Marcella.Pimenta 08/05/2023
A moral sexual proletária
São 9 textos de Kollontai sobre a mulher o amor, as relações amorosas e a moral que deve reger a classe operária. Achei a escrita dela bem lenta. Ela demora a desenvolver as ideias. Nos outros 3 livros que li dela, ela foi mais direta. Nesse, me parece que ela tenta dar um ar intelectual, ao invés de prático.
Novamente ela critica a prostituição, mas por uma visão "romântica", de ser imoral "vender amor, carinho". Em outra obra, o aspecto abordado é outro.
Estranho que ela rejeita a moral burguesa/capitalista, mas por vezes a elogia. "Ao estabelecer as relações capitalistas, só a família, na qual existia uma estreia colaboração entre todos os seus membros interessados na acumulação de riqueza, era a que ficava fundamentada sobre sólidas bases. Esta consolidação era muito mais perfeita e dava melhores resultados se os esposos e os filhos, em relação a seus pais, estivessem unidos por verdadeiros laços espirituais e de carinho." (página 114). Ora, qual casal não quer crescer e se desenvolver junto, construir um patrimônio, ter e dar melhores condições de vida aos filhos, com carinho e amor?
No geral, fica evidente que a nova moral sexual proposta por ela é baseada nos interesses do Estado (comunismo). Tanto que ela defende o amor livre mas condena a luxúria, porque "este amor supõe inevitavelmente os excessos e o esgotamento físico, que contribuem para diminuir a reserva de energia da humanidade." (página 125). Ou seja, quem tem vários parceiros cansa fácil e sobra menos tempo para trabalhar.
O que se quer é que o indivíduo coloque o Estado acima da família. "Por maior que seja o amor que une dois indivíduos de sexos diferentes, por muitos que sejam os vínculos que unem os seus corações e as suas almas, os laços que os unem à coletividade têm que ser muito mais fortes, mais numerosos e orgânicos. Tudo para o homem amado, proclamava a moral burguesa. Tudo para a coletividade, estabelece a moral proletária." (página 129)
E que mulher não gostaria de um homem que faça "tudo pela coletividade" e não "tudo por ela"? O que Kollontai propõe não é uma relação saudável entre o casal, mas uma relação em que cada um não tenha os interesses do parceiro como prioridade.
Claro que ela enfeita isso com "mulher e homem em pé de igualdade", mas, ao fim, seus objetivos (que nada tem a ver com os interesses da mulher) são explícitos, afinal, o feminismo não luta por mulheres. O feminismo luta pelo feminismo.