Fernando Lafaiete 27/08/2018As Cavernas de Aço (Robôs #1): Desmistificando Asimov e uma tentativa (talvez falha) de análise de sua obra. Vale a pena ler Isaac Asimov?******************************NÃO possui spoiler******************************
Nota: 4.5
Quando ficção-científica é o assunto é praticamente impossível não citar Isaac Asimov, considerado quase por unânimidade o maior escritor do gênero de todos os tempos. Ao lado de Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, forma a famigerada Trindade da ficção-científica. Seu status dentro da literatura e seu invejado curriculum, onde consta vários fatos interessantes, como o de ter sido durante muito tempo vice-presidente da MENSA (instituição formada pelas pessoas mais inteligentes do mundo), faz com que muitos leitores elevem suas expectativas em um nível alarmante antes mesmo de lê-lo.
Mas é importante termos conhecimento de alguns pontos para desmistificarmos esta errônea e prévia certeza de que o autor é um gênio inquestionável que está acima de qualquer crítica.
1. Asimov não era um grande estilista quando escrita é o assunto. Escreve bem, mas nada no nível de Dostoiévski, Victor Hugo entre outros grandes nomes da literatura mundial.
2. Portanto, levando em consideração o fato citado no item 1, não encontramos em suas obras grandes descrições e explanações recheadas de linguagem rebuscada repletas por terminologias de alto nível onde apenas leitores com QIs elevados são capazes de ler, entender e absorver. Isto é um mito imposto à ele, apenas porque para muitos é difícil admitir que o "pai" da ficção-científica pode (e é) facilmente superado por muitos escritores (dentro e fora do gênero científico) quando o o assunto da análise é a escrita.
Tudo que falei até agora é importante para que entendam o que irei explanar sobre "As Cavernas de Aço", primeiro volume da mais que famosa série dos robôs. No romance supra citado, o autor desenvolve uma trama policial futurística onde o foco é a investigação do assassinato de um importante roboticista.
Conforme vamos lendo, vamos entrando em contato com as leis da robótica, com um mundo onde devido ao crescimento exacerbado da população a superfície não é mais habitada, onde outros planetas são colonizados e onde revoltas sustentadas por preconceitos e medos sociais são recorrentes devido a presença de robôs na sociedade.
O protagonista é o detetive Elijah Baley que se vê obrigado a ter que trabalhar com um parceiro nada desejado para poder correr contra o tempo e desvendar o misterioso e até então ilógico e quase impossível assassinato. O personagem principal se vê em um dilema. Quem cometeu tal crime? Quais as razões? O criminoso é um humano ou um robô? Seria possível um robô burlar as leis da robótica e assassinar um de seus criadores? Se sim, qual seria a razão?
"As Cavernas de Aço" não é a primeira história em que Asimov apresenta tais leis que são um dos importantes pilares de seu universo. Na antologia de contos "Eu, Robô", o autor não só as apresenta como desenvolve narrativas inteligentíssimas que possuem teores psicológicos, sociais, filosóficos e religiosos muito mais palpáveis do que o que encontramos no primeiro livro da série Robôs aqui resenhado.
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Leis da robótica:
1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação permitir que um ser humano venha a ser ferido.
2. Um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal propósito não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei.
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A escrita apesar de bem simples, passa longe de ser ruim. É boa, funcional e colabora com a narrativa que além de fluída é bastante envolvente. Os personagens são bacanas e entregam bons diálogos. O Worldbuilding é bem visual e acredito ser capaz de instigar os leitores a quererem saber mais sobre o mesmo.
Em contrapartida, o processo investigativo é problemático. Levando em consideração que "As Cavernas de Aço" se trata de uma história futurística, a investigação apresenta furos e é fraca quase em sua totalidade. A falta de descrições mais sólidas empobrece em várias momentos a narrativa quando o foco são as etapas investigativas. O que traz a tona os itens que citei anteriormente quando expus minha percepção sobre a escrita do referido autor.
Devo salientar também que a narrativa de Asimov é bastante expositiva e que portanto, você não correrá o risco de se sentir perdido ou menos intelectual que outros leitores. A leitura é mais que válida e é mais que interessante acompanhar os conflitos entre roboticidade e humanidade muito bem desenvolvido por Isaac Asimov.
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O plot principal e as Leis da Robótica foram grandes inspirações para a adaptação do roteiro de Jeff Vintar que gerou o filme "Eu, Robô" protagonizado por Will Smith em 2004. O filme não é uma adaptação de "As Cavernas Aço" e nem dos contos que o antecedem e que dá nome ao filme. Tanto a antologia quando o romance são meras inspirações. Mas devo frisar que "Eu, Robô" (o filme) possui personagens importantes criados por Asimov e muito presentes em suas obras.
O autor também é uma das grandes inspirações do queridinho de muitos leitores, o elogiado John Scalzi, autor de "Guerra do Velho" e "Encarcerados". Este último também inspirado em "As Cavernas de Aço".
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Gosto demais da escrita e narrativa de Asimov. Ele não é perfeito... Mas como não considerado nenhum autor perfeito, como muitos o fazem, este fato não se torna um problema para mim. O indico pra quem procura um livro divertido, despretencioso e inteligente. Mas leiam "Eu, Robô" antes, acredito que ter este background é importante apesar de não ser essencial.
Ps. O detetive protagonista é meio lento e não transborda inteligência. Mas seus questionáveis raciocínios o tornam mais humano, consequentemente mais relacionável. Me irritei com tal lerdeza, mas consegui relevar.