Euflauzino 12/02/2016A razão na corda bamba
Este é o último livro de uma série de livros da Caligo Editora que recebi de presente de minha querida amiga Bia Machado. Quero dizer aqui que ele não me surpreendeu, muito pelo contrário. Fui brindado com um livro de qualidade superior, não menos que excelente. Já esperava por isso – capa e edição caprichados são lugares-comuns na editora, assim como autores criativos e originais.
O livro A linha tênue (Caligo, 264 páginas) de Rubem Cabral, inexplicavelmente, mexe com a gente: de religião à fantasia, do policial ao corriqueiro, do horror à FC. Tudo se resume ao prazer de se finalizar cada conto com um sorriso no rosto ou com uma interrogação enorme no semblante (pura provocação que aceito sem restrições).
Iniciei a leitura do livro pensando em comentar um pouco de cada um dos contos e me deparava com pérolas que me faziam retornar à infância:
“... Você encheu o balde de água e foi brincar nos fundos, perto do galinheiro... Não se importava com vermes nesta época, você saíra sem camisa, mas filtro solar também não existia. Crianças tinham lombrigas e tomavam purgante, se queimavam demais de Sol, viviam de joelhos esfolados e bochechas descascadas de tanto soltar pipa. Crianças eram crianças e não estas coisas pálidas e mimadas, que só conhecem a luz da TV e do computador...”
Putz... maior paulada não é mesmo? É difícil ler isso e não se emocionar ou se revoltar, principalmente se for da geração Z. E passeando lentamente por cada conto e cada verdade cheguei à conclusão que não conseguiria comentar um a um. Os contos eram tão instigantes e tão díspares que eu já estava escrevendo um outro livro só para explicá-los.
No momento estou boquiaberto. O prazer de ler contos desta natureza (e olha que tenho inúmeras restrições e dificuldades com contos, inclusive os do mestre Stephen King) não tem preço! Não fui cru em direção ao autor, já conhecia parte do trabalho organizado pelo mesmo na “Antologia de contos fantásticos” e fui novamente fisgado por suas palavras:
“— A meta da linguagem é a metalinguagem — pensou, em um último lampejo, já desconectado de qualquer sentido ou razão.”
São trechos e mais trechos que me faziam reler palavra por palavra para degluti-los melhor, como a tradução da ausência:
“Ainda nos primeiros dias em que fiquei só, uma dor forte no meu ombro esquerdo quase não me permitia levantar o braço. Logo descobri que a razão era a posição de deitar: que, inconscientemente, eu tentava abraçá-la e passava a noite com o corpo pesado sobre o braço. Meu corpo estranha a ausência dela.”
site:
Leia mais em: http://www.lerparadivertir.com/2016/02/a-linha-tenue-rubem-cabral.html