Henrique 25/01/2015
Somos primatas
É necessário voltar no passado se quiser saber quem você realmente é. Um passado bem longínquo. Para entender a nossa espécie é preciso ter a humildade de reconhecer que somos animais. Somos primatas, moldados pela seleção natural. E nosso cérebro, assim como qualquer outro órgão, é resultado desse processo de seleção. Portanto, se queres compreender o comportamento humano é preciso olhar também para nossos parentes mais próximos: os chimpanzés e os bonobos. Essa é uma das lições que o primatólogo Frans de Waal vem nos ensinar, a de que fazemos parte dessa gigantesca árvore da vida. Mas contrariando o que alguns ainda possam pensar, não estamos em um galho especial, não somos o topo de nada, muito menos somos o resultado final da evolução, somos apenas mais uma espécie entre tantas outras. Algumas vivendo nesse planeta bem mais tempo que nós e provavelmente continuarão a viver quando nossa espécie se for.
Ao olhar o comportamento dos outros primatas percebemos o quanto eles cooperam e competem entre si, como se relacionam e praticam sexo, se cumprimentam, guerreiam, fazem alianças, se importam e ajudam até mesmo indivíduos de outras espécies, o quanto eles se emocionam e o quanto eles são parecidos conosco. Diante de tantas semelhanças as evidências moleculares e fósseis tornam-se um bônus extra na comprovação de nossa ancestralidade comum.
Frans descreve bem as diferenças entre chimpanzés e bonobos, não deixando de destacar as semelhanças que temos com ambos. Chimpanzés são mais agressivos e propensos a guerras, são territoriais e vivem em uma sociedade controlada por um macho alfa. Já os bonobos são mais tranquilos, preferem resolver as desavenças com sexo no lugar da violência, na verdade eles usam o sexo para praticamente tudo, vivem em uma sociedade matriarcal controlada pelas fêmeas. Essas diferenças marcantes possivelmente foram moldadas devido ao ambiente em que esses grupos evoluíram, sofrendo pressões seletivas distintas.
Outro ponto importante é que além de sermos seres biológicos somos também seres culturais, e nosso comportamento sofre grande influência do aprendizado e da nossa cultura, sendo muitas vezes difícil determinar o que pode ser considerado um comportamento inato. Ao longo de nossa história ideologias políticas fizeram uso da biologia e de um determinismo biológico para justificar comportamentos condenáveis e sabemos o quão prejudicial foram tais ideias. Por isso é preciso ficar atento para não cair nas armadilhas de argumentos determinísticos, sejam eles biológicos ou culturais. Somos uma mistura de fatores biológicos e culturais, de genes e aprendizado.
Portanto, o estudo dos grandes primatas é importante para entendermos a nossa espécie, nosso passado evolutivo e nos aproximar de nossa natureza simiesca, criando assim, quem sabe, uma consciência mais humilde naqueles que pensam que somos o topo da já ultrapassada, Scala Naturae. E esse é um papel que esse livro cumpre com maestria.
site: http://evolutionacademy.bio.br/blog/2015/01/25/eu-primata-por-que-somos-como-somos/