spoiler visualizarKay Ritton 07/09/2012
Não... Simplesmente não dá pra aceitar esse livro.
Descobri, lendo 50 Tons de Cinza, que sou preconceituosa. Depois de me encantar e me apaixonar por estórias diversas, e de me identificar com trocentos personagens diferentes, descobri que posso odiar um livro. Posso repudiar uma autora, e pior ainda, posso querer entrar nas páginas, mas não para me deliciar na aventura junto com os protagonistas, mas para assassiná-los. Ufa, pronto falei.
50 Tons de cinza conta a estória de Anastasia Steele, uma recém-formada em Literatura, que vai entrevistar o jovem bilionário – charmoso, inteligente, sedutor, fascinante - Christian Grey para o jornal da faculdade, no lugar da amiga adoentada que não pôde ir. A protagonista, que é - pobremente – descrita como uma garota completamente normal, sem nenhum encanto e que não sabe se vestir direito - rs - , logo cai no encanto de Christian. Sem nenhum motivo aparente.
Depois desse dia, Edward, digo Christian, começa a perseguir Bella, digo, Ana, e ela fica cada vez mais intrigada com sua beleza e seus olhos cinzentos que a deixam ruborizada toda vez. Tudo bem, antes de tudo quero destacar que essa estória era uma FanFiction de Crepúsculo, por isso as semelhanças, mas mesmo assim, a autora podia ter pego as partes boas e escrito sobre um vampiro que não brilhasse, mas tudo bem, voltemos a resenha.
O jovem Christian, que não consegue mais manter distância de Ana, finalmente confessa que a quer, – depois de ter dito que não era homem para ela – mas que a quer em seus termos. Ele é praticante de BDSM, e só o que conhece sobre relacionamentos na vida é assim. Um dominador, e um submisso. Pessoas que tem prazer em dominar e/ou obedecer. Basicamente, ele dá a ela um contrato, constando tudo que pode ou não acontecer no que Ana passa a chamar de “Quarto Vermelho da Dor”. Alguns dos itens que mais me chamaram a atenção nesse contrato foram: Bengaladas, surras de vara, cera quente (de vela), grampos de mamilos, entre outros que me esforcei ao máximo para apagar da minha inocente memória.
Ela então confessa para ele que é virgem, e ao longo do livro, ela fica passando por um tipo de “experiência”, já que não chega a assinar o contrato, mas mesmo assim, sucumbindo às excentricidades de Christian.
Nunca liguei para raças, cores e opções sexuais. Sempre fui contra o preconceito, do tipo que briga mesmo, discute pra defender as pessoas contra essa atitude repugnante de alguns seres humanos que acham que a vida é como eles acham que deve ser, mas como eu disse lá no começo, descobri que sou preconceituosa sim. Descobri que odeio quem pratica, ou sequer apoia o BDSM. Descobri que odeio quem acha que apanhar (ou bater) pode se quer ser considerado um ato sexual, um ato de prazer. Não tenho nada a ver com o que as pessoas fazem – consensualmente – entre quatro paredes, mas vou tentar explicar meu raciocínio aqui.
A protagonista tem 21 anos, recém-formada em LITERATURA. Cara, ela gosta de ler, não é? Ou entendi errado? Porque citações não faltam no livro. Ok, até aí tudo bem. Quanto a ela ser virgem tudo bem também. Mas me diz, porque uma garota inteligente como ela, que nunca teve nenhum homem por nunca ter achado “o cara certo”, simplesmente aceita uma palhaçada dessas? Isso não pode ser chamado de "relacionamento"! Ela passa o livro inteiro com o pé atrás no que diz respeito a apanhar de Christian, mas cede do mesmo jeito, simplesmente por estar apaixonada. Gente, isso é um absurdo, me desculpem.
Em pleno século 21, depois de tudo que as mulheres já passaram nesse mundo, lutando por igualdade de direitos, pelo fim da submissão aos homens, vem uma mulher e me escreve uma bosta dessas? Não, eu não aceito isso. E não adianta dizer que o cara é insuportavelmente delicioso, e que BDSM não é a mesma coisa que abuso sexual, porque não cola. Mulher de verdade não aceita uma estória dessas, simplesmente pularia fora assim que descobrisse as barbaridades que esse protagonista nojento gosta de fazer. Pra piorar, do nada, eles terminam no final do livro, e no capítulo 1 que vem de brinde, ela mais uma vez se deixa levar por sua “paixão” e o obedece. OBEDECE. Se fosse só no sexo, e cara, se ela gosta de tomar porrada e ficar pelada ajoelhada no chão por puro divertimento do cara, dane-se, tem mais é que apanhar mesmo. Mas e fora do quarto? Quando chega ao ponto de o cara te puxar pelo braço e te dar ordens em plena luz do dia, na rua, e você obedece, você não é digna de ser chamada de mulher.
E que porra é essa de Deusa Interior, Meu Sexo, Cinquenta tons... Vai ser chata e repetitiva assim na cadeia.