Ju 17/04/2013Leviatã pertence a um gênero com o qual eu nunca havia tido contato, o steampunk, e achei realmente complicado descrevê-lo para vocês.
Já disse mais de uma vez aqui que história nunca me atraiu, então fiquei um pouco perdida para definir o que era criação do Scott e o que era realidade. Fiquei muito feliz quando, ao final do livro, ele esclareceu isso para o leitor. E foi através desse esclarecimento que eu pude entender como Leviatã se encaixa nesse gênero tão falado por aí e tão pouco conhecido por mim.
"Leviatã aborda tanto futuros possíveis quanto passados alternativos. O livro vislumbra o futuro, quando as máquinas parecerão com criaturas vivas, e criaturas vivas poderão ser fabricadas como máquinas. E ainda assim a ambientação também relembra uma época antiga em que o mundo era dividido entre aristocratas e plebeus, e as mulheres na maioria dos países não podiam se alistar nas forças armadas... ou sequer votar. Esta é a natureza do gênero steampunk, misturar futuro e passado."
O gênero me causou um certo estranhamento. Eu, sinceramente, nunca tinha pesquisado sobre ele e não sabia que era disso que se tratava. As coisas parecem tão fora de lugar que leva um tempo para a gente se acostumar. Mas a história começou a fluir naturalmente quando eu consegui entender a proposta e me deixar levar pelos acontecimentos.
Eu me apaixonei por esse livro antes mesmo de ter meu exemplar. O Scott esteve aqui em São Paulo e tive a oportunidade de participar de uma palestra, seguida de bate-papo, com ele. É incrível o jeito com que ele fala do livro, não tem como não ficar louco pra ler.
Scott nos contou como teve a ideia de escrever Leviatã - vários de seus fãs japoneses faziam ilustrações para a série Feios, e ele começou a pensar em escrever um livro ilustrado. Nos mostrou que isso era muito comum, até a chegada da fotografia. E frisou que no Japão ainda há esse costume, que lá o difícil é encontrar um livro sem ilustrações.
Selecionou um ilustrador, e a partir daí começou um longo processo de criação dos desenhos. O autor disse que acabou sendo uma criação coletiva dele e do ilustrador, ele dizia o que queria, Keith desenhava e eles conversavam sobre o resultado. Segundo ele, o ilustrador deu várias ideias, inclusive sobre o interior do Leviatã, que só teve seu contorno finalizado após as observações dele.
Foi um evento lindo apesar de alguns probleminhas (e foi quando autografei minha série Feios, e também o exemplar de Feios que é um dos prêmios do Top Comentarista que está no ar). Desde que ele aconteceu, Leviatã estava esperando por uma oportunidade de ser lido. Agora que eu já contei de onde veio o desejo absurdo de fazer isso, voltemos a falar do livro... rs...
Alek é um príncipe do império Austro-Húngaro. Seus pais foram assassinados e o garoto teve que fugir no meio da noite (sem nem saber que estava fazendo isso, inclusive). É arrogante e tem pose de governante, mas é também solidário, leal e corajoso. Ele tem que enfrentar muita coisa durante a fuga, mas aprende demais sobre si mesmo e sobre os acontecimentos do mundo todo também.
"Ele tirou o pensamento da cabeça ao se lembrar de uma frase do poeta Goethe, a favorita do pai: os perigos da vida são infinitos e, entre eles, está a segurança."
Deryn é uma garota apaixonada pelo céu. Ela voava com o pai, até que ele faleceu. Junto com o irmão, ela monta um plano para entrar na força aérea: vai se fingir de menino para que possa fazer parte dela. Para isso, adota também um novo nome: Dylan. A garota é extremamente inteligente e nada modesta, e vai ter que dar duro de verdade para conseguir realizar seu objetivo: voar sempre.
"Com certeza os alemães e seus parceiros austríacos não eram tão estúpidos a ponto de começar uma guerra apenas porque um aristocrata qualquer tinha sido assassinado. Os mekanistas (...) tinham medo de espécies fabricadas e idolatravam suas máquinas mekânicas. Será que pensavam que a multidão de andadores e aeroplanos seria páreo para o poderio darwinista da Rússia, França e Grã-Bretanha?"
A cada dois capítulos, acompanhamos o que está acontecendo com Deryn/ Dylan ou Alek, alternadamente. É bem legal, os capítulos são curtos e logo temos acesso à continuação das histórias. Em dado momento do livro, eles se encontram de uma forma bem inusitada, e é aí que as visões de mundo que eles têm vão ser modificadas devido ao conhecimento de uma nova cultura.
São mundos totalmente diferentes. Deryn/ Dylan é darwinista, e presta serviço no Leviatã, uma baleia-zepelim gigante. Um aeromonstro. Um mecanismo voador formado por vários organismos vivos, em que o alimento é o combustível. Meio nojento pra mim pensar em voar por aí dentro de uma baleia, apesar de ser muito legal imaginar uma nave viva.
Alek é um mekanista ferrenho, e considera heresia a criação de animais que podem ser usados como veículos de transporte ou armas. Ele não consegue entender porque os darwinistas não utilizam estruturas exclusivamente mecânicas para isso.
Eu amo histórias em que podemos acompanhar a evolução das personagens, e certamente é o caso de Leviatã. As personagens secundárias também passam por isso, e algumas delas têm papéis essenciais na trama. Simplesmente adorei a Dra. Barlow, uma cientista bem esperta e com faro de investigadora.
Não acho a capa a coisa mais linda do mundo, mas eu amo alto relevo e não me canso de passar a mão no título ou nas ilustrações de engrenagens... rs... Mas que eu queria o Leviatã na capa, isso eu queria.
Leviatã me deu vontade de conhecer mais sobre steampunk. Vou procurar por outras obras do gênero, assim que conseguir diminuir a pilha de leitura que me espera aqui.
Postada originalmente em: http://entrepalcoselivros.blogspot.com.br/2013/02/resenha-leviata.html.