Anderson Tiago 09/08/2014[RESENHA] A Relva por Travesseiro (A Saga Otori #2) - Lian HearnRecentemente, em uma postagem do Facebook, comentei sobre a minha mania de nunca ler dois livros da mesma saga de maneira consecutiva. O motivo não sei ao certo, mas gosto de variar e muitas vezes, mesmo curioso para saber o que vai acontecer, acabo dando início a outras leituras. Isso faz com que eu sempre tenha um número grande de sagas em aberto, além daquelas que ainda não foram finalizadas pelo autor. Pois bem, escrevi essa pequena introdução para dizer o quanto me arrependo de não ter lido o objeto dessa resenha assim que terminei o seu antecessor. O livro em questão é A Relva por Travesseiro, segundo da Saga Otori, de Lian Hearn.
A Relva por Travesseiro segue os passos dos jovens Otori Takeo e Shirakawa Kaede em sua tentativa de permanecerem juntos em um mundo que parece fazer tudo para separá-los, após a tomada de Inuyama pelos exércitos de Arai Daiichi. Takeo, que foi obrigado a se entregar e jurar lealdade à Tribo após os eventos finais de O Piso-Rouxinol, se vê confrontado e dividido entre o estilo de vida da organização e os preceitos que foram ensinados por Otori Shigeru. O desaparecimento do jovem adotado do clã Otori enfurece Arai, que via com bons olhos o casamento entre Takeo e Kaede, algo que poderia unificar os Três Países sob o seu comando. Quando fica sabendo que a organização conhecida como Tribo foi responsável pelo desaparecimento do jovem, Arai promete usar de todas as suas forças para extingui-la.
Mesmo não sendo nobre por nascimento, percebemos que não será fácil para Takeo fugir da missão que lhe foi entregue por Shigeru antes de sua morte, apesar de todos os esforços da Tribo para transforma-lo em um assassino frio e calculista. A natureza rebelde do jovem em contraponto com a submissão e obediência pregadas pela Tribo resultam em situações de tensão, principalmente em relação a Kikuta Akio, que nutre um ódio devastador por Takeo, ódio que poderia ter graves consequências não fossem as intervenções de Muto Yuki, integrante da Tribo que demonstra interesse pelo rapaz Otori. Por esse motivo, Takeo acaba se envolvendo com a jovem numa tentativa de preencher o vazio provocado pela falta de Kaede.
Por outro lado, Kaede, que também recebeu da Senhorita Maruyama a missão de cuidar do seu povo, deve deixar o seu coração partido de lado e ganhar forças para conseguir se impor em uma sociedade totalmente patriarcal. Decidida a não se casar com ninguém que não seja Takeo, apesar de ser a solteira mais disputada dos Três Países, Kaede se torna a personagem mais marcante de A Relva por Travesseiro. A resolução da personagem em não ser mais uma peça do tabuleiro no jogo dos homens, e sim um jogador com suas próprias peças, nos faz admirar a jovem, ainda mais por usar todas as desvantagens que tem contra si como arma e escudo para conseguir os seus objetivos.
A escrita de Lian Hearn (pseudônimo de Gillian Rubinstein) segue os padrões do primeiro volume com uma grande carga dramática e poética, belas descrições, tanto de paisagens e cenários quanto de sentimentos. A pesquisa que a autora realizou junto a cultura japonesa se reflete na ótima apresentação dos costumes e tradições do povo, principalmente na aversão aos párias (burakumin, em japonês), pessoas consideradas impuras por realizarem trabalhos considerados indignos, como trabalhadores de curtumes, abatedouros, entre outros. Outra característica que se desenvolve durante a trama é a religiosidade, com a seita dos Ocultos se aproximando cada vez mais de uma representação do cristianismo, enquanto o Iluminado e os espíritos da floresta representam, respectivamente o Budismo e o Xintoísmo.
A narrativa continua tal qual em o Piso-Rouxinol, ou seja, os capítulos de Takeo são narrados em primeira pessoa enquanto os de Kaede tem o foco narrativo na terceira pessoa. Durante o livro fica claro que a história como um todo está sendo contada por Takeo através de suas memórias, por isso a diferenciação. Os personagens secundários de maior destaque são Muto Shizuka, acompanhante de Kaede e membro da Tribo, e Jo-An, o pária, que vê o jovem Otori como um anjo salvador que trará paz e igualdade para os Três Países, mas nenhum deles consegue preencher o vazio deixado por Shigeru.
Mesmo sem Shigeru, A Relva por Travesseiro supera o seu antecessor e foi responsável por me fazer deixar a mania de lado e pegar O Brilho da Lua, terceiro da Saga Otori, para ler logo em seguida. Até tentei fugir e colocar outras leituras atrasadas em dia, mas não deu. A Saga Otori me prendeu e não sei se resistirei a tentação de ler a prequel focada em Shigeru, meu personagem favorito, logo em seguida. Recomendado!
Resenha assinada por mim para o site INtocados
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