Fábio Tomaz 25/01/2022
Romanticamente poético e visceralmente austero
Habibi é uma daquelas histórias que você vai lendo e seu cérebro, por estar tão acostumado a um certo padrão de enredo, já vai tecendo uma teia de possíveis conexões e possibilidades do que virá a seguir, para que satisfatoriamente com um simples virar de página, Craig Thompson nos surpreenda com um roteiro inovador, surpreendente, mas por vezes, e não poucas, duro e chocante.
Por meio de uma linguagem poética e artística, através de um belo traço e sombreado dos quadros e caligrafias, o autor e desenhista nos presenteia com historias ricas da cultura oriental nos dando um vislumbre do Corão e o Islamismo em paralelo a realidade trágica, quase doentia, vivida pelos protagonistas.
Dodola é uma garota feita mulher ainda criança pela dura realidade da vida e circunstâncias desventurosas do seu papel de mulher pobre dentro do contexto social e religioso a que está inserida. As vicissitudes a transformam em um exemplo vivo de pragmatismo pertinaz, transformando-a em uma sobrevivente. Obrigada a se tornar mãe, antes mesmo de se tornar adulta, ela usa o que tem e o pouco que aprendeu com as tragédias que viveu para garantir sua existência e a do pequeno Zam, ao passo que nos faz confrontar preconceitos e valores internos no decorrer da sua jornada.
Zam é produto desta Odisseia de Dodola que, como qualquer mãe superprotetora, acaba por condenar o próprio filho ao despreparo emocional ao cria-lo dentro de uma bolha incondizente com a realidade que os cerca, suprindo-o de uma moralidade religiosa exacerbada, que o conduz a suas próprias desventuras em busca do moralmente correto em um mundo imoralmente incorreto.
O amor entre Dodola e Zam nos cativa, nos impressiona, nos revolta mas acima de tudo, nos ensina que a vida não possui fórmulas e que cabe a cada um tirar o melhor de suas experiências em busca da nossa evolução e superação, nos mostrando que sempre ha espaço para sermos bons e crescermos, até mesmo no pior dos lugares e nas piores experiências.
Habibi não é um livro, tampouco uma HQ ou Graphic Novel, é uma lição de superação e persistência naquilo em que se acredita verdadeiramente.
5 estrelas sem qualquer sombra de dúvida.