O Problema do Sofrimento

O Problema do Sofrimento C. S. Lewis




Resenhas - O Problema do Sofrimento


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Bianca2151 11/03/2024

Bem absorvido
Vou ser sincera e dizer que ??abandonei?? no final mas considerei como concluído por que tudo que eu poderia absorver, foi absorvido!

Lewis foi muito abençoado com sabedoria, muitas das coisas que ele cita eu já tinha uma ideia mas foi muito bom encontrar argumentos e profundidade para esses tópicos.

Deus é maravilhosamente bom o tempo todo e o sofrimento estará sempre neste mundo.

Foi um dos primeiros livros mais teólogos que li em muito tempo então foi uma leitura bem lenta mas meu livro está TODO grifado por que cada parágrafo era uma pedrada!

Um livro incrível para cristãos e não cristãos.
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rayane.goliveira 07/01/2024

Leitura interessante, porém superficial e cansativa
C.S.Lewis tem uma característica muito particular e interessante de dar exemplos cotidianos para tornar assuntos complexos mais palatáveis. Contudo, o livro peca por ser muito prolixo e repetitivo ao expor seus argumentos que acabam passando como superficiais na maioria das vezes.

Acredito que vale como breve introdução ao assunto do sofrimento humano, contudo não passa disso. O autor se aventura em muitos devaneios filosóficos e deixa a questão central do livro em segundo plano em diversos momentos.

É uma leitura interessante, porém cansativa e exige certa paciência para ser concluída - ainda que o livro seja curto.

Para aqueles que desejam ler algo do Lewis, existem livros melhores para introdução ao seu arcabouço literário.
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Gabriel 07/12/2023

A empreitada de escrever a respeito de um fenômeno tão negativo e detestável é dura, especialmente se considerarmos a perspectiva a partir da qual Lewis pretende enfrentar o que ele chama de "problema do sofrimento" -- que é a perspectiva de quem busca demonstrar o significado e o papel da dor e do sofrimento num mundo criado e regido por Deus.

Longe de considerar o sofrimento como um mero fenômeno irracional, como ele às vezes se manifesta indistintamente a uns e a outros, Lewis parte de uma argumentação coesa para sustentar que o sofrimento, a dor e as sensações que nos atingem a partir das escolhas que fazemos e das experiências que vivemos nada mais são do que um reflexo da liberdade de que somos dotados.

Deus cria o homem à sua imagem e semelhança, mas essa particularidade é exatamente o que possibilita a distinção entre o homem e Deus, também antevendo a possibilidade da separação. Há reflexões substanciais em vários trechos do livro. É significativo perceber que Lewis escreve de forma aparentemente despreocupada com aquilo que faz os mais ortodoxos torcerem o nariz, embora ele próprio não se desvie dos limites fundamentais da ortodoxia.

O livro é dividido em capítulos bem encadeados, traçando um panorama da história da dor, do sofrimento e do mal no mundo. O capítulo intitulado "a queda do homem", a meu ver, traz apontamentos valiosos e uma visão muito particular a respeito do mito da criação no livro de Gênesis. Somente essa concepção apresentada por Lewis valeria um tratado dissertativo.

Outro detalhe importante é a discussão que ele suscita a respeito da possível ressurreição dos animais. Apesar de fazer uma distinção excessivamente racional, é interessante notar que um autor desse calibre se aventurou a tratar do assunto, reconhecendo que apresentava apenas uma colaboração especulativa e ignorando os conselhos da época para não tratar do tema.

No fim das contas, o livro me surpreendeu muito positivamente. É uma pena que tenha chegado ao fim. A prosa do Lewis é convidativa e o modo leve e preciso como ele disseca assuntos espinhosos e complexos faz o leitor se sentir mais sábio do que efetivamente é. Quase passa a sensação de uma tertúlia de lordes ingleses virando chá na porcelana e fumando polidamente um cigarro com piteira.
Carolina 07/12/2023minha estante
Os animais tem corpo, porque não poderiam ser ressuscitados? No Reino de Deus tem que ter pandas, preguiças e passarinhos, nem que seja só pra agradar os santos, gente. Porque Deus negaria a companhia dos animaizinhos a seus filhos tão amados? Só se ele tiver algo muito melhor na manga.


Gabriel 07/12/2023minha estante
Em síntese, ele sustenta a possibilidade da ressurreição de animais domesticados que passaram a ter uma identidade vinculada à identidade do seu próprio tutor. Não consegue conceber um gato e uma minhoca em patamar igualitário, por exemplo. É um raciocínio bem encadeado dentro da estrutura argumentativa do livro, mas tem origem numa perspectiva que pretende racionalizar muito o mundo vindouro. E ele também não descarta a possibilidade de haver algo muito melhor na manga de Deus, como você mencionou. A minha oposição a ele nesse ponto é porque vejo a redenção como sendo a regeneração de toda criação, de modo que o mundo vindouro também é para toda criação, incluindo vida animal, vida vegetal e tudo mais que faz parte disso


Carolina 07/12/2023minha estante
Se foi o homem que criou essa bagunça, os pobres animaizinhos nunca fizeram nada de errado e mesmo assim suportam a corrupção que é culpa nossa, seria injusto que eles não ganhassem nada no final hein
Animal nem pecado tem ?


Gabriel 07/12/2023minha estante
O problema é que para o Lewis pode não ser bem assim. Ele não descarta a possibilidade de os animais terem sido corrompidos antes da queda do homem. A descrição da criação que ele apresenta é bem peculiar, mesclando as teses científicas da época sem se afastar do respaldo metafórico do Genesis. Se os animais tiveram um bom tempo habitando a terra antes dos homens e se já havia o ecossistema com animais que se alimentam de outros animais, Lewis dá a entender que a corrupção pode ter alcançado também os animais. O homem, para ele, teria como uma de suas missões fazer essa ponte entre o animal e Deus, assim como Cristo faz essa ponte entre o homem e Deus. Sim, parece absurdo. Não tenho como reproduzir toda linha de raciocínio dele aqui, mas é basicamente dessas premissas que ele parte




Yasmin 26/11/2023

O livro fala sobre o sofrimento de um ponto de vista cristão. Relacionando toda dor e sofrimento do mundo com Deus, satanás?.
Achei beeem chata a leitura, não é o que curto ler.
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Mateus Leiva 18/08/2023

Um livro que te faz pensar sobre sua fé - não que o dia a dia, a realidade do dia a dia, não te faça repensar sua fé. Mas ele serve como um fio condutor. É bom ter alguém que se posicione como contraponto a nós, sem nos emparedar, que é o que acontece muitas vezes quando você vai discutir fé com alguém.

Fala sobre religião como um conceito, e não é um questionamento de uma religião ou outra em específico, como se pode pensar em uma leitura mais superficial.
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Daniela Dos Santos 11/07/2023

Confronta nosso ego
Esse livro é incrível. Confronta muito com nos que ficamos questionado o motivo de tanta coisas difíceis, almejando tanto o céus e esquecemos que vamos passar por tempos difíceis.
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Luzineide 28/06/2023

Nesta obra prima de C.S.Lewis o tema sofrimento está implícito em cada página.Por que sofremos? Estamos distantes de Deus?
São algumas das questões abordadas neste livro. A obra possui um caráter investigativo, pois levanta algumas perguntas muito relevantes como: o céu, o inferno, a bondade divina,a maldade humana, os animais, a queda do homem, o sofrimento humano, entre outros.
Mas também fala de uma defesa falaciosa dos ateístas em atribuir o problema do sofrimento a Deus.
Mas o Grande C.S.Lewis faz sua defesa afirmando que temos um Deus poderoso e zeloso por nós seres humanos.Sua, nossa esperança está no céu.
Com certeza mais uma obra prima que deve ser lida e deixada na cabeceira da cama.
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Ketlin.Chaves 12/06/2023

Para cristãos
Nessa obra, Lewis trata da questão clássica de muitos ateus sobre o mal e o sofrimento no mundo: Se Deus existe, sendo bom e todo-poderoso, por que Ele permite que ocorra tanta dor e maldade no mundo? Não bastava uma palavra dEle para secar toda lágrima? Por tratar desse dilema, o livro é fundamental para quem quiser obter mais base filosófica para argumentar com propriedade com os ateus.

E ele trata do problema, no contexto da natureza da onipotência e bondade divina, em contraste com a maldade do homem e sua Queda. Ora, o afastamento de Deus é, per se, o conceito essencial e origem de todo sofrimento, inclusive da natureza e dos animais. Já a aproximação de Deus é uma aproximação de nós mesmos, da forma como fomos criados e, portanto, da felicidade, no sentido de auto realização. Mas, quando a pessoa escolhe fazer a sua própria vontade, e não a de Deus, ela não apenas sofre, mas já vive o inferno aqui na Terra.

Então, o livro trata literalmente de «Deus e o mundo» e pega na veia da questão que está na raiz de tantas outras com as quais nos confrontamos na vida espiritual e nas conversas com os não-cristãos, tornando-se uma importante ferramenta, não apenas de crescimento espiritual, mas também, de evangelismo.
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spoiler visualizar
Joabe.Gileade 08/04/2023minha estante
Eu achei esse livro sensacional...ele forma uma dupla interessante com a Anatomia de um Luto


Pedróviz 08/04/2023minha estante
Anatomia de um luto é outro que vou providenciar logo.




Elaine Messias 30/12/2022

Filosofia cristã
Lewis avalia o dilema do sofrimento no mundo de maneira magistral, em passos lentos e delicados, possibilitando que vejamos com clareza uma das questões mais profundas da teologia: se Deus é bom e onipotente, por que não impede o sofrimento no mundo?
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Patresio.Camilo 16/10/2022

BOA LEITURA
Ler C.S Lewis, tem hora que é complicado. Pois ao resenhar, parece que se tem a obrigação de sempre o elogiar.
Mas neste livro, diga-se de passagem, uma leitura pesada, mas em tempos de romantismo do sofrimento se faz importante.
Apesar de sempre afirmar não ser teólogo, Lewis faz uma análise profundamente teológica e filosófica sobre o sofrimento.
Vale destacar dois capítulos que são extraordinários, o referente ao inferno e sobre o sofrimento animal. Nestes dois capítulos, Lewis é magistral.
Vale a pena a leitura, e com um bom marca texto ou post it para marcar, principalmente se você tem o hábito de falar em público, pois este livro traz muitos trechos que irão enriquecer qualquer aula ou palestra.
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Pazcovsky 20/07/2022

"Para o que mais os indivíduos foram criados, a não ser para que Deus, amando a todos infinitamente, ame a cada um diferentemente?
Deus criou: Ele fez com que as coisas fossem diferentes de Si Mesmo para que, sendo distintas, pudessem aprender a amá-Lo e alcançar a união, em vez da simples uniformidade."

É assim que Lewis finaliza seu livro, para nos mostrar que, apesar do sofrimento, nós fomos criados por Deus e, por isso, não podemos esquecer nosso valor, mesmo em meio à dor. Deus nos ama por quem somos, e é só isso que importa ?
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Rafaela1980 24/04/2022

Mecanismo de Defesa ?
Esse livro veio para complementar outro livro que estava lendo sobre o mesmo tema. De fato, sempre nos perguntamos sobre nossos sofrimentos, ninguém nesse mundo deseja sofrer. Mas Lewis nos faz refletir sobre a necessidade de existir sofrimento, não só no mundo, mas em nossas próprias vidas. Deus fala conosco por meio do sofrimento, não é nosso meio de comunicação favorito, mas com toda certeza é o meio onde mais estamos sensíveis para escutá-lo. Como o próprio Lewis ressalta: "Deus sussurra em nossos ouvidos por meio do nosso prazer [...] mas clama em voz alta por intermedio de nossa dor".
A maior aplicação para mim sobre a necessidade da Dor é quando eu a vejo em sua verdadeira face: "ela é nosso Mecanismo de Defesa". Sempre que nosso corpo sente dor nos emite um alerta de que algo está errado e precisamos ir em busca do motivo. Se não existisse o alarme um verdadeiro caos estaria instalado. E quem criou esse mecanismo tão fantástico? O próprio Deus!
A dor não pode ser subestimada, ela só precisa ser entendida.
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Aline 24/12/2021

Complexo e Profundo.
"O problema da dor" de C.S. Lewis nos presenteia com uma reflexão bastante intensa de uma das maiores dúvidas da humanidade: se Deus é bom, porque ele permite que seus filhos sofram?

Apesar da leitura difícil e da profundidade de informações expostas, o que pode tornar o texto um pouco cansativo para o leitor (recomendo uma segunda leitura), é inegável a importância dos temas destacados por Lewis e a forma como ele as conduz, é magnífica, levando em conta de que ele é "leigo" no assunto, como o mesmo alerta na introdução (é perceptível o desconhecimento teórico da teologia em alguns trechos).

Explorando desde a questão da onipotência de Deus, bondade e maldade humana, desde a queda, o inferno e o paraíso, Lewis consegue expor de forma bastante explicativa do porque sofremos desde o início dos tempos. Ele remete a uma reflexão sobre o fato de que a bondade de Deus é diferente da nossa e que a dor e o sofrimento podem ser um verdadeiro bálsamo para os seres humanos e para os propósitos próprios divinos e também, para nós aproximarmos do Criador.

Recomendo essa leitura para pessoas que necessitam de respostas sobre as questões do sofrimento humano, mas já aviso que é bastante complexa.
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Lucio 22/12/2021

A Paradoxal Bondade do Sofrimento

INTRODUÇÃO

Este é um livro que facilmente interessa a qualquer leitor, pois todos passamos por sofrimentos, dores e decepções, e a maioria das pessoas buscam a Deus justamente em função desses problemas. Temos, portanto, sob a pena de um genial pensador cristão, todo um tratamento de como lhe parece ser possível e razoável crer em Deus em face disso que parece se opor à crença. Em termos técnicos, esta é a teodicéia de Lewis.

RESUMO

Desde a antiguidade já se questionava o papel que a divindade teria em relação aos nossos padecimentos. Mais particularmente na modernidade foi recuperada uma observação bastante desafiadora que Epicuro teria feito, a saber, a de que Deus não poderia ser bom e onipotente se o sofrimento existe, de modo que um desses atributos devem ser negados ou sua existência, uma vez que claramente o sofrimento está presente. Este era um problema particularmente importante para o próprio autor em sua fase ateísta.
Para lidar com o problema, de início, Lewis nota que ele sempre esteve presente e que, portanto, não é um desafio contemporâneo à fé, mas algo que sempre teria se oposto a ela desde que o homem é homem. Não obstante, as religiões sempre floresceram e continuam a florescer. Isso demanda uma explicação, e nosso autor trata logo de apresentá-la a partir de quatro noções sobre a origem da religião. A primeira é simplesmente a do assombro, a reação diante do ‘numinoso’ que postula Rudolf Otto. Uma segunda origem estaria justamente na tendência humana de conceber seres divinos a quem os homens devem prestar contas. Finalmente, surge em Israel uma concepção divina que unia as duas formas de origem de religião, i. e., uma assombrosa realidade superior a quem deveríamos prestar não apenas nossa reverência, mas também nossa obediência. E, finalmente, Lewis postula a origem da religião no fato de que essa presença assombrosa e santa se manifestou na realidade não como mero mestre da moral, mas como quem reivindica para si a própria divindade (há aqui uma menção àquela bem conhecida argumentação do autor contra a perspectiva de que ele seria mero mestre moral). A religião, pois, surge apesar da dor.
Em seguida, Lewis se volta ao problema em si, para tentar demonstrar como nossa razão não precisa se ofender ao crer em Deus. E logo de início propõe revisar o conceito de onipotência para que não seja colocado como parte da argumentação cética. Lewis basicamente nota que o fato de Deus não poder fazer algo que seja ilógico não depõe contra sua potência, pois esta sequer é uma tarefa. E a questão ilógica em si é a de ele criar um mundo com criaturas livres em que não houvesse possibilidade de Queda.
Mas não é apenas o conceito de onipotência que deve ser precisado. Os conceitos de amor e bondade também. Nossa época, segundo nosso filósofo, tende a ver como o apanágio da virtude e do bem a mera benevolência, i. e., o desejo de que o outro esteja feliz. É verdade que o amor contém tal benevolência, mas não pode ser desassociado do bem, da justiça, do nobre e belo, nem da verdade. Portanto, o verdadeiro amor quer que sejamos felizes e bons - e, de fato, fora do bem não encontraremos verdadeira felicidade. Nesse sentido, o autor trabalha com quatro ilustrações bíblicas - a do amor de um artista por sua obra; do dono para com o animal; do pai para com o filho e do amante para com sua amada - para demonstrar como em cada caso o amor quer que o objeto de seu amor seja bom e que, para isso, não raro busca trabalhar nele seu caráter. Não poderia ser diferente em relação a Deus, de modo que o sofrimento são formas pelas quais ele nos burila e purifica.
É claro que a maioria das pessoas poderia pensar que isso seja desnecessário. É por isso que é preciso trabalhar um realista quadro da maldade humana para que as pessoas consigam enxergar a plausibilidade desta explicação. E é o que o autor se propõe a fazer. O autor trabalha, como um moralista francês, os subterfúgios que usamos para esconder nossa maldade e parecer a nós mesmos como boas pessoas, como a noção de que somos benevolentes sem que nada nos desafie nesse sentido, ou as noções de arrependimento coletivo e sociais. Lewis ressalta como a própria mensagem do Evangelho depende desse reconhecimento de nossa própria pecaminosidade.
Em seguida, o filósofo se põe a explicar a origem de tal estado corrompido da alma, e volta-se para a doutrina da Queda. O autor sugere interpretações mais profundas, mas prefere deter-se naquilo que é mais certo e pautado pela tradição, a saber, o fato de que ‘Adão’ pecou e isso, de alguma forma, acabou por nos atingir. Lewis nota como é difícil entender a preposição ‘em’ tanto nos pais como no próprio Novo Testamento, quando é dito que caímos em Adão. Certamente, isso significa que de alguma forma estamos envolvidos. Para o autor, tal envolvimento se dá pelo fato de que houve uma rebeldia inicial, qualificada pela recusa à autorrenúncia para a qual a alma se inclinava naturalmente, em função de vindicar o lugar do eu no trono que pertence a Deus, e a consequência foi uma deformidade tal na natureza do homem que praticamente uma nova espécie surge, sendo nós descendentes dela. É importante destacar, também, que nesse capítulo Lewis apresenta uma forma de concílio entre a teoria da evolução e o relato de gênesis, inclusive observando como o homem primitivo pode ter sido menos sofisticado do ponto de vista técnico e, ao mesmo tempo, mais sofisticado em sua inteligência e caráter.
Após todas essas considerações, o autor se volta, em dois capítulos, a analisar precisamente o sofrimento humano. E o autor aponta três aspectos pelos quais o sofrimento é, de certa forma, uma bênção. A primeira questão é que a satisfação e alegria podem nos fazer pensar que tudo está bem e que não precisamos nem nos arrepender de nossos pecados e muito menos buscar a Deus. Então, o sofrimento retira essas alegrias transitórias de cena para que o indivíduo se volte para si e para Deus para alcançar a verdadeira felicidade. Em segundo lugar - bem parecido com o primeiro -, o autor nos faz notar como as noções de autossuficiência e independência também são obstáculos à piedade e à verdadeira felicidade, e são quebrados por Deus pelo sofrimento. Por fim, nosso filósofo nota como o homem caído tende a agir, mesmo quando busca fazer o certo, em função de si mesmo, mas não por amor a Deus. Por isso, uma vez que no âmago da ação moral deve haver uma autorrenúncia, nossas ações moralmente aprovadas não podem existir sem que haja uma boa dose de desagrado - o que dá pontos para Kant. Por outro lado, o autor parece concordar que as práticas das virtudes tendem a torná-las cada vez mais palatáveis. Depois de expostas essas três explicações mais precisas para os nossos sofrimentos, o autor se coloca a dirimir algumas dúvidas ou confusões que possam subsistir. Por exemplo, ele nota, então, que o sofrimento de tal tipo é aquele que naturalmente ocorre e do qual não podemos nos evadir. Com efeito, esse sofrimento presume que ajamos normalmente, evitando as dores que pudermos evitar de modo lícito. Por isso, a doutrina do sofrimento convive com a busca de fugas legítimas ao sofrimento e formas de tentar melhorar o mundo para tentar erradicá-lo o quanto pudermos. Também merece destaque o fato de que não podemos ter esperanças de que o sofrimento que Deus mesmo promove se encerrará aqui, neste mundo, pois sempre haverá maldade e corrupção que demandam retificação.
Lewis, então, se volta a falar sobre o inferno. Ele confessa que é uma doutrina muito desagradável, mas logo nota como ela é razoável e corresponde ao que não poderíamos esperar que fosse diferente. Afinal, quando alguém obstinadamente prefere o mal ao bem e não renuncia a si mesmo, recusando-se até o fim, nada mais justo do que a punição de tal pessoa. O autor retoma rapidamente sua crítica às teorias humanitárias da condenação, que postulam punições sem merecimento, para rejeitar de vez qualquer oposição à noção de retribuição justa. Há uma interessante consideração sobre a renúncia do eu nos abrir para o mundo, enquanto que o egocentrismo nos fecha e, no inferno, somos finalmente levados ao enclausuramento de nós mesmos. Lewis também tenta responder a objeções a doutrina, postulando que ele não seria uma existência paralela à do céu, tem cronológica nem espacialmente.
Além do inferno, é claro, há uma menção ao céu, como parte essencial de uma teoria cristã sobre o sofrimento. Lewis argumenta que o desejo pelo céu perpassa toda a nossa experiência de vida como se fosse uma nostalgia, e que é justamente por isso que não podemos desfrutar com contentamento total as experiências desta vida. O autor também postula que há em cada alma uma visão singular de Deus, que se expressa diante dos demais para compartilhar de sua perspectiva única, e que o céu, portanto, guarda um lugar meticulosamente feito para cada alma se regozijar e todas formarem uma sinfonia de louvor a Deus.
O livro ainda conta com um capítulo destinado a refletir sobre o sofrimento animal. Lewis admite o quão pouco podemos afirmar a esse respeito, posto que Deus mesmo não nos revelou materiais o suficiente para versarmos com propriedade sobre o assunto. Entretanto, o autor oferece algumas conjecturas. A primeira é a de que os animais, não tendo consciência, mesmo entre os sensíveis não sofrem tal como imaginamos. O autor segue observando que talvez a crueldade que se encontra entre eles tenha se originado em uma atividade corruptora de Satanás, e que a domesticação seja uma forma de redenção que o homem tem a tarefa de produzir. Por fim, Lewis ainda desenvolve a teoria de que a personalidade dos animais surge com a boa domesticação, e que talvez a ressurreição dos animais se restrinja a esse contexto.

AVALIAÇÃO CRÍTICA

Embora tenhamos algumas críticas à obra e ao raciocínio como um todo que ela enseja na argumentação, podemos perfeitamente apreciar partes dos argumentos de forma independente e até como elementos que se encaixam em outras formas de teodiceia. Da mesma forma, podemos apontar o problema do argumento como um todo voltando-se para as partes que o compõem. Isso não quer dizer que a perspectiva que Lewis abraça não seja capaz de lidar com o problema ou mesmo que o filósofo não faça contribuições valiosas para essa perspectiva. Dito isso, podemos ir às críticas.
A primeira que queremos observar é a de que a explicação da Queda não conseguiu evadir-se às objeções humanistas feitas à teoria da imputação. De todo modo, o ato que ensejou a Queda acabou se refletindo nos homens que dali em diante surgiram. É essa a questão que demanda reflexão filosófica. Lewis tenta fugir dela, mas sem sucesso.
Há outro problema que o filósofo não trata. A ideia de que a liberdade implica no risco da Queda não faria com que o próprio “céu” (estado final) pudesse ser novamente corrompido? A propósito, esse próprio estado final é colocado como céu, mas há pouca ênfase à ressurreição e a visão do céu bem como do inferno, em alguns momentos, é bastante desumanizada - no sentido de não parecer uma fruição de um homem ressurreto e vivo, e sim de uma alma. Aí encontramos problemas também, quando Lewis fala do inferno como algo distinto de um prolongamento temporal, e concede aos mesmos humanistas que negam a plausibilidade e racionalidade da clássica teoria da punição retributiva a ideia de que não poderíamos suportar o fato dos maus e o mal em si estarem sendo severa e eternamente punidos. Esses últimos aspectos, no entanto, podem ser perfeitamente contornados sem causar maiores danos ao argumento como um todo.
Incomoda-nos, também, a pouca ênfase dada à soberania de Deus, embora em algumas porções encontremos excelentes momentos para que ela se encaixe. Mas o assunto, em si, não é abordado. Lewis prefere evadir-se dessa perspectiva mais ‘metafísica’ para abordar a questão de uma forma mais vivencial. Entretanto, em alguns momentos precisaríamos disso. É claro, temos o autor tratando da questão metafísica em outros lugares, como no CPS ou mesmo no DnBR. De todo modo, valeria o autor mencionar que não lidaria com essas questões aqui, quem sabe até mesmo nos dando uma explicação para isso.
Há ainda outro problema metafísico que o autor não trabalha. Não seria intrinsecamente impossível que Deus criasse criaturas cuja liberdade trouxesse alguma novidade ao seu conhecimento? Poderia Deus correr riscos, como o autor tantas vezes assume? Isso não se oporia à sua onisciência, bem como proporia uma noção de autonomia ontológica para as coisas?
Por outro lado, de positivo é possível destacar igualmente muitos aspectos. Por exemplo, independente de como Lewis explica a origem do mal, suas considerações sobre como a maldade humana é obliterada em nossas mentes modernas e como isso faz com que nos rebelemos contra Deus são muito interessantes. É digno de menção, também, como Lewis explica nosso sofrimento como formas de Deus nos desiludir das falsas alegrias e falsas seguranças que usualmente experimentamos por alguns momentos e que nos afastam de Deus. Mais significativo ainda é como o autor vincula a negação do egocentrismo à origem da virtude e da piedade, bem como a forma como ele relaciona o enclausuramento do eu ao próprio inferno! Essas são, certamente, reflexões muito profundas e úteis. O paradoxo do louvor ao sofrimento e a busca por saná-lo também encontra aqui uma ótima resolução. O filósofo também é muito sagaz ao questionar nossas concepções levianas sobre o amor, o qual costumamos conceber como pura benevolência. Lewis também é muito criativo ao buscar conciliar a evolução a Gênesis. É claro que é um trabalho mais rudimentar, mas há excelentes insights originais aqui. Apreciamos, também, a questão da singularidade da perspectiva experiencial de cada um em relação a Deus.

REFERENCIAL TEÓRICO

Lewis mesmo admite não ter feito uma vasta pesquisa sobre o assunto. E a maioria das referências nem mesmo dizem respeito a investigações sobre o tema. Lewis se vale de William Law e Hooker, por exemplo, para propósitos alternativos. Aqui e acolá, Platão e Aristóteles são mencionados, bem como, sem o mencionar pelo nome, Darwin - ou, pelo menos, os darwinistas. A tradição cristã de uma maneira geral e as Escrituras certamente são influências importantes. Montaigne e Pascal também são mencionados. E assim por diante, alguns autores aparecem de forma bastante tímida. O filósofo não deixa transparecer claramente o vínculo de suas idéias. O texto não está formatado de forma acadêmica, de modo que não há preocupação com tais identificações.

RECOMENDAÇÃO

Embora, como observamos, Lewis se prive de adentrar reflexões metafísicas mais técnicas e teóricas, não deixa de tecer profundas reflexões, inclusive de cunho metafísico. Por isso, a obra pode encontrar barreiras no desenvolvimento da leitura de pessoas com menos treinamento filosófico - e que queiram levar a sério cada argumento apresentado pelo autor. Não obstante, ainda que essas porções não sejam devidamente consideradas, há muitas porções mais acessíveis e que são extremamente edificantes - dentre elas, algumas das que mencionamos na parte positiva da crítica. Como o tema é de interesse universal, o livro pode ser útil para todo mundo. Apologistas e filósofos da religião que querem ouvir uma abordagem mais libertariana encontrarão aqui um expoente genial. Mas filósofos morais, analistas da natureza humana, bem como do drama humano e da existência, lucrarão com a leitura. Quem lida com aconselhamentos e afins também poderão extrair lições valiosas da leitura, tanto para si quanto para aqueles que receberão suas instruções e conselhos.
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