@livrodegaia 16/01/2013
Resenha da trilogia que no momento é o "Ai sei eu te pego" do mundo literário.
Procrastinei enquanto pude para começar essa resenha, porque tive um sexto sentido, uma sensação quase paranormal de que ela ia dar trabalho, mas como coloquei na cabeça que só vou começar a leitura de A sombra do vento depois de escrevê-la, melhor parar de enrolar.
Antes de qualquer coisa, quero deixar bem claro que a trilogia Cinquenta Tons de Cinza foi meu primeiro contato com um romance erótico e acredito que muitos dos seus leitores estão na mesma situação. Isso posto, levem em consideração o fato de que a opinião aqui exposta é de alguém cuja intimidade com esse gênero compara-se a intimidade que a maioria das mulheres têm com a parte mecânica de um automóvel (reflita). Portanto, irei analisá-lo como uma obra qualquer.
Para começar, gostaria primeiramente de bater palmas para os responsáveis pelo marketing dos livros aqui no Brasil, porque minha gente, de cinco em cinco minutos (se muito) tinha algum site postando o quanto ele era sensacional na minha página do facebook. O livro foi matéria de capas de revistas importantes, só se falava/fala do quarto vermelho, do Christian Grey e suas algemas. Por mais que num primeiro momento você não tenha se sentido fisgada (meu caso) fica difícil fazer cara de paisagem diante de tanto barulho, a menos que você:
1- se sinta bem sendo um peixe fora dagua;
2- se leve muito a sério para ler um livro que originalmente era uma fanfic da Saga Crepúsculo;
3- tenha aversão a cultura de massa, cuja lógica se resume -> se muita gente gosta, boa coisa não é;
4- não se sinta confortável abrindo um livro regado a sexo (mas não perdeu um capítulo da adaptação de Gabriela! Aliás, gostaria de lembrar que se os seus pais não tivessem feito o lerelê você nem estaria lendo isso aqui. Detesto ser portadora de más notícias, mas sim, eles fizeram/ainda fazem).
Brincadeiras à parte, o que eu quero dizer é que é quase impossível não ter a curiosidade despertada com tantos holofotes, confetes e serpentinas, principalmente se você é uma leitora assídua. Cinquenta Tons é no momento o Ai se eu te pego e E.L. James o Michel Teló do mundo literário, ou seja, goste ou não, não importa onde esteja fatalmente você vai ouvir falar.
E como tudo que faz muito alvoroço, o Mommy Porn, como a trilogia vem sendo chamada, se tornou alvo de críticas ferrenhas e como eu adoro uma boa polêmica (sou dessas) fiquei ainda mais curiosa. Afinal de contas, quem é esse boy magia que encantou a mulherada e será que apesar de tanto sucesso os livros são essa bosta de cachorro sarnento que alguns estão pintando?
Bom, depois de ler todos os volumes o que eu tenho a dizer é que sim, a trilogia deixa muito a desejar em termos de qualidade literária (a linguagem é pobre, os diálogos fracos e repetitivos e a estória é mal desenvolvida), mas sejamos sinceros, o que falta nesse quesito sobra em entretenimento.
No primeiro volume somos apresentados a Anastasia Steele, nossa protagonista e narradora. Ela é uma universitária de 21 anos, virgem, que conhece o boy magia, digo, Christian Grey, jovem, milionário, autoritário e absurdamente lindo que vai introduzi-la no mundo do BDSM (bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo). Os outros dois volumes nada mais são do que o desenrolar dessa relação aparentemente platônica, com todas as devidas idas e vindas até os felizes para sempre.
Ocorre que, a autora abusa demais das cenas de sexo em todos os volumes. Ana não se alimentou: sexo. Ana saiu para tomar um drink com a amiga em vez de voltar para casa: sexo. Ana morde os malditos lábios umas quinhentas vezes: sexo (quinhentas vezes). Ana aceitou conversar com uma antiga submissa maluca: sexo. SE ANA PEIDASSE já seria motivo para os dois se pegarem na cama, na mesa do escritório, na de sinuca, sobre o piano, no elevador, enfim, só não fizeram no Charlie Tango porque não dava para o Christian pilotar e enfiar a mão por baixo do vestido dela ao mesmo tempo. Ah, mas é uma série erótica... Ok! A princípio, essa maratona foi até divertida, mas ao longo da leitura vai ficando cansativa, porque tudo serve de desculpa para narrar as relações sexuais do casal e 90% da trilogia se resume a isso. Não desenvolve.
Sei que estamos falando de livros que começaram como fanfic de uma saga carente de detalhes picantes e que certamente foram criados com o objetivo de preencher a lacuna deixada por Stephenie Meyer, mas um bolo de um recheio só não é tão gostoso. E.L não soube aproveitar os outros personagens e DEFINITIVAMENTE NÃO SOUBE APROVEITAR OS ANTAGONISTAS (o que mais me decepcionou). Havia um leque de possibilidades de fazer com que a estória pegasse fogo (sem conotação sexual). A Elena/Mrs. Robinson e seu marido, as quinze submissas anteriores, o chefe cretino da Ana, a arquiteta, até mesmo o José poderia ter rendido um bom caldo, mas no final das contas esse caldo ficou ralo e eles não passaram de figurantes.
Fiquei com a sensação de que a escritora ficou com medo de acabar estragando o amor dos pombinhos aos olhos dos leitores se houvesse uma interferência mais intensa de outro personagem ou de um(a) forte concorrente, mas isso seria digerível, principalmente no que diz respeito ao Grey, tendo em vista seu antigo estilo de vida. Não seria absurdo, dentro desse contexto se ele declinasse em algum momento, cedesse aos vícios de outrora. Tornaria tudo mais interessante. Daria gás à estória. Não sei... Esperava mais acontecimentos, se é que vocês me entendem.
Vamos combinar que para um cara que até ontem era imune a relações afetivas e que nem permitia ser tocado por terceiros, as coisas andaram quase que na velocidade da luz. Ele sentia falta do que rolava com as outras submissas, porque em várias passagens ficou evidente que ele pegou leve com a Ana, em comparação ao que ele fazia com elas. Logo, se ele sentisse dúvida em algum momento, se retrocedesse, não seria tão estranho. Isso poderia ter sido trabalhado de forma a dar um up no enredo sem jogar um balde de água fria no amor dos dois.
Você, caro leitor(a), deve estar aí jogado(a) na cadeira, tomando seu Toddynho gelado (rs) e pensando que eu detestei a trilogia, mas por mais contraditório que possa parecer, eu gostei. Dei três estrelas para os dois primeiros volumes e como podem ver, duas para o último.
Então, não, não é a melhor leitura de todos os tempos, longe disso, mas apesar de todas as falhas é divertida, viciante e cumpre bem o papel de entreter. Mesmo tendo suas bases bem fincadas na saga que lhe deu origem (a sensação de déjà vu é fortíssima), tem lá seus méritos. A trama é envolvente (não venderia quase setenta milhões de exemplares no mundo todo se não fosse), me fez rir horrores e sei não fui a única.
Senti uma vergonha alheia inenarrável com Ana dançando de MARIA CHIQUINHA na cozinha do homem ou quando li pela primeira vez sobre a deusa interior (que na minha opinião é o lado pervertido, o inconsciente dela), mas passado O SUSTO (rsrs) era só gargalhada. Já observei que a maioria dos leitores de 50 Tons mantém uma introdução ao riso (como diz minha amiga Taty) enquanto estão devorando as páginas. Se eu pudesse tirava uma foto para ilustrar o que estou dizendo, porque é realmente hilário.
As resenhas inflamadas de raiva, as paródias, os movimentos feministas descabidos contra a série, os debates acalorados, tudo isso já me rendeu altos surtos de riso e só isso já valeu a pena.
Aliás, a E. L. James deve estar preocupadíssima com as críticas que rasgam, pisam e depois cospem em seu despretensioso romance caliente, isso é claro, enquanto ela fuma uma nota de 100 euros e mata a sede com um Bollinger Grande Année Rosé 1999 na hidromassagem de alguma luxuosa cobertura em Londres, obviamente.
O que eu quero dizer é: Relaxe! Cinquenta Tons pode ser o impulso que vai levar uma galera a tomar gosto pela leitura, abrindo caminho para obras de peso. Sou prova viva disso! Não tenho vergonha nenhuma de falar que foi Crepúsculo que abriu as portas do mundo literário para mim, motivo pelo qual, apesar de todos os pesares, sempre terei muito carinho pela saga. Seja sincero(a), quantos conhecidos seus nunca cultivaram o hábito de ler e agora não estão nem dormindo por conta de Cinquenta Tons? Esse pode ser o primeiro passo.
Quanto às reclamações de que é absurdo o jeito como o Grey trata a Ana e blá blá blá... Gente, isso é ficção e em ficção ninguém precisa ser bonzinho, ser certinho e rezar a cartilha do politicamente correto. Se fosse assim as bibliotecas e livrarias estariam vazias, então menos.
E se me fizerem a pergunta de um milhão de reais: Você recomenda? Eu digo que se o objetivo é entretenimento sim, pela diversão durante e após leitura.
P.S Peço desculpas se alguém se sentir incomodado com alguns termos chulos, mas como essa é uma resenha informal e estou de bom humor, permiti que meu lado austero se escondesse atrás do sofá junto com a deusa interior da Ana.
@Amanda_Gaia