Paulo Silas 11/01/2016O que determina a coesão da massa de pessoas? Há uma estrutura (pré) definida nos agrupamentos? Há uma lógica dedutível na manutenção da reunião organizada (explícita ou implicitamente) de pessoas? Há algum liame entre a psicologia do eu e a psicologia das massas?
São tais as indagações que Freud busca investigar nesta singela obra, almejando alcançar o modo de funcionamento de grandes grupos que se mantém ligados por determinada razão.
O autor retoma algumas posições de obras anteriores a fim de incutir a análise do tema proposto. Por exemplo, quando traça um pequeno panorama diferenciador sobre a identificação do eu com o objeto e a substituição do ideal do eu pelo objeto, há a exposição originária (proposta) realizada em "Totem e Tabu" - quando os irmãos matam o pai e assumem o seu lugar (mito do pai da horda primordial). Tal diferenciação pode ser observada em duas grandes massas artificiais que são estudadas na obra: a igreja (Cristo é amado como ideal e o cristão se sente ligado aos demais membros da religião por identificação, além de também se identificar com Cristo e amar os seus irmãos tal qual Cristo os amou) e o exército (o soldado toma o comandante como ideal enquanto se identifica com os seus iguais).
Freud também discorre, retomando as origens totêmicas, que "o mito é o passo com que o indivíduo sai da psicologia das massas", quando demonstra ser "possível indicar o ponto no desenvolvimento psíquico da humanidade em que se efetuou, também para os indivíduos, o avanço da psicologia de massas à psicologia individual".
O autor ainda lamenta, quando expõe a questão da sugestão e libido nas modificações profundas sofridas na atividade psíquica do indivíduo devido à influência da massa, a leitura crítica que foi feita sobre suas exposições da libido (algo como um pansexualismo exacerbado), a qual em realidade é uma expressão da teoria da afetividade, conforme o próprio explica, salientando ainda que esta seria a "energia, considerada como grandeza quantitativa [...], daqueles impulsos que têm a ver com tudo o que podemos reunir na categoria "amor"" (o parental, o próprio, o fraternal, o sexual...). Assim, as diversas categorias de amor acabam tendo em comum a mesma base primordial: a pulsão/impulso da libido.
É um livro curto que expõe as observações dos fatores primordiais que demonstram como correlatas a psicologia individual e a psicologia das massas. A psique do indivíduo em sua estrutura funcional possui um vínculo com a coletiva. Observando aquela é possível chegar à conclusões desta. Conceitos psicanalíticos como enamoramento, hipnose, sugestão, idealização, identificação, substituição e libido são aqui utilizados pelo autor no intuito de esmiuçar a psicologia dos povos e compreender os motivos que levam a multidão a se submeter a um líder.
Recomendo!