Envenenadas 16/09/2012
O Prisioneiro do Céu
Quando a Math me ofereceu algumas opções de livros, me encantei com a capa de “O Prisioneiro do Céu” de Carlos Ruiz Zafón. Como eu gosto de coisas clássicas e de fotografias, me interessei pelo exemplar; afinal, a fotografia da capa é belíssima.
Confesso que julguei mesmo o livro pela capa e após começar a ler este livro, vi que se trata de um livro que forma um ciclo de romances, e que este é o terceiro volume do universo literário do Cemitério dos Livros Esquecidos. Os dois primeiros livros são ‘A Sombra do Vento’ e ‘O Jogo do Anjo’, todos do mesmo autor. Mesmo assim, a história é totalmente compreensível e fantasticamente interessante. A maneira como o autor conduz a trama e (re) apresenta os personagens é leve e precisa, e mesmo não se prendendo a detalhes desnecessários, consegue nos estimular a mergulhar na história e na psique dos personagens.
A história da família Sempere é contada com detalhes por Fermín ao seu amigo Daniel, o que traz à tona tristes lembranças e aterradoras revelações.
Tudo começa quando um estranho personagem surge diante da livraria de livros raros Sempere e Filhos, em busca de Fermín, amigo do dono e funcionário do local. Na ausência deste, o visitante lhe deixa um exemplar de “O Conde de Monte Cristo”, com uma dedicatória no mínimo suspeita – e que acaba deixando o destinatário com o cabelo em pé!
“Para Fermín Romero de Torres, que retornou de entre os mortos e tem a chave do futuro. 13”. – pág. 58
Três ou quatro tramas correm em paralelo, além das referências ao livro que deu origem a saga, A Sombra do Vento.
As revelações detalhadas do sofrimento vivido por Fermín durante sua detenção no Montjuic são dolorosas, embora reveladoras. Apesar do grande terror vivido por ele, vê-lo dando a volta por cima e encontrando uma solução ao melhor estilo Dumas para um dos seus problemas, é muito interessante.
“Louco é quem se acha sensato e pensa que não tem nada a ver com a categoria dos tolos”. – Fermín, em dialogo com Sebastião Salgado. – pág. 87
E os diálogos com Fermín são sempre interessantes; carregados de sarcasmo, ironia, poesia e introspecção.
“Quem sabe se eu fosse decorar a vitrine só de cueca, alguma mulher ávida de literatura e de emoções fortes não entrava para comprar? Dizem os entendidos que o futuro da literatura está nas mãos das mulheres e Deus é testemunha de que está para nascer uma dona capaz de resistir ao charme rústico desse meu corpinho sarado”. – Fermín, sendo citado pelo Daniel em diálogo com seu pai.
“Um burrico, jegue ou asno, conhecido quadrúpede solípede que, com graça e altivez, pontua as paisagens dessa nossa Espanha, mas em miniatura, como os trenzinhos de brinquedos vendidos na Casa Palau”. – Fermín, esclarecendo a Daniel sobre os personagens de um presépio.
“Como se estivesse ouvindo mesmo de longe, Fermín parou no meio da pista de dança e ficou olhando para nós. Estendeu os braços para Rociíto e fez aquela cara triste, necessitado de carinho, que sempre tinha dado certo”. (...) – pág. 224
E Fermín é o personagem principal desta parte da história mágica do Cemitério.
O livro se divide em cinco partes e a história, desenvolvida em vários capítulos curtos, prendem o leitor com seu dinamismo e por ser bem amarrada. Os capítulos curtos, alguns com apenas uma página, cooperam para com que a leitura flua mais rápido; mas sem ser superficial ou simplória. Revela também histórias que deveriam ficar escondidas e outras que necessitavam ser reveladas. Constrói um período difícil e sofrido de uma Espanha em Guerra Civil sob o comando de autoridades cruéis e intolerantes. Mas também fala de esperança, coragem, luta e amizade.
Zafón completa o quebra-cabeça de um jeito surpreendente e que encerra (?) a série com chave de ouro.
A sinopse dá várias dicas sobre o livro e qualquer outra coisa que eu escreva aqui, revelará segredos da trama que só devem ser descobertos durante a leitura e o seu encontro com o Prisioneiro do Céu.
Sem dúvida, vale à pena se dedicar à leitura deste livro, e creio, de outros do mesmo autor.
Não sei vocês, mas já vou dar um jeito de providenciar os meus exemplares de A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo; na esperança de também ser convidado a visitar o Cemitério dos Livros Esquecidos.
Virei fã de Carlos Ruiz Zafón!
Boa leitura, Victor Assis