Catatau

Catatau Paulo Leminski




Resenhas - Catatau


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Paulo Silas 25/03/2021

"Catatau" é um romance-ideia de Leminski que é apontado como uma de suas obras-primas - assim sendo recebido na literatura brasileira. Escrito ao longo de quase dez anos, a obra rompe com qualquer lógica textual, de gênero, de escrita, de ideia, uma vez que liga apenas o início com o fim, não possuindo um meio propriamente dito. É assim uma espécie de experiência, de experimento, de ousadia feita em prosa cujo conteúdo é manifestamente contrário a uma narrativa linear, a uma história que é contada de maneira concatenada, sequencial, coerente, ensejando num total estranhamento que se inicia logo na primeira linha do livro e assim permanece até o seu fim. É uma obra demasiadamente peculiar, cujo fator que a caracteriza é justamente a ausência de uma característica que a defina.

O texto tem como base as sátiras filosóficas, em que pese seja escrito de forma totalmente experimental: não é um romance, não é um conto, não é uma novela... é uma prosa sui generis. O cerne da história se dá na figura do filósofo René Descartes, que teria feito uma fictícia viagem para o Brasil, em Recife, no período da dominação holandesa no século XVII. Narrada em primeira pessoa, a história (que não se desenrola enquanto tal) apresenta algo da fauna e da flora tropicais. O Brasil do referido período é apresentado em alguns traços e lampejos que surgem na narrativa do personagem protagonista que espera por algo enquanto faz uso de uma incessante verborragia. E é assim, sem um nexo concreto, que as páginas seguem, iniciando com o "ergo sum" que inaugura a narrativa e terminando com a figura de Artyschewsky (esperado por Descartes?) chegando bêbado com o abrupto termino.

Por mais seja uma prosa experimental, que rompe com qualquer lógica cartesiana daquilo que se pode compreender por narrativa, sendo cultuado no âmbito literário, não consegui ser convencido pela obra. Admiro o autor, considerando-me um fã, mas "Catatau" é uma obra que não gostei e, mesmo sendo cultuada e reconhecendo sua importância na literatura brasileira, acabei por desaprovar. Por mais cativantes possam parecer os comentários e resenhas sobre a obra, o fato é que o livro é chato, arrastado, a leitura pouco flui. A sensação incômoda e de perplexidade que surge quando o leitor se debruça sobre as linhas desordenadas é algo esperado e intencional por parte do autor, pesando muito mais esse fator do que o brilhantismo com as palavras inerente de Leminski. A verborragia é incômoda e não convence. Por mais esteja presente toda uma qualidade literária que também é perceptível - com algumas tantas passagens que podem ser destacadas -, o livro como um todo está longe de ser uma das melhores obras de Leminski. Cansativo e chato. Empreendi grande esforço para concluir o livro e tentar "compreendê-lo" - ou ao menos dar o crédito literário que lhe parece ser devido -, mas mesmo após finalizar a leitura e analisar algumas críticas literárias (nessa edição consta uma reunião de diversas análises reunidas no final do livro, bem como uma "explicação" do próprio Leminski), não consegui mudar de opinião. Não é um livro, portanto, que eu recomendaria.
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Cristiano.Vituri 30/11/2014

Uma obra brilhante, louca e transformadora
Nunca li nada igual! É um dicionário em formas artísticas, as palavras vão surgindo uma atras da outra de forma "leminskiada" e se a principio pode parecer difícil de digerir, ao longo da obra (se você entrar no clima do livro) ela vai ficando simplesmente surpreendente e gostosa de aproveitar..
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Adriana Santos 02/10/2013

"O Catatau é o fracasso da lógica cartesiana branca no calor, o fracasso do leitor em entendê-lo, emblema do fracasso do projeto batavo, branco, no trópico"
"Dentro do Catatau, o leito perde a mania de procurar coisas claras. Então, aquelas que são claras por si mesmas tornam-se escuras no seu entendimento"
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tadeu vinicius 06/08/2011

Catatau autografado
o meu é autografado de Leminsky para Anton Walter Smetak, maestro suíço que ensinou aqui na Universidade Federal da Bahia.. raridade!

"Para Smetak, mestre de sons & silêncios

do Leminsky

80"
Luiz 13/09/2011minha estante
Ja comecei o livro várias vezes com a mesma ideia louca de lê-lo em um fôlego só... Entretanto eu também estou precisando absorvê-lo em doses homeopáticas.


HernanHerrero 26/09/2019minha estante
Uau que honra...dois grandes gênios!!




Anica 28/04/2009

Catatau
Ganhei o livro há quatro anos e confesso que sempre começava mas depois largava no meio. Minha teoria era de que Catatau deveria ser lido em um fôlego só. Quando percebi que jamais conseguiria ler dessa maneira, larguei mão e resolvi ler aos poucos, como pessoas normais fazem com os livros, sabe? De qualquer forma continuo achando que a experiência teria sido milhares de vezes mais legal se eu pudesse ler assim, e mais: ler em voz alta.

Catatau é isso, uma experiência. Um “romance ideia”. É uma leitura diferente, com uma intenção diferente partindo do autor. Nas palavras do próprio Leminski: “O Catatau é o fracasso da lógica cartesiana branca no calor, o fracasso do leitor em entendê-lo, emblema do fracasso do projeto batavo, branco, no trópico.”1

Por isso se você gosta de obras com enredos redondinhos, narrativas lineares e outras facilidades literárias, é melhor (infelizmente) passar longe do livro. Acredito que basta dizer que Catatau tem um só parágrafo para ter uma idéia do que estou falando. Mas se você vencer o “medo” de obras ditas “difíceis” (Joyce, Rosa, alguém?), eu devo dizer que a leitura é muito recompensadora, e a verdade é que lá pela página 30 você já pegou o “jeito” da coisa e lê sem qualquer problema.

Catatau surgiu de um estalo que Leminski teve enquanto dava aula de História. “E se Descartes tivesse vindo para o Brasil com Nassau?” O que vemos é exatamente isso. Temos Descartes (Cartésio) esperando Artiscewsky - no melhor estilo Vladimir e Estragon esperando Godot. Vemos o que Descartes vê, do jeito alucinado que ele enxerga o lugar onde está. A fala toda mescla diversas linguagens, numa tentativa de representar o que era a fala do Brasil na época. Neologismos diversos, além da utilização direta de tupi, latim, japonês, italiano, holandês, francês, grego, espanhol, inglês e alemão.

E mais do que brincar de forma brilhante com o sentido das palavras, é impressionante perceber o ritmo que ele dita durante a narrativa, que apesar de prosa em alguns momentos parecem poesia, é quase como se você estivesse lendo um dos haikais dele. E no meio de toda a confusão do pensamento da personagem, alguns momentos geniais com aquelas frases típicas do Leminski (por exemplo “Num universo impreciso, é preciso ser inexato, dizer sempre quase antes do dito.”). E é por isso que eu insisto na ideia da leitura de Catatau em voz alta, até para esse ritmo ficar mais óbvio, mais destacado.

O livro é realmente genial, e como falei anteriormente, vale a pena vencer o medo de não compreendê-lo . Como falou o próprio autor, “Dentro do Catatau, o leitor perde a mania de procurar coisas claras.”2 e o fato de mexer dessa maneira com quem lê a obra faz dela ainda melhor.É claro, tive a sorte de ler a edição crítica da Travessa dos Editores, que além do texto original ainda traz índice onomástico, estudo dos procedimentos neológicos, iconografia entre outros “detalhes” que no final das contas só ajudam a enriquecer a leitura. Uma pena que aparentemente essa edição está esgotada no momento.

1. LEMINSKI, Paulo. Catatau Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. p.271 [↩]
2. LEMINSKI, Paulo. Catatau Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. p.273 [↩]
Hélio Rosa 26/03/2010minha estante
Adoro Lemiski e nunca achei uma edição para comprar aqui em Sampa. Caso saiba dalguma, avise-me!



Um abraço


Daniel.Barbosa 14/03/2020minha estante
Só um desfeito no seu comentário: qnd vc diz ?parece poesia?, só pode ser no sentido em q Pascal falou da imagem: algo q é e não é ao msm tempo, pois ao passo q evoca a presença de algo, a imagem é tbm símbolo de sua ausência. Catatau é a anti-imagem da poesia: não parecendo, é: dispensa a presença da poesia, pra convocar-se a si msm, substituindo aquilo q não tá faltando. Nem td q não parece não é.




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