Anderson Tiago 09/08/2014[RESENHA] O Brilho da Lua (A Saga Otori #3) - Lian HearnO Brilho da Lua, publicado pela editora WMF Martins Fontes, é o terceiro livro da Saga Otori e narra a história de Takeo e Kaede, dois jovens que sofrem nas mãos do destino desde o primeiro volume da série. Em um mundo fortemente influenciado pelo Japão feudal, com todos os seus costumes e tradições, os jovens estão no centro de uma disputa pelo poder e enfrentam tudo apenas para permanecerem juntos.
Ao final de A Relva Por Travesseiro, Otori Takeo e Shirakawa Kaede finalmente se reencontram e parece que tudo está correndo da maneira certa, apesar das tentativas de assassinato sofridas por Takeo por membros da Tribo. Eles se casam às pressas, mesmo com todos aconselhando prudência aos jovens, mas o amor e o desejo que sentem um pelo outro impedem que vejam as consequências que esse casamento pode trazer ao casal. Após o casamento, Takeo assume de vez a descedência Otori e junto de Kaede rumam para Maruyama, onde Kaede é a herdeira por direito, a fim de assegurar o domínio do território. Após algumas batalhas contra alguns dissidentes, o casal consegue se instalar e reconstruir Maruyama.
Os documentos da Tribo que foram deixados por Shigeru são de grande ajuda e permitem que agentes da organização sejam punidos, porém a perseguição de Takeo a essas pessoas, assim como a maneira como ele se relaciona com lavradores e párias, é vista com maus olhos por alguns nobres de Maruyama. Essa situação gera um clima de desconfiança e o jovem não vê a hora de partir para reconquistar Hagi, o lar ancestral dos Otori, agora nas mãos dos primos corruptos e traidores de Shigeru.
Kaede é, durante a primeira metade do livro, ofuscada pela presença de seu marido. Como já foi dito na resenha anterior, o livro é contado por Takeo através de suas memórias, por isso a diferenciação entre as narrativas, primeira pessoa para o jovem Otori e terceira pessoa para Kaede. Então, o fato de eles estarem unidos faz com que o ponto de vista apresentado seja apenas o de Takeo. Para suprir essa ausência, temos o ponto de vista de Muto Shizuka, a ex-acompanhante da senhorita Shirakawa e membro da Tribo, uma grata surpresa e uma bela adição a história. Em o Brilho da Lua, Shizuka está cada vez mais dividida entre sua obediência para com a tribo e sua lealdade à Kaede.
Na segunda metade do livro, quando seu marido parte em uma missão importante, Kaede reassume a função de narradora. Para mim, que gosto da personagem, foi um alento logo transformado em angústia, pelo que o destino reservou para a jovem mais bonita dos Três Países. Takeo, por outro lado, mesmo dividido entre a sua criação entre os Ocultos e a sua atual situação entre os nobres, só pensa na vingança contra os assassinos de Shigeru e no que fará após isso quando tiver que confrontar Arai Daiichi, o senhor do restante dos Três Países. Será que uma aliança pode ser arquitetada? Enquanto isso, Shizuka e Kenji, antigo tutor de Takeo, discutem o futuro da Tribo, mas uma tragédia se abate sobre eles.
O Brilho da Lua é o romance mais frenético e angustiante que já li. Quase toda a sutileza dos volumes anteriores é abandonada em prol da ação e reviravoltas, que me deixaram boquiaberto e sem acreditar que aquilo realmente aconteceu. A autora Lian Hearn merece todos os elogios por ter encerrado o ciclo principal da Saga Otori de maneira primorosa, me fazendo ler as últimas duzentas páginas de uma vez adentrando a madrugada e sem conseguir parar de virar as páginas mesmo tendo que acordar cedo no dia seguinte.
Por conter mais cenas de ação, O Brilho da Lua perde um pouco da poesia e suavidade encontrada nos volumes anteriores, porém, em contrapartida, ganha em ritmo e velocidade de leitura. A sexualidade, algo explorado também nos dois primeiros livros, é tratada abertamente aqui, principalmente a homossexualidade entre os guerreiros, algo comum a todas as civilizações. Para saber o que acontece após o fim de O Brilho, mais precisamente dezesseis anos após o seu fim, precisamos aguardar o lançamento de The Last Cry of the Heron (ainda sem nome em português) pela Editora WMF Martins Fontes, mas, enquanto isso, podemos acompanhar o que aconteceu antes, dezessete anos no passado em A Rede do Céu é Vasta.
Ao terminar um livro estamos tão empolgados com a história que dizemos, algumas vezes levianamente, que aquele foi um dos melhores que já lemos, que irá marcar a nossa vida para sempre. Porém, posso afirmar de maneira categórica que A Saga Otori sempre terá um espaço especial nas minhas recordações literárias. Espero que vocês possam ler e sentir o mesmo que eu senti.
Resenha assinada por mim para o site INtocados
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