Marina Garcia ( 16/03/2013
Dearly, Departed, escrito por Lia Habel
Texto publicado em: http://migre.me/dI2IG
RESENHA: Ok! Vamos listar: Steampunk, futuro distópico, YA, mocinhas de vestidos longos, corpetes, anáguas e sombrinhas, zumbis podres e zumbis militares... Sim! Yup!
Senhoras e senhores, Dearly Departed nos transporta diretamente para o ano de 2187, e o nosso mundo é um lugar muito mais perigoso para se viver. Foram 150 anos enfrentando guerras nucleares sem vencedores e pestes, desastres que provocaram uma verdadeira mudança climática e geológica no globo terrestre. Povos do norte migraram para o sul, próximos a zona do Equador, e os seres humanos vão tentando sobreviver da melhor maneira possível, formando novas civilizações e tribos, alcançando um curto período de paz prestes a ser novamente quebrado.
"Eu estava totalmente, dolorosamente presente no mundo, e tão distante dele ao mesmo tempo." (Página 138)
É nesse novo mundo que certa sociedade a procura de regras e educação rígida, paz e prosperidade adotou o modelo de nova civilização com base na Era Vitoriana. É nesse mundo onde ainda existem pessoas descontentes com o poder concentrado nas mãos dos ricos. É nesse mundo que vivem Nora e Bram.
Nora Dearly é uma garota neovitoriana, filha de um falecido importante membro da sociedade, e que por ocupar um lugar de destaque em sua sociedade vive as custas de sua tutora e interesseira tia. Suas férias começaram e o luto pelo pai estava acabado, um ano e um dia se passou desde a morte do Dr. Victor Dearly. Nora ainda não se recuperou, mas sua tia já esta mais do que pronta para os bailes e a procura de novos partidos para si e não exita ao deixá-la sozinha em casa. É nesse dia perfeito que um grupo de seres podres e despedaçados tenta lhe sequestrar.
"Ai, meu Deus.
Eram mortos. Mortos. Podres, horríveis, com crânios e dentes expostos, e... mortos. Fechava os olhos e via os ossos e a pele que se desfazia." (Página 89)
Capitão Abraham Griswold é um soldado punk que esta morto. Porém, espera um instantinho, ele, assim como a Companhia Z, esta do lado dos mocinhos. Bram foi atacado por um grupo de zumbis quando trabalhava em uma das minas "no Brasil controlado pelos punks" e foi salvo assim que recobrou a consciência ao contrair o vírus Lázaro que trás seu portador de volta a vida, ou pós-vida. Ele é parte de uma pequena parcela de zumbis que através da biomedicina e cibernética, se agarra a humanidade que ainda lhe resta antes que seu corpo se decomponha e luta contra os Cinzas, os zumbis maus, enquanto procuram por uma cura e tudo indica que a senhorita Dearly é uma peça do quebra cabeça que ele deve proteger.
"Usei um pouco da minha voz de ‘zumbi apavorante’, com um ligeiro toque de morte-bate-à-porta. Foi o suficiente para que ele me levasse a sério." (Página 104)
Sabe aquela vontade de falar sobre um livro que você gostou e não ter ninguém com quem conversar? Dearly, Departed me pegou de jeito, primeiro veio se mostrando para mim com sua capa linda, depois prometendo o melhor do gênero steampunk e zumbis, por último ganhei em um sorteio.
O livro é em primeira pessoa, sob o ponto de vista de cinco personagens diferentes e tendo como foco principal os dois personagens já citados. Com essa mudança de capítulo a autora soube explorar bem seu enredo, terminando cada capítulo com uma espécie de BANG! ficando cada vez mais ágil a medida que a trama vai se desenvolvendo. Lia Habel soube construir tudo de uma maneira inteligente e encantadora, explicando de maneira lógica e verossímil, muitas vezes com detalhes bem clínicos, não somente o vírus Lázaro, mas tudo o que aconteceu para chegar ali.
"O que havia sido, do alto, uma cidade impressionante, formado por imensos edifícios ornados com colunas e fachadas intricadamente pintadas, agora estava reduzida a fileiras de cascos de concretos feios, corredores intermináveis de retângulos sem graça, como lápides sem dizeres. A visão era arrepiante, e me distraiu mais do que deveria." (Página 404)
O romance parece um tanto Sangue Quente... Só que não... É construído de uma maneira bastante realista. Nora tem medo de Bram no início, mas ele vai conquistando a confiança dela e nossa que no final acabamos nos importando somente com, pode parecer filosófico, beleza interior do personagem. Em todos os momentos somos lembrados da condição de Bram, por ele mesmo, porém apenas nos convencemos mais e mais de que ele é perfeito do jeito que é, além disso a tecnologia o ajuda a não ficar "tão podre" rsrs.
Não posso me esquecer da Companhia Z, o grupo principal comandado por Bram é um toque de sarcasmo e divertimento pós-morte. Tom, Cas, Coalhouse e Reinfield cada um com sua peculiaridade também nos conquistam, assim como o bizarro Dr. Samedi. Não pode faltar o mala sem alça da trama Capitão Wolfe, que provou a nós que preferia ser uma zumbi e ter dignidade do que ser humana e um pé no saco.
"- Você é apenas o vetor de uma doença Griswold. Você é um rato muito grande. Você é uma pulga muito grande.
- Não, senhor. - De repente, qualquer coisa deixou de ter importância (...). - Somos todos humanos. Estamos mortos, mas somos humanos. Sentimos, vemos e temos uma pequena chance - como qualquer pessoa que respira - de levarmos uma boa vida, de sermos amados. Pois somos humanos." (Página 317)
Agora do que adianta um livro excelente que dei cinco estrelas e marquei como favorito se o livro existe N erros de revisão? Com travessões em lugares errados, erros de concordância, por exemplo. Não pode! A essa altura do campeonato. Mas, mesmo assim, LEIAM.
Bom, acho que me passei um pouco na resenha hoje, mas não se preocupem prometo que não tem nenhum spoiler, isso é o básico, agora esperem por muito mais. Dearly, Departed é realmente um "baita" livro e espero ansiosamente pela sua continuação.
Série Gone With the Respiration, escrito por Lia Habel
Livro 1 - Dearly, Departed - O amor nunca morre (Título original: Dearly, Departed)
Livro 2 - Dearly, Beloved (os demais ainda não foram lançados no Brasil)