O mapa e o território

O mapa e o território Michel Houellebecq




Resenhas - O Mapa e o Território


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Arsenio Meira 12/02/2013

Houellebecq, aqui em versão bem mais consistente do que em romances como "Partículas elementares" e "Plataforma", retrata, magistralmente, o ser humano reduzido ao consumo, ao dinheiro. Mas a trama não se restringe a esses dois tópicos.

O personagem que protagoniza este excelente romance é Jed Martin: um artista francês observador da sociedade, um homem indiferente à participação na vida social. Seu primeiro trabalho é feito a partir de fotografias dos mapas dos guias de turismo Michelin, da onde vem a referência do título: mais do que o território, o que o interessa é o mapa, mais do que a realidade, o conceito.

Prosa descritiva que escorre limpidamente pela pagina como se fosse um manancial d’água, O Mapa e o Território narra com grande riqueza de detalhes a instabilidade econômica e estética do mundo das artes.

Na sociedade do espetáculo (onde o consumo e a valorização circunstancial de determinados artistas estão intimamente ligados com a ascensão burguesa), em lugar de propor inovações temáticas ou técnicas, alguns artistas (ele dá nome aos bois) adotam as ferramentas de marketing para agregar mediocridade a cada uma das peças que produzem.

São as regras do capitalismo predatório que elevam a cotação (e o preço) das fotografias, pinturas a óleo produzidas por Jed Martin.

Jed é um homem infeliz. Misantropo, a morte iminente de seu pai (arquiteto aposentado) e o funcionamento de um boiler são os últimos lastros de humanidade que o ligam ao mundo. Artista plástico consagrado desde que realizou uma série de fotografias sobre uma coleção de mapas Michelin, soube manter a privacidade – evitando a exposição gabola e o desgaste.

A forma como Houellebecq se cria e se insere no livro é uma ironia com a imagem que se criou dele. Ao mesmo tempo, mostra o egocentrismo do autor: o personagem é um falastrão típico, mas que alia na suas falas erudição e sinceridade.

Ele vive e some; aparece na trama e, detonando-se em sede de metalinguagem, revive sob a manta de um mistério trágicômico, que é arrolado ao romance como um aviso de que o suspense pode, (e por que não?), ilustrar o vazio ou a ausência.

"É impossível escrever um romance (...) pela mesma razão que é impossível viver: em razão das inépcias acumuladas", comenta o escritor-personagem para Jed.

Enfim, Houellebecq some da história também em uma demonstração de galhofa do autor consigo mesmo e com todos os seus críticos, detratores e seguidores: assassinado de forma brutal, marca uma breve guinada do romance para o tema policial, numa tacada genial.

É um livro para sempre.
Zeca 15/02/2013minha estante
Com licença, Arsenio, mas sua resenha foi digna do livro. E que livro!


Arsenio Meira 15/02/2013minha estante
Obrigado, Zeca. Bondade sua. É um livraço. Imperdível.


Daniel 09/05/2013minha estante
Achei surpreendente a guinada na trama a partir do assassinato, mais ou menos no terço final do livro. Não há concessões de nenhuma espécie: nem aos personagens, nem ao leitor, nem ao próprio autor.


Arsenio Meira 09/05/2013minha estante
É isso aí, Daniel. Detonando-se, mediante um forte gesto literário, que revela desapego, posto que o homicídio é o símbolo definitivo de que não há concessões, Houellebecq mandou um recado para todos, literalmente. Abraços




Christiane 24/07/2021

Primeiramente o protagonista, um homem solteiro, que mora sozinho e que tem dificuldades de se relacionar com o outro. O distanciamento dos pais, ser inapto para o amor, a sexualidade, e um mundo moderno com suas supostas vantagens que acabam sempre não o sendo, o solitário, o isolamento. Outra característica é que o autor costuma colocar como personagens pessoas públicas e que ainda vivem, mas em forma de ficção, nem sempre correspondendo à realidade, e neste livro ele coloca a si próprio, o escritor Michel Houellebecq é um dos personagens.

Neste livro ao invés de François, um professor, temos Jean Martin, um artista plástico, que mora sozinho em Paris e tem seu pai já com certa idade que ainda mora na antiga casa da família. Após se aposentar, era um grande arquiteto, resolveu ir morar numa casa de idosos e finalmente optou pelo suicídio assistido que é permitido na Suíça.

Jean tem vários momentos em sua arte, a fotografia, a pintura à óleo, mas o que nunca imaginou é que um dia seria famoso e que suas telas valeriam fortunas. Tem uma relação amorosa com Olga, uma russa que está na França e que depois retorna ao seu país, ela o ama, porém ele em momento algum tem um gesto para retê-la ou pensar em ir com ela. Simplesmente deixa acabar.

É um retrato da modernidade, do vazio, da melancolia, onde as relações perdem seu verdadeiro sentido e são apenas vividas no momento sem criar laços. O mundo da arte, as frivolidades, o dinheiro. Um dos principais pontos de Houellebecq em seus livros é o mercado de consumo e neste livro vamos encontrar várias passagens onde diante de algo vital para a existência se dilui em pensamentos fúteis, em análises sem profundidade.

O que marca no livro é perceber que Jean se torna um artista famoso e vale muito dinheiro, porém, será arte mesmo o que ele faz? ou será o merchandising que o tornou famoso? E ele ao invés de se pavonear com isto e viver a fama se isola cada vez mais. Não posso deixar de pensar que quando um artista dá seu suor e cria uma obra ele não pode ficar indiferente, há algo de produzido neste boom pelas obras de Jean e que não foi ele quem fez isto.

Apesar de ser este o livro que ganhou o Prêmio Goncourt, eu prefiro Submissão, que veio depois, onde a realidade do mundo moderno se apresenta com questões muito atuais, sendo que este O Mapa e o território, conta uma história que nos mostra o retrospectivo, a diferença que podemos imaginar entre o que foi e o que é. Entre o antes do mundo do consumo e o de hoje.
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Diego 12/09/2020

Houellebecq
É ótimo.
Neste livro, a linguagem não é tão pesada como em outros que já li.
O autor é dos poucos hoje em dia que prende minha atenção de forma total. Leio seus livros do início ao fim sem vontade de parar.
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Faluz 18/06/2021

A arte que nos perpassa, como reconhece-la e precificá-la?
Michel Houellebecq constrói um romance sobre a vida de um artista, Jed Martin.
Constrói toda a história com nomes e situações que percorremos como as vias da cidade. Nos reconhecemos nos lugares citados. Consegue a peripécia de incluir um personagem que se espelha, até com seu próprio nome.
Discute a arte e como se pode construir seu reconhecimento e a possibilidade de precificá-la. Como ele tem seu trabalho reconhecido mas seu pai conseguiria esse reconhecimento? como se define ? Interessante a reflexão, sobre arte, a vida, o exercício das profissões.
Não há monotonia em suas páginas, mesmo `as copiadas da Wikipedia rsrsrsrs Uma delícia.
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V_______ 08/08/2021

Primoroso e envolvente
O Mapa e o Território conta de uma forma envolvente a trajetória de Jed Martin, um artista francês que alcançou grande sucesso em sua carreira, o que não reflete em sua vida pessoal, perdeu a chance de grandes amores, a relação familiar é ínfima e sua vida social como um todo também.
O grande boom do sucesso de Jed Martin veio com uma série de quadros que retratam profissionais da sociedade contemporânea o que inclui algumas pessoas ilustres, entre elas o próprio autor Michel Houellbecq. O que a princípio pode parecer uma auto promoção do autor, mostra-se um dos trunfos dessa obra, criando uma imagem não muito agradável de si mesmo, que mesmo assim deixa uma áurea genial.
O autor conseguiu uma atmosfera que junta a sensibilidade que só encontramos em verdadeiros artistas ao mesmo tempo que faz uma crítica, as vezes sutil outras mais rígidas ao meio artístico e a sociedade como um todo. O livro é excelente e vale cada minuto empregado em sua leitura. Recomendo.
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Gabriel 01/05/2022

Meu primeiro livro do autor e tenho que admitir, que leitura interessante! Houellebecq faz um panorama impressionante da decadência ocidental e europeia com uma dose de acidez e ironia muito peculiar. Um misto de melancolia e pessimismo, porém com muita lucidez. As consequências das transformações que ocorrem no neoliberalismo estão todas aqui. Fazer esse debate usando o mundo da arte como plano de fundo na França contemporânea é um deleite. E ainda tem uma pegada de romance policial no meio da história. As discussões sobre o vazio do indivíduo e da sociedade se entrelaçam de forma bem envolvente e apesar das polêmicas que o autor se mete tenho que admitir que Houellebecq tem algo a nos dizer. Nesse mundo constituído o mapa é sempre mais importante que o território.
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jota 29/01/2015

Taca-lhe pau, Houellebecq
Basicamente o livro de Houellebecq é sobre arte, dinheiro, trabalho, doença, morte e amor. Tanto que quando o personagem principal, Jed Martin, se vê envolvido num assassinato – um brutal assassinato (e a grande surpresa aqui é quando se descobre não quem é o assassino, mas o assassinado) - já passamos da terceira parte do livro e se alguém espera por suspense ou grandes revelações vai se decepcionar.

Jed Martin, um artista plástico (ou pintor), já por si é uma pessoa com comportamento bastante diferenciado, não apenas por conta do que faz e sim como é desde garoto, o que torna o livro interessante do início até o final. Imagine então quando entra em cena, como segundo personagem principal, um autor polêmico, talvez o mais famoso escritor francês da atualidade. Não que daí O Mapa e o Território se transforme numa peça literária cheia de nonsense, nada disso, ele ganha em inventividade e ironia fina.

Não é completamente verdadeiro dizer que essa celebridade entre em cena em determinado momento; na verdade ele está presente desde a primeira linha com seu humor ácido (“afiado como uma navalha”, como diz o Financial Times), ironia, graça e conhecimento de tanta coisa que pode ir de um vinho caríssimo até mesmo ao funcionamento de uma impressora a laser. Ainda que em certos trechos ele tenha usado a Wikipedia como inspiração, como se fica sabendo na página final.

O título curioso, que pode levar alguém desavisado a imaginar que se trata de um livro de geopolítica ou algo parecido, é totalmente coerente com a proposta de Jed Martin de transformar um mapa Michelin (quem nunca viu um?) do território francês (ou de uma parte dele) em obra de arte – e os mapas Michelin por si já são muito belos. Afinal de contas, eles - mesmo os piores que desenhamos ou copiamos - nos encantam desde crianças, não? É aí, a partir dessa ideia aparentemente simples, que Jed começa a ficar famoso e rico.

Não é só a marca Michelin que praticamente se torna um personagem do livro. Houellebecq não satisfeito com isso também cita outras marcas famosas, pessoas conhecidas, obras de arte, livros, filmes, atores, autores etc. todos reais, o que torna O Mapa e o Território muito mais próximo do leitor, mais saboroso ainda.

Entram na dança do escritor, “de maneira impiedosa, a sociedade francesa, o mercado de arte e as altas rodas literárias. Mas apesar da visão pessimista da natureza humana, permanece ao fim da leitura um sentimento de beleza, melancolia e compaixão.” – como diz a editora brasileira do livro, a Record. Isso não é apenas propaganda da editora, é verdade.

Por todas essas qualidades e outras mais, O Mapa e o Território merecidamente foi premiado com o Goncourt de 2010, a mais notável láurea das letras francesas.

Lido entre 24 e 29/01/2015.
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vicareno 15/11/2020

Melhor romancista vivo
Após ler Submissão tive certeza de que Houellebecq não era mais um romancista. Desde então passei por Serotonina e agora O Mapa e o Território. Tenho a impressão de que se trata do melhor romancista vivo.
Bebi muito vinho e vou parar por aqui.
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Ciro 28/10/2013

Surpreendente
Adquiri o título sem nenhuma indicação ou pretensão. Mas à medida que fui lendo a o livro, fui sendo surpreendido com uma redação clara, agradável, e com uma história de uma perspicácia e sensibilidade ímpares.
O livro narra a vida de Jed Martin, um artista plástico apático, quase alienado, vivendo para a sua própria visão artística de mundo, que no entanto claramente desperta o interesse daqueles que o circundam.
O interessante da história é o ponto de vida, as vezes até fatalista, com que o protagonista encara sua vida e seu futuro, bem como a evidente misantropia do Autor, que não mostra muita fé na humanidade.
No mais, é interessante a comparação entre o crescimento do protagonista verso o declínio de seu pai, e de outro artista uma geração mais velho.
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Lucas 04/06/2014

Como sempre, difícil conter o desencanto diante de Houellebecq. Mas por que é tão interessante - eu diria mesmo decisivo - ouvir esta voz soturna narrando as desventuras da espécie humana? Antes de mais nada, porque seus comentários sociais são dolorosamente lúcidos, isentos dos idealismos auto-indulgentes dos modelos sociais e políticos caducos deste início de século. De uma França desencontrada em pleno seio da Europa em crise, vem o olhar deste observador que carrega nas costas curvadas todo o peso da tradição humanista e racionalista, num esforço de Sísifo cada vez mais inútil, patético e desacreditado em sua tarefa de ser o pilar (carcomido) da tradição ocidental. Mas este observador já se percebeu condenado ao fracasso, e por isso alimenta uma vaga fé num futuro que já pareceu o pior dos pesadelos - quando é, na verdade, a consequência lógica e insofismável do caminho trilhado por esta ocidentalidade; se ainda não temos coragem para reconhecermos o caráter falso e mesquinho de nosso humanismo, tampouco admitimos que queremos ser - e já somos - pouco mais que unidades consumidoras das mais banais energias do universo, e que isso é o que nos dá sentido. Não é tão ruim quanto parece. A alternativa que vem sendo feita só torna as coisas piores, ao nos tornarmos masoquistas ressentidos, militantes de uma perversa desconfiança travestida com a cores políticas mais bem intencionadas. Sim, Houellebecq vai contra a corrente; mas não como o parvo orgulhoso que se acotovela contra a multidão, e sim como indivíduo cuja resignada lucidez lhe dá força para ficar parado, imóvel, enquanto passa a massa. Como atesta o triunfo final da vegetação, na aparente imobilidade é que se encontra a maior força. O desencanto que encanta é também o da inviabilidade de contemplar a realidade como fenômeno estético. Com Houellebecq já caímos e nos levantamos; e então, o que fazer depois de ter dado com a cara no chão? Que ilusões podem resistir a uma realidade tão perversamente banal e simplória?
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Adriana1161 24/08/2021

A arte
O livro é bom, bem louco!
Às vezes é um pouco descritivo demais, com muitas referências francesas.
É um livro diferente, eu nunca havia lido nada do autor, que como dizem, é um autor que "os franceses amam odiar"!
Local: Paris 2010 até os dias atuais
Perosnagens: Jed Martin, Franz, Olga, Geneviève, e o próprio Houellebecq
@driperini
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Procyon 24/04/2023

O mapa e o território ? comentário
?O mundo está cheio de mim, e, da mesma forma, eu, dele.? (Charles d?Orleans)

Livro que traz uma crítica pertinente e loquaz ao modelo de sociedade ocidental e que apresenta uma discussão interessante a respeito da arte ? tanto num sentido filosófico ou utilitário, quando do ponto de vista mercadológico, com a predomínio cada vez maior da especulação financeira proporcionada pelo avanço intrincado do neoliberalismo ? tudo isso aliado a um estilo bastante descritivo e irônico (principalmente quanto o autor se insere no romance, como personagem). Esse estilo, no entanto ? cheio de digressões que, apesar de trazerem referencias espasmódicas que exigem alguma paciência do leitor ?, me pareceu agradável até pelo entrelaçamento que ele tem como sua(s) temática(s). Alguns personagens somem sem uma conclusão mais clara, mas, fora isso, acho que é meu livro favorito de Houellebecq, muito porque foi a leitura mais fluida que fiz dos livros dele até agora. No mais, as reflexões sobre envelhecimento e morte ? que dão um caráter melancólico e pessimista à obra ?, fazem pensar na finitude que é a vida e em como fingimos que somos eternos.
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Luiz E.Morais 03/08/2023

Término da leitura; 03/08/2023

nomes para pesquisar e estudar depois - otto dix, william morris, charles fourier, tocqueville, comte, van der rohe, lorenzo lotto, agatha von astighnelt e a bauhaus.
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1997foilegal 20/04/2023

É um território sem mapa
Os personagens são uns idiotas sem graça que não me interessaram em nada. A história é uma enrolação sem sentido que não leva a lugar nenhum. O estilo é uma mistura de descrições tediosas e diálogos banais. Não recomendo esse livro nem para o meu pior inimigo. É uma perda de tempo.
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