Vasto Mar de Sargaços

Vasto Mar de Sargaços Jean Rhys




Resenhas - Vasto Mar de Sargaços


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rebeccavs 11/04/2024

Adieu, potência de Bertha
Tenho a sensação de que reli parte de "Ensaio sobre a cegueira", de tão atordoada e caótica que a narração é em algumas páginas (já que o livro não tem capítulos). Um ponto intríseco na escolha do título foi a personificação dos lugares, com características da protagonista: "Era um lugar lindo, selvagem, intocado, principalmente intocado, com uma beleza estranha. E guardava o seu segredo. Eu me via pensando: O que eu estou vendo não é nada ? eu quero o que ele esconde ? isso é que tem significado" (Pensamento de Edward, p. 84). É um coração intocado pela mãe áspera e que escondia o que vinha dela: Bertha.

Antoinette sofreu desde a outra lida, mas seu espírito inquieto buscou refúgio na idolatria ao marido, e esse refúgio ainda era incerto: "Ela está sedenta de qualquer um, não de mim." (Frase de Edward, p. 163). Ela não está sedenta de qualquer um, ela precisa de um motivo para continuar vivendo após tantas torturas na ilha, mas abandonou Deus naquele convento quando parou de rezar completamente e começou a empurrar a vida com a barriga. Não reza, não revela virtudes em suas ações, seus pensamentos são voltados a este mundo, embriaga-se da vaidade (vestidos, perfumes) e ao tocar na palavra "morte" não atribui sua vida a nada além de uma espécie de obsessão em agradar o marido. A alma de Antoinette é um mar envolto de sargaços que nunca pôde ser navegado por sua miséria espiritual.

Eu tenho uma visão já formada de Edward, dado o romance dele com Jane, mas a forma como ele foi representado beira ao incoerente em relação à obra canônica (Amélie, o tratamento rude, a avareza britânica), ainda que ele fosse um psicopata ? como muitos leitores de J. E. estimam. No entanto, a construção de Antoinette é extremamente pobre: ela não é a mulher misteriosa retratada no romance de Charlotte, que poderia ter uma vasta profundeza, mas o mar é raso. A sua narrativa silenciada poderia abranger a mesma imensidão, senão maior, de Capitu, como no livro de Fernando Sabino, mas não nos foi dada uma heroína que possa inspirar as moças com seus pensamentos refletivos, com suas ideias que não foram postas em prática devido à tragédia de um casamento arranjado e manipulado, nem com a possibilidade de um espírito que clama pela liberdade poderia alcançar se não conhecesse aquele homem; é um livro que acabou com a potência de Bertha.
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Lola 16/07/2021

Mal aí, Jane Eyre
Você mulher já deve ter reparado que muitas vezes seu sentimento é interpretado como migué, loucura, exagero... O que nos leva à figura de Antoinette porque Bertha é o k4r4i.

Em que pede se tratar de uma narrativa que se prende ao passado (não tão passado) da mulher como uma marionete à família para estabelecer relações e obter poder, é um prequel interessante à Jane Eyre e uma oferta à pergunta sobre o que aconteceu para que houvesse determinados desdobramentos.

Ser silenciada, se ver como atraente só por recursos, crescer não sendo amada - e ver como o ódio habita o coração humano - nos faz questionar até onde "ser doida" é algo realmente inerente a pessoa.
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Patrick 21/02/2021

Vasto Mar de Sargaços
O romance se passa em algum lugar no Caribe. Em um período pós abolição da escravatura, em que as feridas pela exploração dos colonos, ainda estavam longe de cicatrizarem. Os personagens: descendentes de escravos, descendentes de colonos e seus escravos, colonos ingleses. Formam um conjunto étnico conflituoso conforme demonstra a história.
Posso dizer, que a escritora explora de um jeito especial a condição feminina, em mais de uma personagem. Principalmente, ao indicar como "a loucura", a falta de sensatez e lucidez, histeria costumam ser atribuídos as mulheres, e não a homens (mesmo que estes se mostrem desequilibrados).

Livro interessante que merece ser revisitado.
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Vilamarc 05/09/2020

Rapariga crioula
Minha leitura de Jane Eyre me deixou um travo de preconceito com a América Latina, com "Bertha", com sua cultura. A oportunidade de ler Vasto mar de Sargaços era logo adiante, com a leitura do clássico inglês ainda fresco.
Achei fabuloso, espetacular, uma obra-prima da imaginação que procura dar uma história, um lugar e voz a essa personagem.
E apesar dessa obra ser original ao extremo, inédita em quase a sua totalidade, não deixa de se encaixar e de trazer a tona, passagens do romance Jane Eyre.
Pra mim, atendo-me ao romance, não aos filmes, Rochester está ali, fielmente retratado, pois ele é sim, esse homem atormentado e curvado pela vida familiar, considerando-se amaldiçoado até ser redimido pelo amor de Jane.
Bertha, ou Antoinette Cosway, e eu como latino, me sinto perfeitamente representado. E a Inglaterra recebe de volta, sua imagem estereotipada, vinda do outro lado desse vasto mar de Sargaços.
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Cinara... 11/07/2020

"Pode rir por último, demônio. Você pensa que eu não sei? Ela está sedenta de qualquer um - não de mim..."

Definitivamente essa não seria uma frase do Sr. Rochester, não aquele que eu e a Jane Eyre conhece!!!! Esse homem retratado neste livro é de natureza maléfica e sem coração! Manipulador e calculista! Que cara foi esse??!! Definitivamente longe do Sr. Rochester!
Essa louca é mais lúcida do que eu! Hahah
Definitivamente não são as mesmas pessoas!
Real não me comprou!
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rivanda.santos. 01/03/2020

Impressões
Sentimentos ambíguos e desencontrados me invadiram quando terminei este livro que, apesar de curto, tomou-me muitos dias para finalizar. A ideia de um livro escrito por outra pessoa contendo personagens de Jane Eyre (que eh tanto reli, sofri e amei) era por demais sedutora. Mas desde o primeiro contato com o texto, percebi que esse livro não era a prequela que eu esperava. Não ignoro o objetivo do recurso da narrativa em primeira pessoa, fluindo de uma personagem a outra. Não ignoro a vagueza proposital dos diálogos e das descrições. Não ignoro o discurso social e questionador que há nas entrelinhas. Tudo isso eu vi ou percebi ou achei que percebi. E mesmo assim, não me encantei. Continuei agarrada àquela primeira ideia de que se alguém pretende se utilizar de personagens de um outro livro deve necessariamente seguir o mesmo ritmo, tom e contexto da obra máter. E diante de todos os meus preconceitos não superados, "a louca do sótão" não teve chance de me alcançar e de me conquistar. Essa sensação de estranheza, de "o que foi isso que eu li?" me faz ter a certeza de que não indicaria a leitura de Vasto Mar de Sargaços a nenhum fã de Jane Eyre.
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