Marcos Ogre 30/03/2014
É, eu queimei minha língua.
Refúgio, ainda que com tão poucas páginas, foi um dos qual mais me lembro de ter demorado a ler, por uma sequência de experiências ruins. E, como vocês puderam ver logo ali em cima, queimei minha língua por tirar uma conclusão tão precipitada. Bem, eu posso explicar. Nunca havia lido nada de Coben (me arrependo, hoje, de ter demorado tanto), e, ouvindo falar dele e do que gosta de escrever, esperei algo mais... Maduro. Não que seja um livro infantil, longe disso, o livro é até muito forte em algumas cenas, mas a primeira e principal ideia que me vinha à cabeça quando sentava para ler Refúgio era: Harlan, você não devia escrever sob o ponto de vista de um adolescente.
Bom, eu tenho dezesseis anos, então sou um adolescente, e, embora não esperasse me identificar com Mickey (o protagonista), um esportista alto, conquistador, impulsivo (logo eu, o odiador de atividades físicas que pensa demais antes de agir), acabei me estranhando demais com o personagem.Primeiramente: ele é jovem demais para o que faz. Existem certos pontos no livro que, para mim, é quase impossível imaginar um jovem de 15/16 anos com executador de certas decisões e ações. Não que nós, jovens, não sejamos maduros o suficiente, ou incapazes, mas existem certas coisas que... Tipo, deveriam ser mais difíceis. E isso, em vezes, acaba se misturando com outros fatores bem incômodos, como o fato de ele e sua turma do barulho terem sempre a solução sobre a palma da mão. "Por coincidência eu conheço aguém, assim tenho certa chave." "Conheço alguém que com certeza conhecerá esse alguém". "Por coincidência sei de uma coisa que nunca comentei que sabia e que agora nos salvará".
E, enquanto temos essa metamorfose adulta presente nos principais e coadjuvantes, em contraste, também temos um forte teor infantil. Frases dignas de pré-escola se impregnam na cabeça dos personagens. Assim, na minha idade, o famoso "dois namoradinhos" não é capaz de me fazer perder a cabeça com tanta facilidade, ou me fazer soltar uma frase feita tão esdrúxula quanto. E esse embate de infantilidade praticamente toma conta de primeira metade do livro.
Mas por que queimei a língua?
A resposta é simples: Porque, todo o mais, é incrível! A partir do momento em que a história passa finalmente a se movimentar, a funcionar como um livro policial de verdade, as emoções e descobertas estão sempre muito presentes. E não pensem que são descobertas bobas do estilo "eu não morri". O enredo é muito mais global do que pensamos, remexendo na história que realmente presenciamos e estudamos.
A misteriosa Dona Morcega é, para mim, a maior incógnita desse tão ótimo livro, e adorei como, na hora certa, suas palavras vieram à tona, junto com revelações de tremer a espinha. Aconselho quem for ler a prestar bastante atenção aos detalhes dos pensamentos do Mickey, pois, guris, no fim vale muito a pena.
E essa revolução na história também ajuda muito na construção dos personagens, mostrando-os limites que simplesmente não podem ultrapassar, impondo situações que, de fato, precisarão de uma ajuda. Afinal, num livro, apresentar a fragilidade e o gosto da derrota é tão bom quanto mostrar a força de um herói, isso nos aproxima mais do que ele está querendo nos mostrar.
Piadas sem graça a parte, não me arrependo de ler esse livro. Nem um pouco. Uma trama muito bem construída, momentos de explode-cérebro... Não foi minha melhor experiência com o autor, mas os exemplares de Desaparecido para sempre e Uma questão de segundos (continuação de Refúgio) já estão aqui do lado para melhorar o que já está bom.
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