gabi_tosi 13/10/2012O Que Deu Para Fazer Em Matéria de História de Amor Elvira Vigna é escritora e desenhista. Seu último livro “Nada a Dizer”, lançado em 2010, ganhou o prêmio de ficção da Academia Brasileira de Letras. Em “O Que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor”, a narradora entrelaça os fatos de sua vida ao passado de Arno e Rose, já mortos, e busca um sentido para sua vida com Roger, suas escolhas, suas realidades.
Através de uma narrativa não linear, somos levados a contemplar em um mesmo capítulo, episódios do passado misturados com o presente, ou achamos que o é. No começo, é um pouco difícil se acostumar com o excesso de pontos-finais separando cada sentença. A narrativa parece um pouco confusa e difícil de acompanhar, porém, uma vez começada e passada a dificuldade inicial, o texto começa a fluir com elegância, mostrando-se inteligente e perspicaz. O livro todo tem um tom que lembra o realismo, com doses de sarcasmo, humor negro e é, às vezes, vazio e triste.
A protagonista não é uma heroína. É uma mulher de verdade com incertezas, que erra e que tem muita personalidade. Seus questionamentos põem em cheque o que é válido, o que é essencial e sua busca pelo amor também nos leva a refletir sobre o que é realmente importante.
“Continuam (continuamos) apregoando o que há a oferecer. A dificuldade é que não nos parece mais tão essencial, o entendimento. Não precisamos mais tanto, do sentido. Vivemos muito bem sem eles, com nossos conjuntos de agora a mudar a cada instante.”
A narradora tem com Roger um relacionamento de décadas. Eles se encontram e se separam várias vezes, em momentos diferentes da vida. São sócios de uma galeria de arte. Ela tem que arrumar um apartamento - que pertenceu a Arno e Rose - para venda. Arno que era um artista adepto do concretismo esconde uma peça neste apartamento, uma peça que esclarecerá, ou não, suas vidas. O apartamento fica no Guarujá, cenário de boa parte da trama, um Guarujá chuvoso de agosto, quase sem vida. Quase.
“Não é mais uma questão de tesão, nós dois. Ou só de tesão. Talvez nunca tenha sido. Gosto dele, acho, não sei mais. Conheço fatos sobre ele, não ele. Faço histórias em que ele possa caber, todas um pouco falsas, como são as histórias. Não sei quem ele é. Acho que, enquanto não souber e precisar portanto fazer histórias, fico com ele. Quando não houver mais nada a adivinhar, tirar, vou embora. Talvez nunca vá. Talvez eu me engane. E nunca acabem, as histórias.”
Adicione à história a Segunda Guerra Mundial, Alemães que tentam se encaixar em um país tão diferente e mais uma porção de personagens que ligam os fios da trama e teremos o produto final de Elvira Vigna, um romance instigante.