Rafael.Montoito 19/07/2020
Shakespeare na sua forma mais bruta
A atualidade das peças de Shakespeare é notória para qualquer leitor disposto a transpô-las para nossos dias (não que isso seja necessário, já que cada peça é um deleite por si só, mas tal olhar possibilita compreender porque o bardo nunca foi deixado de lado).
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"Tito Andrônico" é, em primeira instância, uma peça sobre traição, sobre um homem que serve a uma causa e, depois, é abandonado e enganado por aqueles a quem serviu (nossa política, nossa sociedade, nossas relações amorosa não são, em alguma medida, exatamente isso?).
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Tito é um poderoso general da Roma Antiga que volta à capital romana depois de uma triunfante vitória sobre os godos. Ele traz Tamora, rainha dos godos, prisioneira, junto com seus filhos Alabardo, Quiron e Demétrio.
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Saturnino e Bassiano, irmãos, disputam o controle do império romano e, numa aliança de paz, Saturnino casa-se com Tamora que, com seu amante, Aarão, trama de vingar-se de Tito, que matou seu um de seus filhos.
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A partir daí, a peça cresce em violência (considerada a mais violenta escrita por Shakespeare): estupros, mutilações, decapitações e até mesmo um canibalismo involuntário desnudam o lado mais terrível do homem e a escalada de Tito à loucura.
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Exatamente por ser uma peça que difere de todo o mais que Shakespeare escreveu, merece ser lida. Sua força está em cada cena.