Paulo Sousa 24/04/2020
Da felicidade, de Sêneca
Leitura 20/2020
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Da Felicidade/Da vida retirada [63 d.C]
Orig. De otio; De vita beata
Lúcio Anneo Sêneca (Itália, 4 a. C.- 65 d. C.)
L&PM, 2012, 64 p.
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?O homem feliz é aquele para quem não existe nem bem nem mal, apenas uma alma boa ou má; que pratica o bem, contenta-se com a virtude, não se deixa nem elevar nem abater pelo destino, não conhece o bem maior do que o que pode dar a ele próprio, para quem o verdadeiro prazer será o desprezo dos prazeres? (Pág. no Kobo 15/12%).
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Sempre que posso, volto a visitar Sêneca, o grande filósofo do estoicismo e da arte de viver. Ler passagens ao acaso, ou mesmo surfar na maré de suas máximas e pensamento, é ato necessário e renovador, sobretudo para estes tempos onde o caos interior e a ruptura de todas as nossas certezas tem sido o verdadeiro mal do século.
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Sêneca se esmerou em perseguir aquilo que tinha como ideal de vida: buscar alcançar a imperturbabilidade da alma, impedindo que esta se deixasse levar pelas veleidades e prazeres trazidos pela riqueza e, segundo afirmava, acabaria por acorrentar a alma.
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Apesar de rico, Sêneca jamais se permitiu uma vida pródiga. Comia pouco, bebia somente água, dormia em colchão duro, não porque fosse avarento ou porque quisesse causar grande impressão em seus pupilos, mas por fidelidade à sua fisiologia, que preconizava que ?o sábio não estava obrigado à pobreza, desde que o seu dinheiro tivesse sido ganho de forma honesta. No entanto, devia ser capaz de abdicar da riqueza?.
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O eco de seus ensinos, tantos séculos depois de escritos, são ainda essenciais para a reflexão. É neles que costumo me perder, nesse plano onde o destino não pode ser elemento de angústias e nem a incerteza mola mestra para a depressão. Tanto aquele como esta podiam ser superados e ultrapassados, sendo substituídos pela sensibilidade à beleza do mundo e a resignação pelo tão pouco tempo de usufruir tal felicidade.
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Igualmente a Sêneca, gosto de ler ao acaso as máximas de Montesquieu. Os ?Ensaios?, os tenho aqui sempre ao alcance da mão. Recorro a eles sempre que me vejo perdido em algum dilema, absorvido por problemas que - sei no fundo, não poderei resolver, e que se preocupar com tais é desperdício de energia. Errôneo seria achar que a filosofia de ambos tencionam levar o leitor à preguiça e à indiferença, defeitos aliás amplamente criticados por ambos. Antes, servem como verdadeiros manuais de vida, de onde é possível se extrair lições importantes para quem queira aproveitar melhor sua vida. De quebra, são textos belamente poéticos! Vale!