Katia.Borges 28/12/2021
Depressa, os dias passam...
A sensação é que eles nos abandonam enquanto nos acomodamos ao descompasso entre o que foi vivido mas não apropriado completamente pelos sentidos.
Nos acostumamos ao controle do relógio: a velocidade do tic tac determina nossos passos, a direção do caminho, o sentido das nossas escolhas. Somos convencidos a decidir parte da nossa existência olhando os relógio que nos cercam, como se o movimento dos ponteiros fosse capaz de definir o prazo de validade das nossas experiências: aos 20 anos devo saber o que fazer pelo resto da vida; aos 30 devo estar casada; aos 40 ter alcançado o sucesso; aos 50 já não há mais tempo para o amor.
Agora, imaginem se vivêssemos sem qualquer instrumento de medição do tempo. Qual noção nos restaria se extinguissemos ampulhetas, cronômetros, relógios e o valor que atribuímos a esses objetos?
No Livro Sobre o Tempo, de Norbert Elias, o autor descontroi o que as sociedades modernas entendem como o conceito de tempo, destituindo-o do seu caráter linear, impessoal e imutável.
Dentre as muitas contribuições que Norbert Elias oferece ao tema, a noção do tempo como uma instituição social chamou minha atenção. Como tal, o tempo se relaciona com as experiências compartilhadas entre indivíduos e menos com os artefatos desenvolvidos para mensura-lo. É a representação geral que os homens têm do seu universo e das condições em que vivem nele que determinam o conceito de tempo.
Numa sociedade onde as relações são ditadas pela métrica da produtividade, na qual o status profissional, que nos consome horas de vida, se confunde com realização pessoal, ler N. Elias e seu ensaio sobre o Tempo foi como despertar para o meu próprio movimento.
Por certo, o compasso que sigo perseguindo não está descolado da realidade em que vivo, mas o ritmo cabe a mim defini-lo.
Finalizada a leitura, fico feliz em saber que o giro do ponteiro do relógio é inexorável, o tempo não!