spoiler visualizarLuiza 24/04/2019
Leitura muito interessante e esclarecedora. Em um texto sucinto e de fácil compreensão, o jornalista permite que até mesmo o leitor com poucas noções de economia entenda as suas inúmeras denúncias às privatizações realizadas no final da década de 1990 pelo governo FHC. Com vários exemplos, o autor escancara o padrão desastroso repetido pelos processos das grandes privatizações feitas pelo governo federal nos anos 90: antes do leilão, o governo investiu bilhões na empresa, aumentou tarifas e preços, demitiu grandes contingentes de funcionários, garantindo o lucro para o comprador. No leilão, as empresas foram vendidas a preços menores do que seu real valor, por uma entrada muito pequena e prazo muito longo para início do pagamento das parcelas restantes. Além do preço baixo, o autor explica que esse muitas vezes foi pago quase que em sua totalidade por “moedas podres” e que inclusive tais moedas podres também não tinham ainda sido pagas, vez que foram igualmente vendidas à prestação aos compradores, financiadas pelo BNDES. Ainda, denuncia o autor que o Tesouro, em muitos casos, engoliu dívidas que deveriam ter passado para a responsabilidade dos novos donos, como aposentadoria de empregados da empresa privatizada. Após o leilão, as compradoras receberam as empresas com caixa e grande estoque não incluídos no preço da venda, bem como receberam financiamento do BNDES para os investimentos que tiveram que fazer para ampliar os serviços (financiamento este que não era permitido ao BNDES para as próprias estatais). Outra questão é a de que os compradores não foram obrigados à comprar parte da sua matéria-prima do produtor local (causando grave crise à indústria nacional e ampliando o rombo na balança comercial do país excesso de importações) e nem à manter isenções ou benefícios de tarifas e preços no atendimento à população mais pobre, que foi prejudicada. Conta, ainda, que os compradores estrangeiros passaram a fazer remessas maciças de dinheiro para suas matrizes no exterior, na forma de lucros, dividendos, juros ou até como pagamento de “assistência técnica” ou “compra de tecnologia” de suas matrizes, retirando do país o dinheiro gerado pelas ex-estatais. Esses são alguns dos diversos problemas pontuados, que são bem explicados no livro. Senti falta de apresentação direta ou mais explícita das fontes dos dados informados pelo Autor, pois, muito embora ele tenha citado os documentos oficiais ou reportagens de muitas das informações, não citou de todas. Como o livro é uma verdadeira cascata de informações sobre leis e contratos administrativos e de diversos dados numéricos a cada novo parágrafo, o lastro explícito de tais informações e dados daria mais confiança ao leitor nos fatos apresentados no texto. Senti falta também de uma análise pela ótica do governo. Afinal, por qual motivo o governo tomaria as atitudes expostas que aumentaram o rombo na dívida do país? Por que os governantes submeteram o patrimônio do país em prol dos compradores? Somente por interesse ou incompetência? Teria a crise do Real interpretado um papel nessa política nefasta de privatizações e dilapidação do patrimônio público nacional adotada? Ainda assim, é verdade que o livro abre a oportunidade para um debate necessário sobre as políticas públicas praticadas sobre as estatais brasileiras, debate este muito atual quando o Ministro da Economia do governo vigente declara, com apenas quatro meses desde a posse, que "sem barulho, já vendeu US$ 12 bilhões" sobre privatizações. Como deixou bem claro o Autor, ainda na década de 90, foram as distorções e falta de informações sobre as estatais que fizeram com que a opinião pública se calasse frente aos desastres protagonizados pelo governo. É um livro necessário para entender um pouco da história do país com as privatizações e, consequentemente, nos alertar para os perigos iminentes das atuais privatizações que estão sendo feitas discretamente e sem ampla participação da opinião pública no debate.