Geração Subzero

Geração Subzero Raphael Draccon...




Resenhas - Geração Subzero


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Vladia Castro 18/08/2019

Geração Subzero- 20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores (Organização: Felipe Pena) 🌟🌟🌟🌟
Contos de 20 autores q são aclamados pelos leitores mas q não são tão visualizados pela crítica. Eu particularmente já li livros de 3 deles. E gostei bastante da grande maioria dos contos q eu li!! #geraçãosubzero #editorarecord #felipepena
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Kizzy 27/02/2019

Um exercício que vale a pena
Vou iniciar a resenha falando do projeto. O primeiro atrativo do livro para mim, foi exatamente seu subtítulo que revela o objetivo da obra. Adoro literatura nacional e sempre me interesso por conhecer novos nomes, principalmente autores de fantasia, um tipo de literatura que ainda temos tradição muito mais internacional. Nesse projeto, no entanto, o critério de escolha dos textos da coletânea também me chamou bastante atenção.

Existe, com toda certeza, um caminho de contrastes entre críticos e leitores em todas as artes. Não julgo que esse caminho seja excludente, julgo apenas que os dois recortes devem ser respeitados. Acho importante e prazeroso ler, ou as vezes tentar ler, os escritores mais técnicos e clássicos. Buscar entender suas correntes literárias e as vezes apenas apreciar a forma como constroem um texto. Mas simplesmente não abro mão de ler, consumir e admirar autores que têm forte apelo popular e que sabem, alguns de forma invejável, se comunicar com o seu leitor e fazer sucesso comercial com qualidade de conteúdo.

Fazer uma coletânea de contos de autores “congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores”, me pareceu muito divertido e original. Comprei a ideia na hora. O resultado da leitura foi muito positivo. Foi possível conhecer novos autores de quem eu nunca tinha lido nada, conhecer também abordagens de literatura de fantasia que eu não tenho familiaridade porque não são do meu gosto mesmo, tais como, fadas, dragões e até ficção científica e também apreciar bons contos pelo simples prazer de ler.

Sobre alguns autores que me chamaram atenção vou começar por uma das mais famosas que estão na obra: Thalita Rebouças. Nunca tinha lido nada dela, simplesmente porque os temas dela não me são caros. Adolescência, temas infanto-juvenis, maternidade, nada disso conversa comigo, e só por isso não tenho ciência da obra dela. Mas é impossível não conhecê-la. Thalita é um fenômeno. Recordista de vendas, uma máquina de escrever, tem filme, tem peça, faz programa de televisão, ou seja, é tudo aquilo que os críticos costumam não gostar. Mas quer saber, eu gostei do texto. Eu não sou crítica de literatura para julgar com propriedade a qualidade textual de ninguém, mas acho importante e necessário que tenhamos sim, autores celebridades. Fico feliz que Thalita seja uma, pois, dentro das minhas limitações de leitora, achei o texto muito bem escrito. O conto sobre maternidade traz bons elementos descritivos, a narrativa é bem construída também, o texto flui e interessa. Não é difícil entender porque os adolescentes gostam tanto de sua obra.

Destaco o conto “o escritório de design probabilístico” de Delfin. Para mim o melhor conto da coletânea. Criativo, ágil, bem escrito e original. Me chamou atenção por ser um tema que não é dos meus preferidos, e ainda assim me manter interessada do início ao fim. Também adorei “O cão” de Juva Batela, um enredo simples e um texto eficiente e cativante, resultando em uma narrativa emotiva e surpreendente. “Ao cortar dos cordões” de Estevão Ribeiro que cria uma lenda urbana muito bem escrita e tensa, e “Entrevista com Saci” de Martha Argel que aborda uma releitura de um personagem importantíssimo do folclore brasileiro, aliás folclore brasileiro é algo que precisa ser muito mais abordado na literatura de fantasia.

Estava empolgada para ler algo do Raphael Dracon depois de muito ouvir falar sobre o autor, e por saber que a fantasia que ele cria é bem alinhada com os temas que eu gosto de ler. Mas infelizmente não gostei do “O Primeiro dragão”. O conto é uma coletânea de clichês, uma aventura de RPG previsível e com elementos descritivos pobres e vocabulário forçosamente exagerado. Pode ser que seja esse texto em si, mas o conto não me empolgou.

Vou me abster de falar de André Vianco e Eduardo Spohr pois esses sim são autores que tenho muito mais familiaridade com a obra e textos que sempre me empolgam muito. Seria falar mais do mesmo, realmente sou fã dos dois. Mas, para além dos conhecidos, vou realmente procurar algo mais para ler de Luiz Brás, que escreveu o conto futurístico “O índio no abismo sou eu”, retratando sentimentos e elementos descritivos com uma arte incrível e de Helena Gomes que simplesmente me encantou com seu “Para sempre em um dia”.

Termino parabenizando o trabalho de organização e edição da obra. Não só trazendo autores brasileiros à luz e nos lembrando que há sim produção nacional de fantasia, mas representando diferentes temas dentro dessa linguagem literária. Nessa coletânea tem para todo gosto. Aventura de RPG, Dragão, Fada, Vampiro, Personagens folclóricos, Ficção científica. O Brasil produz literatura e além de reverenciar autores consagrados, é necessário sim, que academia reconheça a importância da literatura popular e do mercado editorial na construção da cultura e educação da população.
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Rahmati 27/06/2014

Excelente iniciativa
Uma das coletâneas que eu mais queira ler era a Geração Subzero: 20 Autores Congelados pela Crítica, mas Adorados pelos Leitores, organizada pelo jornalista, escritor e professor Felipe Pena e publicada pela editora Record. Outras que certamente estarão em minha estante são a Solarpunk, as Imaginários, as Space Opera e a Fantasias Urbanas, além das que eu já tenho Year's Best SF8, que não foi lançada aqui no Brasil, tratando-se de uma pesca dos melhores contos de FC publicados nos EUA no ano de... sei lá, no passado, e a Wild Cards, compilada pelo serial killer George Martin.

Felipe Pena organizou esse livro com base em outro, onde foi-se definida a "geração 00" da literatura, os "melhores" escritores surgidos no Brasil depois da virada do milênio, num esforço elitista ridículo. Ele, então, criou o trocadilho da geração subzero, dos autores congelados pela crítica especializada. Ele mesmo, ainda, garante que não é uma antologia, não é uma seleção de "melhores" ou qualquer babaquice dessas, mas apenas uma seleção de contos dos autores que estão sendo falados pelas internets da vida. Assim, temos um conto de praticamente cada gênero possível, tão variados em suas estruturas quanto em suas qualidades.

Assim sendo, vou deixar meus breves comentários - atenção ao itálico - sobre o que achei ou senti sobre cada um dos contos.


1. O Cão, de Juva Batella. Um conto humorístico, light, bom pra começar de forma despretensiosa, como o organizador se propõe. Bem escrito. Não conhecia o autor antes, mas agora estou aberto e lê-lo novamente. 3/5.

2. Cristais de Prata, de Pedro Drummond. Esse eu achei muito bom, de verdade. Gostei da revelação do final, um conto mais longo bem construído, exemplar mesmo. 4/5.

3. A Canção de Maria, de André Vianco. Nunca gostei do estilo de escrita do Vianco, e não foi dessa vez que mudei de opinião. Sequer acabei de lê-lo. Compreendo a importância do autor, foi ele quem abriu as portas da literatura fantástica no Brasil, mas não é pra mim. 1/5.

4. Na Maternidade, de Thalita Rebouças. Apesar de nunca tê-la lido, já sabia da qualidade da autora. Um conto curtinho, realista e simples, e demonstra a habilidade da autora em se colocar na pele de um homem. 4/5.

5. Fogo e Trevas, de Eduardo Spohr. Outro que não é pra mim. Acho a escrita dele muito empolada, muito cheia de clichês, e esse conto não apresentou nenhuma emoção pra mim. Também é um autor essencial na crescida da fantasia no país, mas... Enfim. 2/5.

6. O Índio no Abismo Sou Eu, de Luiz Bras. Esse autor eu já tinha lido sobre, e que ele era foda. Só não imaginava que era tão foda assim. Sinceramente, o melhor conto do livro. Até adquiri um livro do Bras, o Paraíso Líquido, uma coletânea de contos dele, depois de ler essa obra-prima da ficção científica. 5/5.

7. A Filha do Diabo, de Luis Eduardo Matta. Já conhecia o autor pelo podcast Ghost Writter, mas nunca tinha lido nada dele - assim sendo, fui surpreendido positivamente. É um conto muito divertido, meio terror, meio suspense, e com um final interessantíssimo. 4/5.

8. Dê-me Abrigo, de Sérgio Pereira Couto. Um conto interessante. Sem muitas emoções, pelo menos pra mim, mas valeu a leitura. 3/5.

9. Ao Cortar os Cordões, de Estevão Ribeiro. Esse é curioso. Instigante, meio maluco, e acho que foi por isso que gostei. 4/5.

10. O Primeiro Dragão, de Raphael Draccon. O estilo do autor é bem próprio dele, e devo admitir que não consigo me acostumar 100% com ele, parece que não consigo imergir completamente na história. O estilo chama mais a atenção do que a trama, e acho que isso não é exatamente positivo... De qualquer forma, é um conto que se passa no meu amado mundo de Arton, do cenário brasileiro Tormenta, e acaba sendo, no final das contas, um conto muito bom. 4/5.

11. O Preço de uma Escolha, de Ana Cristina Rodrigues. Um conto policial num futuro típico de ficção científica. A ambientação é interessante, mas a trama não me trouxe muitas emoções, além de ter sido meio clichê. 2/5.

12. Polaco, de Julio Rocha. Esse conto é muito divertido! Curtinho e eficiente. Parabéns pro autor. 4/5.

13. Para Sempre em um Dia, de Helena Gomes. Gostei muito desse também, tem uma aura de A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça muito gostosa de se imergir. É bem possível que eu procure algo mais da autora. 4/5.

14. Outra Vez na Escuridão, de Carolina Munhóz. Confesso que comecei a ler cheio de preconceitos, mas me impressionei. A escritora é realmente muito boa, e suas fadas não parecem nada com o que se pode imaginar desses seres. Parecem seres saídos dum conto de Lovecraft, quase. E a revelação de sobre o quê se trata o conto é muito legal! Eu descobri - ou pelos menos supus - já pelo meio do conto, mas o finalzinho é perfeito. 4/5.

15. A Sabedoria de Clementina, de Vera Carvalho Assumpção. Um conto interessante, mas temo não poder dizer que o achei muito mais do que isso. Poderia dizer que é bom até; sua trama é interessante. 3/5.

16. Entrevista com o Saci, de Martha Argel. Gostei muito desse; criativo, inventivo, reinventivo - e se essa palavra não existe acabo de inventá-la - e bem escrito. Quase uma fábula, ou uma fábula sem o quase. Só não dou uma nota maior porque tenho que pôr o conto do Luiz Bras acima dos outros. 4/5.

17. Outras Onomatopeias, de Janda Montenegro. Confesso que não entendi bem esse, e se entendi, não curti muito. 2/5.

18. O Escritório de Design Probabilístico, de Delfin. Esse é muito inventivo! Aliás, com um nome desse, a probabilidade de ser um conto legal era muito alta, e se confirmou! Instigante, e o final é excelente. Queria a continuação dele em um romance, hehe. E procurarei mais coisas do autor. 4/5.

19. Um Chá com Alice, de Eric Novello. O romance Neon Azul do autor já está na minha lista de "quero ler" somente pelos bons comentários sobre ele, e, definitivamente, continuará lá. É um conto tão maluco e interessante quanto a obra original de onde a personagem foi retirada. 4/5.

20. A Lua é uma Flor sem Pétalas, de Cirilo S. Lemos. Outra boa surpresa, ótimo para finalizar o livro. Um futuro distópico, uma ficção científica crua e bruta, e, infelizmente, bastante realista. O mais longo do livro, e mereceu seu posto de encerrador dessa coletânea. 4/5.


Como média, a nota final foi 3,45 num total de 5, mas o resultado final, residual, me parece tão positivo, elencar todo esses autores bons e relevantes que vou arredondar a nota para cima. Vale, sem dúvida, cada centavo e cada minuto gastos na coletânea - e, claro, suas avaliações podem ser (e provavelmente serão) bem diversas das minhas.

Então, sr. Felipe Pena e editora Record, fico aguardando o Geração Subzero 2, ok?

site: www.oblogdorahmati.blogspot.com.br
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Fred 28/10/2013

Os queridinhos dos leitores ganham (mais) espaço
É preciso deixar a ingenuidade de lado para ler o comentado livro Geração Subzero. Não que essa coletânea de contos seja exigente demais para uma leitura qualquer – muito pelo contrário. Cabe então explicar o grande mote por trás desse livro organizado pelo escritor e professor de literatura Felipe Pena que, incomodado com automática (e muitas vezes cega) canonização de autores por parte dos críticos, aceitou o desafio de fazer jus a outros “autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores”.

Eis aí o que pode ser o primeiro problema. Num país cujo gosto pela cultura ainda precisa se amadurecer, como podemos observar na música e nas bilheterias de cinema – para citar os gêneros mais populares do país – como lançar foco nos autores favoritos dos leitores? É o mesmo que dar mais atenção aos lixos instantâneos que tocam nas rádios só porque já vemos crítica suficiente em torno dos discos dos artistas clássicos da MPB. O que dizer, então, sobre a literatura?

Leia mais aqui:

site: http://cantodoslivros.wordpress.com/2012/08/06/os-queridinhos-dos-leitores-ganham-mais-espaco/
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Interaubis 15/01/2013

Geração Zubzero, uma resenha franca
Concordo com vários pontos do Manifesto Silvestre citado no prefácio pelo organizador Felipe Pena. Mas complemento que além de contar uma boa história a literatura tem que, de alguma maneira, transcender o texto. É inexplicável isso o que literatura faz no leitor. Ou acontece essa conexão que o leva além do texto ou é inútil fingir que se acredita naquilo que se lê. Quando a literatura é bem sucedida em permitir minha imersão imediata no universo proposto, se o texto me conquistou ou se me incomodou por suas qualidades (incomodar pelos defeitos não vale!), em resumo, se a escrita atingiu o seu objetivo de transmitir idéias e sentimentos da cabeça do autor para a minha sem que a estrutura de sua composição tenha gerado ruídos nesta transmissão. É meio assim que eu julgo o que leio.

Desta coletânea de subtítulo propositalmente pretensioso alguns autores eu já conhecia e admirava. Outros eu conheci através dela. E como acontece com qualquer coletânea, o resultado é irregular.
A diversidade de propostas na coletânea mostra que muita coisa vem sendo escrita e publicada ultimamente, o que é muito bom.
O que não é bom é que muitos autores talentosos e que vejo sendo festejados pelas redes sociais me pareceram desperdiçar seus talentos com textos preguiçosos e apressados.
Ou são pessoas que escrevem bem mas não tem simplesmente nada a dizer. Ou ainda autores superestimados e que se contentam em serem aplaudidos apesar de seu texto que merecia uma autocrítica profunda.
E alguns autores precisam mesmo é de muito mais leitura de bons livros e de autocritica sobre o próprio trabalho.

A seguir destaco com breves comentários genéricos e sem spoilers os textos que mais me ativaram esses momentos de epifania literária:

O cão, Juva Batella
Uma idéia muito boa e bem desenvolvida. O elemento fantástico que impulsiona o texto se resolve com maestria no momento em que a história se completa.

O índio no abismo sou eu, Luiz Bras
Luiz Bras é hors-concours: não publica nada que não valha a pena ser lido. Essa fábula futurista é memorável em todos os sentidos.

Ao cortar os cordões, Estevão Ribeiro
Uma idéia bem desenvolvida de um autor talentoso. A história poderia ser uma lenda urbana.

Para sempre em um dia, Helena Gomes
Não conhecia esta autora mas fiquei com a impressão que ela escreveu a história que a Ana Cristina Rodrigues gostaria (ou poderia) de ter escrito. O texto me impressionou pela qualidade narrativa e sobretudo pelo inesperado universo medieval proposto e a fusão do fantástico de maneira talentosa.

Entrevista com o saci, Martha Argel
Uma releitura do saci, um personagem importante na cultura brasileira que vem sendo esquecido com o crescimento da culura urbana. Uma homenagem a um personagem partindo da memória como chave da sobrevivência contra o tempo.

O escritório de design probabilístico, Delfin
Um dos textos mais interessantes do livro. Desafiador e original. Um exercício sobre os limites dos brainstormings e da criatividade coletiva.

A lua é uma flor sem pétalas, Cirilo S. Lemos
Outro autor que tudo o que eu li até agora achei ótimo. Este conto é uma complexa fantasia descrevendo um provável Rio de Janeiro futurista do ponto de vista da marginalidade com seus cyberbailes comercializados via rede, suas megacorporações e tensões políticas. Tudo em uma medida totalmente verossímil.

Ana Cristina Rodrigues
Eu gosto muito de tudo o que eu já li da Ana mas esse texto ficou aquém das minhas expectativas e das capacidades criativas da autora. O texto se arrasta em uma tentativa de criar um universo que não se sustenta. Creio que faltou apenas tempo de trabalho sobre o conto para que ele atingisse a forma que a autora gostaria e que o conto merecia. A idéia é boa mas não coube no espaço proposto.

Eric Novello
A idéia de uma Alice em terapia é ótima e o Eric consegue fazer um texto leve e divertido apesar do elemento sombrio pairando sempre por perto.

Os outros que eu tentei ler não me causaram nenhuma empatia. Ou me pareceram forçados na construção do texto ao simularem uma escrita que não dominam ou foram apenas irrelevantes para mim.


São eles:

Camila Munhóz
A idéia do conto é boa, os personagens são interessantes e apesar da imaturidade evidente é óbvio que a autora tem potencial para a fantasia. Mas o ritmo dentro dos parágrafos se repete e se repete e repete em uma curva que tem sempre o mesmo desenho tornando o texto monótono. Li até o final porque me propus a ler todos os contos da coletânea caso contrário teria simplesmente abandonado quando o ritmo me cansou, logo no início.


Raphael Draccon
Não gosto quando um autor força um estilo rebuscado sem ter domínio suficiente do texto para isso. Também fica pesado e afetado quando o texto abusa de frases com uma só palavra na tentativa de criar impacto dramático. Isso talvez funcione uma vez em um conto. E ainda assim quando é muito bem feito. Nesse texto ficou repetitivo e enfadonho contaminando a minha percepção e o meu julgamento.
Mas o autor é tão elogiado por aí que vou procurar outras coisas dele para ver se não foi apenas um conto infeliz.


Eduardo Spohr
Confesso que minha falta de empatia com esse texto se deve mais a mim mesmo do que ao texto. As qualidades narrativas do autor são inegáveis. Eu é que não me encontro nesse universo estilo game/RPG/medieval cheio de cenários e missões e um time de seres fantásticos com todas as suas pequenas características. Falha minha. Pra quem gosta disso o texto deve ser ótimo.


Thalita Rebouças
Pra mim é mais ou menos o mesmo caso do Spohr. A autora tem domínio da narrativa e o seu conhecido sucesso é merecido. Mas pra mim o texto merece apenas um enorme "e daí?" quando termina de dizer a que veio.


André Vianco
Não sei bem o que dizer, mas este texto é outro que não me conquistou com suas reviravoltas que dão meio em lugar nenhum. O autor têm muitos fãs mas eu infelizmente não sou um deles.



É isso. Acho que esqueci algum, me desculpem mas se eu lembrar e achar relevante, publico. Acho importante o exercício da sinceridade crítica e creio que isso contribui para a evolução da boa literatura no Brasil.



Daniel Seda
Dezembro, 2012



Rafael 24/12/2012minha estante
No caso do André Vianco, Eduardo Spohr e Raphael Dranconn, vale MUITO a pena buscar as obras principais de cada um, com certeza é ali que se destacam respectivamente: Os Sete, A Batalha do Apocalipse e a Trilogia Dragons de Eter, todos simplesmente fantasticos na minha opinião, da uma conferida só, abraço!




Lina DC 10/11/2012

Vou começar comentando que eu adorei o livro, simplesmente devorei de tão maravilhoso que é. O problema é contar algo sobre ele sem fazer spoiler. Então se a resenha ficar muito vaga, peço desculpas antecipadamente. Logo de início o Felipe Pena fez uma pequena introdução, que explica o porque do livro, quais foram os objetivos, como surgiu a ideia e muito mais. Resumindo, a ideia desse livro é simplesmente proporcionar o gosto pela leitura, sem discutir, debater ou argumentar o que seria ou não uma boa leitura. Eu digo que uma boa leitura é aquela que proporciona prazer ao leitor, independente de ser uma tirinha do jornal, uma revista de atualidades, um livro técnico, um livro de autor famoso ou desconhecido. Se você tem em mãos uma leitura que te agrada, logo ela vai te estimular a continuar lendo, abrindo os seus horizonte e ajudando você a descobrir novos mundos, personagens e muito, muito mais. Por isso afirmo que esse livro cumpriu o objetivo no meu ponto de vista. As histórias que esse livro contêm me fizeram rir, chorar, me divertir e até mesmo me assustar um pouquinho e ainda por cima conheci um pouco mais sobre cada autor (antes de começar a história tem uma biografia resumida deles) e descobri autores que adorei e não conhecia anteriormente.
Eu sei que essa resenha ficou curta, mas a única proposta que posso fazer para vocês: leiam geração subzero, é muito bom!
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Angel* 19/09/2012

Ah! O preconceito! Quão melhor seria o mundo sem ele! Presente em tudo quanto é canto ele também está no meio literário. Ou será exagero fazer tal afirmação?


Geração Subzero é uma coletânea de contos de autores “congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores”. Esse livro, segundo o seu Organizador, Felipe Pena, é um manifesto daqueles que consideram que leitura também é entretenimento - definição não aceita por alguns críticos literários.


Na Comunidade Resenhas Literárias (CRL), desde a sua criação no Orkut em 2007, muito já foi falado sobre isso. Se as escolas oferecessem livros com boas histórias que proporcionasse prazer e não obrigação as crianças e os jovens leriam mais. É unanimidade nos tópicos que abordam esse assunto que a leitura rebuscada não atrai a atenção de um leitor tanto quanto aquela que é leve e lhe permite dar asas à imaginação sem muitos mais e porquês, além de acrescentar, de uma forma ou outra, algo para ele. Todo livro sempre acrescenta algo, né não? Nem que seja o registro para nunca mais gastar o nosso rico dinheirinho com livros daquele autor...rs...


A coletânea:
Geração Subzero reuniu contos que são um verdadeiro deleite para quem gosta de uma boa leitura, apostem nisso! E pra que tenham uma ideia...


Cristais de Prata de Pedro Drummond me encantou! Tem um final surpreendente, me emocionou demais, demais. Menino, sua forma de trabalhar com as palavras é um regalo para mim. Aprecio sobremaneira. Parabéns! :)


André Vianco com seu conto A Canção de Maria me impressionou muito. Acho tocante a forma como Vianco descreve o sobrenatural. Suas histórias com crianças são belíssimas, sempre me enredam. :)


Para Sempre Um Dia de Helena Gomes é um conto belo, apesar de triste, poucas vezes durante uma leitura senti um desejo enorme de ser uma personagem dona de um super poder para interferir na história (sorte sua, menina,isso não iria prestar...rs...). :)


O conto de Thalita Rebouças, Maternidade, me deixou aflita, ora indignada pelo comportamento de Armando, mas, sobretudo, me fez “encarnar” o dito cujo. Gostei demais! :)


Parabenizo os demais autores que escreveram seus contos de forma tão cativante quanto os comentados, claro, alguns sempre agradam mais e outros, menos. A escolha destes se deu pelo fato de eu já ter lido outros livros desses autores o que me permitiu comentar com mais propriedade. Espero em breve ter o prazer de conhecer outros trabalhos seus.


Um trecho da orelha do livro (adorei!):
“Os autores desse livro cederam seus direitos autorais para a ONGLer é dez, leia favela, que forma leitores no Complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Como Silvestre da Silva, personagem de Camilo Castelo Branco no livro Coração, cabeça e estômago, os escritores da Geração Subzero colocam a cara na vidraça e esperam pelas pedras e flores. Mais pedras do que flores. Os trocadilhos vão causar indigestão e os intelectualismos, cefaleia. Mas o coração não será atingido.”


Pena, Drummond e demais autores recebam de minha parte muuuuiiiiitas flores, tenho certeza que esse livro será um marco importante nesse movimento de trazer para o leitor aquilo que o agrada e não o que uma minoria acha que deve agradar. Parabéns, de novo, a todos vocês!


Pessoinhas queridas, livro recomendadíssimo, não deixem de ler, tenho certeza que vão apreciar a leitura.


bj da angel ;)





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Antonio Luiz 28/08/2012

Uma antiantologia
"Geração Subzero" é uma coletânea formada por critérios curiosos. O organizador, o professor, escritor, jornalista e roteirista Felipe Pena, assume que não é uma antologia, porque seus vinte contos e autores não têm a pretensão de figurar entre os melhores de sua geração ou estilo. Segundo ele, observou nomes comentados em redes sociais, blogs e discussões visando o prazer da leitura e ouviu os signatários do Manifesto Silvestre, (grupo que defende enredos ágeis e cativantes e que o autor deve se esforçar pela disseminação de sua obra, o que significa se envolver com a distribuição, o marketing) e não se preocupou com julgamentos estéticos, mas apenas com refletir as escolhas dos leitores leigos, mesmo que elas contrariassem meus próprios juízos de valor Francamente, é inverossímil e soa como pedido antecipado de desculpas. Que leitores leigos? Todos os milhões deles? Apenas aqueles que decidiu ouvir, é claro.

O resultado desse processo ficou bem irregular, cheio de altos e baixos. Alguns contos são excelentes, mas outros, muito ruins, mesmo dentro de uma proposta de entretenimento despretensioso. É interessante notar que, embora haja exceções, os melhores contos tendem a ser dos autores menos conhecidos, daqueles cujos nomes aparecem na capa em letras menores. Alguns dos supostos puxadores de vendas, aqueles que aparecem mais destacados (e que presumivelmente exemplificam autores que se envolvem com a distribuição e o marketing), assinam contos dos menos interessantes.

O projeto todo soa como uma resposta mal-humorada à antologia (assumida) Granta 9 Os melhores jovens autores brasileiros, produto de um júri que escolheu vinte entre 247 textos de autores brasileiros jovens (com menos de 40 anos). A publicação, organizada pela tradicional revista literária britânica Granta (fundada em 1889) que hoje procura se mundializar, procurou apresentar o que há de melhor e mais promissor na literatura brasileira hoje. Naturalmente, deixou 227 autores frustrados e muitos escritores e fãs contestando o direito de acadêmicos e críticos literários ou, no fundo, quem quer se seja julgarem tais ou quais autores e textos como melhores que outros.

A editora parece ter desejado se aproveitar desse clima e a introdução do professor Pena para Geração Subzero, embora baseada em textos anteriores a essa polêmica, se mostra um longo panfleto contra o cânone literário e a favor de uma ficção de entretenimento, que aparentemente inspirou a infeliz diatribe de Paulo Coelho contra James Joyce. Diga-se de passagem que o autor de O Alquimista entendeu mal ou quis ser mais realista que o rei: Pena criticou não o escritor irlandês, mas aqueles que acreditam ser sua reencarnação e escrevem para um público ínfimo ao tentar basear sua narrativa em jogos de linguagem para demonstrar sua suposta genialidade.

De qualquer forma, a dicotomia sugerida pelo organizador entre entretenimento e jogos de linguagem é um equívoco. A própria expressão jogo de linguagem indica tratar-se também aí de jogo ou entretenimento e de fato é parte fundamental do entretenimento literário, mesmo quando não é a principal. A questão é que tipo de entretenimento e para quem. Um Ulisses ou mesmo um Dom Casmurro, por exemplo, pode ser cansativo e maçante para um aluno mediano de segundo grau, mas é um ótimo entretenimento para quem está preparado para sua leitura, ao passo que Paulo Coelho, com seus cento e tantos milhões de leitores, Crepúsculo, que entreteve milhões de adolescentes, ou Cinquenta tons de cinza, que hoje faz o mesmo com outras tantas mães de família, podem ser mortalmente entediantes para quem busca obras mais ousadas.

A introdução cita o crítico francês Émile Faguet: sobre escritores obscuros que desfrutam sempre de enorme reputação. Tem um bando e um sub-bando de admiradores. O bando é composto por aqueles que fingem entendê-los, o sub-bando por aqueles que não ousam dizer que não os compreenderam e que, sem os lerem, declaram que são primorosos. Sem excluir que tais casos possam existir, a leitura possível de que esse pudesse ser o caso de um James Joyce visto que nenhum outro nome canônico é citado ou é um mal-entendido, ou a manifestação de um autoritarismo estético tão pernicioso quanto o oposto. Por mais que se goste de enredos ágeis e cativantes, qual o sentido de desqualificar a priori quem sinceramente aprecia jogos de linguagem e neles encontre entretenimento e prazer estético? É como decretar que a única utilidade concebível da música é servir para dançar e entreter em festas e baladas acusar de esnobe e hipócrita quem aprecia um concerto de música erudita.

Reivindicar que os estudos literários e culturais respeitem e deem atenção e espaço também à literatura popular, como dão às histórias em quadrinhos, à música popular, ou à arte naïf, é perfeitamente razoável, mas tomar partido a favor dela e dos sucessos momentâneos de vendas e público contra a literatura ao gosto acadêmico é uma atitude conformista disfarçada de contestadora. Se não reacionária, pois repete temas usados nos ataques da velha guarda dos românticos contra os realistas do século XIX, ou nos ataques aos modernistas no século XX. Como, aliás, notou o escritor de fantasia e ficção científica (por definição, não-canônico) China Miéville em palestra na Conferência Mundial de Escritores de Edimburgo de 2012, citado em matéria do jornal britânico Guardian de 21 de agosto:

() O leviano ataque a Joyce de Paulo Coelho fez dele motivo de ridículo esta semana, mas ele é um alvo fácil porque, com livros multitarefa que servem um pouco abertamente demais como manuais de autoajuda, não é tão aceito no clube. Ao contrário, digamos, de Ian McEwan [autor de Amor sem Fim e Amsterdã, entre outros], que de maneira não tão diferente se declarou contra a mão morta do modernismo em todo o mundo, como se o estilo literário dominante Inglaterra do pós-guerra fosse a experimentação steiniana ou algum Oulipo britânico [alusão a duas pequenas escolas de literatura experimental], contra os quais os jovens turcos resistissem com interioridade limpidamente observada, metáforas decodificáveis, tensas relações de classe média e as verdades eternas da condição humana () A tendência culturalmente dominante no romance inglês tem sido por anos o que Zadie Smith chamou de realismo lírico: a priorização sem remorsos e peço desculpas por repetir minha heurística favorita do reconhecimento sobre o estranhamento ()

Claro que existe e deve existir literatura popular, literatura de gênero (fantasia, ficção científica, policial etc.), middlebrow ou como se quiser chamá-la, mas seria estúpido, principalmente para quem quer escrever, desprezar tudo que se pode aprender com a literatura canônica, o modernismo e os estilistas da língua. Mesmo nesta coletânea que se supõe reunir obras despretensiosas e de entretenimento, aquelas mais bem-sucedidas e de fato entretidas são as que sabem usar jogos de linguagem a seu favor e combinam bem forma e conteúdo para criar um clima adequado a seu tema. São exemplos, dentro desta coletânea mesma, os contos de Luiz Brás e Cirilo Lemos.

Aqueles que procuram contar uma boa história sem um mínimo de saber jogar/entreter com a linguagem, e infelizmente são muitos, acabam não contando uma história tão ágil e cativante assim. Se o organizador da coletânea se preocupa, como Todorov, com o risco de a literatura deixar de participar da vida do cidadão por não se preocupar com sua afetividade e seu prazer e buscar o elogio da crítica, deveria se preocupar também com o risco de ela deixar de instigar o leitor ao se submeter demais à pieguice e à reciclagem de estereótipos batidos ao se focar excessivamente em ser fácil de ler e vender mais, o que é um caminho mais curto para a irrelevância. Mesmo na literatura mais popular, é preciso um mínimo de jogo entre inovação e repetição ou, como diz Miéville, estranhamento e reconhecimento. E mesmo dentro da literatura popular, há textos de melhor e pior qualidade e se pode e deve ter a coragem de fazer juízos de valor estético e literário, independentemente da aceitação maior ou menor dos textos pelo grande público ou pelos círculos de fãs aos quais um organizador escolheu dar ouvidos.

Um rápido comentário sobre cada conto:

O cão, de Juva Batella: uma piada longa demais e mal contada. Sem mais.

Cristais de prata, de Pedro Drummond: uma história de amor interessante, com toques originais. Está entre as que vale a pena ler.

A canção de Maria, de André Vianco: uma história de vampiros na Terra Santa da época de João Batista e Jesus. Um tanto confusa (o próprio Vianco parece confundir, a certa altura, as duas Marias que há na história), sentimental, arrastada e cheia de anacronismos, embora busque uma ambientação incomum para seu tema batido.

Na maternidade, de Thalita Rebouças: um pequeno conto ou crônica do quotidiano, levemente humorístico. Apenas satisfatório.

Fogo e trevas, de Eduardo Spohr: um conto de RPG bem tosco, cheio de clichês e inconsistências. Os personagens parecem literalmente jogar em turnos e o monstro segura tão pacientemente o pequeno halfling sobre sua boca ameaçando engoli-lo, para dar tempo aos heróis para descobrir uma maneira de derrotá-lo, que o leitor fica entediado. Terminada a história previsível, segue-se uma introdução a outra, como se fosse um corte arbitrário dentro de um seriado. Só se aproveita o humor involuntário.

O índio no abismo sou eu, de Luiz Brás: uma boa história de ficção científica pessimista, especulando com reanimação de mortos congelados, transplantes e realidade virtual. Vale a leitura.

A filha do diabo, de Luiz Eduardo Matta: história de terror e exorcismo mal contada. Clima mal desenvolvido e incongruências óbvias.

Dê-me abrigo, de Sérgio Pereira Couto: um caso de trauma e condicionamento construído de maneira um tanto artificiosa e com um final muito forçado, embora o estilo não seja desagradável.

Ao cortar os cordões, de Estêvão Ribeiro: história de fantasmas fluente, mas superficial e não suficientemente convincente como terror psicológico.

O primeiro dragão, de Raphael Draccon: outro conto de RPG abaixo da crítica. Não se chega a ouvir os dados rolando como no conto de Spohr, mas os personagens são ainda mais estereotipados e inverossímeis e não há uma sombra de humor: em vez disso, muita pieguice, dramalhão barato e filosofia de botequim.

O preço de uma escolha, de Ana Cristina Rodrigues: uma ficção científica e policial num Rio de Janeiro do futuro. Envolve a caça a um delinquente com poderes paranormais conferidos por um acidente nuclear, como em gibis de super-heróis, mas o tom está mais próximo de uma novela mexicana. História melodramática e ingênua na caracterização dos personagens e de seus motivos, recheada de dispensáveis lugares-comuns sobre política e corrupção.

Polaco, de Júlio Rocha: um conto dinâmico sobre violência no Rio de Janeiro, convincente e com um toque de humor.

Para sempre um dia, de Helena Gomes: uma história de vampiros no Portugal medieval, de ação rápida e violenta e com alguns toques interessantes de criatividade.

Outra vez na escuridão, de Carolina Munhoz: um conto de fadas sombrio sobre uma sidhe que proporciona fama e sucesso a uma jovem estrela do pop e em troca lhe suga a vida e a energia. Proporciona alguns momentos poética e psicologicamente interessantes, mas logo se torna muito previsível e seu prolongamento apenas uma insistência em bater nas mesmas teclas.

A sabedoria de Clementina, de Vera Carvalho Assumpção: uma ficção histórica bem-humorada sobre crendice e costumes, bem ambientada na São Paulo do tempo da Marquesa de Santos. Ágil e bem achada.

Entrevista com o Saci, de Martha Argel: não chega a ser o equivalente brasuca da Entrevista com o Vampiro de Anne Rice, mas é uma tentativa atraente de atualizar e transformar em fantasia urbana a lenda mais popular do folclore brasileiro.

Outras onomatopeias, de Janda Montenegro: uma tentativa de fazer humor com a vida de empregado de escritório mal casado e com o trânsito e a violência do Rio de Janeiro, mas não muito bem-sucedida. Na maior parte, colagem pouco fluente de clichês.

O escritório de design probabilístico, de Delfin: uma ideia instigante sobre trabalhadores de escritório que recebe a ordem de questionar sua própria função, mas esse núcleo promissor é diluído por um prólogo dispensável sobre a vida doméstica do protagonista e por uma conclusão igualmente insossa.

Um chá com Alice, de Eric Novello: uma sessão de uma jovem com seu terapeuta Cappellaio se torna uma releitura de Lewis Carroll. É um chá aguado e requentado se comparado com o que a Alice original toma com o Chapeleiro Maluco, mas tem momentos engenhosos e sutis.

A lua é uma flor sem pétalas, de Cirilo S. Lemos: uma ficção cyberpunk sobre um Rio de Janeiro ultraviolento e distópico do futuro, com linguagem e enredo muito bem trabalhados, personagens realistas e convincentes e uma ambientação assustadoramente verossímil. Um dos mais interessantes e originais da coletânea.
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@lecobastos 21/08/2012

Descongelando...
“Os autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a satisfação da vaidade intelectual. Não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas.” Esse é um resumo da longa introdução do livro, feita pelo organizador Felipe Pena.
A seleção dos escritores foi feita com base no que Felipe via na internet ou ouvia em grupos de discussão literária em comparação com a opinião dos críticos especializados. Quem escolheu o conto a ser publicado foram os próprios selecionados, independente de ser inédito ou não.
A pedra fundamental da coletânea é o Manifesto Silvestre, principalmente o artigo terceiro.
3. A ficção brasileira precisa ser acessível a uma parcela maior da população. O que não significa produzir narrativas pobres ou mal elaboradas. Rejeitamos o rótulo de superficialidade. Escrever fácil é muito difícil.
E no fim das contas a proposta é esta: escrever fácil e embalar os leitores. A edição dos textos foi feita por Ana Cristina Rodrigues e Priscila Corrêa, para quem não sabe a primeira moça é defensora da literatura especulativa nacional e tem conhecimento editorial para este projeto da Record.
Os nomes mais conhecidos foram os que mais deixaram a desejar, fosse por esperar algo diferente das histórias pelas quais ficaram conhecidos ou porque os contos não foram tão envolventes quanto se pretendia de início. Gosto de ser julgado pelas coisas que gosto, então veremos as minhas partes favoritas. :D

Cirilo S. Lemos, -só tenho lido elogios sobre seus trabalhos -, soube muito bem trabalhar o texto dentro de um futuro cyberpunk nas favelas:
“Tubarão passava as festas inteirassem seu divã-móvel, entupindo-se de comida e sendo chupado na Realidade Virtual pelas madames esculpidas em bioplástico ávidas por experiências novas ao som da batida hipnótica de variação neofunk do blend e do suyba.”

Teve espaço para uma homenagem à Amy Winehouse através das palavras de Carolina Munhóz:
“E com 27 anos a rainha do jazz pop deixava o mundo em lágrimas.
Um mundo que tento cuidar dela. Que tentou lhe dar amor.
Mas ela teimava em dizer não.
E não. E não.”

Luiz Bras em sua ficção-científica neurodramática (acabei de criar essa expressão) O índio no abismo sou eu, me encantou:
“Antes eu não era nada, agora sou qualquer coisa que não sei bem o que é. Talvez eu seja só a própria eletricidade atravessando uns poucos neurônios.”

Menção honrosa para o humor estabelecido no conto O cão, que me fez dar boas risadas e ao misterioso O escritório de design probabilístico que soube trabalhar com a tensão sem criar um final tosco para a história. Esperava que a autora Andréa del Fuego estivesse presente no livro, mas a crítica é muito mais simpática para com ela.
No fim o resultado foi bem maior do que alguns consideram, não é uma simples resposta a Revista Granta, mas também uma demonstração do que pode ser produzido e muito bem apreciado fora da ‘literatura’.
Todos os direitos autorais foram cedidos para a ONG Ler é dez, leia favela. Uma salva de palma bem merecida aos autores.
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Vilto 11/07/2012

Resenha: Geração Subzero – Felipe Pena (org.)
“20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores”, é o que está estampado na capa.
Confesso que o livro organizado por Felipe Pena me surpreendeu. A proposta do livro consiste em reunir, em uma coletânea, textos de vinte autores que estão se destacando pela aprovação do público. Considerei uma proposta interessante, afinal os escritores preferidos da “crítica especializada” raramente estão na lista dos mais vendidos, enquanto aqueles que os leitores amam, são marginalizados pela mesma crítica. Os vinte selecionados são autores que buscam entreter o público com suas histórias na linguagem que o povo consegue entender. Pena faz questão de destacar no prefácio do livro “Escrever fácil é muito difícil”.

Um fato a se destacar é que os direitos autorais do livro serão doados para a ONG “Ler é dez, Leia favela”.

Agora vamos ao resultado do livro. São vinte contos e eu não vou falar de todos, mas em ordem de publicação, somente aqueles que mais chamaram a minha atenção, evitando spoilers.

André Vianco: A canção de Maria
Nunca havia lido nada do Vianco até esta história, embora já tivesse lido bastante sobre o autor e sua ousada história como escritor. Posso afirmar que A canção de Maria é uma história deliciosamente assustadora, daquelas que fazem bem de se ler quando se está sem motivo para se meter embaixo da coberta e pregar os olhos.
No texto, André Vianco conta a história de Ezra, um lenhador que numa noite incauta vê bater em sua porta, pedindo abrigo, uma jovem grávida. Ele realmente não poderia esperar o que estava para acontecer, e quem lê também não.

Thalita Rebouças: Na Maternidade
Para aliviar a tensão do conto do Vianco, logo em seguida vem o da simpática Thalita Rebouças, a qual também não havia lido ainda. Através de um texto gostoso de se ler, a escritora nos conta a história de Armando, casado com Angela Cristina. A comicidade do caso fica por conta do fato de o personagem principal jamais abrir mão da pelada nas segundas a noite, mesmo na data do casamento ou no principal acontecimento do livro, que por questões óbvias não vou contar qual é.

Carolina Munhóz: Outra vez na escuridão
Outra autora que não havia lido, embora já tinha ouvido falar (no Nerdacast com o Paulo Coelho). A história da escritora dá um novo aspecto às fadas. É umas espécie de conto de fadas gótico, ou algo assim. Fiquei encantado com o ambiente depressivo e cinzento que a protagonista, Jade , me foi apresentada. O contraponto do conto é a Leanan Sidhe (fada) Sophia, a musa da artista que Jade vai se tornando ao longo da história. Carolina Munhóz trata através da fantasia de um tem extremamente atual, a vida de orgias que se entregam as celebridades no auge da fama.

Martha Argel: Entrevista com o Saci
Ok, mais uma que eu não conhecia; até o fim da resenha não saberei onde enfiar a cara.
Entrevista com o Saci é uma história simples, mas que prende o leitor. É sempre incrível ver quando um escritor se compromete com o resgate da mitologia nacional, e este foi o caso de Martha Argel neste conto. A história diz respeito à Maria de Lurdes, que trabalha num asilo e passa a conhecer um velhinho, digamos, um tanto diferente.

Delfin: O escritório de design probabilístico
Frase recorrente: não conhecia este escritor (risos).
O conto de Delfin nos mostra uma situação inusitada, a história de Othon e seu estranho emprego, onde ele trabalha com mais cinco pessoas e a única tarefa é responder a uma pergunta diária. Parece uma história simples, mas a trama ganha contornos que prendem a atenção de forma inesperada e depois deixam aquela lacuna para a imaginação.

Eric Novello: Um chá com Alice
Finalmente, este já tinha lido, e na verdade está ficando meio costumeiro falar dele aqui no blog.
Quando li o título Um chá com Alice, logo liguei a clássica personagem de Lewis Caroll, mas não, necessariamente, é ela. Para que você entenda, existem várias referências àquela Alice, mas o autor em momento algum afirma ser ela. Esta Alice é uma adolescente que frequenta o consultório do psicanalista Dr. Cappellaio. O delicioso do conto é que esta personagem,assim como a do Caroll, também tem aqueles trejeitos estranhos e engraçados.
E acreditem, existem algumas ideias que facilmente poderiam ser usados numa aula de semiótica, mas com uma dose de humor desta incrível personagem.

Outros escritores do livro:
Eduardo Spohr, Raphael Draccon, Ana Cristina Rodrigues, Juva Batella, Estevão Ribeiro, Pedro Drummond, Luiz Bras, Luis Eduardo Matta, Sérgio Pereira Couto, Julio Rocha, Helena Gomes, Vera Carvalho Assumpção, Janda Montenegro e Cirilo S. Lemos.

3 coisas que aprendi lendo este livro:
1) Preciso criar vergonha na cara e ler mais os novos autores brasileiros que estão publicando.
2) Mesmo quando você lê um gênero que não é o seu preferido, você pode gostar da história, se ela for bem escrita.
3) Quando alguém me pedir a indicação de algum livro para ler, pois quer conhecer um autor novo, indicarei Geração Subzero; funciona como uma catálogo para quem quer conhecer bons escritores.

Enfim, vale a leitura! Conte-me o que você achou nos comentários!

Confira mais resenhas e novidades sobre literatura no blog Homo Literatus, acesse: www.homoliteratus.com
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