de Paula 07/11/2022
De café da manhã a bolos de natal
Há muito tempo eu queria ler este livro que é a base de uma das histórias mais famosas do cinema, mas também por ter lido em outros livros o amor de certos autores por ela, como em O segredo de Jasper Jones. Outro motivo da curiosidade foi o autor, sendo um dos expoentes do jornalismo investigativo, é o mesmo homem que escreveu a história de uma das prostitutas mais famosas de Hollywood, embora, acredito que o filme não revele isso (ainda não assisti).
Para quem não sabe, o livro da Companhia das Letras traz o texto da Bonequinha de Luxo, juntamente com outros 3 contos, por isso, saiba que as histórias não são interligadas, o que eu fiquei encasquetada até perceber que não tinha conexão. A primeira narrativa conta como a jovem Holly vivia em Nova Iorque, cercada por homens, vivendo sem trabalhar e sonhando com coisas fora do seu alcance. De uma vida dura e a companhia de um irmão com alguma questão psicológica, ela se virava na grande metrópole como podia e tinha aprendido desde nova, não sendo o sexo um tabu nem ser sustentada por meio dele. É a famosa femme fatale das histórias escritas por homens, o que me incomodou bastante sobre a forma como as mulheres são vistas e por mais debilitadas e quebradas, continuam a endeusar e sexualizar, como uma única função. Não podemos nos enganar sobre a forma livre que a personagem pensa e vive, já que tudo é contado sob a ótica de um dos seus fãs mais fiéis e que a adora por sua liberdade e beleza. É uma boa história, mas sinto que seja mais do mesmo, uma visão masculina já batida (talvez desde Dom Quixote).
Os contos que sucedem são bons, o primeiro conta com uma história semelhante a de Holly, uma jovem que só conhece a violência e o sexo como forma de viver e acaba se apaixonando por um homem que é servil a sua avó, uma feiticeira em meio as matas do Haiti, onde se passa o conto. A jovem passa por várias outras violências a ponto de ser amarrada numa árvore para ser punida. Mesmo assim, como tantas que passam pelo mesmo, não consegue se libertar. A forma como tudo é contado deixa leve a violência a qual a personagem é submetida, deixando claro porém, as formas como esta ocorre.
O segundo conto é sobre um velho em uma prisão e como ele foi ludibriado por um jovem, pelo qual chega a pensar seu amante, sem sexo. É um bom conto, mas, dispensável. Ao contrário da última história, que me fez chorar como o capítulo da Baleia em Vidas Secas. É a história de uma senhora e um menino de sete anos, que são amigos e vivem suas aventuras em um lugar no interior, uma vida bem simples e ao mesmo tempo tocante. Não vou falar muito sobre porquê para mim a leitura desta obra vale por essas poucas e pungentes páginas. Daria 3 estrelas pelo conjunto da obra, caso não houvesse o conto dos bolos de natal e a inocência dos personagens.
Vale bastante a leitura, mais pelo último conto do que a própria novela de título, porém é uma boa forma de conhecer a obra do autor.