O Pêndulo de Foucault

O Pêndulo de Foucault Umberto Eco




Resenhas - O Pêndulo de Foucault


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Coruja 31/07/2010

Meu autor, meu herói: Umberto Eco
Finalmente tive uma folga do trabalho, passou o efeito do antialérgico (e por isso, não estou mais bêbada de sono) e eu consegui me concentrar por tempo suficiente em uma única coisa para sentar e escrever.

Assim, decidi começar a cumprir minha promessa de meses, e explicar o porquê dos meus autores favoritos estarem na minha lista de autores favoritos, começando numa ordem não alfabética e totalmente aleatória por um dos meus grandes amores literários: Umberto Eco.

Da minha lista anterior, Eco é o único autor por quem não me apaixonei à primeira vista. E isto merece que eu conte a história.

Meu primeiro contato com o senhor Eco foi através do filme O Nome da Rosa, que o professor de história nos indicou. Eu tinha uns treze anos à época e lembro de ter tido sentimentos ambíguos em relação ao filme: por um lado, o enredo me fascinou; por outro, algumas cenas me deixaram com o estômago revoltado ao mostrar uma faceta mais... animalesca do ser humano.

De uma forma ou de outra, eu estava suficientemente impressionada com a idéia de um frade metido a Sherlock (eu estava justamente na minha fase de ler romances policiais) investigando mortes misteriosas num mosteiro, todas elas ligadas a um manuscrito misterioso.

Guilherme de Baskerville (no filme, interpretado por Sean Connery) não demorou a entrar na minha galeria de detetives iluminados. Por este motivo, é claro, após assistir o filme, eu consegui colocar as mãos no livro.

E o detestei. Profundamente também.

O Nome da Rosa foi o terceiro livro (de uma lista de três) que tive de ler acompanhada, o tempo todo, de um dicionário - os outros foram A Odisséia, de Homero e Dom Quixote, de Cervantes - e, mesmo com a ajuda do dicionário, às vezes eu me perdia completamente.

Em outras palavras... eu me senti estúpida. Eco deu um imenso golpe no meu ego de criança precoce. E assim, do alto da minha arrogância intelectual de treze anos de idade, decidi que Umberto Eco era um pedante e jurei nunca mais ler nada dele.

Ok, a coisa não aconteceu bem assim. Do jeito que acabo de falar, dá a impressão de que eu fui uma criança convencida e insuportável.

Na verdade, mudar constantemente de Estado e escola faz com que você tenha uma vida social meio irregular, e eu passei boa parte dessa fase da minha vida com o nariz enfiado em livros, no mais das vezes, alternando entre Monteiro Lobato e A Biblioteca do Escoteiro Mirim.

Foi por causa de Monteiro Lobato que fui atrás de ler Cervantes no texto integral, sem adaptações (e como Emília já tinha feito todas as necessárias perguntas e eu sempre podia ir à Dona Benta caso não entendesse alguma passagem...).

Homero, por sua vez, me foi presenteado pelo dono da 'Livro 7' quando comprei Dom Quixote, um simpático velhinho que eu adorava. Eu o tinha conhecido no meu aniversário, quando passara mais de hora tentando decidir qual livro de Júlio Verne levar (no final das contas, decidi-me por Da Terra à Lua); e no dia das crianças, quando voltei para clamar Cervantes, ele me deu o volume da Odisséia, que, aliás, também li com a ajuda de Emília, Pedrinho e o Visconde de Sabugosa.

Mas Lobato não tinha escrito nenhuma adaptação de Eco, então, não pude recorrer à turma do Sítio para me ajudar a entender o livro. Tudo bem que eu podia entender a história pelo filme, mas não contava muito.

Vejam bem... eu podia aceitar que sentisse uma certa dificuldade com Homero e Cervantes, porque eles tinham escrito em épocas diferentes daquela que eu vivia e suas obras guardavam as peculiaridades lingüísticas de suas épocas. Fora que eu sempre me diverti com a lança em cabide de Dom Quixote. Mas Eco era um autor contemporâneo. Por que cargas d'água ele estava escrevendo um livro no vernáculo da época em que a história se passava?

Entenderam agora porque eu o classifiquei de pedante?

Mais de uma década depois, eu não me sinto particularmente tentada a reler O Nome da Rosa,, ainda que eu ache a história simplesmente genial.

Neste ponto, você poderá estar se perguntando "mas porque diabos Eco está na lista de favoritos então???". Tenha calma, que vou chegar nessa parte.

Aconteceu no segundo ano da faculdade. O professor de hermenêutica, em uma das exatas três aulas em que ele apareceu ao longo do semestre (uma das vantagens de se estudar na Federal, claro...) nos mandou ler Interpretação e Superinterpretação, livro que era uma compilação de uma série de palestras das quais Eco havia participado, avisando que aquilo seria todo o conteúdo da prova da primeira unidade.

Quase entrei em depressão. Se eu não entendera lhufas quando li uma obra de ficção do cara, eu estava era bem ferrada com uma obra de não-ficção; pior ainda, de filosofia. Assim, preparando-me mentalmente para uma final em hermenêutica, peguei o livro - um volume até surpreendentemente fininho - na biblioteca.

Li as cento e poucas páginas de uma sentada só. No dia seguinte, li de novo. Fui pesquisar na internet a bibliografia e, da minha visita seguinte à biblioteca, voltei com todos os livros de Eco que eu conseguira encontrar.

O cara era brilhante!

Então, li O Pêndulo de Foucault... e, ao final, estava completamente enamorada. Creio que eu cheguei a afirmar que iria me casar com Eco.

Hum... foi uma época assim, meio estranha... mas tudo bem.

Tenho muitos livros favoritos de Eco, mas O Pêndulo de Foucault está no topo da lista. Antes, contudo, que eu possa adentrar nos méritos desta história, acho que devo explicar como cargas d'água eu passei do ponto A ao ponto B; isto é, de torcer o nariz a sair devorando tudo o que o cara já tinha escrito.

Em primeiro lugar, eu amadureci (ou, pelo menos, gosto de pensar que sim). Há coisas que sei hoje, aos vinte e três que não sabia aos treze. Eu estou, por assim dizer, melhor equipada para apreciar as ironias de Eco hoje. Aos treze, eu era uma fã de História, mas nunca tinha estudado filosofia, só para ficar no óbvio.

Em segundo lugar, ao redescobrir Eco na faculdade, descobri que ele era um especialista em semiótica, um estudioso da linguagem; assim, fazia sentido que ele escrevesse na linguagem da época em que a história se passava. Não era simples pedantismo, para mostrar que "eu sou o cara, eu sei mais que você", mas era parte dele mesmo, parte do que ele fazia e gostava de fazer.

Quer dizer, eu nunca tinha encrencado com Tolkien porque ele escrevia em quenya; porque diabos eu continuaria resmungando com o que Eco escrevia numa cadência medieval? Aliás, é engraçado que, embora não tenha tido ânimo para reler O Nome da Rosa, li A Ilha do Dia Anterior, que se passa no século XVII e passei boa parte do tempo encantada com Roberto, mesmo quando se iniciou um verdadeiro curso sobre metáfora no meio da história.

Em terceiro lugar, eu mesma tinha descoberto um certo fascínio no estudo da linguagem e da comunicação, resultado de ter uma professora maravilhosa em Teoria da Comunicação. Maria Eduarda, onde quer que você esteja, saiba que você foi um exemplo e uma inspiração como professora; um dos raríssimos casos que encontrei na faculdade que não apenas me fizeram aprender, como também me encorajaram a ir atrás de saber mais.

Em suma... semiologia tinha se tornado um assunto extremamente interessante para mim e Eco escrevia sobre isso.

Em quarto lugar e, talvez, mais importante... o Eco professor de semiologia é claro, conciso, ainda que extremamente elegante na construção de seus argumentos, além de ter um tom ligeiramente irônico (e, vocês irão notar à medida em que avancemos nessa série que a maior parte dos meus autores favoritos são autores que gostam de usar a ironia e o sarcasmo em suas obras); diferente do Eco romancista medieval que usava o vernáculo da época em que a história se passava.

Essa clareza com que Eco escreve seus textos de não-ficção foram como a última coca-cola gelada no deserto de idéias prolixas que os professores de filosofia do direito empurravam pelas nossas goelas abaixo: Kant, Kelsen, Alexy...

Esse é um problema muito comum na área de Direito. Temos um dialeto todo próprio - como a Régis gosta de chamar, o jus esperniandi. Basicamente, nós enrolamos o máximo possível, com os termos mais incompreensíveis que encontrarmos, de forma a mascarar a falta de idéias com uma pretensa sabedoria transcedental. E todo mundo acha que falamos grande coisa, quando, na verdade, de trinta páginas, dois parágrafos é tudo que há de aproveitável.

Resumindo: eu chegara à conclusão que Eco era o cara. E não fiquei na final em hermenêutica.

Agora, vamos à Foucault. Eco cita várias vezes O Pêndulo de Foucault ao longo de Interpretação e Superinterpretação, ao explicar como o leitor pode ler além das intenções de um texto.

Em termos bem simplórios e rapidamente para vocês entenderem a idéia central desse livro: para Eco, um texto tem três possíveis interpretações; três intenções: a do autor, a do leitor e a do próprio texto.

O texto limita as possibilidades de interpretação em si mesmo. Quando o leitor ultrapassa estes limites impostos pelo texto; isto é, quando vê dois chifres em cabeça de unicórnio, ele está fazendo uma superinterpretação.

A história de O Pêndulo de Foucault é uma história de superinterpretação épica da intenção do texto original, que termina em verdadeiro caos e tragédia.

Basicamente, o enredo envolve três amigos: Belbo, Diotallevi e Casaubon, todos eles editores. O trabalho deles é ler todos os manuscritos que chegam à pequena editora em que trabalham e separar "o joio do trigo". Os bons livros, aqueles que eles acreditam que podem gerar lucros, são lançados pela casa, de forma séria. Os livros... não tão bons, são separados para serem lançados às custas dos autores e vendidos por eles mesmos - livros encomendados.

Até aí, nada de particularmente interessante... até que o chefe deles descobre o filão de livros místicos e esotéricos.

São tantos livros cheios de teoria da conspiração envolvendo templários, cabala, a ordem Rosa e Cruz e outros ocultistas e loucos de todo gênero que, por brincadeira, os três começam a inventar "O Plano", com tudo o que eles encontram de mais absurdo em suas leituras dos manuscritos.

O problema é que "O Plano" acaba vazando nos ouvidos da turma de ocultistas que trabalhava com eles, e que envolvia inclusive um homem jurando que era o Conde de Saint-Germain.

Se você não sabe quem é Saint-Germain... bem, em resumo, ele é um personagem histórico da corte de Luís XV (ou será XIV? Não lembro agora... pesquisem no Google), suspostamente, um grande alquimista, mago e imortal, que desapareceu misteriosamente da corte e nunca mais foi visto.

Em todo caso... Esse pessoal acha que "O Plano" é verdadeiro, que envolve um grande segredo de uma grande fonte de poder guardada secretamente pelos templários. E assim, começa uma desesperada corrida para conseguir "O Plano", incluindo perseguições e assassinatos.

A maneira como Eco constrói todo esse enredo é fascinante. A pesquisa que ele desenvolveu para o livro, os detalhes históricos, e mesmo as mais viajadas teorias conspiratórias... tudo isso contribuiu para tornar O Pêndulo de Foucault um dos meus livros favoritos.

Acho que consegui justificar porque Eco entra na minha lista, não? Se não leram nenhum dos livros dele ainda, eu recomendo começar por A Misteriosa Chama da rainha Loana ou o próprio O Pêndulo de Foucault. E depois, vocês podem ler Entre a Mentira e a Ironia, O Segundo Diário Mínimo (MUITO BOM!!!), Apocalípticos e Integrados, e assim por diante.

Na verdade, leia tudo de Eco. E não se deixe amedrontar pelo vernáculo. No final das contas, mesmo com um dicionário do lado... tenho certeza de que você terá lido uma boa história.
Bruno T. 26/07/2010minha estante
Pela extensão do texto, fiquei em dúvida se lia ou não. Li e achei ótimo: inteligente, engraçado, interessante. Parabéns, Coruja.


Nessa Gagliardi 03/01/2012minha estante
Amei sua resenha, apesar de gigante. Parabéns! Você expõe suas ideias com extrema clareza e bom humor! :)


Ava 31/03/2013minha estante
O que posso acrescentar aos comentários já feitos? Primeiramente, concordo com os dois. Interessante, inteligente, com bom humor... Passei o final de semana com a cabeça no livro e estou nas últimas 100 páginas. Achei o livro pesado (talvez devesse ter espaçado mais a leitura), mas a sua resenha me deu um novo ânimo pra terminá-lo. :)


Suzanie 23/01/2014minha estante
Parabéns pela fluidez do texto, vc escreve muito bem! Ao contrário de vc, eu me apaixonei pela história do filme, O Nome da Rosa, quando adolescente, mas só fui ler o livro já na faculdade de Letras, e me encantei. Ainda não li o Pêndulo de Foucault, mas agora estou certa de que o farei!


Valeria 23/11/2014minha estante
Você só iria se casar com Umberto Eco caso eu não tivesse conseguido casar com ele, e, afinal de contas, ele já era casado há muitos anos antes que eu tivesse a oportunidade de fisgá-lo. Adorei seu texto! Eu era um pouco mais velha quando li O NOME DA ROSA e portanto, já caí de boca apaixonada por ele. Mas antes eu já havia lido Apocalípticos e Integrados e Viagem pela Irrealidade Cotidiana, tudo isto ao invés de ler os livros que eram exigidos pelo curso de História na faculdade. Apaixonadíssima por ele e amo, absolutamente amo O Pêndulo de Foucault. Tem gente que ama Brad Pitt, George Clooney e sei lá quem, meus amores são Umberto Eco, Italo Calvino e Jorge Luís Borges.




Reccanello 18/04/2023

Tens a senha?
Como muito bem dito por Fernando Pessoa por meio de seu heterônimo Alberto Caeiro, "o único mistério é haver quem pense no mistério".
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Mergulhando o leitor num universo complexo e repleto de referências históricas, religiosas, filosóficas, herméticas e literárias, e apesar de ser relativamente recente (foi publicado originalmente em 1988), "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco, já é considerado um dos grandes clássico da literatura contemporânea, sendo aclamado tanto pela crítica especializada quanto pelo público em geral.
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Casaubon, Belbo e Diotallevi trabalham em uma empresa editorial em Milão e a grande paixão dos TRES é o aparentemente inofensivo interesse por conspirações e sociedades secretas. E é sobre essa verdadeira obsessão que se desenvolve a trama central do livro: para se distrair nas longas horas de tédio do trabalho, os três amigos criam um jogo que consiste em inventar teorias conspiratórias a partir de fatos e personagens históricos aparentemente sem qualquer conexão. Mas, apesar de divertirem com as bizarrices que inventam, acabam envolvidos em um enredo de dimensões inimaginavelmente maiores do que esperavam, dando de cara com um grupo secreto de ocultistas fanáticos que não apenas acreditam em suas mentiras como, justa e perigosamente, ansiavam por um fio, um "plano", uma programação talvez divina do Universo que desse coerência, significado e sentido para suas existências e às de suas organizações secretas.
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Por meio de múltiplas camadas de narrativas que se interconectam em um emaranhado labiríntico de ideias, fatos e personagens o autor tece sua história de forma a construir uma obra única, intricada e repleta de simbolismos, e que convida o leitor a se envolver em uma busca pelo conhecimento. Inspirada crítica, irônica e livremente na realidade da época de sua criação, um dos temas centrais da obra é a criação de teorias conspiratórias, facilmente se percebendo semelhanças de sua trama com a lenda da criação de "Os Protocolos dos Sábios de Sião" (documento apócrifo que, conquanto sabidamente forjado no final do século XIX, supostamente revelava ao público um antiquíssimo plano secreto de dominação mundial pelos judeus). Assim como os personagens de "O Pêndulo", os autores de "Os Protocolos" criaram uma narrativa fictícia baseada em fatos isolados e sem relação entre si, mas que acabou sendo aceita como verdade inatacável por muitos. Da forma magistral como somente ele sabia fazer, Eco utiliza tal pano de fundo como um exemplo do poder das teorias conspiratórias na sociedade contemporânea e da importância de se questionar e investigar a veracidade das informações que recebemos, principalmente no mundo moderno e interconectado pela Internet.
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Riquíssimo em detalhes e nuances, o livro é de uma densidade incomum para um thriller literário, e sua narrativa se desenvolve de forma lenta e meticulosa, permitindo ao leitor se aprofundar cada vez mais na trama e nas reflexões propostas pelo autor. No entanto, é preciso destacar que "O Pêndulo" não é uma leitura fácil, exigindo um mínimo conhecimento prévio de história, literatura, religião, filosofia e ocultismo, além de um grande esforço de concentração para acompanhar sua complexidade. Ao mesmo tempo em que desafia nosso intelecto, o livro recompensa largamente aqueles que se dedicam a desvendar seus mistérios.
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Em suma, indiscutivelmente uma obra-prima da literatura contemporânea, "O Pêndulo de Foucault" combina suspense, erudição e reflexão em uma narrativa envolvente e desafiadora na qual Umberto Eco mais uma vez demonstra total maestria na construção de universos complexos e intrigantes, oferecendo ao leitor uma experiência literária única e inesquecível. Mais importante, no entanto, o livro é um estudo sobre a própria natureza humana e sobre como somos capazes de criar histórias e narrativas para dar sentido ao mundo a nossa volta.

site: https://www.instagram.com/p/CrMjSGMsWaR/
mpettrus 18/04/2023minha estante
Quando eu leio uma resenha extremamente bem escrita, permeadas de pequenas doses homeopáticas de curiosidades do enredo da história, a tentação de querer ler o livro em questão torna-se fortemente inevitável. E, fatalmente, sou convencido a ler.

Umberto Eco foi o segundo autor de origem italiana que li. O primeiro, por conta do Ensino Médio, foi Nicolau Maquiavel. Simplesmente, sigo apaixonado pela literatura do Eco. E estou em dívida com esse escritor. Certamente, esse romance deve ser uma ótima recomendação para matar as saudades das narrativas de Umberto Eco.

Parabéns pela resenha! Perfeita!
??????????


Reccanello 18/04/2023minha estante
São comentários como esse que me fazem querer continuar a resenhar minhas leituras.


Reccanello 18/04/2023minha estante
Se possível, veja meu perfil literário no Instagram!


mpettrus 18/04/2023minha estante
Pois continue com suas resenhas, Waldir!!! São maravilhosamente bem escritas!!!

?Podexá? comigo que vou procurar seu perfil na outra rede social ?




Pedróviz 15/11/2020

Perda de tempo
Creio que comprei este livro para imitar a massa. Era a moda. "Nossa ele leu O Pêndulo de Foucault". Teorias da conspiração, Cabala, Saphiroth, muita informação espalhada no calhamaço para atrair os consumidores de novidades. Ali se encontra até uma receita para se fazer um homúnculo. Não me pergunte para fazer o que com ele. Enfim, lembro que li o livro ainda jovem e que sentia, ao ler o livro, algo ser desperdiçado além do dinheiro gasto na compra do livro. Sim, desperdiçava tempo acumulando certos conhecimentos inúteis.
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Voz do Além 11/09/2012

O Pêndulo de Foucault. Ou: Umberto Eco como escritor é um grande intelectual pedante
Existem duas maneiras de encarar O Pêndulo de Foucault. A primeira é como um dos piores livros ficcionais que você já leu, e a outra é como uma gigantesca e arrastada auto-afirmação de um intelectual, que em alguns momentos se permite descer do trono criado por ele próprio para ele próprio e ter umas sacadas geniais. Infelizmente, sob nenhum dos dois ângulos, a leitura é satisfatória o bastante para encher os olhos.

Pra quem conheceu Umberto Eco – um semiólogo, filólogo e um monte de outros ólogos, tido como um dos três maiores intelectuais vivos – em O Nome da Rosa, apesar da qualidade notável do livro, percebeu alguns pontos dos mais incômodos na escrita dele. O cara simplesmente descreve tudo com uma carga tão densa de detalhes inúteis que incomodaria até Tolkien sob efeito de psicodélicos. Até porque gastar 10 PÁGINAS para descrever o portal de um mosteiro não é missão pra qualquer escritor, e Umberto Eco faz isso com uma mão nas costas e fazendo embaixadinha com um livro de Semiótica Avançada.

Em O Pêndulo de Foucault essa máxima é levada às últimas consequências. Últimas de verdade. Ao ponto do livro servir de mera muleta para Eco mostrar o quanto é fodão e manja de ocultismo e sociedades secretas. São mais de 500 páginas com ideias, referências, inserções de textos antigos, conspirações sobre conspirações sobre conspirações e um monte de coisas que levariam Dan Brown a cometer harakiri se ele tivesse o mínimo de vergonha na cara. O problema é que Umberto tropeça na própria regra criada por ele: o livro é pornográfico.

Não pornográfico no sentido estético, de nudez, mas sim narrativo. No livro Seis Passeios pelo Bosque da Ficção, Umberto define o que é uma narrativa pornográfica. Segundo ele, é aquela que não corta o que é desimportante, justamente para não cansar o público com cenas de sexo demais, e nem cansar os atores por atuarem somente trepando. Essa alternância de sexo e vida real seria o âmago da pornografia legítima. Assim, são gravadas cenas inúteis, como um motoboy indo entregar uma pizza, um limpador de piscina que realmente limpa toda a piscina… tudo mostrado em tempo real, para preencher os momentos entre o sexo desenfreado e mal encenado.

É isso que é O Pêndulo de Foucault, pura pornografia narrativa no pior dos sentidos.

A ideia do livro é excelente. Um trio de colaboradores – Belbo, Diotallevi e Casaubon – de uma editora italiana especializada em livros espiritualistas trabalha na criação de uma coleção mística, e acaba por desenvolver o que eles denominaram O Plano, que seria a Conspiração Final, o Grande Segredo, que envolve todas as sociedades secretas do mundo e a reescrita de séculos de história mundial desde as primeiras cruzadas e a ascensão do poder dos Cavaleiros Templários. Porém, como todos os apitos de clichês anunciam, o Plano se mostra real e a vida de todos corre perigo. O ano em que rola a história toda, os revolucionários anos 1960, dá margem para uma série de reflexões e inserções interessantes, mas o autor faz questão de passar por cima disso sem dó, se fixando unicamente na missão de pegar na mão do leitor e traçar linhas entre a existência da Maçonaria e dos Assassinos – entre milhares de outras coisas.

É basicamente isso. Os personagens são mais rasos que uma piscina infantil, com motivações bestas e conflitos tão divertidos quanto ser acordado por uma Testemunha de Jeová às oito da manhã de um domingo.

Mas se os personagens, a narrativa e o ritmo parecem saídos de um romance barato de Sidney Sheldon, o livro ganha força quando as descrições históricas entram em cena. Umberto não cansou de dizer aos quatro ventos que estudou cerca de mil livros para compor a hiper-teoria-da-conspiração de O Pêndulo de Foucault, e lá pela página 300 não é muito difícil concordar com isso. São tantos fatos, encontros, teorias e organizações secretas que a certo momento o Plano começa a fazer sentido dentro da cabeça de quem está lendo. Principalmente se o leitor tiver a mínima curiosidade de pesquisar ao menos por alto a profundidade e o contexto histórico dos fatos descritos no livro.

Referências a livros extremamente raros também permeiam diversos bons capítulos, mas se perdem no meio de uma zona descritiva extremamente enfadonha que afoga qualquer tentativa de tudo se tornar verossímil. As boas sacadas – como a genial relação entre a Kabbalah e o funcionamento de um carro – também somem ante a estupidez de Eco de construir qualquer fluxo narrativo minimamente decente.

Na cabeça dele deve ter vindo a “brilhante” ideia de fazer literatura com o mesmo estilo caudaloso e enfadonho que Eliphas Levi escreveu livros de Magia – porém, Levi tinha um objetivo bem claro: espantar qualquer curioso que estava ali para aprender a ficar invisível facilmente, ou seja, o público que tornou as obras de São Cipriano um sucesso. Já Eco aparentemente só queria mostrar somente a distância a que vai o próprio conhecimento dele – vasto pra cacete, só pra acrescentar.

Para os brasileiros existe o atrativo do livro ter diversos trechos passados no Brasil, com referências ao Candomblé e outras religiões afro, xamanismo e o estado de possessão, características bem presentes nas nossas religiões mais mágicas. Mas o interessante é notar que esses respiros narrativos – uns 70% do livro corresponde ao trio de personagens discorrendo sobre teorias, lembranças distantes ou falando sobre amores perdidos – somente servem para dar voltas e fazerem com que Eco descanse da queima de fosfato que foi elaborar a série de teorias e correspondências histórico-conspiracionais que são a estrela do livro.

Mas vamos lá: supomos que você é um cara com sede de aprender e encontre no livro o tipo de mensagem que pode transmitir um pouco de conhecimento secreto e a História Não-Escrita. O livro será uma aventura, principalmente depois da página 300 (quem disse que a vida é fácil?), quando os três conspiradores iniciam a jornada para escrever o Plano. É fácil ficar grudado no livro para querer saber os próximos passos e por alguns instantes chamar Eco de gênio ao vê-lo incluir nazistas, os Assassinos – sim, aqueles matadores furtivos de Assassin’s Creed, em um belo dia escrevo um texto sobre eles -, os Rosa Cruzes no mesmo balaio, tudo com humor absoluto e desprendimento o bastante para dizer que a criação da Maçonaria não passou de um chamariz para atrair parte dos protagonistas do Plano.

Mas mesmo para essas pessoas – meu caso – o livro ainda guarda um pouco do rancor e pedantismo de Umberto Eco. O final é extremamente tosco, vê-se que Eco não segue o exemplo de autores clássicos como Mircea Eliade e trata a Magia “simplesmente” como Magia, mas como uma sub-ciência que deve ser tratada com desdém. Como um mero artifício literário, e esse tom por demais afastado termina com qualquer tentativa de apreciar o livro.

É justamente o inverso de Dan Brown, que passa a impressão que acredita estar mudando o mundo a cada página, cada revelação e cada nova roupagem pop a teorias antigas que ele enfia nos livros dele. Enquanto um parece querer cuspir na sua cara o que sabe, com certo desdém e com uma tonalidade que parece gritar “Puta merda, camarada, você acredita nessas coisas?”, o outro diz em nas entrelinhas “Amigo, você é louco de não enfiar na sua cabeça que a linhagem de Jesus está por aí e que Leonardo Da Vinci escondeu dezenas de mensagens secretas nas obras dele”. Sinceramente, não sei quem é pior.

Para não dizer que o livro não tem nenhuma proposta literária, é possível extrair a lição de que “criações mentais podem tomar vida”. É preciso manter a desconfiança até mesmo no próprio Inconsciente, pois é possível ser engolido pelas próprias crenças, por mais absurdas que sejam ou pareçam.

Mas O Pêndulo de Foucault não é um livro, não possui narrativa, personagens ou outra coisa básica que qualquer livro possui. Como um caudaloso livro cético sobre teorias conspiracionais e sociedades secretas se sairia muito melhor.

Mas, como Eu não ouço meus próprios conselhos, comprei o mais novo livro de Umberto Eco: O Cemitério de Praga, vamos dar uma última chance ao pedante italiano. Quem sabe com uma história que envolve espionagem e a criação do Protocolo dos Sábios de Sião (citados em O Pêndulo), Eco não acerte em cheio de novo?!

Nota: 4
Vitor.Canestraro 23/08/2017minha estante
Eu gosto de todos os detalhes, toda essa pornografia. Pra mim, serve e muito bem




Diego Alves Z 28/01/2023

Adoraria que Eco fosse mais conciso em alguns momentos. Sobre o quanto a narrativa move a consciência coletiva do mundo, das sociedades e o quão perigoso isso pode ser.
Eco não mastiga o conteúdo do que apresenta, o livro parece uma enciclopédia sobre o conteúdo de enciclopédias. Apesar de O nome da rosa ser um livro de linguagem difícil, achei uma prazerosa leitura e neste aqui senti o oposto, claro são livros com temáticas muito distintas.

Indo e voltando no passado dos personagens, uma combinação entre memória e ficção, história e ensaio em histórias que se interconectam e exigem paciência do leitor.

Um livro difícil, mas o resultado de um grande trabalho sem dúvida.
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Leonardo.Fernandes 26/04/2021

Devaneio do eco
A impressão ao terminar o livro é que o famoso labirinto de O nome da Rosa é este livro

Páginas e páginas seguidas muito maçantes. Não perdemos o fio condutor principal, mas a avalanche de informações e referências que o Umberto despeja é tão sem noção que é normal se perguntar porque ainda estou lendo esse livro

Talvez a necessidade de se provar um intelectual fez com que o Umberto perdesse a noção numa história que poderia ser melhor se não fosse tão desnecessariamente complexa
Ruim não é, mas se eu soubesse que seria assim, acho que não teria lido
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Ram 19/09/2021

Estranho porém viciante
História complexa e um pouco frustante, porém acredito ser esse o objetivo do autor. Compila inúmeras informações reais ligadas ao obscuro mas mantendo-as ao enredo fictício do romance.
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Marcos 29/12/2021

Não é o que você espera provavelmente
Vou deixar claro, esse livro não é uma leitura fácil. Esse livro não é uma leitura com final feliz. Esse livro não é uma leitura para iniciantes.

Eco trouxe em O Pêndulo de Foucault todo o seu conhecimento. São 120 capítulos e para cada um deles parece que o autor leu uma enciclopédia (sério, não estou brincando. Há capítulos que tem tanta informação que você simplesmente não absorve, ao menos meu cérebro não. [me senti uma ameba]).

Diferente de O Nome da Rosa, nesse livro Eco trabalha com a formação de uma teoria da conspiração, das sociedades secretas e nos motivos que levam as pessoas a crerem nelas. Imagine que um grande historiador resolveu escrever um livro técnico sobre a origem das teorias da conspiração e das sociedades secretas. Agora imagine que esse historiador resolveu colocar todo esse conhecimento técnico em uma história de suspense e drama. Agora imagine que esse autor é o Umberto Eco e que ele resolveu escrever sua obra prima. Esse é O Pêndulo de Foucault.

Não é por acaso que esse livro é tão difícil, levei três meses para ler e só comecei a compreender o que estava acontecendo nas últimas 100 páginas. Tal qual Ficções de Jorge Luiz Borges, o livro de Eco não é para ser prazeroso. É para ser uma maratona em que você não chega nem a subir no pódio mesmo depois de todo treinamento e esforço. Talvez você aprenda algo, mas a única certeza que te garanto é que, ao chegar ao fim, você percorreu o percurso. Se isso não lhe bastar, bem, talvez você deva se perguntar qual o motivo de estar vivendo.
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McFly 19/01/2009

código da vinci inteligente
Não consegui ler O Código da Vinci (e ele me espera na prateleira ao lado). O Pêndulo de Foucault, por outro lado, me foi um prato cheio. O livro é inteligente e cheio de referências; o ponto alto, pra mim, é não precisar alegar ser fiel à realidade (coisa que os livros de Dan Brown não são): é um romance com fundo histórico, simples assim.
Os personagens, diferente da figura "crível, de homem comum à la Harrison Ford" de Dan Brown, são obsessivos, desarranjados, patéticos.
Comparei demais? Precisei. Excelente livro.
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Marcos606 05/09/2023

Jacobo Belbo, Casaubon e Diotallevi, começam a inventar conspirações para prazer pessoal depois de ficarem exasperados com sérias teorias de conspiração sobre o ocultismo. Intitulando seu projeto satírico “O Plano”, os três escritores ficam cada vez mais apegados ao jogo, esquecendo sua natureza satírica. O seu projeto torna-se complicado quando começam a aprender que os “reais” teóricos da conspiração estão a ler a sua publicação e a levar as suas conspirações a sério. Como resultado, Jacobo Belbo é alvo de uma sociedade secreta que está convencida de que ele possui a chave do tesouro escondido dos Cavaleiros Templários. O romance confunde a fronteira entre a sátira e a realidade, à medida que os proponentes de ambos os lados são repentinamente colocados em contato uns com os outros.

Com um valor de verdade ambíguo, a narrativa de 'O Pêndulo de Foucault' termina com a questão de saber se é moralmente certo ou errado fornecer mentiras para criar um significado original. Eco recusa-se a fazer uma declaração sobre o valor da verdade mas, oferece um comentário poderoso sobre uma interpretação aberta irrestrita.
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Gabriel 24/09/2021

O livro leva ao extremo o projeto literário do Eco. Histórias múltiplas que se interconectam; amálgama entre ficção, memória, história e ensaio. O próprio Eco considerava essa como sua obra prima. Por fim, eu diria que é uma reflexão oportuna para pensar o mundo em que vivemos hoje, com suas muitas teorias complotistas.
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William.Almeida 18/01/2023

Depois de o nome da rosa, a expectativa era alta...
É um calhamaço. Isso não tem como discordar. Mas, será que precisava ser tão grande?
Bem, vi muitos comentando que o Dan Brown pegou o fio da meada aqui, coisa e tal. Daí, fui pesquisar mais a fundo. Comentaram tanto, na época, que o Eco foi ler o código da Vinci. E, de modo bem resumido, ao que parece, Eco disse que Dan Brown seria facilmente um de seus 3 personagens do pêndulo de Foucault. Se é verdade, é outra discussão.
O que absorvi (e aqui tem muita coisa para absorver) foi uma fotografia sobre o que se presencia nessa atualidade. Especulações e notícias falsas (ou com bases e premissas falsas, onde, portanto, não sustenta uma verdade) que ganham força e baseiam as ações de muitos indivíduos (lembro de uma reportagem sobre uma mulher que morreu em decorrência de um linchamento, por causa de um retrato falado sobre uma suposta bruxa que sequestrava crianças). E, depois disso, não avançamos, porque grupos invadiram e depedraram a praça dos três poderes...
Enfim, é um baita calhamaço, mas totalmente necessário!
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Bruno Mancini 30/03/2021

Incrível
E hoje que muito relelo, pois apenas uma parte do livro é que me lembro. Alguns livros fazem isto com nós. Vou colocar novamente em minha lista.
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ElKaiser 07/03/2010

Um livro escrito por um academicista, contudo um academicista que sabe rir de sua classe
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Andréa 08/06/2010

Tentei ler mais de 1 vez, mas .....abandonei
Quase cheguei no final, mas eu não consegui entender nada! São páginas e mais páginas escritas com coisas que não dizem nada pra mim! Outros idiomas, citações esquisitas, meu Deus! Acho que é preciso um preparo especial pra ler esse livro e eu não tenho! Infelizmente! Várias pessoas me disseram que adoraram e eu não consegui terminar! Decepção total comigo mesma, mas sem bricadeira, o livro não é fácil! Admiro os que terminaram - e entenderam - a leitura! Estão de parabéns!
HARRY BOSCH 22/08/2010minha estante
Estou lendo e sou da mesma opinião,,,


Maísa 26/08/2010minha estante
li poucas páginas até agora, mas também não estou entendendo muito... vou insistir mais um pouco pra ver se melhora


cliffoliveira 11/09/2010minha estante
o óbvio é dispensável


Sergio Carla 23/10/2012minha estante
Estou lendo e também estou no início , vamos ver com se desenrola .


Joao.Maria 09/09/2015minha estante
Para se ler este livro, devido ao tamanho e por ser cheio de citações, o melhor é ler de um a dois capítulos, aproveitando os intervalos para buscar no Google informações. Assim, com certeza vai gostar e entender.


Arthur 05/05/2016minha estante
Andréa, eu te entendo. Eu ganhei o Pêndulo de Foucault há uns 4 anos e desde então tentei ler livro por 3 vezes e o larguei ainda no primeiro capítulo, por considerar a descrição do museu que abre a obra enfadonha e extensamente desnecessária. Esse mês e eu o peguei e decidi lê-lo até o fim, custe o tempo que custar e a leitura está funcionando, embora eu ainda mantenha a opinião quanto as descrições do livro. Eu simplesmente me recusei a ser vencido por um livro de um autor contemporâneo, que escreve literatura que em tese deve ser acessível a todos. Um grande motivador foi um trecho de uma aula do Professor Clóvis de Barros, que pode ser encontrada no youtube com o título infame de "sobre ter culhões" em que ele fala justamente sobre as oportunidades de leituras que perdemos por acreditarmos que um livro é "difícil".




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