Renata CCS 31/10/2014Que nunca falte amor nos mínimos detalhes.
"Escrevemos sobre aquilo que nos dói" (J.A.Carrascoza)
Já inicio avisando: o leitor que gosta de grifar passagens marcantes, irá rabiscar o livro inteiro.
AMORES MÍNIMOS, livro de contos de João Anzanello Carrascoza é uma obra impressionante. É na vida que ele busca a matéria prima, revelando um apurado senso de observação e extrema habilidade na criação psicológica de seus personagens. São belíssimas narrativas sobre sentimentos intensos e perturbadores, como a solidão, separação, ausência e melancolia. Há também todo um cuidado para que a narrativa explore um olhar diferente para a vida humana, resgatando nas mais íntimas relações momentos de aprendizado, de amor, de crescimento e de beleza, mesmo nos fatos menores da vida. A exploração do mais simples cotidiano.
O texto de Carrascoza possui um silêncio impregnado de tantas coisas que consegue falar no íntimo de todos nós, permitindo que mergulhemos no interior de nossas próprias experiências. Passamos a prestar atenção naquilo que julgamos não termos tempo, naquilo que a pressa do dia a dia nos impede de ver.
São 25 histórias de um trabalho acentuado com as palavras que transformam a vida em algo que vale a pena ser experimentado!
Trechos que me fizeram pensar, sorrir e espero que faça com que outros leitores busquem essa belíssima obra:
"Deitei na cama e a esperei e, se ela entrou logo em seguida, pela primeira e única vez, sei que nela me entrei para sempre." (Cerâmica, p.10)
"Pegaram logo suas vidas, como as mochilas, e, com os olhos ainda sujos de espanto, saíram à rua e entraram na van escolar, onde seguem comigo. Se o mundo nos agride a nós que vivemos em vigília e temos veneno nas unhas, facas na voz , é um susto para elas desligar os sonhos e acender a realidade, torpor silencioso como o de uma febre alta. Mas, por esses milagres que fazem as flores suportarem temporais, eis que vão aos poucos despertando novamente, de volta a sua condição ensolarada, de meninos e meninas." (Escolar, p.15)
"(...) não vai demorar para descobrir o que sabemos e infelizmente já não podemos esquecer, que nada a espancará mais que a suave mão do tempo, (...)" (Personal trainer, p.56)
"Mas lá estava ele de novo, no milagre dos reencontros, ignorando quanto amor eu lhe colocava nos ombros, sendo tão somente um menino, com a sua pequena bagagem, de volta à casa do pai. Pródigo era apenas o momento, e isso me satisfazia, eu não desejava para nós senão o que éramos, um homem e seu filho, duas portas se abrindo com a mesma chave." (Porta, p.84)
"(...) o silêncio era o seu medo no último volume." (Fala, p.101)