Markus 30/09/2015
A cultura judaica numa ótima história!
A vida de um leitor é repleta de experiências e de surpresas. Às vezes você se interessa por um livro que te apresenta uma premissa curiosa, com fatores atrativos e é surpreendido com ainda mais que isso.
Como leitor, é preciso sempre estar aberto à novas experiências, sem qualquer preconceito ou pré-conceito. É preciso sair da zona de conforto, mesmo que de vez em quando.
Minha Vida Daria Um Livro é um livro espiritualista. Não espírita. Espiritualista.
E devo, com toda sinceridade, pedir que deixe seu preconceito e sua ignorância de lado (desculpe pela palavra) e leia a resenha antes de já dizer "eu não leria um livro desse".
Vamos a resenha.
O livro é narrado em primeira pessoa e vamos conhecer a história de David, um adolescente judeu. Eu não lembro de ter lido algum livro onde o personagem principal é judeu e não dá pra descrever o enriquecimento cultural que essa leitura me proporcionou. O mundo judeu contado por um adolescente que não entende muito bem o porquê de tantos costumes, tantas leis, tantas regras.
Quando David faz seus 13 anos é obrigado a ter o seu Bar Mitzvá (significado). Sem saber o significado certo disso, é explicado ao garoto que após a cerimônia, ele se transformaria em homem.
"Pensei o que seria 'ser homem'. A pessoa se formava depois de passar por aquela cerimônia? Eles me dariam um diploma? Fantástico!"
Mas depois disso tudo, ele só teria mais regras a seguir.
Cheio de filosofias, questionamentos, obrigações, dúvidas e muitas, muitas dúvidas. Assim é a vida de David.
As coisas ficam mais confusas ainda quando vê seu próprio pai descumprir uma regra sagrada. A decepção gera ainda mais dúvida.
O preconceito na escola, na rua e em qualquer lugar onde as outras pessoas possam julgar pela sua religião deixam David ainda mais revoltado em busca do grande porquê.
"Meu mundo desabou. Senti-me ingênuo, idiota. Já não pensava segundo as regras, mas com meus próprios princípios que afloravam. Tive repugnância pela hipocrisia. Saí correndo dali e disse a mim mesmo: 'Nunca mais vou acreditar que Deus existe. É mais uma invenção das regras que é preciso seguir cegamente, sem explicações lógicas, e eu não sou assim. Algo dentro de mim está renascendo, e o senso de justiça ordena que eu me rebele contra tudo isso. Como teria sido melhor continuar sendo criança!'"
O garoto é, acima de tudo, um adolescente. Tem seus amigos, toca em uma banda de rock, se apaixona, é traído, se decepciona, sofre e sempre faz o possível pra entender todas as regras que a sociedade impõe.
Os ensinamentos sobre o judaísmo estão sempre presentes e, apesar da linguagem complexa, você sente cada dor, cada dúvida de David ao ler isso.
O livro é uma jornada de aprendizado. Não sobre religião, mas sobre a vida. O leitor se torna um David, que vai em busca de respostas sobre injustiças, sofrimento e dor.
Após um acontecimento trágico, David passa a ouvir uma voz interna misteriosa que fala coisas que ele não entende e, quando entende, não concorda muito. Depois de um tempo, ele vê nessa voz um conforto e percebe uma sensação de segurança e apoio em meio a tanta injustiça.
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Esse foi um dos livros em que eu mais chorei durante a leitura. Sério, isso não acontece com frequência, mas a pureza e tanto sofrimento retratado nesse livro quase me desidratou.
Recomendo esse leitura a todo leitor que queira sair de sua zona de conforto, que esteja precisando de um livro forte e que vai explorar todos seus sentimentos.
Em algum momento, a narrativa pode se tornar cansativa, mas o descobrimento é complexo e assim teria que ser.
Nota final: 5, pela riqueza cultural e pelo aprendizado enorme que eu tive com essa leitura.
site: http://www.mundoemcartas.blogspot.com.br/2015/09/resenha-minha-vida-daria-um-livro.html