Isa 04/03/2015
Guilty Pleasure
Ao ler a sinopse do livro, pensei que tinha me deparado com uma obra que seria interessante e bonita.
Senhoras e senhores, interessante foi. Fofinha, cheia de clichês. Mas um livro ruim.
Amber é uma garota que toda a infância foi abusada pelo seu pai, juntamente com o irmão Jacob, e que, três anos após do pai ter sido "expulso" da casa após ter sido pego tentando estuprar a própria filha, ainda sente os efeitos e consequências da sua infância marcada. Contudo, é graças a Liam, melhor amigo do irmão e vizinho de ambos desde crianças, que ela dorme tranquila a noite. Literalmente dorme, porque há oito anos que ele entra pela janela dela para dormir na cama junto com ela (apenas dormir). Embora que, durante o dia, ela o odeie por ser um mulherengo arrogante e convencido.
Então vamos começar a resenha de verdade.
Primeiro, gostaria de enfatizar o quanto de potencial a história tinha, mas que a autora não soube aproveitar. Amber, por vezes, se mostra insegura, depois segura, ,se mostra ousada, depois tímida, repete muitas vezes a mesma frase ou facilmente muda o pensamento. Ela briga com Liam e o irmão sobre superproteção, mas rapidamente recorre a eles quando a situação pega fogo. Diria que, como protagonista, ela falha. Diria que, como garota fictícia que foi abusada pelo pai, ela falha. Por quê? Simples. Vocês realmente querem me fazer acreditar que uma garota abusada que repete uma e outra vez que não gosta de ser tocada fica tranquila quando o melhor amigo mulherengo do irmão dorme com ela na mesma cama todas as noites e ainda sente sem querer suas ereções?
E honestamente, oito anos sem ter sido pega com um garoto no quarto? Não é um pouquinho inverossímil?
Eu percebi já pelo segundo capítulo que a autora tinha um grande interesse no Liam, o par romântico da protagonista. Porque, em todos os capítulos do livro (e quando digo todos, incluo prólogo e epílogo) Liam com seu charme e pega-pega com Amber. Sabe o estilo de livro "Vamos logo para as partes interessantes?". Sem contar que, sem aviso algum, aparecia algum PoV de Liam, provavelmente para nos fazer pirar sobre ele. Não que ele não seja digno de pirar. No início, a relação de amor e ódio com a Amber até pode nos fazer ficar com o pé atrás. Mas nunca nos fez não gostar dele. Ele é perfeito, por isso digo que é IMPOSSÍVEL que um garoto até em seus 8 anos seja assim.
A mãe de Amber e Jake não aparece quase nunca, e se aparecesse acho que iria estragar váaaarios planos da Kirsty Moseley para o enredo. Depois do enrolation bastante rápido entre os dois (com Amber sendo sexy até demais, Liam não aguentando investidas, ela insistindo várias vezes que não estava preparada, e depois, bem, o inevitável... acreditem, isso tudo rola em pouco tempo no livro, ainda que usa muuuitos capítulos), a autora começa a querer fazer do livro uma novela mexicana, ao "trazer o passado a tona". Já que ela fez isso, achei que poderia ser uma excelente oportunidade para um "crescimento" da Amber, para que ela enfrente tudo. Me enganei. Amber ainda depende no querido Liam, que embora não a sofoque, me irrita por ela.
Eu acho que teria sido mais inteligente no livro se Amber se interessasse em aprender a se defender, em querer dormir sozinha, em ser mais forte. Mas a autora, ao meu ver, pensou que a melhor forma de superar um abuso cometido pelo pai é conseguir um boy magia que durma com você por oito anos, sem pressionar por sexo nem nada. E apesar de que metade do livro, você se dá conta que Liam faz tudo por ela, que a ama, que quer ficar com ela, Amber aparentemente não.
O final, como típico de novela mexicana, é feliz para todos os envolvidos, e fim.
Agora, porque coloquei o título da resenha como "Guilty Pleasure"?
Simples, porque eu gostei do livro apesar dos apesares.
Bem, pode até ser que apenas me entreteve. Mas a escrita, mesmo que típica de um wattpad (sem ofensas, eu li melhores novelas que essa no wattpad, confesso. Mas no geral, outras tem a escrita muito pobre), o enredo pobre e inverossímil, me entreteve. Tão ruim que não quer largar, pode se dizer assim?
Confesso, a química entre Amber e Liam foi boa, e teria funcionado mais se os defeitos que apontei não estivessem ali. Eu li de uma sacada o livro, vi que seria um livro ruim, mas mesmo assim gostei dele. É minha guilty pleasure.
Por que eu o marquei como duas estrelas?
Simples, porque não é porque eu gostei que o livro é bom. Gostos divergem, mas a qualidade nem sempre. Como provas, existem aqueles livros que você pode não ter gostado, mas não PODE dizer que são ruins, porque atingem em perfeição de detalhes o propósito do autor e a mensagem. Um exemplo é 1984. Você pode odiar o final do livro, mas vai dizer que é ruim? Vai dizer que a mensagem daquele final ("Nenhum homem sozinho contra o Estado totalitário pode ganhar") não foi passada, que não teve sentido com a história, que qualquer outra maneira teria sido melhor? A resposta é não. E a mesma situação ao contrário serve. Você pode amar tal obra, mas só porque ama, não quer dizer que ela tem qualidade. Se eu citar algum exemplo, estarei morta, assim que deixemos assim.
The Boy Who Sneaks in My Bedroom Window é um livro que gostei.
Mas ele não deixa de ser ruim por isso.