Tarás Bulba

Tarás Bulba Nikolai Gógol




Resenhas - Tarás Bulba


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Vida Literária 19/07/2020

Um Russo Raiz

Ler Tarás Bulba em 2020 é um pouco estranho, confesso. Principalmente para nós brasileiros. Digo isso sem muito medo de errar, ainda que possa haver algum exagero. Sabe por que? O nacionalismo do nosso povo possui fissuras que foram construídas ao longo de muitas pancadas. Haverá aquele esperançoso, mesmo que com receio, defensor do espírito patriótico reaceso em quatro em quatro anos em virtude da Copa do Mundo. Não é uma inverdade, mas olhando sem esse recorte e lançando mão de um olhar mais panorâmico, nacionalismo não está em alta.

O livro em questão faz parte da Coleção Leste, da Editora 34, e possui aproximadamente 160 páginas. Tarás Bulba é, nesse sentido, nome também do protagonista dessa divertida novela de cavalaria. E como quase todas, não falarão elementos como sanguinolência, violência e patriotismo. Tudo isso imbuído numa espécie de jornada do herói ao estilo Russo de ser.

Acredito que seja injustiça ler a maioria dos autores russos sem mencionar a preocupação e acurácia empreendida por eles para tentar registrar em seus livros esse espírito adormecido no brasileiro. Rapidamente o leitor perceberá em cada morte (e são muitas) o discurso inflamado pela pátria os lábios dos soldados exaltando o orgulho de pertencer a ela.

Tarás Bulba é velho de guerra e está em casa com a mulher no período em que seus filhos Óstap e Andrií retornam de um seminário onde estudavam. Bulba pertence aos cossacos, um grupo de anarquistas que além guerrear, faz muita farra e bebedeira. Russos raiz. A velho está preocupado porque o ambiente está calmo demais e ele quer que os filhos conheçam a batalha. É comum, portanto, ele dizer que “um homem não vive sem batalhas” e a “juventude precisa de guerras”.

Todo o desenrolar da narrativa acontece quando ele “mexe os pauzinhos” para provocar uma guerra. A novela é bem curta e interessante. Atente-se para os filhos de Tarás Bulba, pois eles são peças fundamentais para o ápice narrativo. Há apenas duas questões que não me agradaram tanto. A primeira delas é o fato da mulher ser totalmente irrelevante na história. Ela sequer tem nome, aliás. Você lerá trechos como “não dê ouvidos a ela, é mulher e não sabe de nada”. O próprio narrador em outro recorte dirá que a mulher é infeliz “como todas naquele século intrépido”.

Outro ponto negativo é o fechamento do ciclo narrativo de um personagem muito importante. Cria-se todo um ambiente, incita-se o leitor a refletir sobre os limites do patriotismo e tentar entender as situações. No entanto, no clímax, onde poderiam haver facilmente 5- páginas em volta do ocorrido, há apenas meia página.

De qualquer forma, fica uma ótima indicação de novela de cavalaria pra você, que assim como eu, tinha lido apenas o Capote do Gógol.

site: http://vidaliteraria.net/bulba/
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Rickson.Ramos 06/08/2020

Russia raiz
Tarás Bulba - um épico de autoria de um dos grandes expoentes da literatura russa/ucraniana, Nikolai Gógol - delineia os mais diversos assuntos, dentre eles: aventuras dignas de epopeias homéricas; feitos heroicos e mortes honradas;  personagens intrépidos e ferozes; amores impossíveis; discussões sobre a dualidade das guerras e os perigos da intolerância religiosa e do patriotismo exacerbado.

No herói dessa novela, o coronel Tarás Bulba, o autor tenta sintetizar o povo eslavo-oriental cristão, exaltando sua coragem e determinação. 

A história se desenrola quando, ao ver seus filhos voltarem do colégio interno religioso, Bulba se sente nostálgico por uma boa batalha e por uma grandiosa farra em um posto avançado, uma Siétch. Bulba alega que seus filhos estão muito cheios da doutrina catedrática religiosa, e que seria bom para eles uma guerra; o problema é que os cossacos assinaram um acordo de paz com a Turquia - um dos principais inimigos dos cossacos. Contra quem eles poderão voltar seus sabres e ímpeto assassino?

Outro personagem dessa história é o povo cossaco, que, motivado por um objetivo maior (como proteger sua terra da influência católica e judaica), se joga no ardor da batalha sem olhar para o que estão deixando para trás. Eles são retratados como uma potência militar anárquica que não obedece a ninguém senão ao Deus cristão e seu kochevói (comandante do exército).

Sem dúvida uma leitura imperdível e, infelizmente, muito curta.
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Matheus.Berica 16/08/2022

Self service de gêneros
Começa como livro de humor depois vira drama familiar depois vira aventura depois vira ação depois vira um épico de guerra depois vira romance depois vira tragédia depois vira comédia de novo
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Antonino 28/07/2020

Uma forma poética para se conhecer o povo Cossaco.
A forma como Gogol descreve o povo Cossaco é linda.
Uma forma que apenas quem tem uma ligação sentimental poderia descrever.
A relação daqueles homens com sua terra, sua fé e sua ânsia por combates está ricamente descrita nessa obra.
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Danii 04/09/2020

Uma historia muito interessante.
Confesso , que hj em dia ,ver a maneira pela qual eles lutavam e seus motivos ,e de como as mães, não tinham muito valor. É complicado e triste.
Mas é uma historia riquíssima . Vale muito a leitura.
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Lua 17/11/2021

Péssimo
Um livro muito ruim que ainda não entendo como as pessoas aceitam e consideram ele. É repleto de ignorância e preconceito. Não vou nem comentar a questão da intolerância religiosa e antissemitismo...
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ClaudiaOSimoes 10/10/2012

Brilhante
Taras Bulba é o protagonista desta obra, um pai de dois rapazes, pertencente aos kossacos russos. Os kossacos são guerreiros, fortes, corajosos e amantes da sua pátria. Juntam-se para socializar, pensar em lutas, beber e treinar. Taras Bulba leva os filhos para o campo dos kossacos de forma a eles pertencerem e lutarem contra os Polacos. Muitas coisas acontece neste livro, gostei sobretudo da forma como Gogol nos leva para aquele ambiente tão diferente da nossa realidade. O livro não partes chatas e está muito bem escrito, recomendo vivamente.

vídeo em youtube.com/amulherqueamalivros
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Rosa Santana 01/04/2011

Taras Bulba é um curto romance histórico do Nikolai Gogol. Conta a história de um velho cossaco ucraniano - Taras Bulba - e os seus dois filhos, que estudam na Universidade Nacional Academia Kyiv – Mohyla, e voltam para a casa de férias. Daí os três homens viajam para a Sich de Zaporizhia, situada na Ucrânia, na ilha de Khortytsia, para se juntar aos outros cossacos na guerra contra a Polônia. Eles lutam bravamente, sob o comando de Taras.

Os cossacos assinam a paz com os polacos. Mas Taras, por não concordar, leva o seu regimento para continuar a guerra contra a Polônia. Taras é capturado em combate e ordena que seus comandados fujam, deixando-o sozinho. Ele é queimado vivo na fogueira improvisada, gritando pelo Espírito da Rus (não deve ser confundido com o espírito da Rússia).

Penso eu, que o autor deixa Taras morrer sozinho, no final, não por ter sido abandonado pelos “camaradas”. Ele próprio incentiva a partida dos guerreiros para que eles, de uma forma ou de outra, continuem a luta aí iniciada, já que o que almeja é a vitória e a conseqüente expansão da alma russa. Essa alma russa não morre com ele, mas permanece viva naqueles guerreiros que, como os mergulhões, são “altivos”. Como as velozes aves, os cossacos navegam livres, pelo menos por hora porque outras batalhas virão! Seu atamã (Taras) cuja alma russa não foi vencida pelas chamas, está ali com eles e perdurará com outros que ouvirão e contarão aos tocadores de pandora, que a cantarão para outros e para outros, e mais e mais outros...

Esse livro me lembrou muito o “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que conta dos heróis e das lutas do povo português, também submetido a tantas batalhas, umas gloriosas e outras, não...

Fala de um povo que conquistou territórios, mas que se viu conquistado, dominado, quebrado no seu orgulho patriótico...

O livro é uma MENSAGEM: a de que a História – esse conjunto infindável de fatos, conquistas, derrotas, batalhas, revoluções, viagens, glórias... – não passa de manifestações aparentes de uma energia potencial (o mito!) cuja tendência é ir muito além do que na verdade fora e conclama o povo português a não se esmorecer e a não se esquecer disso.

Asssim:

O mito é nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Taras se transforma nesse paradoxo: é o nada (morto, queimado), mas é tudo: o sol brilhante, ainda que morto, está vivo para os que o “abandonaram” Por isso, acho que Taras morre sozinho: para que tenha quem o cultue. Se todos se extinguissem, quem contaria sua história? Como ele se transformaria em mito?


(...)Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Só assim, nosso lendário herói continuará “a entrar na realidade e a fecundá-la”, fazendo com que sua plenitude espiritual alimente seus compatriotas – de todos os tempos - e perpetuando neles a aspiração, (utópica?) para que o sonho, que não é dele apenas, mas de todos os cossacos, não seja esquecido, e, encontrando condições favoráveis, venha a acontecer.

Como mito, ele está muito acima da morte, da transitoriedade... Em baixo, a vida que é metade de nada, morre, queimada ou não; acompanhada ou não... Mas o mito permanece, a força, a energia potencial com que ele fecunda a vida, está além, planando os ares...

Taras viverá, como mito, como essa energia latente, para que possibilite que sua comunidade vá mais além, como os pássaros...
O que não aconteceria se todos lutassem juntos, até a extinção.


Outro poema que muito me ocorria quando estava lendo, tb do livro Mensagem:


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

..........

Acho que o idealismo romântico está presente do início ao fim da história com seus caracteres nem exagerados e nem grotescos, tão comuns à obras do Gogol. O romance tem que ser entendido no contexto do movimento literário do nacionalismo romântico, desenvolvido à volta de uma cultura étnica, baseando-se nos ideais românticos..

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Lô Becco 11/06/2010minha estante
Excelente comentário. Me fez enxergar o final sob um novo prisma.


Márcia Regina 02/07/2010minha estante
Rosa, hoje estávamos falando do livro e vim reler as resenhas.
Eu estava encucada com o final. Gostei da tua forma de ver a fuga dos companheiros.


Rosa Santana 01/04/2011minha estante
Termiinei de ler "Diário de Um Ano Ruim", de J. M. Coetzee, narrativa inovadora em que o autor mistura narração de fatos com ensaios, separados fisicamente nas páginas. Esses ensaios versam sobre os mais variados temas, inclusive literatura e escritores. Em um deles, fala sobre Antjie Krog, escritora da África do Sul. Cito aqui um excerto, porque acho que se relaciona, e muito, com a minha análise acima:
"Ninguém na Austrália escreveu com fúria comparável. O fenômeno de Antjie Krog me parece muito russo. Na África do Sul, assim como na Rússia, a vida pode ser miserável; mas como o espírito valente se levanta para reagir!" (211)
Achei que essa última frase retrata exatamente o espírito valente de Taras Bulba!


Rosa Santana 31/08/2014minha estante
Lendo O Músico Cego, deparei-me com uma comparação feita por Korolenko entre um fazendeiro e seus filhos e Taras Bulba e sua prole...
Deu vontade, vim aqui reler a resenha!




Chester 17/12/2021

Taras Bulba, o cossaco raiz
Uma história carregada de cultura, história e patriotismo.
Bulba (pai) é capaz de qualquer coisa pela honra de seu nome e de sua nação.
Um romance russo datado do século 19 que consegue nos imergir na realidade e "violência" da época.
O final é previsível dentre poucas possibilidades esperadas mas não deixa a desejar a bravura do grande zaporojiano.
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Nanda 03/10/2021

Versão recontada
Comprei sem me dar conta uma versão recontada da história, ao invés de uma tradução direta. Acredito que isso tenha diminuido muito minha experiência com a narrativa, porque a escrita do Gógol é sempre única e tem um senso de humor que eu adoro, mas que escapou aqui. Vou precisar ler pela original um dia.
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Côrtes 17/06/2022

Incrível
Sinceramente quando comecei a leitura não esperava muito dela, porém, como sempre os russos conseguem me surpreender com essa história incrível!
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Raphaella11 10/01/2024

Não recomendo para quem está conhecendo o autor mas sim para quem está acostumado com o estilo de escrita. O Livro "Taras Bulba" de Gogol é uma ficção histórica emocionante que começa com humor e termina com o terror em meio a guerra. A obra fala sobre a dor de um pai e seus filhos, a dor do amor apaixonado e platônico entrelaçado com peso de ser um guerreiro. Gogol não falha em não romantizar uma época tão feroz, mesmo que cossacos sejam "heróis" na perspectiva dessa história. O autor conta detalhe por detalhe as brutalidades do exército protagonista, enfatizando os seus horrores e de seus inimigos. "O homem apenas se preocupava com o brilho das batalhas sangrentas, a ponto de perder sentimento pela humanidade." Apresenta certos esteriótipos fortes em relação a alguns personagens mas de maneira geral é bem escrita.
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iagofelipeh 14/05/2020

Uma epopeia popular!
É um trabalho hercúleo não rasgar elogios para Nikolai Gogol. Foi um dos fundadores da literatura moderna que é uma das melhores que já existiram. O cara influencia nomes como Puskhin (seu amigo e contemporâneo), Tolstoi, Dostoievski, Babel, etc!

Morreu, infelizmente, muito jovem, e, ainda assim foi de tamanha capacidade e relevância a deixar o supracitado legado e obras magnânimas como o romance Almas Mortas. Gogol, todavia, foi um mestre dos textos curtos com ótimas coletâneas de contos (como O Capote) e de novelas.

Tarás Bulba é uma novela inovadora e subversiva, nunca antes um texto épico havia sido tão enraizado com ditos populares, folclóricos, carnavalescos e caricaturais na mesma medida em que faz uma grande homenagem ao povo ucraniano do século XVI representados pelos valentes cossacos (sugiro que leiam sobre quem foram), bravos guerreiro que lutavam de modo quase anárquico contra um avanço militar da Polônia com toda a repressão que o catolicismo vociferava contra a religião cristã ortodoxa russa. Eram baluartes nacionalistas que defendiam sem medo suas convicções.

Gogol escreveu esta novela na década de 1830 apoiado com um enorme acervo de pesquisa histórica para retratar aquele momento, e o fez de modo sobrepujante e intenso mais que qualquer outro. Além de homenagear a luta por liberdade que muito representou os guerreiros cossacos, ele critica profundamente o caráter do indivíduo que fazia parte do conjunto. Tarás Bulba era um coronel respeitado, destemido e feroz, entretanto foi um péssimo pai, péssimo marido, impulsivo, sujo e sanguinário. Outro aspecto ambivalente e que entorna o texto é como o nacionalismo exagerado e o extremismo religioso é negativo como um todo. Fazendo mal não apenas aos polacos católicos, mas especialmente aos cossacos zaporogos, estes cristãos ortodoxos.

Nikolai também traz a tona a questão da moral judaica e, ao meu ver, embora apresente-os de modo malicioso e estigmatizado, não deixa de apresentar sutilmente as injustiças e perseguições sofridas por essa classe, fazendo frente e prelúdio a um fenômeno que, um século depois de escrever sobre trêsséculos antes, resultaria nas câmaras de gás e em Auschwitz.

É um texto pequeno mas longe de ser raso, é também extremamente divertido e aventureiro, como uma grande epopeia deve, de fato, ser.
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Ave Fantasma 11/02/2016

Esse romance do Nikolai Gógol é curto, muito bem escrito e nos chama a atenção em muitos pontos. O primeiro deles é em como o Taras Bulba, pai e soldado cossaco, se apresenta como um homem que aparenta um esteriótipo do guerreiro nacionalista um tipico "homem bruto". Aos poucos vamos notando várias nuances que o torna um personagem marcante: os seus valores e princípios como soldado incansável, o fiel companheirismo e o amor aos filhos.
Algo que me marcou muito no livro, mesmo que só aparecesse no início e uma outra vez na obra, é o amor e sofrimento da mãe. Solitária porque seu marido só desejava a guerra e ter que ver partir os jovens filhos também para esta. As descrições das cenas em que a personagem está são marcantes.Esta obra é também sobre a relação entre pai e filhos. O quanto o Ostap e Andrei são subordinados a este mesmo em situações que esperaríamos uma total separação de laços e de ideais os filhos sempre seguem fieis de algum modo ao Taras.
Mergulhamos nos costumes dos cossacos e sentimos essa Rússia oriental, o amor pela vodka, o frio intenso, a rigorosidade dos russos, a paixão os cossacos pelo combate, a inimizade acirrada entre cossacos ucranianos e poloneses, e também o anti-semitismo.
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Felipe 05/03/2013

Épico Ucraniano vai além das simples aventuras...
Tarás Bulba corre o risco de passar pelo leitor como uma espécie de faroeste ucraniano, uma historieta fugaz de capa e espada. Porém, ao mergulharmos dentro desse mundo medieval descrito por Gógol com uma violência poética exorbitante, encontraremos, para além de uma anedota sobre cossacos guerreiros e implacáveis, a mais densa e sombria crônica familiar sobre o ódio e a diferença ancestral que separa pais e filhos.

Poderíamos descrever o plot do romance com um simples “A vingança do Pai” com P maiúscula, pois não se trata de um pai em específico, mas do pai ocidental, figura massacrada e destronada simbolicamente por narrativas que vão do Édipo até os Irmãos Karamázov. Tarás, o velho cossaco educado no calor da guerra, levará até o fim o seu poder de coordenar a vida dos filhos. Ele é o pai-Deus, o pai implacável que toma em suas mãos os destinos de suas criaturas; assim, ele decide que os seus dois filhos, Andríi e Ostáp, caminharam ao seu lado para a ilógica glória da guerra.

Podemos sentir, ao lado de descrições minuciosas da rotina de um cossaco, os ecos de um mundo muito mais antigo do que aquele retratado no romance. Falo do mundo da épica e da tragédia gregas. O romance está impregnado dessas tradições e é extremamente chocante quando percebemos claros remakes dos épicos e trágicos gregos. Um exemplo é quando um dos personagens arrasta um inimigo ao pé de seu cavalo por todo o campo de guerra, alusão mais que evidente ao episódio em que Aquiles amarra o corpo de Heitor pelos pés. Ou quando, depois de uma das passagens mais impactantes, em que Tarás mata o seu próprio filho, ouvimos do seu irmão uma fala agônica sobre enterrar o filho de forma digna e o livrar do jugo dos inimigos e da rapina dos pássaros, evidente referência a uma das heroínas mais amadas da tragédia grega, Antígona, que, enfrentando a lei do Estado, intercede a favor de Polinice, seu irmão, que morreu de forma trágica, para que esse seja enterrado com as honras fúnebres necessárias para que seu corpo não fique a vagar pelo mundo.

O mundo grego está ali não como adorno, mas como elemento formal da obra. É um épico trágico que, mesmo com o aparente nacionalismo Ucraniano e com a aparente aversão aos judeus e poloneses, esses últimos inimigos centrais da Ucrânia à época, exala uma terrível sentença do vazio que existe na guerra, nos laços e na vida. O penúltimo capítulo, um dos mais acabados esteticamente, chega ao paroxismo da dor e da literatura, retratando o último dia do condenado Ostáp e da memorável e trágica dor de Tarás, homem terrível que encontra a morte simbólica, e depois a real, no momento em que percebe o gosto infausto de um mundo esvaziado de sentidos, mundo em que a maioria das pessoas, como diz o narrador, olha para os acontecimentos cutucando o nariz com o dedo.
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