Ulisses

Ulisses James Joyce




Resenhas - Ulisses


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3.0.3 16/04/2024

Estas areias são linguagens que maré e vento inscreveram aqui
“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso, se não mais, pensando através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por que em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.”

O que é o livro? O livro me puxa para um abismo que é um espaço de ausências seguidas, e esse abismo guarda em si o deserto onde nos movemos infinitamente; o livro é o deserto mais árido que há. Encontrar-se e perder-se nele é fantástico. É coisa de outro mundo. Aquele que detém uma parte do livro, qualquer que seja, fragmento, pedaço rasgado, já consegue sonhar outros sonhos, pois um livro pode ecoar o eco do outro que o incorporou numa vibração sutil; assim, alcança-se um diálogo silencioso e penoso, incansável, solidez que pode ser atravessada com a mão para buscar palavras além desse abismo. E sei que também voltaria abismado do abismo, sombrio e diáfano, com a mesma ausência oscilante de um livro.

Ulisses (1920), a obra-prima de James Joyce (1882-1941), é um monumento ao brilho literário e à redefinição dos limites da narrativa. Reconhecido como um dos maiores romances do século XX, Ulisses não apenas reimagina o épico de Homero, a Odisseia, mas o transpõe para o cenário pulsante das ruas e tavernas de Dublin. Em uma proeza de estilo e perspectiva, Joyce retrata as diversas facetas da vida em um único dia, o 16 de junho de 1904, conhecido hoje como Bloomsday. É uma celebração que cresce em popularidade, testemunhando a perene grandiosidade do romance e o desejo humano por alegria e comunhão.

Em vez de elevar a vida cotidiana às alturas da mitologia, Joyce inverte o processo, transformando um dia comum em um épico moderno. Cada personagem e ação são imbuídos de sentido heroico, onde até mesmo a simples tarefa de enfrentar um nacionalista embriagado em um bar se torna uma conquista lendária. Ulisses é mais do que um romance; é um mergulho profundo na alma de Dublin, vista através dos olhos visionários de Joyce.

Neste épico literário, Joyce ergue a fasquia da narrativa para além da estratosfera, levando-nos a uma jornada através da amada Dublin suja, onde cada página é um testemunho do poder transformador da escrita e da imaginação. Navegar no complexo labirinto da literatura requer uma mente afiada e uma dose generosa de paciência, mas os tesouros descobertos ao final da jornada são certamente gratificantes. Não é de surpreender que muitos desistam deste romance pelo caminho ou que simplesmente não o apreciem; afinal, esta obra é genuinamente desafiadora. Joyce, com maestria peculiar, entrelaça alusões enigmáticas e datadas, narrativas que nos envolvem em névoa densa e vocabulário invejável, criando uma odisseia literária destinada a desafiar e a intrigar. Ele mesmo admitiu ter adornado seu texto com tantos enigmas e charadas que garantiria séculos de debate entre os acadêmicos sobre seu verdadeiro significado, assegurando assim sua imortalidade.

Os leitores devem ser advertidos: este não é um romance para os fracos de coração. Há momentos em que a frustração parece prestes a nos consumir, tentando-nos a abandonar o livro. No entanto, é na segunda metade que começamos a desvendar os segredos que ele guarda, e é então que percebemos que o romance conquistou um lugar especial em nós. Ao terminar a jornada, somos surpreendidos ao perceber que estamos diante de uma das mais grandiosas obras já concebidas, e o amor por ela floresce em nossos peitos. Talvez essa sensação seja similar à experiência de quem se aventura em maratonas ou escala montanhas: uma jornada árdua, repleta de desafios, mas cuja conclusão traz consigo um orgulho e uma euforia indescritíveis. Há recompensas inúmeras a serem colhidas ao longo da leitura.

Ulisses não só exibe um talento literário incomparável, mas também oferece uma variedade de estilos que cativam e surpreendem. Muitos se esquecem de mencionar que este romance também é dotado de humor sutil. É um livro que exige que nos ensinemos a nós mesmos, que nos desafia a ir além da simples leitura. Não é à toa que estudiosos dedicam anos de suas vidas a desvendá-lo, mantendo-o ainda hoje como objeto de debate e admiração. Até o grande Ulisses precisou de auxílio em sua jornada épica.

“Arrojo esta sombra términa de mim, hominiforma inelutável, chamo-a de volta. Intérmina, seria ela minha, forma de minha forma? Quem me percebe aqui? Quem em lugar algum jamais lerá estas escritas palavras? Signos em campo branco. Em algum lugar a alguém na tua voz mais maviosa.”

A obra é uma tapeçaria literária, tecida com uma vasta gama de estilos e técnicas narrativas. A habilidade de Joyce em transitar entre diferentes formas de escrita – desde a sátira de publicações populares até a reverência aos mitos ancestrais e a aplicação de conceitos científicos à prosa – cria uma experiência de leitura multifacetada. Cada linha do romance é uma porta para um universo distinto, onde o leitor é convidado a explorar e se aventurar com a riqueza da expressão literária.

O famoso fluxo de consciência, ousadas alucinações disfarçadas de jogos, e a profusão vertiginosa de prosa, que varia de ornada a singela, demonstram o amor de Joyce pela experimentação estilística. A linguagem é frequentemente brincalhona, lírica e repleta de trocadilhos, demonstrando o talento excepcional de Joyce para a manipulação linguística. Ele até usa a estrutura das frases para transmitir movimento. Somente pela sua maestria linguística, Ulisses se destaca como uma das obras mais espetaculares já escritas, desafiando até mesmo os limites do nosso vocabulário.

Uma das características mais debatidas de Ulisses é a técnica inovadora de Joyce de imergir o leitor nos pensamentos das personagens. Não se trata de uma narração em primeira pessoa convencional; em vez disso, os personagens parecem estar inconscientes da presença de um observador em seus pensamentos. As informações emergem em rajadas desconexas e aleatórias, sem que Joyce se preocupe em fornecer clareza ao leitor. Assim como William Faulkner (1897-1962), Joyce deixa o leitor sozinho para montar o complexo quebra-cabeça narrativo.

A técnica narrativa empregada por Joyce permite uma fluidez de consciência entre as personagens, onde o leitor é frequentemente confrontado com transições abruptas de pensamento. O solilóquio de Molly exemplifica essa técnica, com os pensamentos de Boylan e Bloom se sobrepondo de maneira indistinta. A narrativa exige uma leitura atenta e reflexiva, pois a identidade do falante pode não ser imediatamente aparente, requerendo que o leitor dedique tempo para discernir a fonte dos pensamentos apresentados. A estrutura do romance é tal que acompanha os movimentos diários de Stephen e Bloom, mas não de forma linear ou contínua. Em vez disso, Joyce constrói uma narrativa polifônica que entrelaça diferentes perspectivas, permitindo que a história capture a essência de um dia inteiro. Esta abordagem oferece uma visão holística e multifacetada dos eventos, refletindo a complexidade da experiência humana e a interconexão das vidas individuais.

A noção de paralaxe, emprestada da astronomia, é transposta para a narrativa de Ulisses, servindo como metáfora para a multiplicidade de perspectivas que Joyce apresenta. Bloom reflete sobre esse conceito, que se torna um leitmotiv ao longo do romance, sugerindo que a realidade pode variar significativamente dependendo do ponto de vista do observador. Joyce utiliza essa ideia para enfatizar a subjetividade da experiência humana e a complexidade inerente à interpretação dos eventos e das relações interpessoais. Nesse sentido, os leitores são convidados a adotar uma postura ativa na construção do significado do texto, navegando por um oceano de pensamentos e imagens que, muitas vezes, parecem contraditórios ou incompatíveis. Por meio dessa técnica, Joyce desafia os leitores a reconhecer e apreciar a diversidade de interpretações possíveis, incentivando uma leitura mais profunda e engajada que vai além da superfície do texto. Ulisses não apenas conta uma história, mas também convida à reflexão sobre como as histórias são contadas e percebidas, destacando a riqueza que emerge da confluência de diferentes pontos de vista.

“Nutridos e nutrientes cérebros ao meu redor: sob lâmpadas incandescentes, pingentes com filamentos pulsando desmaiados: e na escuridão de minha mente uma preguiça do inframundo, relutando, avessa à claridade, remexendo suas dobras escamosas de dragão. Pensamento é o pensamento de pensamento. Claridade tranquila. A alma é de certo modo tudo que é: a alma é a forma das formas. Tranquilidade súbita, vasta, candescente: forma das formas.”

A diversidade de narradores é um testemunho da habilidade literária de Joyce. Cada personagem é dotado de uma voz distinta, caracterizada por um estilo, vocabulário e estrutura gramatical próprios, sendo Molly Bloom exemplo notável dessa variedade. A complexidade das vozes narrativas pode levar o leitor a questionar as perspectivas de Joyce sobre questões sociais, como sua visão sobre judeus e mulheres. No entanto, Joyce subverte frequentemente as expectativas ao apresentar pontos de vista contrastantes.

A representação das mulheres e da sexualidade é central na narrativa, o que provocou debates sobre a possibilidade de Joyce ser misógino. A descrição de personagens femininas, muitas vezes focada em sua sexualidade, e a presença de figuras como prostitutas podem ser interpretadas como reforço dessa perspectiva. Contudo, é importante considerar que Joyce pode estar explorando a complexidade da condição feminina e as normas sociais da época, em vez de simplesmente perpetuar estereótipos. A ambiguidade e a multiplicidade de interpretações são características essenciais de uma grande obra literária, convidando o leitor a uma análise mais aprofundada das intenções do autor e das dinâmicas sociais retratadas no romance.

Pelos olhos de Bloom, somos confrontados com uma visão objetificada e desprovida de remorso das mulheres como objetos sexuais, bem como uma perspectiva masculina sobre a sexualidade feminina. No entanto, com Molly, Joyce nos apresenta uma visão altamente contrastante das mulheres e de sua própria sexualidade, explorando como elas percebem não apenas sua própria sexualidade, mas também como enxergam a sexualidade masculina e até mesmo como imaginam ser vista pelos homens. Molly vislumbra a possibilidade de ter um pênis e reflete sobre a experiência de manter relações íntimas com outra mulher. Tais pensamentos, embora possam ser considerados polêmicos ou mesmo ofensivos por parte do público, devem ser examinados sob uma perspectiva ampla e enquadrados na narrativa e na construção das personagens. É crucial que a análise literária reconheça e explore a complexidade dos temas abordados, sem preconceitos ou julgamentos precipitados.

É pertinente reconhecer que James Joyce estava ciente da rigorosa censura imposta aos romances na Inglaterra e nos Estados Unidos. Frequentemente, ele incorporava trechos que desafiavam tais restrições. Não é inesperado que Ulisses tenha sido proibido nos Estados Unidos até 1934, ano em que a Suprema Corte Americana anulou a proibição, em um veredito emblemático sobre a legislação de obscenidade. Essas facetas, embora possam ser consideradas polêmicas, enriquecem e intensificam a representação da condição humana delineada por Joyce na obra.

A influência de Hamlet, de Shakespeare (1564-1616), é tão preponderante quanto a da própria Odisseia. Essa intertextualidade ressalta a natureza multifacetada das perspectivas e a intenção de Joyce em ancorar suas personagens à realidade, evitando definições ou alinhamentos claros. A obra shakespeariana é um tópico recorrente entre os intelectuais de Dublin, e um momento decisivo do romance é marcado pela análise de Stephen Dedalus sobre Hamlet, desvendando, assim, camadas dos temas centrais da obra. Desde as ideias do papel de Stephen como Telêmaco em busca de um pai substituto em Bloom, até os pensamentos contínuos sobre o adultério, tudo se desenrola durante a palestra de Stephen sobre Hamlet. No entanto, essa cena também demonstra que Stephen é uma figura de Hamlet, assim como Bloom é uma figura do falecido Rei, e que Molly pode se encaixar no papel da Rainha traidora, assim como Penélope.

“A arte tem de revelar-nos ideias, essências espirituais sem forma. A suprema questão sobre uma obra de arte está em quão profunda é uma vida que ela gera. A pintura de Gustave Moreau é a pintura das ideias. A mais profunda poesia de Shelley, as palavras de Hamlet, põem nosso espírito em contacto com a sabedoria eterna, o mundo das ideias de Platão. Tudo o mais é especulação de estudantezinhos para estudantezinhos.”

É interessante observar que muitos dos personagens, especialmente Mulligan, são baseados em pessoas reais com quem Joyce interagiu. Stephen explora como os personagens de Hamlet correspondem à própria família de Shakespeare, assim como esses personagens se assemelham aos que cercam Bloom e aos que cercavam Joyce. Stephen também é altamente representativo do próprio Joyce. Ele foi o protagonista do romance semi-autobiográfico de Joyce, Um retrato do artista quando Jovem, e neste romance o vemos continuar sua busca pela arte. Em um cenário de discussão, ele se posiciona ao lado de um recém-nascido, debatendo a relevância entre a vida da mãe e a do filho no momento do nascimento. Essa postura revela suas ideias sobre a arte como uma criação de valor inestimável – como se cada pincelada, cada nota musical, fosse um gesto de dar à luz à própria essência da vida. Essa delicada metaficção é apenas uma das inúmeras estratégias pelas quais Ulisses cativa os leitores. Artesão habilidoso, Joyce tece palavras e conceitos, criando um mosaico que transcende o tempo e nos envolve em sua magia.

James Joyce escapa dos clichês com maestria, desenvolvendo uma trama de personagens complexos. Leopold Bloom, por exemplo, é uma contradição ambulante, um verdadeiro enigma: judeu e batizado, oscila entre a figura paterna e os desejos maternos, desafiando as normas de gênero. Seu coração gentil às vezes se contradiz com críticas aos outros por sua própria gentileza. Longe de ser isento de falhas, Leopold Bloom é um sedutor desavergonhado. Pelas ruas de Dublin, suas intenções lascivas em relação às mulheres não passam despercebidas. Ele é um dançarino da vida, sempre em movimento, como se buscasse escapar das sombras do passado. A tristeza o persegue, e os pensamentos sobre as transgressões de sua esposa pesam sobre seus ombros, como se a fuga fosse seu destino inevitável. Assim, Bloom, com sua humanidade multifacetada, é um dos personagens mais encantadores da literatura.

No emaranhado das palavras, a “união” entre Bloom e Stephen é fio invisível, laço sutil a transcender o óbvio. Como pássaros em voo, cruzam-se, divergem e se entrelaçam: casamento de almas, não de convenções. Stephen, o artista atormentado, e Bloom, o observador silencioso, movem-se na penumbra da linguagem. Desencontros e desafios marcam sua jornada, mas cada novo choque reinaugura suas essências. Mapa de encontros e despedidas, Ulisses fia destinos com laços de mistério e significado. Como observou Jung, o encontro de duas personalidades é como o contato entre duas substâncias químicas. Se houver alguma reação, ambos se transformam. Essa toada ressoa na interação entre Bloom, Stephen e outros personagens, destacando a transformação mútua que ocorre quando personalidades tão distintas se encontram e se envolvem em um diálogo interno e externo no romance.

Ulisses não é um romance fácil à primeira vista, mas vale o esforço investido. A sua prosa é intimidadora, mas, com paciência e orientação, o romance se revela uma verdadeira obra-prima, permitindo que o leitor mergulhe na linguagem de Joyce. Há uma riqueza de técnicas e enigmas a serem desvendados, tornando a leitura gratificante. Além disso, Ulisses é hilário em muitos momentos, acrescentando uma camada de humor à complexidade da narrativa. Joyce deixou um legado na literatura com Ulisses, que hoje é merecidamente reconhecido como um dos maiores romances do século XX. Esse livro, portanto, merece ser lido, pois nele cada palavra ganha vida na mente do leitor.

“Stephen fechou os olhos para ouvir as botinas triturar bodelha e conchas tagarelas. Estás andando por sobre isso algoqualcerto. Estou, uma pernada por vez. Um muito curto espaço de tempo através de muito curtos tempos de espaço. Cinco, seis: o nacheinander. Exactamente: e isso é a inelutável modalidade do invisível. Abre os olhos. Não. Jesus! Se eu cair de uma escarpa que se salta das suas bases, caio através do nebeneinander inelutavelmente. Até que estou deslocando-me bem neste escuro. Minha espada de freixo pende a meu lado. Tacteia com ela: é assim que se faz. Meus dois pés nas botinas dele estão no final de suas pernas dele, nebeneinander. Soa maciço: feito pelo malho de Los Demiurgos. Estou eu andando para a eternidade ao longo do areal de Sandymount? Tritura, tagarela, trila, trila. Dinheiro do mar selvagem. Dômine Deasy sabe tudinho.”
Luå 16/04/2024minha estante
Suas resenhas são muito lindas, você escreve muito bem ??




Dressa gratiluz 04/04/2024

Ulisses/ Ulysses
"Como diria Sócrates: 'só sei que nada sei', e o fato de saber disso já me coloca em vantagem diante daqueles que pensam saber de alguma coisa. Até porque, é praticamente impossível um ser aprender aquilo que ele acha que sabe, e sinceramente, eu realmente não sei, kkkkkk."

Fiquei absurdamente perdida nesse fluxo de consciência. O livro apresenta a história que se passa em um dia, mas para mim pareceu que foram séculos. É realmente complicado se manter engajado em uma leitura tão extensa da qual não estamos conseguindo compreender ao certo. Esse amontoado de ideias e informações me passaram uma estranha sensação, além de estranheza e enigmatismo, a sensação de frustração. Foi uma leitura sofrida, que eu claramente não estava pronta para fazer. Realmente são poucos que leem, pois são poucos que têm a paciência e vontade de querer ler.

Espero retomar essa leitura no futuro e conseguir fazer uma avaliação mais positiva, mas por enquanto, infelizmente, não consegui de fato dizer que gostei!
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Henrique.lll 20/02/2024

Introibo ad altare Dei
Comecei a ler Ulysses pela segunda vez com a intenção de entender melhor essa obra tão conhecida por ser desafiadora. Ao chegar no final, descubro que agora sei ainda menos do que sabia antes. A impressão é que daqui pra frente essa será a sensação que vou ter a cada nova releitura. Apesar disso, acredito que quanto mais você entende o que não sabe sobre esse livro, mais dele você absorve. Isso pode parecer frustrante, mas na verdade foi uma das sensações mais recompensadoras que tive ao chegar no fim de uma leitura.

É importante salientar que a dificuldade não está exatamente no conteúdo, na erudição ou na robustez do livro, mas sim na sua forma. Por exemplo: nos diálogos, pela falta de sinais gráficos como aspas ou travessão, torna-se confuso entender os diálogos com clareza, pois não sabemos ao certo o que foi dito por cada personagem, narrador ou ainda se aquilo está apenas na mente deles. Ao concatenar isso com a exuberância e alta frequência dos fluxos de consciência, além dos monólogos presentes no romance, evidentemente fica fácil se perder. Ou seja, Joyce respeita o leitor e o deixa desfrutar do prazer de exercitar a mente durante a leitura.

Trata-se de uma obra satírica, tendo como base a "Odisseia", de Homero. As referências estão presentes de forma totalmente subversiva, buscando criticar o ideal hegemônico do herói masculino, que na época era principalmente utilizado como propaganda política para propagar o fanatismo patriota na Irlanda, promovendo assim violência e guerra. Além disso, "Ulysses" também pode ser considerado uma continuação do romance autobiográfico de James Joyce, "Um retrato do artista quando jovem".

Em uma história contada ao longo de mais de mil páginas (levando em consideração a edição da Penguin), é difícil de imaginar que a trama se passa em apenas um dia na cidade de Dublin de 1904. As referências, além da Odisseia, vão desde o eterno retorno de Nietzsche, Shakespeare e até mesmo Jesus. Apesar de em primeira instância isso junto de outras características da obra faça parecer tudo muito caótico e desordenado, Joyce organiza as suas ideias com maestria em uma trama coesa, tornando-se assim o autor de um dos maiores romances sobre o cotidiano da história.

Com um monólogo de 8 parágrafos frenéticos, incessantes e praticamente sem pontuações da personagem Molly Bloom, a obra tem o seu encerramento entregue de maneira gratificante para quem cumpre o desafio de chegar ao seu final. Não é por falta de motivos que essa passagem foi a mais marcante e famosa do livro. Acredito que, em sua totalidade, "Ulysses" é nada mais nada menos do que um presente soberbo para todos aqueles que são fissurados por literatura, principalmente se for de língua inglesa.
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Tiago 16/01/2024

A experiência de ler Ulysses
Dizer que Ulysses foi o livro mais difícil que já li, apesar de verdade, seria reduzir demais o que foi a experiência de ler Ulysses.

Optei por fazer uma leitura descompromissada, no sentido de que não me preocupei em resgatar todas as referências à Odisseia.

Ao invés disso, me deixei levar e fui enredado no fluxo narrativo. Me deixei encantar pelo texto de Joyce. Muitas vezes me peguei pensando no processo de tradução de uma obra como essa. Aliás, um viva para Caetano Galindo, um dos maiores tradutores brasileiros e responsável pela tradução da edição da Penguin e da Companhia.

Talvez pudesse ter feito uma leitura guiada. Há muitos roteiros e cursos disponíveis. O próprio Galindo publicou uma obra inteira dedicada a introduzir Ulysses. Quem sabe futuramente.

Enfim, Ulysses não é só mais um livro. Não serve só para contar como mais uma leitura do ano. Ler Ulysses é uma experiência única!
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Manu 12/01/2024

Inexplicável
Um livro repleto de fluxo de consciência que se mistura com as ações dos personagens. ler esse livro foi uma ótima experiência apesar de q eu sinto q n captei mtas das intenções do autor
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Eliane406 01/01/2024

A complexidade
?O que sempre ouvi dizer e ler pelo mundo dos literários e leitores, é que Ulysses de James Joyce era uma leitura difícil de ser feita, mas um livro clássico. E se tem dois elementos linguísticos que despertam o meu interesse em ler são esses "o clássico e o difícil", o primeiro por saber que contêm uma narrativa social atemporal e o segundo a curiosidade em entender o quanto essa linguagem pode causar essa dificuldade em quem expressa esse sentimento.

Enfim, Ulysses superou a minha expectativa, é uma narrativa complexa, mas também não é entendiante e sequer deixa pontos falsos, é o belo fluxo de consciência sem repouso, sem obviedades, sem pausa, na velocidade dos pensamentos dos personagens, narra-se o que se vê e que pensa no mesmo tom e na mesma viscosidade e mesmo assim não conseguia desgrudar da leitura.

Joyce pretendeu e conseguiu escrever um romance atemporal com vários tons de narrativa fazendo uma analogia com a Odisseia de Homero, nesse caso a jornada pessoal de Leopold Bloom e Stephen Dedalus narrando um único dia de suas vidas, seus pensamentos, suas visões, os encontros, desejos e detalhes do cotidiano, as andanças pelas ruas de Dublin.

E sobretudo uma escrita ousada e moderna internalizando o drama e a tragédia do mundo em evolução, tornando Joyce o escritor ícone da literatura moderna do século 20, até pode-se entender porque os puritanos barraram a publicação por muito tempo, sua crítica ao nacionalismo e conservadorismo é evidente, assim como traduziu a maior crise econômica, política e cultura de cem anos passados.

?"Os olhos negros do cavalheiro fixaram-se nela novamente bebendo cada contorno, literalmente em adoração daquele ícone. Se um dia pôde haver uma admiração indisfarçada no apaixonado olhar de um homem lá estava ela exposta no rosto daquele homem." página 572
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JosA225 29/12/2023

Ulisses
Livro dificílimo de ler, só consegui entender alguma coisa graças a ajuda das notas de rodapé. Estória banal, cheia de metáforas.
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Paulo 20/12/2023

James Joyce, Deus Por Um Dia
No livro, O Desprezo, de Alberto Moravia, ele chega a conclusão que as viagens de Ulisses não tinham como finalidade o retorno para a casa e sim a fuga dela.
E é isso que acontece com esse Ulysses Bloom aqui também, um dia fora de casa e evitando voltar. Uma aventura de um dia, pelos mares de seus pensamentos.
Mas sinceramente, não gostei!
Bloom é humilhado por tudo e por todos. Um monte de palavras juntas, enxurrada de fluxo de pensamentos, tanta referência chata... me dei dois meses, li com calma, mas nem assim se tornou menos chato. É igual a ir naquelas exposições de arte em que o artista gruda uma banana com fita adesiva na parede e tem gente que fica olhando e vendo mil significados naquilo.
E para fazer um combo com esse falso conceito, essa edição só finge ser de luxo, pois a lombada desgrudou toda e esses desenhos, mesmo que originais, uma criança de 4 anos faz melhor.
Aquele segundo capítulo é quase um Beau Tem Medo, chato ao extremo!
Fiquei com três partes na memória, e para deixar como uma boa lembrança são as que vou preservar. Que são logo a que ele é apresentado, ele na praia fantasiando com a menina manca e o final que a esposa toma conta das linhas.
Como foi ser Deus por um dia na vida de todos os dublinenses e ter tido acesso a todos os pensamentos e conversas e encontros, hein James Joyce?
No entanto, convenhamos que Arroza de Castela é realmente uma piada engraçada!
Vitor Butrago 18/02/2024minha estante
Arroz de costela seria melhor.




Cristiane 10/12/2023

Ulysses
Eu venci a leitura de Ulysses!
O enredo é simples: um homem, Leopold Bloom sai de casa e evita de todas as maneiras retornar para não flagrar sua esposa cometendo adultério.
Outro homem, Dédalus não tem para onde ir porque não tem como pagar o aluguel.
Os dois homens têm problemas com seus pais, o pai de Bloom um judeu que se converteu, mudou de nome e se matou, o de Dédalus um irresponsável, bom vivant...
Bloom trabalha vendendo anúncios para um jornal, tenta se enturmar, é motivo de chacota até mesmo pelas crianças. Ninguém compreende (nem ele mesmo) porque sua esposa, a bela espanhola e cantora se casou com ele.
Dédalus é professor e também trabalha no jornal.
Os dois sofrem com a morte de um ente querido: Bloom lamenta a morte do seu filho, um bebê e Dédalus a morte da mãe, que no leito de morte pediu para ele se ajoelhar e rezar com ela. Pedido que ele negou.
A história se passa em único dia.
Marcado pelo fluxo de consciência, diversas formas narrativas (inclusive uma peça de teatro e uma entrevista), um último capítulo sem pontuação alguma, palavras e frases inteiras aglutinadas, sem vogais... Números e números... Frases engraçadas: " Faça chuva ou faça sol, peide sempre em si bemol.".
Para compreender este livro a gente precisa de um guia (e sinceramente, eu acredito que o próprio autor do guia viajou um pouco).
Porém eu venci está leitura.
E se a Virgínia Wolff não gostou, eu uma simples mortal posso não gostar também.
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Cris 07/12/2023

07.12.2023
Sem muitos comentários. A obra mais doida que já li. Cada capítulo, uma narrativa. Teve momento que não sabia qual era o personagem que estava pensando (fluxo de consciência), nem de quem estava falando. Tudo junto e misturado, sabe? Mas a obra tem de tudo, filosofia, economia, geografia, astrologia, astronomia, política, mitologia, religião, racismo, acontecimentos como a segunda guerra mundial, Hitler, outras obras como a Odisseia, Shakespeare, erotismo, perda de ente querido ou nao....e assim vai. Às vezes pensava que o autor escreveu para que o leitor não entendesse mesmo. Que experiência!
CPF1964 07/12/2023minha estante
???????


CPF1964 07/12/2023minha estante
Ainda estou me preparando psicologicamente para este livro....???




Elaine Messias 01/12/2023

Uma odisseia de um dia só
A escrita em fluxo de pensamento não foi meu desafio nesse livro incrível, mas sim a complexidade psicológica das personagens, que ao mesmo tempo parecem tão desnudadas ao leitor. Amei a experiência
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Regina 09/11/2023

Incrível
Ulisses um livro complexo, difícil e muitas vezes difícil de compreender. Eu mesma não compreendi várias partes. Mas posso adiantar que lerei novamente ano que vem, e por essa primeira leitura mudou minha firma de ver pessoas e o mundo. Favoritei
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Ane 06/11/2023

Sem palavras
Tenho certeza que minha ignorância não permite que eu alcance todas as referências feitas pelo autor mas, ainda sim, é uma das melhores leituras que eu já fiz. Perdi a conta dos trechos destacados, tantos foram. Demorei umas 300 páginas para me encontrar no fluxo de pensamento do narrador e dos personagens e me identifiquei loucamente com ele.
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Sozzi 23/10/2023

Desafio
O livro vale pelo desafio. Para mim alguns capítulos foram apaixonantes, já outros foram muito difíceis de compreender. Mas acho que o objetivo do autor deve ter sido provocar mesmo esta variação de impressão. Impressiona o domínio que Joyce tinha de vários estilos de escrita, alguns inaugurados por ele. Uma obra prima!
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PatriciaLima_autora 17/10/2023

Joyce sendo Joyce
"Ulisses", de James Joyce (1882-1941). O tipo de livro para ser lido “na vibe certa”, como dizem. Um exercício interessante para qualquer leitor mais detalhista e, principalmente, para outros escritores.

Joyce descreve um dia inteiro de seu personagem principal, Leopold Bloom, em sua jornada pela cidade de Dublin no dia 16 de junho de 1904.

Extraordinária obra, o dia 16 de junho tornou-se data comemorativa na Irlanda, conhecida como bloomsday, em homenagem a Ulisses. E hoje é comemorada em diversos países e eventos literários.

Ulisses (publicado em 1922), foi escrito por Joyce em Zurique, onde sua família se refugiava durante a Primeira Guerra Mundial.

A famosa tradutora das obras de Joyce, Bernardina da S. Pinheiro (1922-2021) explica na introdução do livro (Ed. Objetiva, 2005) que Ulisses é uma paródia de A Odisséia, de Homero; um épico moderno, onde Joyce tornou-se celebre por sua experimentação com a linguagem e por suas inovações estilísticas, que incluem o fluxo de consciência, a narrativa fragmentada e as referências simbólicas da literatura -- técnicas que seriam utilizadas por diversos autores posteriormente. Não à toa, o livro é considerado um dos marcos da literatura contemporânea ocidental do século XX.

site: https://www.instagram.com/p/Ce4bJ3_rmmQ/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
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