Vladimir.Pereira 04/07/2021minha estanteHarris é BEM ERRADO. Veja bem, sou ateu convicto. Mas não concordo com absolutamente nada da péssima argumentação de Harris.
1º: Ele está com a cabeça IMPREGNADA do Monoteísmo Ocidental. A ideia de que Religião se baseia na fé, que é distinta da Razão (Ciência). Na primeira você simplesmente crê e não pensa; na segunda você pensa. Certamente as "Religiões do Livro" são uma imensíssima minoria ao longo dos milhões de anos da história humana, e de todos os 5 continentes habitáveis.
A gigantesca maioria das Religiões, como as orientais e o paganismo, se baseia em uma pura reflexão de mundo, uma tentativa de raciocinar a partir de análises empíricas (ciência). Exemplo: o Platonismo é um religião? Sim, assim como Taoísmo etc. Mas ambos não têm um dedo de "creia: não pense", são tentativas de estabelecer uma Filosofia Ética a partir de uma meta-análise do mundo natural.
A Ciência pode dizer tudo sobre "o mundo natural", mas não pode dizer um pio sobre moralidade. É errado praticar estupro, eutanásia, infanticídio, fraticídio ou canibalismo? Bem, todas essas práticas são muito vistas no Reino Animal. São erradas? Há tantos sistemas éticos diferentes, seja de Kant, de Stuart Mill, dos árabes, dos indianos etc. No geral, a gigantesca maioria das "Religiões" pagãs e orientais são uma tentativa de definir soluções éticas para problemas a partir da análise racional natural, e a "Espiritualidade" nada mais é do que esse exercício da razão.
2º A Religião, no geral, é benéfica (evolutivamente). As Religiões reforçam os laços de sexo, as identidades étnicas, o que atua (beneficamente) na "Seleção de Parentesco" ("Seleção de Grupo" - étnico/racial). Ou seja, um hindu convicto reforça os seus laços com a etnia indiana, enquanto um "secularista"* teria menos apreço pelo reforço da identidade étnica. Evolutivamente, ajudar um outro indiano é melhor do que ajudar um português, por exemplo. Logo, é benéfica.
As Religiões também estimulam uma maior procriação do que os "secularistas"*. Nesse sentido, é benéfico pela Seleção Natural ("procriação dos mais aptos").
Ou seja, por esses dois pontos, a Religião tendeu a se perpetuar, ao longo dos milhões e milhões de anos dos dias de hoje. Até hoje, os árabes muito religiosos têm muito mais filhos do que os europeus "secularistas"*, o que evolutivamente é bom (nenhum Darwinista pode negar isso, sem dúvidas).
3º Se a Religião fosse maléfica, ela já teria sido eliminada. Ou mais: se um dia ela se tornar maléfica, ou "desatualizada", então, assim como o rabo nos seres humanos (que foi eliminado), o mesmo ocorrerá com a Religião. A Natureza sempre elimina tudo o que é nocivo ou ruim, pela Seleção Natural. Ou, no mínimo, essa é uma gigantesca tendência. Se a religião até ainda não foi, é porque continua sendo benéfica. Se um dia passar a ser ruim, será eliminada.
Lógico, você pode (corretamente), de maneira científica, realizar uma previsão ("eu acho que o apêndice deixará de existir": "eu acho que a Religião vai embora"). Ok, aí você está sendo Científico. Por outro lado, apenas "o que eu gostaria", aí não é ser científico, e sim "doxa" (ao invés de "epistème"). Talvez pudesse tomar umas aulinhas com o Mestre Platão.
Enfim, o "Livre Arbítrio" não existe (é algo profundamente "anti-científico"). Nós somos "meros joguetes da Natureza". Se quer Ciência, é sabido que Espinosa deixou isso claro (e todos os cientistas concordam). Enfatizar isso seria de crucial importância, para que houvesse justiça.