Moonlight Books 13/03/2013
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Eu quis ler este livro por duas razões, a primeira foi conhecer o trabalho do autor Scott Westerfeld e a segunda foi ler um livro do gênero steampunk, o resultado foi uma grande surpresa.
Tudo começa na Áustria, onde temos o jovem Alek, filho de um arquiduque. Sua família está a cerca de seiscentos anos no poder, porém ele por ser filho de uma mulher que não é da nobreza, não poderá herdar a fortuna do pai, mesmo sendo um casamento legítimo, não há o que possa ser feito. Durante uma viagem dos pais, o menino é acordado no meio da noite por seus instrutores e o que aparentava ser apenas uma aula noturna, é na verdade uma fuga. Os pais de Alek foram assassinados e a vida do menino corre grande perigo, o conforto de seu lar é deixado para trás. Agora a única coisa realmente importante é a sua sobrevivência.
Enquanto isso na Inglaterra, temos a jovem Deryn, uma garota que tem a coragem de fingir ser um menino para entrar na força aérea britânica. E ela consegue, sendo melhor que muitos dos demais aspirantes. Dona de uma coragem única, torna-se uma presença marcante no regimento. São dois jovens que vivem em mundo distintos, mas por tantas voltas que a vida dá, eles irão encontrar-se, trazendo consigo muitas marcas e experiências de vida, algo que muitos homens e mulheres mais velhos nem sonham em viver. O Leviatã os levará pelos céus, e juntos vamos embarcar nesta aventura.
O início da leitura foi um pouco confuso, o autor usou muitos termos específicos relacionados ao cenário de batalha criado por ele, mas passada esta fase de habituar-se a esta linguagem, parecia que eu sempre estive lá e a leitura fluiu muito bem. Passei a acompanhar a jornada de Alek e Deryn, em capítulos que intercalam-se entre suas vidas. Viajei pela Áustria Inglaterra e cheguei na Suíça, o local escolhido para o encontro deles.
Narrado em terceira pessoa, este livro nos traz os fatos que culminaram no início da Primeira Grande Guerra, mas em uma nova roupagem. Temos política, guerra, jogos de poder e ainda uma crítica a sociedade e seus costumes. De um lado temos os mekanistas, pessoas que criaram máquinas fabulosas, capazes de grandes façanhas e do outro os darwinistas, que baseados na teoria da evolução das espécies de Darwin, criaram novos animais, dotados de habilidades incomparáveis. Ambos os lados usam suas criações como armas, o mais engraçado é que as máquinas imitam animais, enquanto os animais imitam as máquinas. Uma total inversão de papéis.
É um mundo novo dentro de um mundo antigo, eu fiquei fascinada pelo cenário, sempre gostei de estudar e ler sobre os fatos relacionados as duas Grandes Guerras Mundiais, mesmo que meu contato maior tenha sido com a Segunda, sei que sua antecessora teve um grande papel na história. O poderio bélico nos apresentado nesta obra é brilhante, imaginem voar dentro de um animal, não em um avião, e que ele seja capaz de destruir qualquer coisa feita do mais resistente aço. Se não bastasse conseguir viver neste animal, andar dentro de seu organismo em pleno funcionamento. Isso mesmo. Neste livro este ser existe e é chamado por seus criadores de Leviatã, o grande trunfo da força aérea britânica.
"... as criações darwinistas: híbridos de tigres e lobos, monstros mitológicos que ganhavam vida, animais que falavam e até mesmo raciocinavam como humanos..."
Os personagens são muito bem construídos, com destaque especial para Deryn e Alek. Ela diverte o leitor desde sua primeira aparição, suas tentativas de parecer um menino, são hilárias, uma mistura de temor e ousadia. Se for descoberta poderá ser presa, mas nem por isso ele desiste de seus sonhos. Ela representa todo o orgulho feminino e darwinista.
Alek, num primeiro momento parece ser apenas um garoto mimado, mas mostra-se uma pessoa que consegue aprender com a vida, ele é um personagem que vai amadurecendo no decorrer na história, mesmo tendo apenas 15 anos. Tem sobre seus ombros uma grande responsabilidade, uma nação. Ele viveu em uma época em que a infância passou muito rápido, se é que para muitos ela existiu, e ele logo assumiu sua responsabilidades, mas sem nunca deixar de lado sua honra e solidariedade. Eu adorei este mocinho.
Ambos são muito sagazes, destemidos e vivos, conseguem tocar o leitor. Eu gostei muito de ambos, mesmo tendo vontade de esganar Deryn a maior parte do tempo, afinal ela colocou o pobre Alek em maus lençóis. Mas ambos lutam pelo que acreditam, por seus ideais, e não há como não torcer por seu sucesso.
Vocês perceberam que é uma trama baseada em fatos históricos, mas com elementos que não existiam na época, um misto de passado e futuro. Muita tecnologia, em um tempo que o mundo dava os primeiros passos nesta trajetória, isto tudo é o que caracteriza o gênero steampunk. É muita engenhosidade em cada página. Gente é fabuloso.
Sendo o primeiro livro de uma série, nos insere no mundo dos darwinistas e mekanistas, nos ensinando sobre sua ética e princípios. O desfecho mostra o surgimento de uma poderosa aliança, algo que irá transformar o cenário político mundial. Os personagens têm suas perspectivas mudadas, em especial Deryn, que passa a sentir algo muito forte, ela percebe que por Alek ela seria capaz de fazer qualquer coisa.
"Somos uma coisa diferente agora. Um pouco de nós e um pouco deles."
Leviatã abre as portas de um mundo além da nossa imaginação. O lado mekanista é bom, mas o darwinista é melhor ainda. Chega a ser bizarro, mas admirável ao mesmo tempo. Eu aconselho ler este livro de mente aberta, dar asas à imaginação, para assim poder ver melhor o que nos é apresentado. Este admirável mundo novo. Um livro para que procura uma aventura inovadora, com muita ação. É um livro bem denso e requer atenção durante a leitura. Tem belas ilustrações, algo que enriquece seu conteúdo.
Inteligente, tal como uma estratégia de guerra. Aguça nossos sentidos, fazendo as engrenagens de nossa mente girarem. Uma leitura que consegue divertir, enquanto nos desafia, abrindo novos horizontes. Sim, eu recomendo Leviatã. Foi uma leitura de descoberta e que me deixou muito satisfeita, feliz demais.
Finalizo com um trecho do posfácio do livro.
"Portanto, Leviatã aborda tanto futuros possíveis quanto passados alternativos."