Caio 3D: o Essencial da Década de 1970

Caio 3D: o Essencial da Década de 1970 Caio Fernando Abreu




Resenhas - Caio 3D: O Essencial da Década de 1970


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Tacilda 12/02/2009

Caio essencial
Quando recebeu, em setembro de 1994, a folha de resultado de seu exame de HIV com a palavra positivo, o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu não imaginava que naquela pedaço de papel estava muito mais do que o prenúncio de morte. Estava, antes de tudo, o início de uma mudança em seu modo de ver o mundo e, conseqüentemente, de escrever sobre ele. Diante do confronto iminente com o fim, a literatura de Caio, feita de sangue, secreção e sonhos, do tempo fechado, que sempre semeou melancolia em sua obra, se transformou em claridade pura, intensa, regeneradora. Tal mudança pode ser visivelmente sentida no seu primeiro livro, O Inventário do Irremediável, revisto pelo autor 25 anos depois, que teve seu título alterado para Inventário do Ir-remediável, um hífen que acresce um pouco mais de esperança à aridez da obra, transformando o irremediável em algo que pode ser reparado.

A segunda grafia escolhida pelo autor, quando do relançamento da obra, foi mantida pela Editora Agir na coletânea Caio 3D - O Essencial da Década de 70, que republica o trabalho de estréia de Caio ao lado de contos dispersos e inéditos, poemas, correspondências e depoimentos, numa seleção que se centra sobre a produção intelectual deste gaúcho entre 1970 e 1980.

Ele ficava contrariado, mas na maior parte das vezes sua cólera é cheia de risos, alegre e viva. Quem pode dizer que existem pessoas capazes de tamanha façanha? A verdade é que Caio Fernando Abreu está de volta para ser apreciado por quem estiver pronto a ter a vida transformada pela sua literatura.

Em Caio 3D - O Essencial da Década de 70, o leitor tem uma amostra dos extremos da experiência pessoal e literária de Caio Fernando Abreu, que forjou uma obra que retira do lixo o belo e se norteia pelos sabores das relações humanas. Além de contos escritos entre 1962 e 1977, a maioria reunida na seleta Ovelhas Negras (1995), Caio 3D traz as poesias Oriente, Press to Open e Alento, revelando uma vertente menos conhecida de sua obra, muito embora a linguagem poética tenha sido umas das marcas mais fortes da sua prosa. O livro reúne depoimentos do autor retirados de entrevistas e cartas enviadas à mãe e amigos, como a escritora Hilda Hilst e a médica Vera Antoun. Mesmo com a intimidade devassada pela correspondência, são em contos como O Mar Mais Longe que Eu Vejo ou Itinerário que o autor permite que se tornem evidentes seus subterrâneos. A exumação dos sonhos de paz e amor hippie, um de seus temas recorrentes, aparece com mais força nos retalhos do diário escrito durante sua estada londrina em 1974, resgatado com toques de ficção no conto Lixo e Purpurina. Fome, frio, humilhação dão os tons dos dias do exílio.

Os caminhos da carne e a segmentação social das emoções humanas foram temas recorrentes da obra de Caio. É verdade que a orientação sexual do autor muitas vezes ganhou mais destaque do que sua obra. Abreu descreveu como ninguém a entrega entre seres que vivem e gozam, urgentes. Corpos que se descobrem, em si ou em corpos alheios, como nos contos Anotações sobre um Amor Urbano, Paixão Segundo o Entendimento e Inventário do Ir-remediável. Caio Fernando Abreu trabalhava com o conceito da indiferenciação entre homossexuais e heterossexuais. Ele dizia: “não acredito em homossexualidade ou heterossexualidade, acredito em sexualidades. A sexualidade humana é muito ampla e pode se realizar de mil maneiras diferentes.”

Em nenhum momento de seus livros Caio Fernando Abreu afirma a homossexualidade como algo alegre e prazeroso. O que ele faz com a questão da homossexualidade é diluí-la entre todos os problemas do ser humano, como a angústia diante da solidão e a necessidade de enfrentamento das forças conservadoras para se alcançar a liberdade.

A leitura de Caio 3D permite desvendar um pouco do autor muitas vezes tido como sombrio, talvez por tangenciar com freqüência a morte ou outras formas menos sublimes de redenção. Uma redenção que, no caso de Caio, se pautou pelo cultivo de rosas de que cuidava “arrancando das coisas, com as unhas, uma modesta alegria”.

Caio se foi mas sua literatura, relançada pela Agir pode fazer com que novas gerações aprendam a amar sua imaginação, a maneira como ele jogou com o mundo e seus pensamentos, procurando uma verdade tenra, uma beleza delicada.

































































comentários(0)comente



ElizangelaAraujo 23/11/2020

O essencial de Caio Fernando Abreu - Década de 1970
O que dizer desse livro? Que eu amei, que saí apaixonada pela escrita sensível do Caio. Foi como rever um amigo que há muito não o via.
comentários(0)comente



Amor por Livros 14/06/2020

Visceral, complexo e maravilhoso!
Neste volume temos um livro de Contos na íntegra -" Inventário do Ir-remediavel" - além de crônicas, contos avulsos, um pequeno diário e a correspondência do autor.
.
Maravilhoso pra quem quer conhecer a obra o Caio Fernando Abreu.
comentários(0)comente



Lucelly 31/07/2021

Perfeito
O primeiro livro de três dessa coleção, e na minha opinião o melhor? não parava de marcar partes que gostei. Li/tenho todos, e de todos, esse é meu xodozinho!
comentários(0)comente



4 encontrados | exibindo 1 a 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR