Vany 09/09/2017
Sobre o livro
É uma narrativa infanto juvenil escrita pela autora brasileira Lygia Bojunga Nunes que problematiza a morte por meio da ótica de uma criança
O enredo:
Em “Nós três” o enredo se desenvolve a partir de três personagens: Rafaela, personagem central; uma menina de dez anos que veio passar férias na casa da amiga da mãe que ficava em uma praia deserta; Davi um viajante errante; ex- marinheiro que teve o braço levado por um peixe “cação anjo” e Mariana uma escultora, amiga da mãe de Rafaela. Em um dos passeios pela praia, Rafaela conhece Davi e em seguida o apresenta para Mariana que prontamente passam a morar juntos como namorados. Contudo, esse romance encaminha-se para um final trágico, na medida em que Mariana não consegue que Davi se estabeleça em um único local, deste modo, assassina-o, pois não aceita o fato de ele ir embora. O trágico acontecimento é acompanhado com horror pela menina Rafaela que vê Mariana levar o corpo de Davi em um barco para o mar. A partir desse acontecimento, é expresso um dos grandes recursos da narrativa: o sonho que representa uma tentativa de Rafaela de explicar para si mesma, o que aconteceu realmente e de achar o culpado por detrás do crime. Assim, ela enterra a faca que Mariana usou para assassinar Davi e vai em seguida ao fundo do mar, onde tenta encontrá-lo. Nesse ambiente onírico, a menina estabelece contato com um mundo fantástico, no qual encontra a mão de Davi (presa em uma rede), o peixe cação e um anjo. Ao conversar com os personagens, por meio do recurso de personificação, Rafaela decide voltar à cena onde Davi conheceu Mariana, apesar disso, ela não consegue mudar os acontecimentos. Assim, a menina juntamente com o peixe e o anjo determinam um castigo para Mariana: de ela ficar o resto da vida esculpindo o cabelo de Davi, última coisa que fazia antes de matá-lo. A narrativa termina com a volta de Rafaela para casa que não perdoa Mariana pelo ato impensável e com a reprodução da figura de um pescador, contador de histórias, que relata a história de uma mulher que esculpia repetidamente a figura de um sol, até o dia que essa misteriosamente sumiu no mar.
Os elementos simbólicos da narrativa
Além do sonho, há a presença de muitos elementos simbológicos no texto, os quais fazem alusão a sentimentos e ao assassinato. Primeiramente temos a imagem da “flor azul” que representa o inalcançável, o infinito, a amizade e o amor. Quanto a sua função na narrativa podem ser designadas duas: inicialmente o fato de Davi ser inatingível para Mariana tanto na vida quanto na morte e a segundamente ao fato da descoberta do primeiro amor, de Rafaela por Davi. Outro aspecto simbólico da obra é a teia de aranha que enreda o braço de Davi. Essa faz relação com uma passagem da narrativa, a qual é vista na perspectiva de Davi, em que um passarinho é entrelaçado a uma teia. Esse pássaro pode ser comparado a Davi, na medida em que ele é preso por Mariana. Contudo, há uma diferença entre os comportamentos do animal (aranha) e do ser humano (Mariana). A aranha mata para sobreviver e Mariana mata, pois é motivada por seus desejos e caprichos egoístas, não tendo, pois um motivo claro para ter cometido tal ato. Também há a presença de intertextualidade com referências mitológicas, como a lenda de Sísifo, deus grego que foi condenado a rolar uma grande pedra, com suas mãos, por toda a eternidade. O intertexto se estabelece na medida em que Mariana, após cometer o homicídio, fica repetidamente esculpindo o cabelo de Davi, ação semelhante a do deus.