Ulisses

Ulisses James Joyce




Resenhas - Ulisses


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Quelemem 15/09/2011

Certa vez...
... ouvi falar de um livro e da dificuldade de lê-lo. Aceitei isso como um desafio. Li - pensei, sofri, senti, amei, busquei, perdi, fui. No fim, olhei para o mundo e para o ser humano, e os vi mais vastos e nítidos.
Rafael 07/09/2012minha estante
Curiosidade sobre o autor:
http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/6-escritores-consagrados-que-nao-enxergavam-direito/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super


RegularJhon 03/04/2023minha estante
Caralho


JosA225 28/12/2023minha estante
Obra complicadíssima, sem as notas não consegue-se entender nada.




3.0.3 16/04/2024

Estas areias são linguagens que maré e vento inscreveram aqui
“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso, se não mais, pensando através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por que em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.”

O que é o livro? O livro me puxa para um abismo que é um espaço de ausências seguidas, e esse abismo guarda em si o deserto onde nos movemos infinitamente; o livro é o deserto mais árido que há. Encontrar-se e perder-se nele é fantástico. É coisa de outro mundo. Aquele que detém uma parte do livro, qualquer que seja, fragmento, pedaço rasgado, já consegue sonhar outros sonhos, pois um livro pode ecoar o eco do outro que o incorporou numa vibração sutil; assim, alcança-se um diálogo silencioso e penoso, incansável, solidez que pode ser atravessada com a mão para buscar palavras além desse abismo. E sei que também voltaria abismado do abismo, sombrio e diáfano, com a mesma ausência oscilante de um livro.

Ulisses (1920), a obra-prima de James Joyce (1882-1941), é um monumento ao brilho literário e à redefinição dos limites da narrativa. Reconhecido como um dos maiores romances do século XX, Ulisses não apenas reimagina o épico de Homero, a Odisseia, mas o transpõe para o cenário pulsante das ruas e tavernas de Dublin. Em uma proeza de estilo e perspectiva, Joyce retrata as diversas facetas da vida em um único dia, o 16 de junho de 1904, conhecido hoje como Bloomsday. É uma celebração que cresce em popularidade, testemunhando a perene grandiosidade do romance e o desejo humano por alegria e comunhão.

Em vez de elevar a vida cotidiana às alturas da mitologia, Joyce inverte o processo, transformando um dia comum em um épico moderno. Cada personagem e ação são imbuídos de sentido heroico, onde até mesmo a simples tarefa de enfrentar um nacionalista embriagado em um bar se torna uma conquista lendária. Ulisses é mais do que um romance; é um mergulho profundo na alma de Dublin, vista através dos olhos visionários de Joyce.

Neste épico literário, Joyce ergue a fasquia da narrativa para além da estratosfera, levando-nos a uma jornada através da amada Dublin suja, onde cada página é um testemunho do poder transformador da escrita e da imaginação. Navegar no complexo labirinto da literatura requer uma mente afiada e uma dose generosa de paciência, mas os tesouros descobertos ao final da jornada são certamente gratificantes. Não é de surpreender que muitos desistam deste romance pelo caminho ou que simplesmente não o apreciem; afinal, esta obra é genuinamente desafiadora. Joyce, com maestria peculiar, entrelaça alusões enigmáticas e datadas, narrativas que nos envolvem em névoa densa e vocabulário invejável, criando uma odisseia literária destinada a desafiar e a intrigar. Ele mesmo admitiu ter adornado seu texto com tantos enigmas e charadas que garantiria séculos de debate entre os acadêmicos sobre seu verdadeiro significado, assegurando assim sua imortalidade.

Os leitores devem ser advertidos: este não é um romance para os fracos de coração. Há momentos em que a frustração parece prestes a nos consumir, tentando-nos a abandonar o livro. No entanto, é na segunda metade que começamos a desvendar os segredos que ele guarda, e é então que percebemos que o romance conquistou um lugar especial em nós. Ao terminar a jornada, somos surpreendidos ao perceber que estamos diante de uma das mais grandiosas obras já concebidas, e o amor por ela floresce em nossos peitos. Talvez essa sensação seja similar à experiência de quem se aventura em maratonas ou escala montanhas: uma jornada árdua, repleta de desafios, mas cuja conclusão traz consigo um orgulho e uma euforia indescritíveis. Há recompensas inúmeras a serem colhidas ao longo da leitura.

Ulisses não só exibe um talento literário incomparável, mas também oferece uma variedade de estilos que cativam e surpreendem. Muitos se esquecem de mencionar que este romance também é dotado de humor sutil. É um livro que exige que nos ensinemos a nós mesmos, que nos desafia a ir além da simples leitura. Não é à toa que estudiosos dedicam anos de suas vidas a desvendá-lo, mantendo-o ainda hoje como objeto de debate e admiração. Até o grande Ulisses precisou de auxílio em sua jornada épica.

“Arrojo esta sombra términa de mim, hominiforma inelutável, chamo-a de volta. Intérmina, seria ela minha, forma de minha forma? Quem me percebe aqui? Quem em lugar algum jamais lerá estas escritas palavras? Signos em campo branco. Em algum lugar a alguém na tua voz mais maviosa.”

A obra é uma tapeçaria literária, tecida com uma vasta gama de estilos e técnicas narrativas. A habilidade de Joyce em transitar entre diferentes formas de escrita – desde a sátira de publicações populares até a reverência aos mitos ancestrais e a aplicação de conceitos científicos à prosa – cria uma experiência de leitura multifacetada. Cada linha do romance é uma porta para um universo distinto, onde o leitor é convidado a explorar e se aventurar com a riqueza da expressão literária.

O famoso fluxo de consciência, ousadas alucinações disfarçadas de jogos, e a profusão vertiginosa de prosa, que varia de ornada a singela, demonstram o amor de Joyce pela experimentação estilística. A linguagem é frequentemente brincalhona, lírica e repleta de trocadilhos, demonstrando o talento excepcional de Joyce para a manipulação linguística. Ele até usa a estrutura das frases para transmitir movimento. Somente pela sua maestria linguística, Ulisses se destaca como uma das obras mais espetaculares já escritas, desafiando até mesmo os limites do nosso vocabulário.

Uma das características mais debatidas de Ulisses é a técnica inovadora de Joyce de imergir o leitor nos pensamentos das personagens. Não se trata de uma narração em primeira pessoa convencional; em vez disso, os personagens parecem estar inconscientes da presença de um observador em seus pensamentos. As informações emergem em rajadas desconexas e aleatórias, sem que Joyce se preocupe em fornecer clareza ao leitor. Assim como William Faulkner (1897-1962), Joyce deixa o leitor sozinho para montar o complexo quebra-cabeça narrativo.

A técnica narrativa empregada por Joyce permite uma fluidez de consciência entre as personagens, onde o leitor é frequentemente confrontado com transições abruptas de pensamento. O solilóquio de Molly exemplifica essa técnica, com os pensamentos de Boylan e Bloom se sobrepondo de maneira indistinta. A narrativa exige uma leitura atenta e reflexiva, pois a identidade do falante pode não ser imediatamente aparente, requerendo que o leitor dedique tempo para discernir a fonte dos pensamentos apresentados. A estrutura do romance é tal que acompanha os movimentos diários de Stephen e Bloom, mas não de forma linear ou contínua. Em vez disso, Joyce constrói uma narrativa polifônica que entrelaça diferentes perspectivas, permitindo que a história capture a essência de um dia inteiro. Esta abordagem oferece uma visão holística e multifacetada dos eventos, refletindo a complexidade da experiência humana e a interconexão das vidas individuais.

A noção de paralaxe, emprestada da astronomia, é transposta para a narrativa de Ulisses, servindo como metáfora para a multiplicidade de perspectivas que Joyce apresenta. Bloom reflete sobre esse conceito, que se torna um leitmotiv ao longo do romance, sugerindo que a realidade pode variar significativamente dependendo do ponto de vista do observador. Joyce utiliza essa ideia para enfatizar a subjetividade da experiência humana e a complexidade inerente à interpretação dos eventos e das relações interpessoais. Nesse sentido, os leitores são convidados a adotar uma postura ativa na construção do significado do texto, navegando por um oceano de pensamentos e imagens que, muitas vezes, parecem contraditórios ou incompatíveis. Por meio dessa técnica, Joyce desafia os leitores a reconhecer e apreciar a diversidade de interpretações possíveis, incentivando uma leitura mais profunda e engajada que vai além da superfície do texto. Ulisses não apenas conta uma história, mas também convida à reflexão sobre como as histórias são contadas e percebidas, destacando a riqueza que emerge da confluência de diferentes pontos de vista.

“Nutridos e nutrientes cérebros ao meu redor: sob lâmpadas incandescentes, pingentes com filamentos pulsando desmaiados: e na escuridão de minha mente uma preguiça do inframundo, relutando, avessa à claridade, remexendo suas dobras escamosas de dragão. Pensamento é o pensamento de pensamento. Claridade tranquila. A alma é de certo modo tudo que é: a alma é a forma das formas. Tranquilidade súbita, vasta, candescente: forma das formas.”

A diversidade de narradores é um testemunho da habilidade literária de Joyce. Cada personagem é dotado de uma voz distinta, caracterizada por um estilo, vocabulário e estrutura gramatical próprios, sendo Molly Bloom exemplo notável dessa variedade. A complexidade das vozes narrativas pode levar o leitor a questionar as perspectivas de Joyce sobre questões sociais, como sua visão sobre judeus e mulheres. No entanto, Joyce subverte frequentemente as expectativas ao apresentar pontos de vista contrastantes.

A representação das mulheres e da sexualidade é central na narrativa, o que provocou debates sobre a possibilidade de Joyce ser misógino. A descrição de personagens femininas, muitas vezes focada em sua sexualidade, e a presença de figuras como prostitutas podem ser interpretadas como reforço dessa perspectiva. Contudo, é importante considerar que Joyce pode estar explorando a complexidade da condição feminina e as normas sociais da época, em vez de simplesmente perpetuar estereótipos. A ambiguidade e a multiplicidade de interpretações são características essenciais de uma grande obra literária, convidando o leitor a uma análise mais aprofundada das intenções do autor e das dinâmicas sociais retratadas no romance.

Pelos olhos de Bloom, somos confrontados com uma visão objetificada e desprovida de remorso das mulheres como objetos sexuais, bem como uma perspectiva masculina sobre a sexualidade feminina. No entanto, com Molly, Joyce nos apresenta uma visão altamente contrastante das mulheres e de sua própria sexualidade, explorando como elas percebem não apenas sua própria sexualidade, mas também como enxergam a sexualidade masculina e até mesmo como imaginam ser vista pelos homens. Molly vislumbra a possibilidade de ter um pênis e reflete sobre a experiência de manter relações íntimas com outra mulher. Tais pensamentos, embora possam ser considerados polêmicos ou mesmo ofensivos por parte do público, devem ser examinados sob uma perspectiva ampla e enquadrados na narrativa e na construção das personagens. É crucial que a análise literária reconheça e explore a complexidade dos temas abordados, sem preconceitos ou julgamentos precipitados.

É pertinente reconhecer que James Joyce estava ciente da rigorosa censura imposta aos romances na Inglaterra e nos Estados Unidos. Frequentemente, ele incorporava trechos que desafiavam tais restrições. Não é inesperado que Ulisses tenha sido proibido nos Estados Unidos até 1934, ano em que a Suprema Corte Americana anulou a proibição, em um veredito emblemático sobre a legislação de obscenidade. Essas facetas, embora possam ser consideradas polêmicas, enriquecem e intensificam a representação da condição humana delineada por Joyce na obra.

A influência de Hamlet, de Shakespeare (1564-1616), é tão preponderante quanto a da própria Odisseia. Essa intertextualidade ressalta a natureza multifacetada das perspectivas e a intenção de Joyce em ancorar suas personagens à realidade, evitando definições ou alinhamentos claros. A obra shakespeariana é um tópico recorrente entre os intelectuais de Dublin, e um momento decisivo do romance é marcado pela análise de Stephen Dedalus sobre Hamlet, desvendando, assim, camadas dos temas centrais da obra. Desde as ideias do papel de Stephen como Telêmaco em busca de um pai substituto em Bloom, até os pensamentos contínuos sobre o adultério, tudo se desenrola durante a palestra de Stephen sobre Hamlet. No entanto, essa cena também demonstra que Stephen é uma figura de Hamlet, assim como Bloom é uma figura do falecido Rei, e que Molly pode se encaixar no papel da Rainha traidora, assim como Penélope.

“A arte tem de revelar-nos ideias, essências espirituais sem forma. A suprema questão sobre uma obra de arte está em quão profunda é uma vida que ela gera. A pintura de Gustave Moreau é a pintura das ideias. A mais profunda poesia de Shelley, as palavras de Hamlet, põem nosso espírito em contacto com a sabedoria eterna, o mundo das ideias de Platão. Tudo o mais é especulação de estudantezinhos para estudantezinhos.”

É interessante observar que muitos dos personagens, especialmente Mulligan, são baseados em pessoas reais com quem Joyce interagiu. Stephen explora como os personagens de Hamlet correspondem à própria família de Shakespeare, assim como esses personagens se assemelham aos que cercam Bloom e aos que cercavam Joyce. Stephen também é altamente representativo do próprio Joyce. Ele foi o protagonista do romance semi-autobiográfico de Joyce, Um retrato do artista quando Jovem, e neste romance o vemos continuar sua busca pela arte. Em um cenário de discussão, ele se posiciona ao lado de um recém-nascido, debatendo a relevância entre a vida da mãe e a do filho no momento do nascimento. Essa postura revela suas ideias sobre a arte como uma criação de valor inestimável – como se cada pincelada, cada nota musical, fosse um gesto de dar à luz à própria essência da vida. Essa delicada metaficção é apenas uma das inúmeras estratégias pelas quais Ulisses cativa os leitores. Artesão habilidoso, Joyce tece palavras e conceitos, criando um mosaico que transcende o tempo e nos envolve em sua magia.

James Joyce escapa dos clichês com maestria, desenvolvendo uma trama de personagens complexos. Leopold Bloom, por exemplo, é uma contradição ambulante, um verdadeiro enigma: judeu e batizado, oscila entre a figura paterna e os desejos maternos, desafiando as normas de gênero. Seu coração gentil às vezes se contradiz com críticas aos outros por sua própria gentileza. Longe de ser isento de falhas, Leopold Bloom é um sedutor desavergonhado. Pelas ruas de Dublin, suas intenções lascivas em relação às mulheres não passam despercebidas. Ele é um dançarino da vida, sempre em movimento, como se buscasse escapar das sombras do passado. A tristeza o persegue, e os pensamentos sobre as transgressões de sua esposa pesam sobre seus ombros, como se a fuga fosse seu destino inevitável. Assim, Bloom, com sua humanidade multifacetada, é um dos personagens mais encantadores da literatura.

No emaranhado das palavras, a “união” entre Bloom e Stephen é fio invisível, laço sutil a transcender o óbvio. Como pássaros em voo, cruzam-se, divergem e se entrelaçam: casamento de almas, não de convenções. Stephen, o artista atormentado, e Bloom, o observador silencioso, movem-se na penumbra da linguagem. Desencontros e desafios marcam sua jornada, mas cada novo choque reinaugura suas essências. Mapa de encontros e despedidas, Ulisses fia destinos com laços de mistério e significado. Como observou Jung, o encontro de duas personalidades é como o contato entre duas substâncias químicas. Se houver alguma reação, ambos se transformam. Essa toada ressoa na interação entre Bloom, Stephen e outros personagens, destacando a transformação mútua que ocorre quando personalidades tão distintas se encontram e se envolvem em um diálogo interno e externo no romance.

Ulisses não é um romance fácil à primeira vista, mas vale o esforço investido. A sua prosa é intimidadora, mas, com paciência e orientação, o romance se revela uma verdadeira obra-prima, permitindo que o leitor mergulhe na linguagem de Joyce. Há uma riqueza de técnicas e enigmas a serem desvendados, tornando a leitura gratificante. Além disso, Ulisses é hilário em muitos momentos, acrescentando uma camada de humor à complexidade da narrativa. Joyce deixou um legado na literatura com Ulisses, que hoje é merecidamente reconhecido como um dos maiores romances do século XX. Esse livro, portanto, merece ser lido, pois nele cada palavra ganha vida na mente do leitor.

“Stephen fechou os olhos para ouvir as botinas triturar bodelha e conchas tagarelas. Estás andando por sobre isso algoqualcerto. Estou, uma pernada por vez. Um muito curto espaço de tempo através de muito curtos tempos de espaço. Cinco, seis: o nacheinander. Exactamente: e isso é a inelutável modalidade do invisível. Abre os olhos. Não. Jesus! Se eu cair de uma escarpa que se salta das suas bases, caio através do nebeneinander inelutavelmente. Até que estou deslocando-me bem neste escuro. Minha espada de freixo pende a meu lado. Tacteia com ela: é assim que se faz. Meus dois pés nas botinas dele estão no final de suas pernas dele, nebeneinander. Soa maciço: feito pelo malho de Los Demiurgos. Estou eu andando para a eternidade ao longo do areal de Sandymount? Tritura, tagarela, trila, trila. Dinheiro do mar selvagem. Dômine Deasy sabe tudinho.”
Luå 16/04/2024minha estante
Suas resenhas são muito lindas, você escreve muito bem ??




Jorlaíne 22/07/2023

É um livro difícil sim! Não tem fluidez, o enredo é cansativo e não há marcação clara de espaço e de fluxo de consciência.
Uma leitura apenas desse livro não é suficiente para entendê-lo, talvez nem duas ou três. Por isso, inclusive, existem livros que fazem uma leitura guiada pela obra.
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Luiz C. Amorim 12/03/2010

O LIVRO ILEGÍVEL
Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br - Http://luizcarlosamorim.blogspot.com )

Li recentemente Sambaqui, romance de Urda Alice Klueger, livro que recomendo, e depois acabei de ler 1808, livro do jornalista Laurentino Gomes, que tem o curioso subtítulo Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. O livro é resultado de dez anos de pesquisa investigativa e resgata um pouco da história da corte portuguesa no Brasil, da verdadeira história, não aquilo que lemos nos livros didáticos, superficiais e vagos. Vale a pena ler o livro com suas 414 páginas, para saber como e porque a família real portuguesa fugiu para o Brasil e como foi o reinado de D. João VI, um rei gordo e comilão, ainda que bonachão, que tinha medo de tomar decisões, mas que se manteve no poder. E as transformações que o Brasil sofreu com a invasão dos portugueses, que culminaram com a nossa independência. É curioso, interessante e divertido. O autor conseguiu fazer com que uma narrativa histórica tomasse ares de romance, com um tom leve e agradável.
Antes de ler esses dois bons livros, já tinha começado a ler Ulysses, de James Joyce, mas como o livro havia se revelado hermético desde o início eu havia conseguido ler as primeiras cento e cinqüenta páginas, com muito custo resolvi me dar uma folga. Como prometi a mim mesmo que iria ler aquele livro até o fim, tentei retomar a leitura.
Tenho o livro há anos, mas como ele tem oitocentos e cinqüenta e duas páginas, só há pouco tempo resolvi lê-lo, porque afinal de contas, ele é um clássico. E me decepcionei. Já li outros tantos clássicos da literatura universal, como Germinal, de Zola, O Sol Também se Levanta, de Hemingway, As Vinhas da Ira, de Steinbeck, A Idade da Razão, de Sastre, A Peste, de Camus, O Precesso, de Kafka, e outros, mas nenhum foi tão difícil, tão ruim como Ulysses.
Depois de umas quantas páginas, ao perceber que não havia uma história, apenas um amontoado de trechos de conversas sem muito sentido e um emaranhado de descrições e narrativas enfadonhas feitas por narradores diferentes, sem linearidade, que mudam de repente e não se sabe quem está contando a história (história?), além de invenção de palavras, palavras valise, erros de composição, ausência de pontuação em muitos trechos, repetição à exaustão do termo no que, que poderia ser substituído por então, ao mesmo tempo e tantas outras expressões e muito uso de citações em línguas diferentes, resolvi pesquisar para saber o que diziam da obra.
Fiquei sabendo que o livro carrega, desde que foi publicado a primeira vez, a fama de não ter sido lido até o fim por ninguém. Antonio Houaiss tinha uma nova versão revisada da tradução de Ulysses, antes de morrer, sinal de que para ele fora muito difícil o trabalho de verter para o português um texto onde proliferam aglutinações de palavras (valises) e uso de outros idiomas, mais de vinte deles, além do inglês. Soube que há, ainda, outras traduções para o português, mas desconfio que parte da má qualidade do texto se deve às tentativas de verter tão complicado livro para a nossa língua. Como traduzir um texto tão grande, coalhado de palavras aglutinadas, outras inventadas, além de citações em outras línguas, sem cometer equívocos? Sem contar que o vocabulário era o do começo do século passado. Era uma obra diferente, difícil, sem qualquer possibilidade de prender o leitor, que revolucionou os meios literários da época justamente por quebrar todos os padrões literários então vigentes.
Fui ler a apresentação do romance no volume que tenho, publicado em 1983, para tentar descobrir porque ele é tido como um clássico literário. Lá encontrei que A ação de Ulysses transcorre em Dublin num único dia, 16 de julho de 1904. A divisão ternária, em perfeita simetria, evoca as significações cabalísticas do três. Estudos de lingüística, com auxílio de computador, dão Ulysses como a obra de estrutura matematicamente mais perfeita de toda a literatura. (Então por isso é um clássico? Como nós, leitores comuns, pobres mortais, poderíamos saber disso? E o que interessa isso para o leitor? Mas tem mais.)
A linguagem utilizada por Joyce, que vai do poema à ópera, do sermão à farsa, contém não apenas termos usuais da prosa clássica a mais grosseira gíria (de 1921?) mas também elementos criados pelo escritor com base em seus conhecimentos de latim, grego, sânscrito e mais dezenas de outros idiomas.
Apesar disso, acho mesmo que Ulysses é um clássico e continua sendo publicado porque Joyce pretendeu fazer um paralelo com a Odisséia de Homero, segundo consta da mesma apresentação, cuja parte transcrevi acima. As personagens centrais de Ulysses teriam correspondência com os protagonistas da epopéia grega.
Não pude comprovar isso, pois o texto é desinteressante, disperso, cansativo, o tipo da leitura que não desperta curiosidade nenhuma, não faz com que se tenha vontade de continuar lendo. A gente lê um parágrafo e quando começa o seguinte já esqueceu totalmente o que havia no anterior. O romance (?) não prende o leitor e estou fadado a não contrariar a fama do livro de não haver quem o tenha lido até o final. Tento ler mais, mas o progresso é lento e a esperança de que o texto melhore se revela vã. Serei mais um a engrossar as fileiras dos que não conseguiram terminar a leitura do calhamaço entupido de estilos e de pretensões diversos. Por falar nisso, o autor confessa que imita, neste livro, estilos de dezenas de grandes escritores da sua época e de antes dele.
Então leio mais algumas páginas e leio O Caçador de Pipas, A Menina que Roubava Livros e Crime e Castigo para compensar. Talvez ainda volte a ler mais algumas páginas de Ulysses. Nada me atrai para lá, mas quem sabe?

LMG 21/10/2011minha estante
Ainda bem que ninguém aqui é profissional.


Dave 17/01/2012minha estante
Não li o livro ainda, mas tenho de expressar minha opinião pelo que li sobre o livro desde que o descobri. Acredito que o nosso resenhista não tenha compreendido a grande riqueza deste livro. Pelo que percebi ele(o resenhista) gosta de livros que contenham um enredo, uma narrativa. Acontece que o que Joyce (e todos daquela época, isto é, início do século) queria era mandar a narrativa convencional (perdão pela baixaria) pra PQP. Ele queria mostrar o lado simples e rotineio, muitas vezes sujo e libidinoso, do homem moderno, que em nada se assemelha com o Ulisses de Homero, guerreiro, forte e digno.


LMG 26/02/2012minha estante
\/ Eh... Por aí, mas a comparação é mais com a estrutura da Odisseia do que com o herói em si. Da uma olhada no texto original do Homero e no esquema de Linati.


Luiz C. Amorim 26/02/2012minha estante
Meu caro Dave, você precisa ler o livro primeiro, para depois dar opinião. Aceito a sua opinião, desde que você tenha lido o livro. Todo. E eu falo, na resenha, mais da maneira de escrever, na misturança de estilos que ele faz, que não são nada simples nem rotineiros. Não falo da história em si.Lanço um desafio: leia o livro. Mas leia todo. Abraço do Amorim


Geovane 27/07/2012minha estante
Luiz, parabéns pela sua resenha sincera e corajosa!

Estou na segunda tentativa de ler o livro, acho que talvez consiga passar das primeiras 200 páginas dessa vez. Isso simplesmente porque minha determinação agora é maior, não porque a leitura seja de alguma forma prazerosa.

Pretendo compartilhar minha experiência depois de avançar mais um pouco, veremos como será.

abs


Renata 21/01/2013minha estante
Não li o livro e nem tenho a pretensão de fazê-lo. Pelo menos não por enquanto. No entanto, gostei muito da sua resenha e devo dizer que estou ainda mais convencida de que não me trará qualquer prazer aceitar o desafio de realizar esta leitura. Digo isso porque tentei ler Virginia Woolf (ao que me consta sofreu grande influência de Joyce em seu estilo)e tive as mesmas impressões e sensações no que diz respeito ao estilo fragmentado. Enfadonho é a palavra que melhor descreve. Abraço.


Flávia 06/10/2014minha estante
Oi Amorin! Tenho o livro e tb a leve impressão de que dentro em breve estarei endossando a sua resenha!! Acho que todo leitor deve tentar ler Ulisses e fazer como vc: falar mal (ou bem?, vá saber!) com propriedade. Abs e boas leituras!


Igor Almeida 19/03/2017minha estante
Eu li o livro até o fim e concordo com você, demorei mais de um ano e nesse entremeio li vários outros livros. Tem partes interessantes, mas mesmo essas partes são difíceis de ler. Eu só conseguia ler com atenção 10 a 15 páginas por vez e o ambiente ao redor precisava estar bem silencioso.
Várias cenas fazem referência a Dublin, aos Irlandeses e a cultura vigente, inclusive tem um capítulo inteiro que é simplesmente uma discussão de amigos sobre as obras de Shakespeare, que eu não li, e por isso também achei enfadonho. Acredito que o livro era tragável em inglês para contemporâneos dele e que compartilhavam sua cultura, mas para a gente não.
Particularmente achei os capítulos finais mais interessantes, principalmente o último. Os primeiros também são relativamente bons de ler. Mas o meio é muito maçante.
Só aconselho a leitura a quem queira se desafiar, de conseguir ler um livro extremamente lento e longo etc. mas pela história não, tem outros livros que discutem os desafios do cotidiano melhor.




Luiz Souza 14/10/2023

Bloomsday
O livro vai contar um dia da vida de Leopoldo Bloom um senhor publicitário que tem uma linda esposa a espevitada Molly Bloom uma das personagens femininas mais marcantes da literatura modernista.

Leopoldo descobre que sua esposa irá lhe trair e por isso passa o dia todo andando pelas ruas de Dublin para fugir de ir pra casa.

A história vai contar com Stephen Dedalus o alter ego do autor em questão.

Os dois irão se encontrar em determinado ponto da história.

A história quase não tem enredo , é composto por 18 episódios cada um com estilo próprio como se fossem livros separados.

O plot talvez seja embarcar nessa aventura de ler Ulysses as pessoas tem quase uma reverência pela obra , ela é grandiosa mas dá pra ler sem medo.

Vai ter hora que você ler e fica o que está acontecendo aqui ?
Será que eu quero ler isso mesmo ?
A obra é complexa e intrigante a bem da verdade.

Tem hora que você vai querer desistir mas é preciso paciência e foco.

O autor não quis dá tudo mastigado ele propôs um desafio o leitor ia ter que destrinchar todos os nós desse livro ou pelo menos tentar fazer esse desafio.

Eu li o livro de uma vez , o ideal é ler aos poucos para saborear essa Odisseia de palavras , pensamentos e uma variedade de temas.

Molly ama o seu esposo apesar de sua personalidade bem diferente.

Os fluxos de consciência foi outra parte bem desafiadora.

O livro apesar de todos acharem algo sério é bem divertido no final das contas kkkkk.

Ótima leitura.
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jota 24/08/2020

Avaliação do livro: 5,0/5,0 (obra-prima da literatura universal); avaliação da leitura: 3,0/5,0 (difícil, densa, complexa etc.)
Vale a pena ler Ulysses? Depende. Vale pela experiência da leitura, por saciar a curiosidade de se ter em mãos um livro sem igual na história da literatura universal. Mas aproveitar completamente seu texto, como fizemos com, por exemplo, Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski ou José e Seus Irmãos, de Thomas Mann, obras também bastante volumosas, é outra história. No início, a Nota do Tradutor, Caetano Galindo, até que deixa o leitor um tanto animado diante das dificuldades que virão, sabendo ainda que para auxiliá-lo pode contar com outro volume, escrito pelo próprio Galindo, Sim, eu Digo Sim: Uma Visita Guiada ao Ulysses de James Joyce, o único que temos em português até o momento. Mas depois, ao ler a longa e erudita Introdução do professor irlandês Declan Kiberd nosso entusiasmo (pelo menos o meu) arrefece um tanto e ficamos com aquela sensação de que Ulysses será uma leitura não exatamente prazerosa, mas bastante árdua (o que já sabíamos há tempos, convenhamos). É hora de prosseguir ou desistir, ficar com outras obras de Joyce, menos difíceis, como os contos de Dublinenses ou o romance Retrato do Artista Quando Jovem. Mas prosseguimos...

A história narrada em Ulysses é a de um dia, uma quinta-feira, 16 de junho de 1904, na vida de Leopold Bloom. Um irlandês comum, “filho, pai, amante, amigo, trabalhador e cidadão”, ao mesmo tempo um dos personagens mais conhecidos e estudados da literatura universal. Um homem comum: assim também é como Anthony Burgess, o autor de Laranja Mecânica, vê Ulysses e os demais personagens criados por James Joyce (1882-1941), cuja obra ele analisou em Homem Comum Enfim (Companhia das Letras, 1994). Um homem comum que tem, no entanto, seu dia contado através de uma narrativa mutante, complexa, incomum. Extremamente incomum não apenas para a época em que o livro foi escrito (entre 1914 e 1921) mas ainda em nossos dias. Tanto que desde que foi lançado em 1922 inúmeros estudos sobre ele têm sido publicados mundo afora.

Em Ulysses não se encontra (quase) nada daquela escrita tradicional a que estamos acostumados, das histórias com começo, meio e fim tudo certinho, mas uma torre de Babel narrativa, uma montanha-russa de informações e dados com inúmeras alusões à literatura grega, à Bíblia, a Shakespeare e outras fontes, muitas fontes, diversas delas citadas em francês, italiano, alemão, gaélico, hebraico, latim etc. Predominam como formas de expressão dos personagens principais o fluxo de consciência, o monólogo interior, não há distinção precisa entre o que seja descrição, narrativa ou ação: é tudo junto e misturado. Portanto, ler Ulysses não é fácil, entendê-lo completamente (para mim) parece impossível. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, muitos críticos elegeram o livro de Joyce como a obra literária mais importante do século XX. Por sua modernidade, por ser inovadora, revolucionária e plena de palavras (algumas inventadas, outras juntadas etc.), expressões e frases de duplo sentido, majoritariamente sexual, muitos palavrões cabeludos e um tanto de escatologia. Um exemplo apenas: o escritor (fictício) favorito da personagem Molly Bloom, é um tal Paul de Kock (“Nome bonito que ele tem.”, diz ela ao marido). Entendeu? Falando ainda em Molly, seu monólogo interior, a parte final de Ulysses, é a melhor de todo o livro, a afirmação da figura feminina, que até esse ponto não tinha papel central na história.

À altura do personagem-título de Joyce estariam, para alguns críticos, apenas os sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (1871-1922), publicados entre 1913 e 1927. Em listas dos melhores livros de todos os tempos, não apenas do século passado, Joyce e Proust costumam perder para Miguel de Cervantes e seu Dom Quixote. Todavia, para o tradutor Ulysses talvez seja mesmo o maior de todos os romances publicados até hoje. Galindo não está falando do número de páginas, evidentemente, que é extenso, apenas deseja que os leitores não vejam em Ulysses somente um quebra-cabeças exemplar, mas um romance de fato. Porém, são tantas as charadas, as dificuldades de entender certas passagens (ou a maioria delas) que o leitor comum encontra em sua leitura, que o romance fica parecido, sim, com um grande jogo montado para divertimento do próprio Joyce e de algumas pessoas de seu círculo em Dublin, capazes de decifrar todos os enigmas que o livro apresenta ou a maioria deles. Claro que não é isso, mas...

Em Doutor Pasavento (Cosac Naify, 2009), Enrique Vila-Matas escreve que “A literatura consiste em dar à trama da vida uma lógica que ela não tem.” Parece uma frase bastante apropriada para quase todos os livros comuns que lemos, mas parece também que em Ulysses Joyce fez exatamente o contrário: o que havia de lógico (ou ilógico, contraditório, curioso etc.) na vida de Bloom, Molly ou Dedalus, pessoas comuns vivendo histórias comuns que poderiam acontecer com qualquer um, torna-se aqui um quebra-cabeças denso e complicado em que o leitor tem de se esforçar muito para juntar as peças e entender alguma coisa do que é contado. Não apenas o leitor, especialistas e críticos também. Senão não haveria tantos livros, teses e artigos tentando explicar um livro que parodia a Odisseia homérica, que “reconstrói” o clássico grego. É a história em cíclica repetição, como se fosse um ”eterno retorno” nietzschiano, mas com várias diferenças agora: Leopold Bloom aparece como um moderno Odisseu (em grego; Ulisses em latim), sua mulher Molly (Marion Tweedy, na verdade) seria Penélope e o amigo Stephen Dedalus (o alter ego de Joyce) pode ser visto como Telêmaco. E assim por diante com os demais personagens. Tudo mais ou menos assim, não exatamente semelhante conforme se passou com a narrativa homérica, transportada por Joyce para a Dublin do início do século XX.

Se Odisseu levou dez anos para voltar a Ítaca após a guerra de Troia (mesmo tempo que Galindo levou para traduzir o livro), Leopold Bloom gasta cerca de dezesseis horas perambulando por Dublin antes de voltar para o número 7 da Eccles Street, sua residência. Naquela quinta-feira, 16, Molly, a moderna Penélope, esperava não exatamente a volta do marido para casa, mas a visita do amante à tarde. Stephen Dedalus não sai à procura de Bloom como Telêmaco saiu à procura do pai, eles se encontram pela cidade. Ao contrário da história original, é Bloom (Poldy, para a mulher, diminutivo de Leopold) que busca encontrar no jovem escritor o filho que morreu logo após o nascimento. E se Molly Bloom, esposa, mãe e cantora lírica, também não é um modelo de fidelidade e virtudes, como foi Penélope, que ficou esperando o herói Odisseu tanto tempo, o marido tampouco tem algo de grande herói, é um homem comum como já foi dito (mas com alguns hábitos estranhos; segundo um acusador, Bloom guardava para contemplação um pedaço nojento de papel higiênico usado por uma prostituta). Ele é apenas um agenciador de anúncios em Dublin, filho de pai judeu e mãe católica: isso importava muito para alguém vivendo num mundo católico, o irlandês.

Joyce pretendia que Leopold Bloom, com todas as suas fraquezas e qualidades, representasse os múltiplos aspectos de cada ser humano, quer dizer, da humanidade. Por isso é que seu personagem não é um homem exatamente viril (tolerava as corneadas que Molly lhe dava, entre outras fraquezas), porque Joyce acreditava, conforme o professor Kiberd, que ele, Leopold, poderia ser o homem andrógino do futuro, com comportamento masculino e feminino perfeito. Mas enquanto isso não ocorre, Bloom, o andrógino imperfeito, inicia seu dia joycianamente. Perambula pela cidade, vai a diversos lugares, a um enterro, mais tarde a uma maternidade, depois a um prostíbulo, relembra ou imagina coisas, conversa com diversas pessoas, observa outras, caminha com Stephen Dedalus pelas ruas etc. Não quer voltar cedo para casa, daí que seu dia é uma verdadeira odisséia por Dublin. E a razão disso tudo, de não querer regressar cedo, é que ele espera que Molly esteja dormindo quando chegar. O motivo? A relação entre os dois não vai bem: Bloom sabe que a mulher, que é bela e admirada por muitos homens, o está traindo com seu empresário (dela, que é soprano, como foi dito antes). Nisso Molly é o oposto da fiel Penélope de Homero: é assim que Joyce nos apresenta a mulher de Bloom. E isso é um jogo, uma brincadeira do autor para com o leitor, entre tantas outras que o livro traz. Joyce faz isso com todos os seus personagens, apronta para o leitor brincadeiras, charadas, enigmas. Dessas coisas o livro está cheio e nem sempre (quase nunca, na verdade) é fácil decifrá-las sem ajuda.

Então é preciso ter em mente que sem algum (ou muito, depende) conhecimento prévio a leitura de Ulysses não irá muito longe, ficará extremamente difícil, complicada, aborrecida. Há gente que recomenda ler não apenas a Odisseia, de Homero, Hamlet, de Shakespeare, Dublinenses e Retrato do Artista Quando Jovem, do próprio Joyce, mas também uma introdução à literatura joyciana como o livro de Anthony Burgess, Homem Comum Enfim, ou o guia do próprio tradutor, Sim, eu Digo Sim, já citado. Foi o que usei: antes de ler cada episódio de Ulysses lia o capítulo correspondente no guia de Galindo. Ajudou um tanto, deu para entender o significado geral da obra e alguma outra coisa, mas o guia não traz explicação para tudo, como o próprio autor reconhece:

“Este livro não é um tratado acadêmico sobre o Ulysses. Ele também não é a chave de todos os enigmas nem a fonte de todos os dados. Foi inteiro pensado para o “leitor comum” e prefere partir do princípio de que o Ulysses — complexo, denso etc. — de certa forma ainda padece por causa dessas reputações. Elas são todas verdadeiras, reconheçamos, mas talvez tenham obscurecido outros méritos e outros atrativos. A ideia básica aqui é a de que todo leitor interessado em literatura de qualidade tem a capacidade e o direito de passar pela experiência profundamente transformadora que é a leitura do romance de Joyce. E não apenas os especialistas. E não somente os obcecados por charadas e estruturas.”

Para finalizar, falando em textos complexos, charadas, enigmas e quetais, há pouco me lembrei de um conto de David Foster Wallace (de quem Galindo traduziu Graça Infinita em 2014) do livro Breves Entrevistas com Homens Hediondos, Datum centurio, que me pareceu mais a descrição de um disco rígido, um DVD, uma listagem de um programa de computação, ou coisa parecida, não me recordo bem (li faz alguns anos), do que propriamente uma peça literária. Ainda que não longo, foi o texto de leitura mais desagradável do volume, o mais difícil de chegar ao final, o mais hediondo. Perto dele Ulysses até que é um tanto palatável, e além de tudo tem aqui e ali pitadas de humor, zombaria e diversas curiosidades e esquisitices que amenizam nossa leitura, sem o que ela poderia ser encarada como algo parecido com um pé no saco do leitor. Do leitor comum, eu.

Lido entre 31/07 e 24/08/2020.
AleixoItalo 24/08/2020minha estante
To me preparando a alguns anos pra ler esse livro hahaha


jota 25/08/2020minha estante
É bom mesmo ir se preparando. Só fui até o fim na terceira tentativa...


Andre 28/08/2020minha estante
Maravilhosa resenha, um dia ainda lerei esse bonitão! hahah


jota 28/08/2020minha estante
Grato. Com muita paciência e alguma ajuda dá para ler sim! Já apreciar (entender) tudo é uma outra história. Mas vá em frente.


Paulo Sousa 31/08/2020minha estante
Estupenda análise, seu moço! E eu li Dublinenses e, sinceramente, posso viver sem o Joyce...hehehe...


jota 01/09/2020minha estante
Grato! Todos nós podemos se temos um Grande Sertão: Veredas.


Karamaru 01/09/2020minha estante
Adorei sua resenha e o critério utilizado para a avaliação do livro. Parabéns!


jota 01/09/2020minha estante
Grato!


Karamaru 02/09/2020minha estante
?




Jpg 31/03/2011

Quero ler de novo o livro antes de fazer uma resenha decente. Mas meus dedos coçam e minha mente não se conforma em esperar. Por isso só vou deixar uma nota à quem interessar.

Não posso dizer que sou um literato nem tenho nenhum tipo de formação em literatura e, com certeza, a tradução de Antonio Houaiss não é muito tragável, mas considero essa obra como uma "peneira modernista" - um filtro - que separa os amantes da linguagem e da escrita, dos simples amantes de historinhas. E é exatamente por isso que muitas pessoas não gostam dele, que o consideram ruim; e normalmente esses leitores são os mesmos que acreditam em vampiros que brilham, ou em algum tipo de mago da auto-ajuda.
Renan 25/07/2011minha estante
pô! depois dessa deu vontade de ler!!!!


Mika 26/11/2011minha estante
gostei principalmente das últimas referências, apesar de ter lido e gostar no tempo que li desses vampiros, também sei admirar obras de verdade.


Lena 23/07/2012minha estante
Leio muito historinhas assim, Me dizem que não tenho idade p/ estas leituras... Mas quer saber?! Cou ler e ponto! kkkkk


Lena 23/07/2012minha estante
Leio muito historinhas assim, Me dizem que não tenho idade p/ estas leituras... Mas quer saber?! Cou ler e ponto! kkkkk


Márcia 31/07/2012minha estante
Também não tenho nenhuma formação em literatura, o que tenho é muita Paixão! Já tentei ler Ulysses 2 vezes mas com tradução do Antonio Houaiss, agora ganhei de presente com a tradução Caetano W. Calindo,sempre tive muita vontade de ler esse livro, sinto que agora vou conseguir.


Regina 04/10/2017minha estante
Deve ser a quarta vez que recomeço a leitura... Desta feita tenho esperança de chegar mais longe, porque também faço acompanhar a leitura da bússola do tradutor, Caetano W. Galindo - "Uma Visita Guiada ao Ulysses de James Joyce", e, de quebra, me delicio com as observações de Noga Sklar em "O Gozo de Ulysses". Torna-se mais longo o percurso, mas não me perco tanto com tais cicerones... Talvez eu morra tentando... Ou, quem sabe, venha fazer uma resenha antes de partir para o céu dos livros, sonhado por Borges. Foi Borges, eu acho, que sonhou um paraíso povoado de livros...




Fábio 04/09/2012

Lero-lero lero-lero lero-lero
Menos que imaginara, mais que esperara. (JOYCE, p.734)

Ulisses de James Joyce dispensa apresentações, pode ser que não seja uns dos livros mais lidos, porém, com certeza, é uns dos livros mais comentados quando se trata de literatura mundial. A maior parte da história acontece nas ruas de Dublin ou na mente de algum personagem, o pensamento é um grande cenário, seja um simples olhar para o passado: analepse (flashback) ou uma alguma ponderação de algo que poderá acontecer: prolepse (flashforward), a obra não se arrefece. Estilo e história se amalgamam.

Destarte, muitas frases do texto está em anacoluto (quebra de frase), o leitor viaja junto com o pensamento do personagem, o fluxo de consciência, muito bem aplicado por Joyce, deixa-nos extasiados, uma vez que os limites tênues da consciência e da inconsciência se rompem a cada momento. Uma simples descrição do dia se torna algo especial, quimérico e excêntrico. As conversas entre os personagens são intercaladas com pensamentos, ademais não se pode deixar de ressaltar a exuberância desta obra no que tange a maneira de escrever, porquanto que cada capítulo muda-se de estilo, deixando assim mais singular este livro a cada página lida.

Com uma arquitetura insólita no estilo, nas palavras, a engenharia montada por Joyce com as palavras é digno de um grande inventor e gênio, usando as letras como matéria-prima, monta-se e se desmonta: palavras, frases, operações sintáticas, semânticas, em resumo, uma linguagem extasiante. Para mostrar o homem simples da modernidade, representado por Leopold Bloom.

Com esta nova roupagem, o autor transforma Bloom (homem andrógino) em todos os homens (e mulheres), criando uma epopeia, como se observa pelo título do livro. Este representa apenas um dia, 16 de junho de 1904 (se tornando, após alguns anos da publicação do livro, o famigerado Bloomsday), aproximando-se de Homero em Odisseia os dez anos de acontecimento, todavia em Ulisses acontece em apenas um único dia, isto é: o personagem se digladia, se apaixona, ele trai, ele é traído, pessoas nascem, pessoas morrem, enfim, quando mais nos aprofundamos das páginas, mais o senhor Bloom se torna universal, se torna você, seu amigo, seu irmão, um indivíduo que você já conheceu.

A polifonia estética do livro não o deixa ininteligível, impossível, pelo contrário é uma leitura agradável, ao primeiro momento complexa, mas ao decorrer do livro, e o livro permite isso, consegue-se perder o medo e torna-se uma leitura prazerosa, vale lembrar que este livro é de um humor ímpar. Um boato pertinente se diz que a mulher do Joyce o ouvia constantemente rindo sozinho enquanto escrevia. Todavia não se pode esquecer do tão comovente Ulisses é narrado, algumas partes, inclusive, muito melancólica.

suuublime. Biscoitando lemos e lemos. Pensarmuito precisa. Remelentas palavras invadem nosso vocabulário dia após dia e dia e também noite Páginas pesadas grande sabedoria difícil leitura mas quem disse que a vida é fácil e também difícil não pode ser pra quem tem vontade eu acordo cedo todo dia e leio e depois eu gosto de Joyce ele escreve bem talvez não tinha muita caneta no tempo dele gosto de caneta preta pois destaca mais na folha branca li e gostei desteamadoeodiado livro.


JOYCE, J. Ulisses. Tradução: Antônio Houaiss. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1966. 846 p.
Gláucia 04/09/2012minha estante
Nossa, vou dar crtl-c crtl-v nessa resenha sempre que alguém quiser saber algo a respeito desse colosso de livro.
Uma questã: demora para a leitura deixar de parecer tão complexa e passar a ser totalmente inteligível?


Gnossos.Pappadopou 08/08/2013minha estante
Muito boa a sua resenha Fábio, parabéns! Pretendo em breve me aventurar nesse labirinto.




Yzak Ozaz 13/03/2022

Qual é aquela palavra que todos os homens conhecem?
Um único dia em Dublin. Duas figuras perambulam separadas pela comum cidade até seu encontro durante a noite. Leopold Bloom, judeu, agente de publicidade, casado com Molly Bloom, aspirante a cantora lírica; e há Stephen Dedalus, moço exótico que vai a pé para o centro da cidade. De manhã à noite, a narrativa acompanha as passadas de ambos, sobretudo Bloom, revelando um amplo painel da vida dublinense, e que se torna uma apreensão da consciência humana universal, através de um rico exercício de linguagens.

Poesia em prosa, de modo geral. Fluxo de consciência(s). Alto intelectualismo combinado com fraseados cômicos, safados e blasfemos. Obra original em inglês, com algumas recriações linguísticas mais frases do latim, italiano, francês, alemão e gaélico. Idioma joyceano, ou quase.

Uma grande personagem do romance é a própria Irlanda. Dublin, exatamente. A capital amada e odiada do escritor. E é nela retratada toda uma diversidade de dignificadas decadências. Uma vez questionado se regressaria um dia a Irlanda, Joyce respondeu perguntando: “Será que alguma vez eu a abandonei?”.

E por que Ulisses? Uma paródia da Odisseia de Homero. Bloom, Odisseu. Stephen, Telêmaco. Molly, Penélope. Bloom é de algum modo heroico, um sujeito realista consigo, aceitador de suas limitações. Ele é, embora sofrido, demasiado humano e bondoso, além de sincero e equilibradamente cético. Stephen, sem o saber inicialmente, carece de um pai espiritual, e encontra em Bloom talvez um referencial de humanidade para seus excessos de artista.

Livro difícil? Um desafio decente. E a única exigência que Joyce fazia aos seus leitores era que dedicassem suas vidas à leitura de sua obra.
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Andre.Crespo 23/03/2013

A Odisseia Moderna
"Ee Gh: és gagá"

Confesso que ainda estou um pouco mortificado e confuso após ter lido "Ulysses", do autor irlandês James Joyce. Há quase três meses, embarquei numa verdadeira aventura, e mais do que tudo, num grande desafio de ler esta obra. Sempre ouvi falar que era um dos livros mais complexos de toda a história da literatura. Bem, depois de ter lido, acho que quem disse isso estava correto.

"Ulysses", escrito entre 1914-21, conta a história de um dia - 17 de Junho de 1904, uma quinta-feira - da vida de Leopold Bloom, o Ulisses da Odisseia moderno. Só que este é um homem comum, mas muito atormentado por dentro. Joyce nos mostra suas estadas por vários lugares, desde o seu desjejum. Começando por ir a um enterro de seu amigo, ele vai passando por diferentes lugares, de bibliotecas a tavernas, passando por bordeis e hospitais. Que fique claro que não entreguei nada, pois tais lugares estão presentes no roteiro do livro.

Entre as oito da manhã e as duas da madrugada, nos é apresentado, de forma surreal e divertida, todos os conflitos do aparentemente normal. Leopold Bloom. Temos a oportunidade de ver também um pouco da vida de Stephen Dedalus, um jovem estudioso com sérios problemas com os pais. Li em algum lugar que Bloom representaria um Joyce mais velho e responsável; já Dedalus, seria a versão mais nova de Joyce, em seus vinte anos, quando ainda era inconsequente e irresponsável.

Agora fica a pergunta: por que considero "Ulysses" uma das maiores, senão a maior obra-prima de todos os tempos da literatura? Primeiramente, a revolução que Joyce produziu com o seu livro no mundo da escrita. Seu texto, totalmente surreal e aparentemente sem um nexo principal, nunca tinha sido feito antes. Segundo, as várias e várias formas de linguagem que ele destila em seu livro, tais como: trocadilhos, neologismos e jogos de palavras. Terceiro, a quantidade de citações e referências históricas e literárias, tornando o livro sofisticado e ao mesmo tempo mais complicado ainda. Quarto, a descrição de certos aspectos fisiológicos do ser humano, o que levou o livro a ser proibido em alguns países. Ele, com seu linguajar despojado e não economizando palavrões, antecipa D.H. Lawrence e seu "Lady Chatterley" em alguns anos. Quinto, e o que mais me fascinou, foi o seu extraordinário tato para o humor. Em algumas partes, você simplesmente tem que gargalhar por um bom tempo. "Ulysses" foi o livro que mais me fez rir, com certeza.

Em meio a tantos adjetivos, alguns podem reclamar que a obra seja demasiada longa, truncada e complexa. Ainda mais a versão que li, traduzida por Houaiss, em 66. Tendo-se paciência, tempo e calma, a leitura deste livro torna-se agradabilíssima. E de quebra, tem-se a chance de se ler um dos livros mais revolucionários, engraçados e bem-escritos de todos os tempos. James Joyce e seu "Ulysses" foram um marco não só para o Modernismo em voga na época, mas para a história da literatura em geral. Fica parecendo que tudo o que era possível se fazer numa obra de arte, Joyce o conseguiu, quebrando todas as barreiras do possível para a literatura.
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Quero Morar Numa Livraria 28/03/2020

Ulysses, James Joyce
No poema épico de Homero, Odisseu é o herói que enfrenta uma série de desafios no retorno à Ítaca. Após 20 anos (dez na Guerra de Tróia), tem de entrar disfarçado em sua própria casa e matar os pretendentes de Penélope, a esposa que lhe aguarda. No texto experimental do irlandês James Joyce, Ulysses (nome latino de Odisseu) ganha vida na pele de Leopold Bloom, filho de um judeu húngaro.

Como na telemaquia homérica, os episódios iniciais de Ulysses acompanham as primeiras horas do dia de Stephen Dedalus. Alter ego de Joyce e velho conhecido do leitor desde ?O retrato do artista quando jovem?, o intelectual acaba de retornar de Paris para a despedida da mãe morimbunda.

Em cena com Leopold Bloom, acompanhamos aproximadamente 18 horas de suas idas e vindas pelas ruas de Dublin. O livro é dividido em 18 episódios com estilos diferentes, desde o romance convencional ao fluxo de consciência pesado e outras invencionices.

Bloom tem 38 anos, é casado com Molly e é pai de Milly e Rudy, um menino de 11 dias morto há 11 anos, como Hamnet, filho de William Shakespeare. A questão da descontinuidade masculina para Bloom é imensamente dolorosa e permeia toda a narrativa. Poldy, como é chamado pela esposa, prolonga o seu dia fora de casa, pois na tarde de 16 de junho de 1904 (data do primeiro encontro de Joyce com a esposa), Molly receberá seu amante.

Os personagens são mais complexos do que isso. Bloom não é apenas um marido traído, estranho em sua própria casa, estranho em seu próprio país. No encontro com Stephan Dedalus, Poldy assume, ainda que por poucas horas, a paternidade perdida.

Inesgotável em sua grandeza, Ulysses (publicado em 1922), é objeto de leituras e releituras em andamento por toda a vida. O livro mais discutido e o menos lido. Poucos caracteres me obrigam a ser simplista. E nada é simples quando falamos de Ulysses e seus personagens inesquecíveis. Com ele, acordamos inexperientes e terminamos o dia cansados, como Bloom.
Liliane 29/03/2020minha estante
Que resenha! Passando para o leitores a densidade e intensidade do livro, mas deixando a vontade de ler fixada à memória.




Douglas Finger 03/10/2021

Gigante mór
Uma leitura de tirar o fôlego do início ao fim! Ulysses traz a história de um dia na vida de Leopold Bloom. Naquele fatídico 16 de Junho de 1904, uma quinta-feira qualquer, aconteceram 1112 coisas diferentes na vida deste homem que, basicamente, passou o dia na cidade, fez coisas que uma quinta feira em Dublin possibilita e tarde da noite voltou pra casa. Nada de mais.
Quando soube que o livro era sobre isso, quis ler imediatamente. Não acreditei que seria possível enrolar um leitor com tantas paginas para contar algo tão trivial.
Ler este livro foi a realização de um objetivo pessoal muito ousado. Foi o maior desafio literário e acho impossível alguma outra obra superar, sem nenhum exagero ao dizer. Para mim ainda é inacreditável ter conseguido terminar, não apenas por ser um catatau gigantesco de 1112 páginas, mas pela densidade de cada uma dessas páginas.
Ulysses é uma obra imensa, poderosa e potente. O livro mais impressionante que já li. Pretendo reler daqui alguns anos novamente com toda certeza! Mas digo com convicção: não é um livro que eu recomendo. é muito difícil a leitura. Precisa gostar muitíssimo de todos os artifícios e técnicas de escrita, totalmente impopulares. Tem paginas e mais paginas ilegíveis; Em trocentos mil momentos você não faz ideia do que está acontecendo; Ha mistura contínua entre pensamento-fala-acontecimento-memoria-desejo, tudo dentro de um mesmo parágrafo; Mistura entre o mundo subjetivo e o mundo objetivo e uma infinidade de muitas outras coisas. Trata-se de uma aula literária a cada palavra, muito impressionante. A tradução do Galindo merecia por si só o Nobel de literatura. é absolutamente insano o feito desse tradutor que demorou 10 anos para concluir.
Depois desse livro não tenho medo de ler mais nada. Nada impressiona mais. Essa foi a maior conquista adquirida e com certeza me fez um melhor leitor hoje. Notadamente depois desse livro passei a ler muito mais também.
Estou á procura de pessoas que tenham lido Ulysses também, porque sobre esta obra de arte não falta assunto.
re.aforiori 05/10/2021minha estante
Parabéns Douglas! ??

Se considere mesmo vitorioso! ???
Pois este livro é ?pedrada?! ?

?Ulisses? é um livro que tenho há anos e sempre postergo a leitura. Pois penso esperar chegar o momento de estar preparado... haha! ?

As poucas pessoas que conheço que o leram, falam que o acharam chato, ou que não entenderam, praticamente, nada... haha! ?

E me faltou também mais interesse, confesso. Mas eis aí um livro que precisa ser livro, certamente!

E sua resenha me encoraja a tal empreitada! Muito bem, meu caro! ??

Em contrapartida, dizem que esta tradução de Galindo, deixou ?Ulisses? mais acessível; e há até cursos deste tradutor sobre esta obra...

Porém, eu ainda tenho de ler ?O retrato do artista quando jovem?... para eu chegar até ?Ulisses?, há um caminho a se percorrer...

??


Douglas Finger 05/10/2021minha estante
Renato, fico muito feliz com o seu comentario! Recomendo que leia Ulysses com muita coragem! O retrato do artista da uma base muito boa para compreender Ulysses. Realmente é um bom inicio, pena que eu soube isso tarde!


Michela Wakami 05/10/2021minha estante
Se eu já estava com medo, depois do que você me escreveu, imagina agora. ?????


re.aforiori 06/10/2021minha estante
Douglas,

Imagino que tenho mesmo de ter coragem, e fôlego, muito fôlego ? também. Pois tenho ideia do que me espera! Haha! ?

Eu penso em ler, na verdade, ainda antes de o ?Retrato do Artista Quando Jovem?, o ?Dublinenses? ? que dizem ser a melhor porta de entrada para obra de Joyce ? para conhecer o estilo do autor.

Mas, me diz uma coisa, meu caro...

O que lhe foi mais difícil nesta obra: a tão temida linguagem; o uso de fluxo de consciência empregado; ou o fato de ter de buscar textos de apoio? (é que já ouvi falar que é preciso, até mesmo, conhecer a história da Irlanda, para se compreender ?Ulisses?, e ter lido a ?Odisseia? ? isto é verdade?)

E tudo isso junto em um só livro, o que virá? Kkk...

E outra curiosidade que me surge, naturalmente, sobre ?Ulisses?: houve deleite com a leitura, ou o prazer foi mesmo o de dever cumprido? É que, penso que, existem livros que são para nos aprazer, enquanto há outros que parecem que são mais para nos desafiar... ??

E claro que eu não poderia deixar de lhe perguntar: você já se sente pronto para enfrentar o ?Finnegans Wake?? ?? ? ? que este, sim, seria considerado o livro mais difícil de Joyce, né, chegando ser um livro praticamente intraduzível. Eu cheguei a ler uma única página do mesmo uma vez junto com uma amiga, e pensei: ?meu Deus, o que é isso?? E perguntei para ela: ?você entendeu alguma coisa?? E ela: ?nada...? E eu disse: ?nem eu... haha! ?? Então só nos contentamos a rir e nos sentir demasiadamente humanos para tal coisa. Este é um livro que eu, quiçá, nem queira ler... kkk... francamente... haha! ?


Douglas Finger 08/10/2021minha estante
Otimos questionamentos Renato! Vou começar pelo final: Finnegans Wake é sem sombra de dúvidas o livro mais dificil do Joyce e não esta na minha lista, nem vai entrar! Kkk teria que ler ele em ingles mas, mesmo assim, mto complexo e dificil, acho que nao vale a pena? muito diferente de Ulisses que, apesar das inumeras partes dificeis, da para ler!

Sobre Ulisses oq me fez ler foi,sem duvida, essa odisseia da vida cotidiana, e tambem a questao da linguagem e suas inumeras mutações ao longo do livro? eu sou apaixonado por linguas estrangeiras de uma maneira geral, entao eu curti muito a traduçao do Galindo, mto impressionante mesmo! Foi um prazer que ora vinha do enredo ora do texto propriamente dito?
Sinceramente eu não achei q fosse acabar o livro, entao essa foi apenas uma consequencia agradavel da leitura. Eu separava no maximo umas 20 paginas por dia pra ler.. nada alem disso. O livro não tem capitulos entao você meio q tem q fazer seu esquema de leitura.. cara, um desafio MESMO!

Sobre a questao de textos para apoiar a leitura, te digo q não usei nenhum? mas isso foi totalmente deliberado da minha parte: queria ter a experiencia da leitura, sem mta informacao adicional.. queria ter a minha propria impressao sobre o livro. Uma experiencia surreal e ao mesmo tempo dadaísta haha mas que eu gostei bastante! Eu li os textos de apoio e explicacoes do paralelo entre a Odisseia e Ulisses depois de ter encerrado a leitura? e, sinceramente, achei interessante mas não é isso q faz a obra ser imensa! Cada ?capitulo? do livro tem a ligacao com um orgao do corpo, uma cor, etc.. tem uma tabela dessa no livro explicando, mas é algo mto dificil de entender? oq eu tenho pra dizer é o seguinte: acho q somente em uma releitura de Ulisses passarei a enxergar essas inumeras particularidades da obra.. essas informacoes iriam apenas aprisionar a minha experiencia, ao invez de enriquece-la.. digo isso pq se você não conseguir achar aquilo q tanto dizem sobre uma determinada parte no corpo do texto, você passa a ficar desanimado pq realmente é dificil e complexo.. nao recomendo textos de apoio antes da leitura, nem mesmo ler nada do autor antes de Ulisses. Pq você logo vai perceber q uma vez só não vai ser o suficiente?
Espero ter respondido algumas coisas e lhe desejo muita força e coragem! Abraçao


re.aforiori 08/10/2021minha estante
Definitivamente, obrigado Douglas por compartilhar suas preciosas experiências de leitura com esta grande obra de Joyce, de forma enriquecida de conteúdo e erudição; de modo que demonstra que você de fato compreendeu ?Ulisses? ? e não apenas o leu, como muitos...

E suas apreciáveis abordagens sobre esta obra, me fizeram trazer o ?Ulisses? para mais perto de mim, por assim dIzer. É que me parecia ser um daqueles livros dos que pensamos ler em ?algum dia?, mas que este ?tal dia? sempre nos parece estar distante...

Agora, já estou pensando em ler ?Ulisses?, daqui uns dois anos. ?? Ainda parece muito, né? Mas antes não tinha a menor ideia de quanto o faria.

Sobre o ?Finnegans Wake?, achei que já estava em sua meta, meu caro... haha! ? Brincadeira! Este aí, sim, creio que seja um livro mais para desafiar o leitor mesmo... kkk...
Até os anglófonos temem ao ?Ulisses? e fogem de ?Finnegans Wake? ? imaginaria eu, então: ?para onde iria com tal livro?? Haha! ?

Abraço, meu caro!

??


Paulo Henrique 13/10/2021minha estante
Eu tinha medo de Guerra e Paz que li esse ano e achei perfeito. Foi uma conquista e tanto e quem sabe mais para frente encaro Ulisses. O Ulisses que encarei foi o da Odisseia, que no caso deram o nome de Odisseu.


Carolina.Gomes 14/10/2021minha estante
Douglas, eu confesso: abandonei essa obra. Me acovardei. Mas ainda vou retomar.


Michela Wakami 14/10/2021minha estante
Carolina!!! Medo!!!!!?????




Fabio Shiva 27/09/2012

só para loucos
1) Hoje é um dia especial: terminei de ler “Ulisses”!!! Viva viva!!! Que dizer desse livro que eu achei chatíssimo até a metade (por volta da página 400), para então começar a gostar mais e mais e terminar achando uma obra linda, genial e muuuito louca???
2) Para escapar de fazer uma resenha interminável, me proponho o desafio de escrever somente dezoito tópicos, um para cada capítulo do livro, cada qual correspondendo a um episódio da “Odisseia” de Homero (Ulisses é o nome latino para Odisseu, originado na palavra grega para “guardar ressentimento”).
3) Nessa obra Joyce se propõe a atingir o mais alto anseio da literatura, que é expressar no romance a totalidade da vida. Mas a complexidade cada vez maior da vida moderna (início do século XX) só pode ser retratada de fato caso o romance se reinvente, extrapole os limites, transcenda as barreiras. E é bem isso o que “Ulisses” faz.
4) A história toda acontece em um único dia, que traz Leopold Bloom (Ulisses) em suas peregrinações pela cidade de Dublin. Stephen Dedalus, o jovem artista, é Telêmaco, e Molly Bloom, a esposa adúltera, é Penélope.
5) Cada um dos dezoito capítulos é escrito em um estilo único e totalmente diferente dos demais. São quase dezoito obras diferentes aglutinadas no mesmo livro.
6) Coisa surpreendente: “Ulisses” tem algumas partes muito engraçadas! Rachei o bico de dar risada em várias cenas, com destaque para o invento da obramaravilha, uma espécie de apito (que deve ser introduzido pela ponta redonda) para descongestionar os gases intestinais de cavalheiros e damas constipados. A suprema invenção do século XX!
7) Outra constatação surpreendente: a obra é realmente revolucionária e genial, mas creio que alcançou tamanha repercussão mesmo foi pelo tanto de putaria: como tem sacanagem nesse Ulisses! Não causa surpresa o livro ter ficado proibido durante 11 anos nos Estados Unidos.
8) E aí é que está a fórmula explosiva: uma linguagem inovadora, uma estrutura intelectualmente desafiadora e, de quebra, a transgressão dos valores morais vigentes, nas muitas referências explícitas e até grosseiras ao sexo.
9) O que leva à reflexão: a literatura parece ter perdido a capacidade de chocar. Não dá para imaginar um livro hoje sendo proibido por ofender “a moral e os bons costumes”. Vitória da liberdade de expressão ou sinal de decadência da civilização? Você decide.
10) O que leva ao questionamento: por que hoje em dia não temos escritores como James Joyce? Corajosos, inventivos, audaciosamente indo onde a literatura jamais esteve? Os escritores do século XX parecem muito mais “avançados” que os atuais. Será que tudo já foi inventado e nada mais resta por inovar? O futuro dirá.
11) Dizem que por conta de suas invenções linguísticas “Ulisses” é mais fácil de ler no original que traduzido. A edição que li foi com a tradução pioneira de Antonio Houaiss. Bem, só posso dizer que não concebo o texto em inglês sendo mais difícil de ler que essa tradução abençoada do Houaiss!!! Parece que o tradutor quis dar conta de todas as possibilidades semânticas, e o resultado foi que o texto em português ficou bem mais erudito e intelectualizado que o original (é o que comentam pela internet). Sorte de quem for ler o livro agora, que já estão disponíveis duas outras traduções em português, e mais focadas na linguagem cotidiana.
12) Uma das partes que mais gostei é o capítulo que corresponde ao palácio de Circe, quando Bloom e o jovem Dedalus visitam um bordel pra lá de animado. O estilo da narrativa é o de uma peça de teatro onde o autor e todos os personagens ingeriram doses maciças de LSD. Lisergia pura!
13) Outro trecho marcante é o capítulo final, com o monólogo da senhora Bloom. São 50 páginas sem uma única vírgula ou ponto, na mais contundente expressão literária do “fluxo de consciência”, com a representação do fluir incessante dos pensamentos do personagem. Podemos dizer que Saramago, em comparação, foi até bem conservador ao inventar o seu estilo próprio de escrever... E Joyce, de brinde, ainda criou uma das mais marcantes figuras femininas da literatura: Molly Bloom.
14) Tudo considerado, apesar de “Ulisses” ser considerada uma obra de estrutura matematicamente perfeita, penso que o livro seria mais gostoso de ler se tivesse a metade das páginas, ou mesmo um terço.
15) Mais fácil de ler, sim, mas não necessariamente melhor. Entendo a proposta do livro, que exige tantas páginas de elucubrações sem fim. No mundo atual, que prioriza a velocidade e multiplicidade de informações, é provável que cada vez menos pessoas se interessem em ler “Ulisses”.
16) Desde o capítulo do bordel, uma ideia louca ficou martelando minha mente: imagine como seria esse livro transformado em filme! Impensável! Impossível! Ainda assim, creio que o David Lynch estivesse à altura da tarefa.
17) Comecei a ler “Ulisses” pela primeira vez há mais de dez anos, e acabei desistindo por volta da página 100. Mas fucei o “Roteiro-chave” que vem no final do livro, e hoje percebo o tamanho dessa influência em minha própria criação literária. Essa estrutura foi um eco distante na composição das letras da ópera-rock VIDA (gravada pela banda Imago Mortis), e teve uma força maior, ainda que mais distante ainda, na estrutura de meu romance “O Sincronicídio”. Que bom perceber isso hoje!
18) Não é fácil ler “Ulisses”, mas o esforço vale a pena – dependendo da motivação do leitor. Para mim, foi como galgar um Everest literário: veni vidi vici!!!


***///***

diário de bordo

Resolvi fazer essa resenha aos poucos, ao longo do caminho, como um diário de bordo. Pois a viagem é longa e cheia de aventuras.

Amostra grátis

Para quem nunca leu e nem pretende ler o “Ulisses” de James Joyce, separo esse trecho para dar um gostinho da leitura. É justamente o parágrafo que acabo de ler agora:

“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensado através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por quê em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.”

A tradução é de Antonio Houaiss.

Estou na página 42. Faltam só 811.

(22.02.11)

Comecei a ler esse livro há mais de um ano. Até o mês passado, devagar e quase nunca fui chegando até a página 50 e poucos. Agora em menos de um mês li umas duzentas páginas!

Primeiro ponto: demorei mais para ler não pela leitura em si, mas por minha disposição interna. Sempre colocava outra leitura na frente. Mas o fato do livro ser grande e pesado soma-se ao desafio intelectual proporcionado pelo texto, enfim, não resta dúvida de que ninguém mentiu ao afirmar que essa não era uma leitura fácil.

Mas em meados de junho resolvi tomar vergonha na cara e ler o Ulisses de verdade. O tempo todo é uma leitura tensa e intensa. A ideia do fluxo da consciência, de registrar na minúcia cada pensamento dos personagens, de forma fragmentária como são os pensamentos... dificilmente alguém poderá mergulhar tão fundo de novo. Embora Virginia Woolf com sua Mrs Dalloway tenha ao menos a vantagem de ter usado muito menos papel.

Joyce é magistral e exasperador. Fui conferir agora: estou exatamente na página 273.

Uma coisa dá para dizer: é uma leitura muito pessoal. Então vou falar de mim.

Entendo agora um pouco melhor o porquê do estudioso Edwin Muir ter chamado o Ulisses de um fracasso genial, e também entendo mais a admiração de Anthony Burgess (autor de Laranja Mecânica entre outros igualmente bons e totalmente diferentes).

Em algumas partes consegui surfar melhor na onda de Joyce, especialmente ao acompanhar as divagações, suspeitas, julgamentos, repressões e hábitos secretos do senhor Bloom. Uma experiência muito interessante, realmente.

Mas tem outros momentos, camaradas! que dá vontade de atirar o livro pela janela. A imagem mais próxima que encontro para descrever essa sensação é ficar o tempo todo tentando enxergar por cima do ombro dos outros algo que só se mostra de relance, é uma maçaroca de informação tão doida que até faz sentido agora que estou escrevendo essa resenha parcial, mas que na hora de ler foi penoso...

Por isso é que eu mesmo me espanto comigo ao pensar que ainda desejo ardentemente ler Retrato do Artista Quando Jovem, que tenho na versão original, depois que terminar Ulisses!

Adiante!

(12/07/12)

Aproveito para convidar você a conhecer o meu livro, O SINCRONICÍDIO:

Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI

Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/

Venha conhecer também a comunidade Resenhas Literárias, um espaço agradável para troca de ideias e experiências sobre livros:
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http://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br/
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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36063717
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Joao 20/03/2011minha estante
Colocando uma parte do monólogo do Stephen (uma das partes mais complexas, pra mim), você assusta até quem já leu o livro...hehehe.


Fabio Shiva 20/03/2011minha estante
rarara! Valeu pelas palavras amigo João! Na verdade eu mesmo fiquei assustado rarara!!! Espero prosseguir com a leitura e selecionar trechos mais inspiradores!!!


Marta Skoober 16/06/2012minha estante
Fabio, já venceu o Ulisses?


Fabio Shiva 16/06/2012minha estante
Marta valeu pela lembrança hem!!!
Ainda estou na página 60 e pouco!
Na verdade relendo até aqui, comecei a ler mais de 10 anos atrás e parei, agora volto a ler em ritmo de tartaruga baiana na hora da sesta rararara!
Mas estou gostando da leitura, sério!
A parte do Stephen preparando o rim frito é muito vívida! E antes disso, uma insólita masturbação na praia! "Antes da queda, Adão trepava mas não gozava." Vou voltar a ler hoje mesmo! Valeu!!!


Celsol 05/08/2012minha estante
Shiva, nome de mestre hindu, estou na página 100 do Ulisses, depois do enterro no Jornal...Preciso aprender como é que se publica uma resenha neste site aqui, estou tateando e não encontro. Mestre Shiva, me revele o segredo!O máximo que consegui foi comentar a resenha alheia...Gracias, Celsol.


Fabio Shiva 05/08/2012minha estante
Olá caro Celsol! Que alegria encontrar aqui outro aventureiro do Ulisses! Vamos lá, amigo, para postar resenhas é bem simples, mas primeiro você precisa adicionar o livro à sua estante, escolhendo uma das opções (lido, lendo, relendo etc), depois que adicionar o livro, tem um ícone que é "ver o livro em minha estante", daí aparece a capa do livro à esquerda e à direita tem o link para fazer a resenha, ok! Qualquer dúvida é só falar!!! abração


Janaina 01/08/2017minha estante
Já li 80% do livro e acredito que estou trilhando um caminho parecido com o seu. No início achei bem cansativo e confuso, mas de repente as coisas começam a fazer sentido e você entende o porquê da obra ser tão exaltada em todo o mundo. Que livro fantástico!


Fabio Shiva 02/08/2017minha estante
Oi Janaína! Valeu por seu comentário, tive a oportunidade de lembrar um pouco dessa fabulosa obra! E também de perceber que o tempo passou e ainda não li o Retrato de um Artista quando jovem... vamos a ele!!!


Regina 04/10/2017minha estante
Fabio Shiva, resenha estimulante para quem resolve, de uma vez por todas, empreender a viagem atrás do Ulysses.Desta feita leio a tradução do Caetano Galindo. E sigo decidida, que já estou atrasada. Agradeço e vou guardar suas conclusões. Espero um dia trazer as minhas, se não conclusões, pelo menos indagações...




Higor 09/01/2021

"Aprendendo com Nabokov": sobre as perambulações sem rumo e pequenas aventuras em Dublin
Um dos pilares da Literatura, sendo o responsável por consolidar o romance modernista através do fluxo de consciência e de tantos outros métodos tidos como revolucionários e impublicáveis, Ulysses é um livro-base em toda e qualquer boa lista de clássicos da Literatura que se preze, logo, encará-lo é questão tempo.

O problema de Ulysses é que, além de figurar em tais listas, o tijolo de mais de 1000 páginas de James Joyce também é figura carimbada em listas temíveis e desencorajadoras, como Livros mais temíveis, mais difíceis, mais incompreensíveis de se ler, logo, a quantidade de pessoas que não leu Ulysses, mas conhece sua fama, é maior que a que leu e tem algo a pontuar de fato.

Contando em 18 episódios dentro de 3 capítulos - onde cada episódio possui uma técnica de escrita - um dia da vida de Leopold Bloom, o dia de junho de 1904, Ulysses ousa justamente quebrar as fronteiras da narração convencional para contar situações banais, corriqueiras e até monótonas, que fazem parte da vida de cada um de nós. Há momentos em que o personagem vai ao mercado, ou quando vai ao banheiro fazer cocô, ou ainda quando se masturba. Cenas nada emblemáticas, mas que certamente eram tratadas com indiferença pelos escritores, talvez com a ideia de que não há nada de novo ou interessante a se contar a partir daqueles prismas.

Então vem James Joyce, com o pensamento e mundo recém-saídos da Primeira Guerra Mundial, e linhas e pensamentos já se encaixando no que viria a ser a Segunda Guerra, mas não decide escrever sobre tal assunto, que seria o mais comum de se abordar na literatura, principalmente após a Segunda, mas inspirado pelo movimento dadaísta decide ir na contramão do comum e, depois de 7 anos e três países, Suíça, Itália e França, lança um livro que choca a todos justamente por fugir do convencional, do senso comum, mas que, na verdade, parodia e critica tudo o que vinha sendo produzido até então.

Não que relatos de guerra, como Soldados Rasos, ou ficções sobre, como Adeus às armas e Viagem ao fim da noite não sejam válidos; pelo contrário, pois têm seu espaço e respeito na literatura, mas é justamente o fato de ousar, andar na contramão, quebrar todas as barreiras da literatura que fazem com que Ulysses seja o que é de fato. Épico. Imponente. Um Senhor Livro.

Óbvio que há um preço a se pagar para apreciar tal livro. Assim como a escrita deste livro, a leitura é um experimento que nem todos entenderão ou sairão sequer satisfeitos. A jornada é árdua e muitos, a maioria, ficam no caminho, mas o preço de encarar as 1000 páginas e chegar ao fim é impagável.

Não é exagero quando dizem que Joyce recompensa cada esforço. Eu ri, me emocionei, fiquei com raiva, compadecido e frustrado com muitas situações apresentadas na mente de Bloom, mas não sou hipócrita de dizer que entendi tudo do livro. Devo ter entendido uma mísera migalha desse universo gigantesco e que, ao mesmo tempo, se limita a um microcosmo do centro de Dublin. E por conta da dificuldade de entender, eu me empolguei, me frustrei, fiquei indignado, desmotivado, cansado, em vários momentos, mas persisti e estou aqui dizendo que entendi quase nada, mas que adorei a experiência e que preciso fazer releituras. Mais de uma.

Temido por uns e adorado por outros, Ulysses ocupa o respeito que lhe é devido não por acaso. Caótico e intragável de maneira friamente calculada, mostra quando um verdadeiro autor tem a escrita e a literatura em suas mãos.

"Lendo Lições de Literatura" é um projeto baseado no livro 'Lições de Literatura', de Vladimir Nabokov, em que suas aulas da década de 1940 sobre os Grandes Mestres da Europa foram transcritas e compiladas. Para saber mais sobre a lista e conhecer os demais livros, acesse:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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