Tami 25/07/2013Resenha publicada no blog Gaveta Abandonada.
Chanda é uma menina de 16 anos que mora na África. Sua família já passou por muitas tragédias e agora está passando por mais uma: a morte de sua irmã. E as coisas não param por aí. Além da família, Chanda ainda tem que se preocupar com sua amiga Esther, que está tomando algumas decisões erradas. Isso tudo com o medo (e fofoca) constante na comunidade sobre uma doença que muitos tem, mas poucos ousam falar em voz alta: aids.
Essa história não é real, mas poderia ser. Certamente mostra a vida de milhares de famílias que passam por esse problema, especialmente em regiões pobres e sem acesso à informação. Os preconceitos são latentes, e o medo das pessoas em até mesmo mencionar o nome da doença é algo muito triste. A desinformação gera uma completa exclusão dessas pessoas da comunidade, que consideram toda a família amaldiçoada porque um de seus membros tem a doença.
"Estou sozinha no escritório da Funerária Luz Eterna, do senhor Bateman. É manhã de segunda-feira e ele está ocupado com um novo carregamento de caixões." (primeiro parágrafo, pág. 9)
A narrativa é um pouco simples demais. Muitas vezes temos várias coisas acontecendo em apenas uma página. Por exemplo, sabemos da morte do pai de Chanda e sobre como sua mãe encontrou e se casou com o próximo marido em questão de dois a três parágrafos. Isso é bom pois o livro não se torna monótono, mas ao mesmo tempo senti falta de uma profundidade maior em alguns momentos. Não sei se foi porque me acostumei com o ritmo ou se o livro realmente se tornou mais profundo, porém à medida que o livro foi chegando ao fim senti que estava melhor conectada com ele.
Os personagens são interessantes, mas a que mais me pareceu real foi a vizinha (sra. Tafa). Ela é a típica fofoqueira de bairro, que quer cuidar da vida de todos, mas ao mesmo tempo é uma pessoa que realmente se preocupa com os outros. Esther e Chanda são apenas duas crianças sem muita informação no meio de tudo, e apesar das escolhas estranhas muitas vezes, conseguimos entender o lado de cada personagem. A mãe de Chanda é outra personagem muito bonita, que enfrenta vários problemas para cuidar de seus filhos.
É um livro muito interessante e que recomendo. Apesar da crítica, é um livro que ajuda a refletir sobre os assuntos abordados. O livro é fininho e a leitura é bem rápida. Já existe um filme do livro que é de 2010. Life, above all chegou até a ser premiado em Cannes! E me surpreendi ao saber que o livro possui uma continuação (Chanda's Wars) pois a história é bem fechada. Espero que seja publicado aqui no Brasil também.
"Se o povo diz que uma pessoa está contaminada, ela pode perder o emprego; sua família pode expulsá-la de casa e ela pode morrer sozinha na rua, então ela vive em silêncio, escondida atrás da cortina. Não só para se proteger, mas para proteger aqueles que ama e o bom nome de seus ancestrais. Morrer é horrível, mas morrer sozinho, com medo e vergonha, carregando uma mentira é ainda pior." (pág. 50)
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