Rodrigo | @muitacoisaescrita 06/02/2020
Perfeição!
A começar pela arte da capa - que é tão importante quanto a obra em si - e pelo título do livro, podemos ter alguma noção das histórias encontradas no livro. Na arte, vemos uma mulher de turbante, com nariz e lábios grandes - uma mulher negra, aparentemente. Ela está chorando, e suas lágrimas regam as flores espinhosas que brotam das veias e artérias de seu coração. Percebemos, também, algumas flores murchas, mortas, porém outras bastante vivas. As lágrimas desta mulher negra tornou-a insubmissa, a transformou. Temos, ainda, um autoabraço, representando, nesse sentido, que o único refúgio desta mulher era ela mesma. "E, depois, elas mesmas, a partir de seus corpos mulheres, concebem a sua própria ressurreição e persistem vivendo" (p. 95).
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No livro, temos 13 contos. Cada um deles leva o nome da personagem principal, de uma mulher (que tornou-se) insubmissa. Em alguns contos, a primeira e terceira pessoa do discurso se confundem. As vozes - ou melhor, lágrimas - das personagens é confundida com a da autora, no ato icônico de Conceição Evaristo nomeado de escrevivência; ela conta histórias verdadeiras ao mesmo tempo que as inventa e compartilha suas dores e alegrias: "Da voz outra, faço a minha, as histórias também" (p. 7). Até mesmo as "falas" das personagens são confundidas, algumas vezes, com a narração da autora. Aspas não são utilizadas.
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As obras de Conceição, por mais difícil que seja resumí-las, tocam em pontos em comum, como a ancestralidade e a maternidade, por exemplo, tão presentes aqui e em outros livros de Evaristo. Vale ressaltar, sempre, a sua escrita poética, tão linda e dolorosa, nos emociona e destrói nossos corações, arrancando lágrimas. São contos fortes, histórias fortes, de mulheres insubmissas.