Tarsila 08/10/2012Um amor de sol e músicaTomas Ventura não estaria tão frustrado, queixando-se com seu amigo BJ por sua namorada tê-lo traído e abandonado, se soubesse o que lhe aconteceria ainda neste mesmo dia. Mas foi um fato que não se poderia prever. Ou sim? Será que o destino nos presenteia com pistas que podem nos atormentar a vida inteira? Porque a incerteza de que algo poderia ser impedido parece dançar, escarnecedora, diante de seus olhos.
Coincidência ou não, a Menina dos Olhos Cor de Mel entra em sua vida para mexer de vez com sua cabeça, suas ideias e interrogações. E com seu coração, é claro. Aurora, que tem o brilho do sol e a graça de uma borboleta, provoca-lhe uma paixão daquelas que não precisam de muito tempo para serem profundas, sinceras e transformadoras.
"E, mais uma vez como tantas nas últimas semanas, foi o rosto dela que precedeu seu sonho."
P.93
Essa é a base para a estória que vai se desenrolar em O Rosto que Precede o Sonho, que conta com o estilo que se pode perceber nos livros anteriores do autor, O Mundo de Vidro e Ainda Não te Disse Nada: fluente, fácil e rápido. Não há descrições cansativas, ou densidade que faça que nos percamos na estória. Pelo contrário: ela se mostra suave envolvente do início ao fim, e um ponto forte do autor é a qualidade dos diálogos – que aparecem em grande quantidade –: são naturais, acreditáveis; não forçados como muitos que se veem por aí.
O autor novamente fez que a música estivesse bastante presente na estória; desta vez até mais, já que o personagem principal trabalha com música. Maurício Gomyde, sendo músico, teve chance de exibir seu invejável conhecimento musical, descrevendo muito bem momentos de inspiração e composição, além de pôr no livro inúmeras citações de bandas, cantores e canções.
Outros temas abordados no livro são sinais, destino, filosofias de vida. Grandes questões como a da existência ou não de coincidências, do que devemos fazer com a nossa vida estando conscientes de sua finitude, de estarmos irrevogavelmente predestinados a algo ou se há a chance de alterar o nosso futuro.
A linguagem do Maurício é informal e descontraída, aproximando-se da oral. A estrutura também continua como a nos livros anteriores: no início do livro lemos um trecho do final da estória, o atiça nossa curiosidade, à medida que vamos conhecendo o enredo, quanto aos fatos que levarão os personagens àquele momento. Quando relemos o trecho no final, quando ocorre a compreensão de tudo, o lemos de forma totalmente diversa, e temos a sensação de pontas que se ligam.
Humor, romance e um toque de inverossimilhança estão, também, presentes no livro, porém O Rosto que Precede o Sonho, possui mais ação, drama, e – apesar de alguns clichês – complexidade. É o melhor, mais surpreendente e mais bem-elaborado livro do autor.
Quanto à capa, à revisão, e, enfim, ao projeto gráfico, só tenho a dizer que tudo continua muito caprichado, tão bom quanto antes. Destaque para a divisória nos capítulos: foi algo bem-pensado e criativo.
Recomendo, portanto, este livro tão agradável, que não só há de servir como divertimento durante algumas horas, como também, possivelmente, far-nos-á refletir a respeito da forma como estamos vivendo e repensar a forma como viveremos as próximas horas. Pois O Rosto que Precede o Sonho desperta-nos a enxergar detalhes e convida-nos a agarrar Vida com que sonhamos.