Maravilhosas Descobertas 08/10/2016
SEABLUE, DE RAQUEL PAGNO
Seablue foi um dos primeiros livros escritos por Raquel Pagno, a autora já tem uma extensa lista de obras publicadas, mas só recentemente tive a oportunidade de conhecer o seu maravilhoso trabalho.
"Eduardo levava uma vida simples e tranquila, até o furacão Daniele passar por ela. Nunca imaginara sentir-se tão apaixonado e menos ainda e em tão pouco tempo estaria de casamento marcado com Daniele Cascais, filha do grande ator Rudson Cascais. Até mesmo a viagem de lua de mel já estava marcada. Passariam abordo do Seablue, o terceiro maior transatlântico do mundo. Tudo estaria perfeito se não fosse pelo mau pressentimento que assolava Eduardo dias antes do embarque. Estaria apenas ansioso pela proximidade da viagem e do casamento? Daniele afirmava que sim. Sabia que Eduardo nunca tinha feito uma viagem tão demorada e não se sentia bem por ter que deixar a escola de música nas mãos de terceiros. Mesmo assim ela decidiu convencê-lo a relaxar. Ela sempre o convencia. Em outro ponto de São Paulo, morava Joana, uma jovem que viera do interior para estudar arqueologia, com o sonho de viajar o mundo e desvendar os mistérios da humanidade. Na faculdade, fez amizade com Brigite, que apesar de meio aloprada, não era má pessoa e que acabou por levar Joana até Igor. Apesar dos protestos do pai de Joana, Igor pretendia pedi-la em casamento, surpreendendo-a com o pedido e as passagens para um a inesquecível viagem a sós. Um dos sonhos de Joana seria finalmente realizado, embarcariam em uma semana no Seablue. Seria perfeito! Como ela sempre sonhara!"
O livro é narrado na terceira pessoa, isso é necessário já que vemos o cotidiano de dois casais que, até embarcarem no Seablue, não se conheciam. Eles vivem em realidades diferentes, o que nos faz pensar no poder que uma tragédia pode ter, no livro ela acontece como um Tsunami, arrancando tudo do lugar, onde todas as pessoas, até as que não estavam no navio, são atingidas de alguma forma.
A leitura flui de maneira rápida, a escrita da autora é cativante, eu me senti impactada com a violência de algumas cenas e tocada com a doçura de outras, fiquei um pouco receosa no começo, pensando que seria igual aos já conhecidos filmes sobre naufrágios, mas não, meu Deus, eu só conseguia pensar que, no final de tudo, a história de Jack e Rose- Titanic- poderia ter sido pior, sério mesmo.
Os casais tem suas virtudes e fraquezas, desde o começo eu não consegui ter um preferido, ou então, um que se destacasse aos meus olhos. Eles eram perfeitos dentro dos seus defeitos, queriam passar o resto da vida juntos, os quatro podiam ter diferenças óbvias, mas cada um amava o seu companheiro. Perceber isso acabou comigo, quando a história vai sendo contada e você vai descobrindo certas coisas do enredo. É um tapa bem forte na cara, ainda estou me recuperando na verdade!
"Não suportaria a dor de viver sem ela. Não conseguiria se adaptar à solidão mais uma vez. Ela era agitada, segura, sabia bem o que queria e até meio frenética, totalmente o contrário dele, que era calmo e ponderado, racional. Achou graça ao pensar que os opostos se atraem, mas era isso mesmo o que acontecera entre os dois. Um completava o outro. Precisavam estar juntos, sempre"
O drama é bem desenvolvido, os diálogos são fortes e há várias situações que obrigam os personagens a abandonarem seus princípios. Quase nada do que eu imaginei aconteceu, foi uma leitura extremamente angustiante e eu simplesmente não conseguia parar, é algo tão bem feito, que para explicar uma parte eu teria que revelar outra e então outra... E eu não faria essa caridade com vocês, só quero, do fundo do meu coração, que vocês sofram o que eu sofri, a espera, os capítulos alternados, o final...
Sempre que eu leio um livro como esse, cheio de pontos positivos e com um enredo diferenciado, tenho um medo profundo do desfecho, sinto dizer que esperava mais do final, lógico que ele não desmerece o livro ou tira alguma estrela da minha classificação. O livro tem todos os componentes para prender a sua atenção do início ao fim, isso eu posso garantir.
Seablue revela muito do nosso lado primitivo, que desperta com toda força juntamente com o instinto de sobrevivência. O que você faria para permanecer vivo? O que deixaria de lado para manter a sua lucidez? São questões fortes, eu ainda me pego pensando nas escolhas que alguns personagens fizeram, não consigo decidir se faria o mesmo, acho que só estando na mesma situação e, se for esse o preço, eu prefiro ficar na dúvida.
"Me diga que você depende de mim
Eu preciso ouvir isso..."
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