nas leis nem está nas palavras. Está na ação e na decisão do povo brasileiro." - Oswaldo Aranha
"Se todas as pessoas anotassem diariamente num caderno seus juízos, pensamentos, motivos de ação e as principais ocorrências em que foram parte, muitos, a quem um destino singular impediu, poderiam igualar as maravilhosas fantasias descritas nos livros de aventuras dos escritores da mais rica fantasia imaginativa." - Getúlio Vargas