Maria - Blog Pétalas de Liberdade 07/08/2015Profissões Para Mulheres e Outros Artigos Feministas Decidi ler o livro após ver uma resenha sobre ele no blog Poesia na alma (Obrigada, Lilian!). Foi meu primeiro contato com a escrita da Virginia Woolf; queria ler alguma coisa dela, já que é uma escritora bastante famosa, surgiu a oportunidade de pegar o livro emprestado e eu aproveitei.
Foi o primeiro livro de ensaios que li; segundo a Wikipédia: "Ensaio é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões éticas e filosóficas a respeito de certo tema. (...) Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário, religioso, etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico".
Virginia Woolf nasceu em Londres, em 1882, e faleceu em 1941; o livro reúne sete de seus ensaios, e vou falar superficialmente sobre cada um. No primeiro, intitulado "Profissões Para Mulheres", ela aborda o conceito de Anjo do Lar, segundo o qual as mulheres deveriam ser puras e desapegar de tudo em nome da família, e como essa idealização de perfil de mulher interferia no desenvolvimento de seu potencial como pessoa e profissional.
"- em suma, seu feitio era nunca ter opinião ou vontade própria, e preferia sempre concordar com as opiniões e vontades dos outros. E acima de tudo – nem preciso dizer – ela era pura. Sua pureza era tida como sua maior beleza – enrubescer era seu grande encanto. Naqueles dias – os últimos da rainha Vitória – toda casa tinha seu Anjo. E, quando fui escrever, topei com ela já nas primeiras palavras. Suas asas fizeram sombra na página; ouvi o farfalhar de suas saias no quarto. Quer dizer, na hora em que peguei a caneta para resenhar aquele romance de um homem famoso, ela logo apareceu atrás de mim e sussurrou: 'Querida, você é uma moça. Está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja afável; seja meiga; lisonjeie; engane; use todas as artes e manhas de nosso sexo. Nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião própria. E principalmente seja pura'." (página 12)
O segundo e o terceiro, respectivamente "A nota feminina na literatura" e "Mulheres romancistas", são resenhas escritas por Virginia Woolf para jornais. Antes de escrever livros, a autora era crítica literária. Obviamente, na época não existiam blogs (nem internet), e foi interessante pensar que eu e outros tantos blogueiros literários fazemos hoje, algo um pouco parecido com o que ela fazia há tanto tempo.
O quarto, intitulado "A posição intelectual das mulheres", foi o meu preferido. Traz a resposta de Virginia Woolf para uma resenha sobre um livro que dizia que as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens. Na artigo, de forma irônica e inteligente, Virginia fala sobre como, ao longo dos séculos, as mulheres eram mantidas sem condições de ter acesso ao conhecimento intelectual, e quando tinham acesso, não eram incentivas e estimuladas a seguir adiante na construção do seu conhecimento.
O quinto, intitulado "Duas mulheres", traz a resenha de dois livros escritos por duas mulheres muito diferentes, e nos faz refletir um pouco sobre as características de cada uma.
"Memórias de uma União das Trabalhadoras" traz o prefácio escrito pela autora para um livro de uma Cooperativa de Trabalhadoras, e mostra como a união e a organização de mulheres, que se reuniam para, entre outras coisas, ler, foi benéfica para elas.
O último ensaio fala sobre a atriz Ellen Terry, uma mulher que, assim como tantas outras mulheres, se divide entre suas tantas facetas, entre sua família e seu amor e talento para o palco, entre o glamour, a excelência e a simplicidade.
É um livro curto, que pode ser lido em poucas horas. É uma edição de bolso, com capa simples e sem orelhas, páginas brancas, diagramação também simples, letras e espaçamento de bom tamanho, margens estreitas.
"Mesmo quando o caminho está nominalmente aberto - quando nada impede que uma mulher seja médica, advogada, funcionária pública -, são muitos, imagino eu, os fantasmas e obstáculos pelo caminho. Penso que é muito bom e importante discuti-los e defini-los, pois só assim é possível dividir o trabalho, resolver as dificuldades." (página 18)
Foi uma leitura rápida mas muito significativa, que me fez ficar com vontade de ler mais obras da escritora. A autora é considerada uma das "precursoras do feminismo contemporâneo". Provavelmente, ao ver a palavra "feminismo" no post, alguém já deve ter "torcido o nariz". É muito triste perceber que tantas pessoas tem atualmente uma visão distorcida do feminismo, como se ele fosse algo ruim.
Ao ler o livro, com artigos escrito há tanto tempo e, ainda assim, tão atuais, talvez algumas pessoas possam entender um pouco melhor o quanto o machismo, tão presente em nossa sociedade, afeta a vida das mulheres. Caso alguém pense que o combate ao machismo e a luta realizada pelo feminismo é desnecessária, sugiro um exercício simples: se você é mulher e tem um irmão ou se você é homem e tem uma irmã, pense em como a criação de vocês dois foi diferente, em tudo o que o menino podia fazer e a menina não. Tendo 3 irmãos e uma irmã, falo por experiência própria. Observando quanta liberdade a mais meu irmão caçula tinha, foi que comecei a prestar atenção na questão da desigualdade de gêneros. Algumas coisas melhoram desde a época de Virginia Woolf, mas muito ainda precisa ser feito para que todos, independente de serem mulheres ou homens, sejam respeitados como seres humanos.
"Isso creio que é uma experiência muito comum entre as mulheres que escrevem - ficam bloqueadas pelo extremo convencionalismo do outro sexo. Pois, embora sensatamente os homens se permitam grande liberdade em tais assuntos, duvido que percebam ou consigam controlar o extremo rigor com que condenam a mesma liberdade nas mulheres. (...) Na verdade, penso eu, ainda vai levar muito tempo até que uma mulher possa sentar e escrever um livro sem encontrar com um fantasma que precise matar, uma rocha que precise enfrentar. E se é assim na literatura, a profissão mais livre de todas para as mulheres, quem dirá nas novas profissões que agora vocês estão exercendo pela primeira vez?" (página 17)
Profissões Para Mulheres e Outros Artigos Feministas é um daqueles livros com poucas páginas, mas dos quais podemos falar por horas e horas. Valeu a pena ler!
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