spoiler visualizarJarbas 10/08/2019
Um Jesus Tradicional
Ao contrário de Nikos Kazantizakis e José Saramago, Burgess não procurou polemizar em sua versão da história de Jesus Cristo: o livro segue de perto o que é narrado nos quatro evangelhos canônicos, o que acaba impedindo uma abordagem mais ousada, profunda ou original do personagem. O Jesus de Burgess é perfeito demais, mais alto, forte e bonito que todos os que o cercam. Jamais tem dúvidas sobre sua natureza divina ou sobre sua missão. Dos demais personagens são poucos os que realmente exibem alguma complexidade (Gostei de Judas e Zerá).
Afim de se manter perto da doutrina católica, o autor usa de liberdades criativas que me soaram um tanto forçadas: para explicar porque José e Maria não tinham vida sexual ele colocou o carpinteiro como um eunuco devido a um acidente de infância (!). Sim, Burgess sugere algumas inovações que poderiam ser ousadas, como Jesus sendo casado por um tempo (e enviuvado) e fazendo truques de mágica que teria aprendido no Egito. Mas isso é logo esquecido pela narração: Jesus jamais pensa em casar de novo e começa a fazer milagres de verdade.
Mas o livro também tem bons momentos. A primeira aparição do anjo Gabriel para Zacarias é divertida, assim como a ideia de Judas "traindo" Jesus por um erro de julgamento.