@apilhadathay 14/06/2012
Necessário na Estante
Eu definiria o gênero do livro mais como um verdadeiro Guia de Experiências de Trabalho do que autoajuda, porque a história nele contada é um modelo para ser seguido, tanto em empresas como na vida pessoal.
- Na crise, enquanto alguns choram, outros vendem lenços! (P. 3)
Lucio Queiroz, o protagonista, é viciado em trabalho e não tanto na família. Ajudou Edgar Brandão a construir um verdadeiro império empresarial, mas é o tipo de chefe "Old Fashion": irritante, que cobra demais, agradece e elogia de menos [ou melhor Nunca, porque "é nada mais que a sua obrigação fazer o serviço corretamente, e se não o fizer, há 200 pessoas esperando para ocupar a sua vaga", postura que todos nós, que já trabalhamos em empresas privadas, conhecemos]. Na cabeça de Lucio, o crescimento da empresa deve muito ao seu gerenciamento linha-dura, ultrapassado, que alavanca as vendas e produz resultados numéricos satisfatórios. Ele só esqueceu que qualidade de relacionamento também é vital em uma empresa, e sempre subestimou a necessidade que tinha de outras pessoas [conheço pessoas assim].
- Confesso que filme é a minha fraqueza. Desta vez, sem pipoca. Erro imperdoável. Preciso abastecer armários e geladeira. Alexandre é quem olhava tudo isso. Pelo visto, as coisas não brotam sozinhas dentro de casa. (P. 79)
Devido a seu posicionamento egoísta e autossuficiente, Lucio começa a ser abandonado, sente o peso do afastamento da família [a esposa Vera e o filho Alexandre], e o reflexo de suas atitudes vai direto ao coração. LITERALMENTE: ele tem um ataque cardíaco... Mas escapou da morte por um milagre. É no hospital que a única visita faz a diferença em sua vida: a psicóloga e coach empresarial Beatriz Sampaio, que realiza trabalhos voluntários com empresários em situação semelhante. Os motivos, você compreende no decorrer da história. Aliás, as surpresas do enredo são um caso à parte.
Lucio, de fato, passa a reavaliar suas atitudes passadas, buscando compreender e aplicar a teoria da Liderança Transformadora, criada por Beatriz, para melhorar seu desempenho como líder na empresa, e até em sua vida pessoal. A questão é se todos que conhecem aquele carrancudo workaholic vão "comprar" essa sua mudança tão facilmente.
- É duro constatar que as pessoas não acreditam que eu possa mudar.
- O importante é que você acredita, Lucio (...) Somos nós que permitimos que pessoas e situações perturbem o nosso equilíbrio, roubem nossa energia. Não podemos escolher o modo como os outros falam, agem, mas podemos escolher como iremos reagir ao que eles fazem... (P. 102)
Enquanto lia sobre os 5 princípios da Liderança Transformadora, minha mente flutuou tanto até o passado... Afinal, quem nunca trabalhou para um "Jerk" de marca maior?
Não posso negar que Lucio era pró-ativo, guerreiro e trabalhador, o tipo de homem a quem um pai dos anos 50 ou 60 entregaria a filha tranquilamente, porque ela estaria "bem-cuidada". Ele cresceu sabendo que deveria ser um provedor, e que para isso era preciso trabalhar duro, fazendo o que fosse preciso, entrando em brigas para vencer.
O problema é que os tempos mudaram e Lucio, não. Ele era um profissional bem-sucedido, mas tinha dificuldades para ver coisas que estavam diante de seus olhos, e um pavio curtíssimo; obteve sucesso na empresa, mas um baita fracasso no casamento, porque as mudanças em seu comportamento invadiram a vida pessoal. Posteriormente, o fracasso se estendeu à própria empresa, pela falta de adesão às mudanças evidentes do mundo gerencial e à necessidade de relacionamento humano.
- 'Somos rápidos em apontar os erros dos outros e lentos ao reconhecer seus acertos.' Richard Williams, mencionado na Página 107)
A narrativa, que intercala os pontos de vista de Lucio e de Beatriz, é bem simples, direta, um pouco mais brusca, com mais exclamações e alguns comentários desnecessários no caso de Lucio [o que é coerente com o perfil dele], e mais delicado quanto a Beatriz. Então, nesse quesito, há pontos a melhorar, claro. Mas o livro tem uma essência bela, uma lição valiosa e se você já trabalhou com alguém até semelhante a Lucio Queiroz, vai se identificar rapidinho.
Todas as mudanças acabam sendo boas, algo de que só Sheldon Cooper discordaria. Mas é importante persistir na busca das melhorias, porque se você desiste, vai ficar dando voltas e retornando ao que está prejudicando seu desempenho. Mesmo sendo apunhalado pelo caminho, a melhor direção sempre é Para a Frente. O ponto em que o personagem Lucio mais me agradou foi quanto ao realismo da jornada, o fato de ele não ter mudado "por milagre", da noite para o dia, mas escorregando, reavaliando, tentando de novo; isso foi o que me conquistou em Lucio e no livro de Marcia.
O belíssimo design de capa é do nosso amigo André Siqueira (Era Eclipse). A fonte do título é linda, amei a ideia do relógio, mas a tinta vermelha infelizmente acaba saindo com o manuseio do livro. Encontrei alguns pequenos erros de revisão, mas nada que atrapalhe a leitura. O livro traz uma série de títulos de livros e filmes em meio ao texto, que também servem de exemplo para a fixação da Liderança Transformadora. Eu diria que este conceito é tão abrangente que cada um desses princípios pode ser usado até mesmo pelos pais no relacionamento com os filhos - afinal, a família também é uma instituição que precisa de retroalimentação positiva para seguir funcionando, não é?
Concordo com McSill: este é um livro que todos deveriam ter em casa, para aprender a cooperar melhor com a família e com a empresa [na condição de líder ou de colaborador] e ainda outro para presentear alguém [de preferência aquele chefe que precisa de umas dicas urgentes, não é?]
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