Val 07/12/2016
A 25ª hora é a do começo ou a do fim?
Por aqui, querem eliminar a importante história das Guerras Mundiais do currículo escolar. Na Europa, berço dessas beligerâncias, aprende-se na escola. Sem reconhecer os fatos históricos desses períodos será impossível conhecer o Homem pré-contemporâneo, responsável principal pelo que o mundo é hoje. A ganância humana pelo poder e, para isso, o uso indiscriminado da força, levou as tradicionais civilizações europeias ao caos. Sob múltiplas justificativas - ameaça territorial e econômica, supramacia política, limpeza étnica e religiosa, e ambições inúmeras – foram liberadas as bestialidades humanas da inteligência e do corpo.
Impossível de se ensinar e de se demonstrar nas escolas, a selvageria humana transcendeu as guerras. Nos livros didáticos, tudo cabe num relato bastante simplificado e muito mais comportado do que numa descrição mais detalhada dos fatos, assim, para não assustar as crianças ou os adolescentes. Ou mesmo, para não incutir-lhes violência, segundo algumas correntes pedagógicas.
Daí a importância de se ler e recomendar a leitura – responsabilidade de pais e educadores - de obras de historiadores sérios e mesmo alguns romances históricos baseados em pesquisas de fatos reais e depoimentos de testemunhas. E esse, dentre tantos outros, é o caso do livro “A 25ª Hora”, do romeno Virgil Gheorghiu.
Escrito durante seu cativeiro, quando Gheorghiu foi preso pelas tropas norte-americanas no fim da Segunda Guerra Mundial, este livro narra a história de Iohan Moritz, um camponês romeno que é equivocadamente denunciado como judeu por um gendarme que lhe cobiça a esposa. E sua odisseia, a partir daí, é indescritível: trabalhos forçados, prisioneiro, soldado, desertor, ferido, herói, prisioneiro, prisioneiro... enfim, prisioneiro, condição que lhe é imposta sucessivamente por vários governos, por vários domínios, por vários exércitos. Consegue sobreviver graças à sua ingenuidade e à companhia de seu amigo intelectual romeno Traian Koruga – o personagem escritor que deu o título ao livro.
Queira-se ou não, este é praticamente um documento histórico. Ambientado num cenário sufocante, irrespirável, narra as barbaridades humanas contra o meio ambiente e principalmente, contra a própria humanidade e seus valores mais pessoais e íntimos. Mais do que em qualquer aula de história, o “professor” Gheorghiu nos ensina sobre todas as desavenças e as barbáries perpetradas em função da cobiça, da ambição política, da conquista e da preservação do poder, da supremacia em todas as circunstâncias e até da soberba e da saciedade sexual. Isso tudo, no período pós-guerra, tão brutal e estúpido quanto ela própria, e pouco conhecido, pelo menos por aqui. Especificamente, o autor nos apresenta a brutalidade e selvageria não dos nazistas, mas dos bolcheviques russos, turbas de ferozes, cruéis e sanguinários soldados do nordeste europeu.
O livro teve várias edições brasileiras por diversas editoras. A edição atual é da Intrínseca, detentora dos direitos de publicação.
Além de seu valor como documento histórico impressionante, o livro nos traz a crítica do autor, às vezes até utópica, mas correta e honesta em sua essência, no que diz respeito ao que ele designa a "sociedade técnica ocidental", ou seja, num conceito mais contemporâneo, a sociedade tecnológica ou pela tecnologia dominada como hoje, e isso, surpreendentemente escrito na década de 1940.
“A 25ª hora” revela-se uma condenação não só do nazismo e do militarismo, como de todo tipo de totalitarismo, além da sociedade tecnológica. Um romance emocionante, com reflexões atuais e necessárias.
“O título do livro faz alusão a um momento onde todas as alternativas de socorro já não são mais possíveis, a última hora do dia já passou, não há mais nada que possa evitar a destruição do homem.” (Frase do prof. Elvis Fernandes – FAM).
Virou um filme clássico
Em 1967, o diretor turco, radicado na França, Henri Verneuil, numa produção ítalo/francesa/iugoslava, lança o filme A 25ª Hora (La vingt-cinquième heure), estrelado por nada menos que o fantástico Anthony Quinn, como Johann Moritz, e pela belíssima e talentosa Virna Lisi, como sua esposa Suzanna. Considerado hoje um clássico, o filme é referência às interpretações soberbas de Anthony Quinn.
Se quiser, você pode baixar o filme gratuitamente: http://www.filmesclassicosraros.com.br/a-vigesima-quinta-hora/
Por Valdemir Martins, em 02/12/2016.
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