Wagner Fernandes 25/11/2023O melhor de Isaac AsimovAS CAVERNAS DE AÇO" se passa num futuro muuuito distante, pelo menos 1.000 anos no futuro. Há cerca de 50 mundos colonizados que conseguiram sua independência da Terra. Os robôs estão tomando o emprego das pessoas e estas cada vez têm menos condições de se sustentar.
Lembrando que é um livro do final dos anos 1940 e início dos 50, época pós II Guerra Mundial, tempos de Guerra Fria, dificuldade de subsistência, etc. Asimov viveu nesse período, onde o fantasma da guerra nuclear pairava sobre a humanidade.
Dá pra perceber alguns elementos do pensamento da época e da vida, especialmente daqueles que habitavam nos países de regime Soviético. Mas Asimov conseguiu escrever uma trama excelente enquanto denunciava as condições de vida da população.
Embora seja um livro do início dos anos 1950, ele não ficou datado. É bem atual. A trama política e social têm uma leve semelhança com o comunismo dos anos da Guerra Fria, mas o objetivo das personagens é atemporal.
Os rebeldes "Medievalistas" (nossa época, séculos 20 e 21, está tão distante no tempo no livro, que somos para o povo daquele tempo considerados "MEDIEVAIS") querem sair das megacidades (as tais "cavernas de aço") e voltar a viver e produzir no campo e ficarem longe dos robôs. Então procuram desestabilizar o governo. Nessa confusão, o policial Elijah Baley, com a ajuda do robô R. Daneel, designado pelos Siderais (humanos que colonizaram o espaço e são considerados um tipo de "elite" da raça) investigam uma organização secreta criminosa que ameaça a estabilidade das cidades e matou um embaixador do espaço. Nessa busca, os dois policiais vão se conhecendo e aprendendo a se respeitar, já que Baley também odeia os robôs e vê sua própria carreira ameaçada.
Você lê as primeiras páginas de Isaac Asimov e já fica preso à narrativa. Na introdução ele conta como começou a escrever, o que o inspirou, diz as datas, a origem do termo "robô"; conta como foram as primeiras experiências como escritor e sua relação com editores, da criação das 3 leis da robótica (e da própria palavra "robótica"), e do sucesso que "Cavernas de Aço" se tornou em sua carreira e na história da ficção científica.
Asimov era um mestre em contar histórias. Eu não sabia que "Robô" significa "trabalho compulsório" na língua tcheca e surgiu numa peça de 1921 chamada "R.U.R.", de Karl Capek, inspirada em "Frankenstein". Então os robôs foram inspirados em Frankenstein! Genial.
Isaac Asimov realmente escrevia muito bem. Parece que "As Cavernas de Aço" é um dos principais e mais famosos livros dele. Mais ainda que "Fundação", segundo o próprio autor, por causa dos elementos de investigação policial num ambiente de ficção científica. Algo insignificante hoje em dia, mas nos anos 1940 e 50 isso era novidade. Grande Doutor! Sempre inovando.
Certamente "As Cavernas de Aço" inspirou "Blade Runner" (o próprio Baley lembra Rick Deckard).
Nunca fui um leitor assíduo de Asimov. Os primeiros dois livros dele que li foram "Nêmesis" e "Sonhos de Robô", isso por volta de 1990 ou 1991. Lembro que não gostei na ocasião. Achei a narrativa maçante. E eu gostava de ficção científica, por incrível que pareça! Na época li "Um cântico para Leibowitz" e "A mão esquerda da escuridão", além de alguns pocket books de "Perry Rhodan". Daí comecei a ler livros de sci-fi e me deparei com esses do Asimov que citei. Mas eu gostava demais de fantasia, e consegui uma coleção da Melhoramentos chamada "Os Mundos Mágicos"... (... da Fantasia, Imortais, Encantamentos e contos de Robert Silverberg). Traziam o prefácio de Isaac Asimov, apresentando grandes autores dos gêneros, como Robert E. Howard, Jack Vance, Guy de Maupassant, Edgar Alan Poe e outros. Não traziam nenhuma história de Asimov, mas o modo de ele narrar o prefácio me agradou.
Esses volumes da Melhoramentos são espetaculares e foi por eles que comecei a me encantar por LIVROS de fantasia, mistério e ficção científica (na época eu estava migrando dos gibis para a literatura). Mas levaria alguns anos até eu me tornar um devorador de livros e reencontrar Isaac Asimov em "Fundação".
"AS CAVERNAS DE AÇO" tem uma boa trama, boa concepção de mundo, personagens interessantes. Asimov sendo um grande contador de histórias. Acho que, para a época, foi uma inovação misturar policial com sci fi. Porém, há mais sobre investigação do que sobre ficção científica. Neste quesito ficou um pouco a desejar. A ficção científica ficou mais como pano de fundo. Colônias em outros mundos, megalópoles e autômatos foram apenas um ambiente na história de Elijah Baley. A ideia dos robôs evoluiu na literatura, mas, apesar disso, "As Cavernas de Aço" apresentou um roteiro envolvente, mesmo sendo a fórmula básica das tramas policiais.
Gostei. Pretendo ler os demais da série.
Nota: 4,5