A Ditadura Envergonhada

A Ditadura Envergonhada Elio Gaspari




Resenhas - A Ditadura Envergonhada


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Eduarda.Silva 26/02/2022

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A Ditadura Envergonhada é o primeiro volume de uma série de 5 livros escritos pelo jornalista Elio Gaspari.

O autor nos mostra, principalmente, que o regime militar foi construído aos poucos e, além disso, trouxe informações sobre as relações internacionais da época, diversos elementos culturais e deu ênfase na repressão super violenta desse período que durou 21 anos.

O livro tem uma linguagem simples e de fácil entendimento, recomendo muito!

Essa edição tem várias imagens, informações sobre nomenclaturas militares e uma cronologia muito completa de 1950 - 1967.
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Antonio Luiz 25/03/2010

Balanço de horrores
Durante os 21 anos da ditadura militar, pouco havia de politicamente mais vital do que saber o que os militares faziam nas masmorras do regime e entre as salas dos ministérios – informação não só difícil de conseguir, como também perigosa para quem não fazia parte dos círculos do poder.

Apesar da censura, sempre havia boatos à boca pequena que, ao menos nas grandes cidades, não permitiam a ninguém ignorar totalmente o que se passava – a menos que fechasse deliberadamente olhos e ouvidos.

Mas saber se de fato o general fulano brigou com o marechal beltrano ou se sicrano já havia sido torturado e morto era um privilégio reservado a poucos civis, que para ganhar status entre seus pares – e, às vezes, recompensas bem mais materiais – só precisavam demonstrar sua intimidade com o poder.

Nestas duas décadas de redemocratização, testemunhos de quem exerceu ou padeceu a ditadura começaram a aparecer à luz do dia e serem colocadas em letra de forma, fragmento por fragmento. Faltava ousar passar da coleta e classificação à reconstituição do conjunto dos acontecimentos numa história que faça sentido.

A obra de Elio Gaspari, "As Ilusões Armadas" foi um salto de qualidade nesse processo. Ao trabalho dos predecessores, reuniu trezentas horas de entrevistas com alguns dos personagens centrais da ditadura general, incluindo o general Ernesto Geisel e seu estrategista, o general Golbery do Couto e Silva.

Dispôs também dos 5 mil documentos que formavam o arquivo pessoal deste último e do diário do capitão Heitor Ferreira, secretário de Geisel. Ao longo de 18 anos de pesquisa – esta obra começou a ser preparada em 1984 – organizou 28.176 fichas no seu computador. O resultado é um amplo e detalhado painel de incidentes políticos e militares da queda de João Goulart ao final do governo Geisel.

Foram lançados os dois primeiros volumes. O primeiro, "A Ditadura Envergonhada" introduz o projeto com a história do fracasso do golpe de Sylvio Frota contra Geisel e o período do golpe de 1964 ao AI-5. O segundo, "A Ditadura Escancarada", prossegue até a posse de Geisel. Faltam três outros volumes que chegarão até a entrega da faixa presidencial ao general Figueiredo, cuja administração, se depender do autor, ficará no esquecimento que pediu.

Quem já viveu ou estudou esses tempos, terá uma oportunidade de recapitulá-los com mais amplitude, além de descobrir detalhes importantes que ainda não tinham sido contados e podem dar uma nova dimensão à gravidade da desordem nos quartéis e das crises miitares do período. Os jovens que ainda não os enfrentaram têm uma boa referência para começar.

Gaspari avisa que seu objetivo não é contar a história da ditadura, mas de como Geisel e Golbery a teriam montado e desmantelado. Mas o leitor não deve levar esse aviso mais a sério que ele mesmo.

O que os dois primeiros volumes oferecem não é exatamente o que se anuncia na declaração de intenções. O autor destaca tanto quanto possível a participação de Geisel e Golbery nos primeiros anos depois do 31 de março, mas ambos estiveram, ao longo desse período, longe do centro do palco – e mesmo nos bastidores sua importância foi relativa.

Participaram das articulações militares e ideológicas que precederam o golpe e que imediatamente o seguiram, mas dizer que o “fizeram” é exagero. Golbery, em particular, foi também o responsável pela criação do SNI, mas durante sua gestão não conseguiu dar ao órgão o caráter e a importância que tinha planejado.

Pela lógica, pouco mais haveria a contar até se chegar a 1973. Apenas como se armou o cenário em que a trama principal – cujo clímax já foi antecipado pela introdução – vai se desenrolar. É óbvio que esses dois grossos volumes e sua abundância de informação oferecem mais do que isso.

O primeiro começa com uma narrativa do golpe militar pouco satisfatória, por não dar importância suficiente às articulações prévias que envolveram militares, civis e a Casa Branca, nem à versão dos vencidos. Ao tomar como mote a frase de efeito do general Cordeiro de Farias – “o Exército dormiu janguista e acordou revolucionário” – deixa na sombra a articulação do golpe. De resto, o próprio general Geisel disse que “o que houve em 1964 não foi uma revolução”, com a mesma franqueza que fez dele o único general a defender a tortura em público.

Continua com uma narrativa mais extensa e satisfatória dos conflitos dentro das Forças Armadas nos primeiros anos do regime e do nascimento da guerrilha. Aqui insiste, de forma pouco convincente, em explicar a atuação de Fidel Castro e Leonel Brizola principalmente a ambições pessoais, além de atribuir uma responsabilidade talvez excessiva ao segundo.

No segundo tomo, trata-se do endurecimento e sistematização da repressão e da tortura, seguidos pela decisão de fazer “desaparecer” todos os militantes capturados e pela degeneração tanto da guerrilha quanto do aparelho repressivo.

Gaspari apropria-se do carinhoso apelido de “tigrada”, dado à turma dos porões por Delfim Netto, que pressionou banqueiros e empresários a contribuir para a Operação Bandeirantes (Oban).

Assim se dey vida ao monstro que, como nos filmes fica menos terrificante e mais grotesco quando deixa de ser apenas insinuado em memórias fragmentárias e aparece de corpo inteiro à luz da variedade de fontes a que o autor recorre, incluindo os generais, a Igreja Católica e o testemunho de torturadores e torturados.

Essa história horrível ainda não havia sido contada de uma forma tão panorâmica e capaz de abrir o caminho a considerações mais complexas que a simples ojeriza moral.

O problema é que Gaspari promete tanto os “Anos de Chumbo” quanto o “Milagre Brasileiro”, mas os primeiros são bem melhor contados que o segundo. Ao se ver obrigado a esboçar uma reflexão que vá além dos aspectos mais chocantes da ditadura, Gaspari deixa a desejar – e cai no mesmo equívoco de histórias do nazismo que o reduzem ao Holocausto ou tentam explicá-lo pelas ambições pessoais destes e daqueles líderes.

Descreve esses anos como uma série de articulações e desarticulações de militares e oposicionistas, condicionada apenas pela busca de poder e prestígio dentro de suas respectivas estruturas burocráticas. Quando as realidades internacional e econômica chegam a ser mencionadas, é só como plano de fundo.

O golpe quis se justificar principalmente como uma reação a uma política econômica de esquerda e seus sucessos e fracassos nesse campo traçaram seu destino. Mesmo assim, as questões econômicas ocupam uns poucos parágrafos nas quase mil páginas já publicadas.

Octávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos são ignorados. Nada se diz do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) e das divisões que provocou nas bases civis e militares de Castello Branco. Já Delfim Netto é amplamente citado – mas não por sua atuação econômica e sim por seu papel no endurecimento e na consolidação política da ditadura.

As crises militares que agitaram o país durante as gestões dos generais Castello Branco e Costa e Silva surge do vazio, como mera expressão da ambição e do personalismo deste ou daquele comandante da “linha dura”, ou simplesmente da “anarquia militar”. Hoje, qualquer bom colégio oferece análises mais ricas em suas aulas de história.

O próprio texto de Gaspari dá pistas de algo mais por trás dessas insubordinações. Menciona a importância do Ato Complementar nº 40 – a centralização dos recursos fiscais nas mãos do governo federal – como “instrumento de funcionalidade do AI-5 nas relações econômicas do Estado brasileiro, transmutando aquilo que poderia ser uma ditadura difusa num processo de reorganização do poder”.

Mas não chega a conclusão de que abrir o caminho para essa reorganização – igualmente desejada por muitos militares e muitos civis poderosos – era, muito mais que a repressão, o objetivo do endurecimento.

Por que o general Affonso de Albuquerque, depois de ter apoiado o AI-5 e a concentação do poder econômico nas mãos do ministro Delfim, despediu-se do governo denunciando o clima político que “propicia e coonesta uma verdadeira escalada dos grupos econômicos poderosos, em detrimento mesmo das empresas nacionais”? Por que, exatamente, disse a ACM que o “o Delfim e o Andreazza devem ser enforcados e pendurados de cabeça para baixo, como ladrões”?

E o que queria a tal “linha dura”? Simplesmente poder e repressão? Assim fica difícil entender o processo de escolha do sucessor de Costa e Silva que, como diz Gaspari, tinha de ser o “mínimo múltiplo comum” entre “duros” e “moderados”, pôde convergir no general Emílio Garrastazu Médici. O homem que levou a sanguinolência da ditadura ao extremo, sem que os “moderados” esboçassem a menor restrição.

Não parece que tenham sido relevantes as divergências sobre como tratar a oposição, pacífica ou armada. Os conflitos que precisavam ser assentados giravam sobre os rumos da economia. Envolviam, entre outras coisas, a oposição entre setores mais favoráveis a interesses transnacionais e outros mais “nacionalistas” – mais fracos e por isso mesmo mais exaltados, mas suficientemente posicionados para exigir algumas satisfações.

É preciso levar Delfim mais a sério quando diz que “o discurso do Marcito [Moreira Alves] não teve importância nenhuma. O que se preparava era uma ditadura mesmo. Tudo era feito para levar àquilo.”

É de supor que essas divisões militares representassem – não necessariamente com fidelidade – divisões análogas nos meios empresariais e financeiros. Apesar de banqueiros e empresários aparecerem a todo o momento como testemunhas de decisões sigilosas e financiadores diretos da repressão, a história é contada como se não tivessem qualquer participação ativa nesses conflitos e decisões, o que deixa no escuro não só a essência do regime militar, como também uma parte decisiva da história que Gaspari se propõe contar.

Pelo contrário, Gaspari enfatiza os conflitos e a desordem entre os militares para insisitir, como anuncia na introdução, que negar racionalidade e ideologia à ditadura militar e afirmar que Geisel e Golbery desmontaram a ditadura militar simplesmente porque “era uma grande bagunça”.

Há aí pelo menos dois mal-entendidos. O primeiro é julgar que ideologia – no caso a “Doutrina de Segurança Nacional” – significa uma teoria racional completa, coerente, conseqüente e estável, aplicada em cada decisão concreta. A ideologia pode sonhar consigo mesma dessa maneira, mas nada mais é que uma falsa consciência da realidade.

O segundo é tratar a ordem e a racionalidade como absolutos e supor que a corrupção, os absurdos, os fiascos, e as insubordinações as desmentem, quando na realidade podem ser seus instrumentos e até suas condições de existência – em maior ou menor medida, dependendo da natureza e objetivos dessa ordem.

Também no III Reich, havia corrupção desenfreada, conflitos entre subordinados, superposição irracional de atribuições entre órgãos e funcionários que se desautorizavam mutuamente e fracassos de planejamento. Mas seria extravagante pensar que esse regime não tinha “ordem” nem objetivos.

Os conflitos internos tinham uma função: levava os subordinados vigiarem-se mutuamente em vez de conspirar contra a cúpula e a tornavam necessária como árbitra em última instância, assegurando a “ordem” enquanto poder absoluto do Führer – ao preço, é claro, de comprometer a eficiência da máquina produtiva e militar quando se tornou mais necessária.

O discurso oficial desse regime também nunca foi muito coerente. Às vezes enfatizava seu pretenso caráter popular e socialista, outras seu anticomunismo. Ora dizia defender valores cristãos, ora queria ver uma nova religião nazista esvaziar as igrejas tradicionais.

Alguns líderes defendiam a supremacia do sangue nórdico, outros condenavam as tentativas de dividir o povo alemão em tipos raciais. Setores que queriam atrair os povos do leste para sua causa eram desautorizados por outros que os queriam expulsar para a Sibéria.

Mesmo assim, seria estranho dizer que o nazismo, em nome do qual milhões mataram e morreram, não era uma poderosa ideologia. Guardadas as proporções, observações análogas podem ser feitas sobre a ditadura militar brasileira e seu “pensamento”.

Supervalorizar os personagens e subestimar a importância dos processos que os envolvem é outro ponto fraco deste trabalho. Ainda na introdução, Gaspari atribui o recuo do regime em geral e o fim da censura em particular ao “complexo mecanismo de uma decisão imperial do presidente Ernesto Geisel”.

A vontade de jornalistas, proprietários de jornais e “qualquer tipo de pressão direta sobre o governo” podem ter contribuído pouco para o desfecho. Mas terá sido por coincidência que a ditadura recuou depois de ter fracassado financeiramente e caído na dependência do mercado financeiro global?

Será por acaso que todas as ditaduras do Cone Sul – incluindo as que iniciaram seu ciclo quando Geisel já governava ou se preparava para assumir – sofreram crises econômicas e fizeram sua abertura econômica e a transição para um regime civil praticamente ao mesmo tempo? De tão imperial, a decisão de Geisel foi acatada não só por Figueiredo, como também por Pinochet e pelas juntas da Argentina e do Uruguai?

Não se trata de atribuir o desenlace apenas às ordens de um imperador colocado mais acima, mas de entender como os militares latino-americanos do final do século XX, se não tomaram palácios de governo só porque assim quiseram, também não saíram por um ato de pura vontade.

Quando poderes econômicos nacionais e transnacionais confluíram para apoiar a ditadura, jornalistas – e mesmo proprietários de grandes grupos de comunicação – pouco puderam fazer. Sua posição mudou quando as mesmas forças perderam a confiança nos velhos métodos e sentiram a necessidade de outros porta-vozes e executores.

Nesse momento, foram os militares que pouca escolha tiveram além de organizar silenciosamente sua retirada, ou cair atirando. Foi o que se decidiu na crítica tarde de 12 de outubro de 1977. A vitória de Geisel – além de evitar muitas mortes inúteis – foi importante por permitir a saída relativamente honrosa. Tivesse sido Frota o vitorioso, o fim poderia ter sido tão desastroso e humilhante quanto foi o da Argentina do general Leopoldo Galtieri, bem sucedido em depor seu superior “moderado”, Roberto Viola.

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Marcianeysa 04/09/2021

Ditadura
Livro interessantíssimo, que mostra os bastidores do movimento que orquestrou o golpe de 1964. São tantos personagens que as vezes me perdi em algumas partes. Ansiosa pelos demais capítulos.
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ka19 11/07/2009

Muito barulho por nada.
Quando lançado me empolguei para comprar todos os volumes. Ainda bem que não o fiz.

Até penso que o livro, por um lado, é produto de vasta pesquisa, porém, por outro lado, não apresenta toda essa pesquisa. O ponto de vista do autor fica muito explícito.

O pior, é que o livro foi muito comentado e comprado. Assusto-me com o fato de que muitos podem se utilizar do livro como material de estudo de história.

Basicamente, achei o livro tendencioso.
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*Ana Paula* 09/08/2011

Me decepcionei triplamente com esse livro: primeiro porque ansiava por ele há 10 anos, segundo porque todos comentários que li a respeito dele diziam ser maravilhoso e terceiro porque comprei em livraria, ou seja, paguei muito caro.

Achei muito mal escrito e super confuso. A pesquisa do autor foi imensa, sem dúvida (até porque ainda tem mais 3 volumes), mas parece que ele simplesmente jogou no texto tudo que pesquisou e aonde caiu, ficou.

Além disso, existem erros bobos do tipo "foram dez militares, sendo dois blablabla, quatro blablabla e um blablabla" (só um exemplo)... ah, então foram sete e não dez.


Talvez seja bom para historiadores, para quem já tem um bom conhecimento da época. Por inúmeras vezes ele chegava a conclusões e eu pensava "tá, e dái? o que isso tem a ver?", como não ia ter resposta mesmo, seguia em frente. Só li até o final porque sou teimosa com livros.

Apenas a cronologia ficou bem organizada e interessante. É uma parte importante do livro.
Também interessante é o anexo com a relação de tropas e hierarquia do exército, porém ficou falha.
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Gu Vaz 25/11/2023

Degradação
O primeiro volume de uma série de decisões militaristas baseadas na degradação quase total da constituição que conhecemos como Ditadura. Através de uma narração ágil, proporcionada por Elio Gaspari, e uma cronologia que avança e retrai à medida que preenche cada lacuna de informação de um tempo sombrio e adverso, este livro é a prova de que o homem, quando pode, estica até ultrapassar qualquer traço de humanidade que lhe é esperado sob uma pretensa face. O que vemos aqui é o início envergonhado do horror à espera de dominação.
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Afonso74 11/09/2010

Elio Gaspari ainda faz parte de um seleto grupo de jornalistas que podem ser considerados independentes e que recebe críticas tanto do que se chama de esquerda quanto daqueles que se ainda conseguem se chamar de direita. E está de parabéns por esse empreitada de escrever quatro livros sobre o período 1964-85.

Sua leitura do período pré AI-5, que é o objeto desse livro, foi muito precisa em relativizar determinadas ações dos militares de Castelo Branco como não totalmente desprovidas de razão. Obviamente tal visão foi criticada pela nossa esquerda raivosa que prefere a visão maniqueísta e limitada de ver apenas os militares como bandidos e seus companheiros como heróis, sem relativizar que o período militar pré 68 foi muito diferente do pós 68, no qual o radicalismo tomou conta de ambos os lados.

Embora tenha sido o objeto inicial da pesquisa, o autor se estica na descrição do que Ernesto Geisel e Golbery (O Sacerdote e o Feiticeiro) faziam nesse período em passagens desprovidas de importância. Parece que o Sr. Gaspari não quis deixar de publicar todo o material de seus apreciados personagens.

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Fabrício Goulart 11/11/2015

Base nos militares
Ao contrário do que foi dito, não é um livro tendencioso. O que se tem é uma base nos militares - situação explicada pelo próprio autor no início da obra. Gaspari se baseou em relatos de quem estava no poder, e não de quem estava nos porões da ditadura.
Apesar disso, acredito que ele soube relativizar as coisas muito bem. Criticou os militares quando necessário e também a esquerda, em diferentes momentos. Tudo com base em uma ampla pesquisa, que é de tirar o fôlego.
A minha única ressalva está no estilo. A leitura se torna pesada, ao longo do livro, porque o autor joga muitas informações - algumas aparentemente sem conexão. Em alguns trechos é como se eu passasse, no modo automático, aguardando o momento de fazer paralelos.
Muito bom que se tenha algo tão cheio de dados, mas também bastante cansativo. Vale lembrar, ainda, que é o primeiro de quatro livros. É difícil falar de uma visão da ditadura - para criticar o autor - sem saber o que mais é abordado.
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MSc. Lipe 03/11/2019

Uma grande decepção
Para começar essa resenha eu me vejo na obrigação de citar um trecho de Graciliano Ramos que aparece no livro: "Ladroagens, uma onda de burrice a inundar tudo, confusão, mal-entendidos, charlatanismo, energúmenos microcéfalos vestidos de verde a esgoelar-se em discursos imbecis, a semear delações."
Do ponto vista didático e histórico é uma obra pobre em vários sentidos. Primeiramente, o leitor deve se atentar ao fato de que as principais fontes do autor são dois ditadores. Ou seja, você estará lendo um livro sobre a ditadura militar no Brasil sob o ponto de vista dos cabeças do golpe de 1964.
E fica claro a linha de pensamento dessa gente; uma procura insana por inimigos imaginários: na impressa, no congresso, na cultura; o sempre presente fantasma do comunismo e outros devaneios e ilusões que advém da caserna. Contudo, a obra tem o nome de "Ilusões Armadas"... então acredito que o autor tem ciência desses "delírios".

Mas o ponto crucial a entender é esse: vale a pena ler um livro sobre o fascismo considerando como visão principal a de Mussolini, ou estudar o nazismo com um livro escrito por Hitler? Esse é o ponto!
Conforme a leitura avança você começa a perceber a racionalização para justificar os atos absurdos cometidos num dos períodos mais negros de nossa história. Ajuda a entender como parte dos militares vêem qualquer vislumbre de democracia como ameaça e explica um pouco o momento de histeria coletiva por qual estamos passando desde 2018.
Eu acho que faltou muita coisa no livro.
Não vi nenhuma referência a Tancredo Neves chamando os deputados golpistas de CANALHAS. Na maior parte o autor se refere ao golpe de 64 por "revolução", o que é uma falha gravíssima, pois tenta mais uma vez justificar o injustificável.
No ponto de vista histórico, aconselho a leitura da biografia do Marechal Lott. Nessa biografia há sim uma descrição muito mais viva e realista sobre a tortura que ocorria nos porões do regime.
Bom, por fim, como intitulei esta resenha, este livro foi uma grande decepção.
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Edson Camara 10/08/2021

Da derrubada de Goulart ao AI5
A Ditadura Envergonhada é o primeiro volume dos cinco que compõem este documento histórico da história recente brasileira.
Aqui é relatado os fatos, com referências documentais importantes e testemunhos de pessoas que viveram e participaram diretamente dos eventos.
Este volume cobre desde toda a movimentação, articulação e desdobramento do final do governo João Goulart, a derrubada e a tomada do poder pelos militares, passa pela administração de Castelo Branco, que queria devolver o governo a sociedade civil ainda em 1967, seu emparedamento político e a eleição “indireta” de Costa Silva até a decretação do AI5. O autor é muito bom relator, reporta a história sem tomar partido dando ênfase aos fatos, embora se permita, um ou outro comentário pessoal que em nada desabona o teor e a importância do tratado.
É um livro importante para quem deseja conhecer a história recente do Brasil.
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RALPH 29/01/2021

A história politica brasileira parece ser cíclica
É assustador imaginar que vivemos momentos tão turbulentos depois do Golpe de 64, e o mais inacreditável é que estamos reproduzindo os mesmos erros da ditatura em pleno século XXI. A tristeza é indescritível. O livro é excelente, o Elio tem uma escrita dinâmica, fugaz, digna dos melhores thriller policiais, texto envolvente, convidativo, totalmente oposto aos livros chatos, enfadonhos de historia do colegial.
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Lucas 14/10/2022

Vivendo e aprendendo: a ditadura militar brasileira mostra que nunca deve se ter vergonha de quem se é
O jornalista ítalo-brasileiro Elio Gaspari (1944-) lançou em 2002 um projeto audacioso: narrar, através de (inicialmente) quatro volumes, a trajetória da ditadura militar que governou o Brasil por mais de duas décadas, através de estudos e investigações iniciadas em 1984. Pomposo em sua concepção, realista em seu resultado: o primeiro desses volumes, A Ditadura Envergonhada, é preciso, desapaixonado e completo.

O autor, a qual presenciou alguns dos fatos por ele narrados e que atualmente é colunista do jornal Folha de S. Paulo, é tratado com relativo descaso por opositores atuais do regime ditatorial brasileiro: têm-se diante de Gaspari um rótulo imbecil de que ele escreve com neutralidade diante de um tema que segundo os mais radicais não comporta nenhuma vírgula de defesa, nem mesmo isenção. Não que o jornalista faça algum tipo de ovação para os personagens ou fatos importantes daqueles tempos nefastos: ele apenas não "bajula" personagens santificados por certos setores ideológicos que ainda hoje remanescem, sob a bandeira de grupos políticos distintos.

O que Elio Gaspari faz é lançar luz sob aspectos ocultos do regime e aqui ele se apropriou da proximidade e até mesmo da amizade que ele desenvolveu com, especialmente, dois personagens centrais da ditadura: os gaúchos e generais Ernesto Geisel (1907-1996), chamado por Elio de "Sacerdote" e Golbery do Couto e Silva (1911-1987), que recebeu do autor a alcunha de "Feiticeiro". De fato, estes dois são tratados com um olhar mais benevolente em alguns momentos, mas a história universal, não apenas a escrita por Gaspari, mostra a participação efetiva deles no regime. Geisel e Couto e Silva, além de dois dos mentores do golpe (e não revolução, já que o próprio Geisel é enfático em afirmar que o ocorreu em 1964 foi um movimento) foram ministros do primeiro presidente do regime militar, o general cearense Castello Branco (1897-1967) e perderam espaço no governo subsequente, do também general Artur da Costa e Silva (1899-1969). Essa perda de espaço deveu-se essencialmente pelo choque com os ideais mais radicais de Costa e Silva, famoso por ter baixado o assombroso Ato Institucional nº 5, no final de 1968. Os outros livros da coleção de Gaspari, no entanto, ainda vão demonstrar mais fortemente a presença destes dois personagens, já que Geisel, por exemplo, foi presidente da república entre 1974 e 1979 (o mais sensato dos dirigentes nacionais no período ditatorial, na minha visão).

A Ditadura Envergonhada, em suas camadas mais visíveis, não apresenta nada de novo nos grandes eventos da época para quem gosta de debruçar-se sobre a história aqueles anos (este primeiro livro trata da deposição de João Goulart em 1964 até o AI-5, no final de 1968). Os grandes acontecimentos, como a deposição de João Goulart (1919-1976), o dramático desfecho da vida de Castello Branco, as intensas revoltas do eterno ano de 1968, o supracitado AI-5, entre outros eventos famosos, as quais são discutidos por Gaspari, não são necessariamente o âmago da escrita: sua preocupação está nos gabinetes e quartéis, especialmente, onde as decisões eram tomadas. Como João Goulart foi deposto de uma hora para outra, sem tanques ou invasões, como as Forças Armadas foram sutilmente se envolvendo cada vez mais no arcabouço governamental, como as torturas foram se tornando instrumentos institucionalizados de coação e domínio, e, especialmente, como todos estes e outros absurdos foram se desenvolvendo dentro da República, acobertados por uma espessa capa de corrupção, são os focos narrativos mais destacáveis pelas linhas de Elio Gaspari.

Ao oferecer um texto isento de qualquer viés, especialmente os de natureza acusatória, tão justificadamente comuns no contexto atual brasileiro, Elio Gaspari é capaz de ampliar o entendimento tanto daquele indivíduo que abomina o regime de exceção implantado como daquele cidadão crente na necessidade da ditadura, para exterminar qualquer ameaça de comunismo. De uma forma geral, até mesmo o adjetivo empregado pelo autor para nominar esse primeiro volume da sua série reforça este entendimento. Diferentemente de outros países, onde a ditadura chegou "com os dois pés na porta" (o mais ilustrativo caso aqui por perto ocorrendo no Chile em 1973 ou Cuba em 1959), por aqui ela começou com ares de transitoriedade, de ser um regime que iria encerrar um viés populista que impregnava a República desde a eleição de Getúlio Vargas (1882-1954) em 1950 e devolver o governo a civis "mais qualificados". Oficialmente, por exemplo, o congresso nacional funcionou até 1968, assim como a liberdade (restrita) de expressão. Homens como Castello Branco e Ernesto Geisel (este apenas inicialmente, diga-se) eram defensores deste caráter momentâneo do regime. Mas na queda de braço com a chamada Linha Dura, acabaram pisoteados por um grande contingente das Forças Armadas sedento não por ordem, mas sim por interesses próprios.

A máscara de vergonha da ditadura, que queria ser um regime de exceção mas a qual ainda hesitava, caiu definitivamente no ano de 1968, quando no Brasil houve respingos de uma tendência mundial: a rebeldia ora romântica ora destrutiva dos jovens, normalmente universitários, aflorou violentamente, em protestos e atos de vandalismo diante de um mundo que vivia o auge da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã. Com a mudança do perfil de opositores do regime (que antes disso eram apenas comunistas, as quais eram e é hoje ainda muito fácil atrelar à imagem de simples banditismo), o regime se viu na obrigação de se instalar definitivamente como uma ditadura. É onde este primeiro volume termina: quando a ditadura perde a vergonha de ser chamada assim, bate no peito (e na mesa) e toma para si a rigidez tão comum aos regimes ditatoriais, com o fim de direitos e garantias fundamentais. O AI-5, baixado em dezembro de 1968, é, neste sentido, um marco: é uma faca que dilacera o país e o joga num violento regime de exceção e corrupção que vai durar por pelo menos dez anos.

O leve pudor democrático que ainda subsistia cai, mas não é apenas o descortinar dos chamados "Anos de Chumbo" que marca esse novo período: as prisões arbitrárias, torturas, inquéritos sorrateiramente maquiados, condenações sem fases processuais completas, perseguições políticas e censuras são a ''cara" desse tempo, mas elas escondem algo tão gravíssimo quanto. Trata-se da corrupção incutida em praticamente todos os setores e órgãos governamentais de todas as esferas. Um dos maiores méritos d'A Ditadura Envergonhada é a desmistificação de que naquela época não haviam negociatas, desvios, roubos, indicações políticas sem critério... Termos como meritocracia ou cidadãos de bem eram despudoradamente deturpados, através de uma enormidade de exemplos que as investigações de Gaspari trouxeram.

Elio Gaspari reúne aqui todas essas informações oriundas de documentos e de depoimentos obtidos por ele mesmo, junto a nomes comuns da ditadura (ele chegou a entrevistar o polêmico general Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), que coordenava o órgão de "segurança interna" do estado de São Paulo), o que lhe confere um peso ainda mais real diante de sua narrativa. Além disso, um olhar cru, jornalístico e nada apaixonado, simultaneamente a um estilo mais descritivo e menos quantitativo, gera neste este primeiro volume um escudo contra vociferações irracionais, que inevitavelmente podem surgir de todos os espectros políticos atuais. O tempo dirá se esta toada se mantém nos volumes seguintes, mas a primeira impressão é a melhor possível.

A Ditadura Envergonhada é o pontapé inicial de um projeto historicamente rico. Mostra os primeiros anos de um regime que nasceu com um propósito de acalmar os ânimos, viu que isso não era possível, se envergonhou, mas soube perder a compostura para atingir objetivos ocultos. Sem que haja o endeusamento de nenhum dos múltiplos lados dessa história, Elio Gaspari muito contribui para uma relevante parcela da história nacional formada por trevas e a qual é tratada com um inexplicável saudosismo de tempos em tempos.
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Beatriz 03/01/2021

Incompleto
O livro tem seus pontos positivos, porém deixa muito a desejar na descrição política e transforma o regime em uma nave extraterrestre alheia a política e a sociedade, um astro q orbita sem relações, sem ideologia (como ele tenta imputar) e sem base social e política para governar. Desta forma, ele trata levianamente as tensões políticas que culminaram no golpe, as relações políticas internas no Brasil durante esse período e torna todas as tentativas de manter a fachada democrática do período q esse livro trata em apenas uma palavra, sem qualquer demonstração de suas implicações e o papel real dela nos acontecimentos e reações, como se ela fosse apenas liberdade de expressão e sufrágio universal.
E mesmo q considere q seu interesse era retratar os militares da ditadura, ainda sim há muita brecha na forma como aborda o histórico e a forma de pensar desses militares e os tranforma em pessoas fracas e desgovernadas e até psicopatas (oq não excluo).
Parece que foi um trabalho de recolher as opiniões dos militares e não ir além, não acrescentou o q faltou para deixar a história completa. Porém, o Gaspari escreve bem e demonstra capacidade para descrever os fatos e a forma como funciona a hierarquia e as relações militares. Talvez falte mesmo sair do muro pra dar peso a narrativa.
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Karisma 17/02/2020

Levemente entediante.
Comprei o box, terminar esse primeiro livro foi uma tarefa de determinação. Existe um esclarecimento histórico, mas a narrativa é vasta e aborda vários pontos de vista o que acaba por deixar a leitura pesada.
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